N.A.: Finalmente postando a fic!
Essa fic aqui foi escrita para o Concurso Cloth Myth do fórum AXIA (endereço disponível no meu profile, como From Ruins to Art), cuja proposta era reescrever uma cena da Saga de Hades. Ganhou o terceiro lugar entre sete, então estou feliz, hehehe. Personagens principais: Argol de Perseu, Capella de Auriga e Dante de Cérbero.
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"Proteja os Cavaleiros de Bronze, Argol. Confiamos em você."
As palavras de Saga pesavam na cabeça de Argol e cada passo era difícil.
Uma Guerra Santa começava, ele pensou, e numa Guerra Santa não há espaço para fracos. Especialmente entre os Cavaleiros de Prata, tão humilhados em outras batalhas. Especialmente quando muitos iriam morrer.
— Está tudo bem, Argol? — perguntou Dante.
Dante tinha a voz lenta e cheia de uma angústia velada quando pôs uma das mãos nos ombros de Argol. Atrás deles, Capella parou também, o rosto carregado de apreensão.
— Está — Argol disse, forçando um sorriso.
Ele estava comandando Dante e Capella, e um Comandante não pode ser fraco. Um Comandante tem que ser forte para que seu exército também o possa ser.
Eles caminhavam para Rozan, para deter Shiryu de Dragão e impedi-lo de ir ao Santuário.
Impedi-lo de tomar parte naquela Guerra que se iniciava e impedi-lo de perder a vida. Essas tinham sido as ordens de Saga.
"Não deixe com que percebam que somos fiéis a Athena! Em hipótese alguma, entendeu? É por Athena que assumimos essa vergonha, e sob essa vergonha permaneceremos até o fim!"
Argol sabia que, se Saga tivesse chance, não permitiria a morte de ninguém, mas sabia também que não havia qualquer chance dos Cavaleiros de Ouro vivos permitirem a passagem de espíritos renegados a serviço de Hades. Sabia que a farsa, a ilusória intenção de matar Athena, perduraria independente de quem morresse, até que Athena estivesse longe de Hades.
Muitas vidas seriam desperdiçadas naquela noite, Argol sabia, e era sua missão e a missão de todos os Cavaleiros de Prata não deixar com que a vida tão preciosa dos Cavaleiros de Bronze estivesse naquelas contas.
— Estamos chegando — comentou Capella, e Argol quase abençoou sua voz áspera por romper o silêncio.
— É, estamos — confirmou.
— Argol… Entre nós, você foi o único que enfrentou Shiryu de Dragão — disse Dante. — Eu e Capella enfrentamos os irmãos Ikki e Shun.
Capella se arrepiou. A lembrança de sua derrota ainda lhe era aterrorizante.
— Como você conhece a técnica do cavaleiro, quero saber: como ele é? O que nos espera?
Houve apenas um instante de silêncio.
— Shiryu de Dragão foi um dos mais honrados e corajosos cavaleiros que eu já tive a oportunidade de encontrar.
Argol não disse mais, e nem Capella e Dante esperavam por isso. Cientes do que talvez já soubessem desde o instante que a vida tocara seus corpos novamente, sorriram, e prosseguiram na difícil caminhada.
Pararam perto da cachoeira, sentindo a força animalesca da água umedecer suas armaduras — tingidas com as cores da vergonha —, e Argol resolveu repassar as instruções:
— Lembrem-se: a intenção é deixar Shiryu de Dragão ferido o suficiente para que não possa ir lutar contra Hades. Não machuquem a garota e o Mestre Ancião de Libra, a menos que seja extremamente necessário. Não matem, e não deixem transparecer que não estamos sob as ordens do deus do Mundo dos Mortos. Lembrem-se que os Cavaleiros de Ouro confiam em nós, e que a missão deles é muito mais dolorosa que a nossa; lembrem-se que é por Athena que estamos manchados com o cosmo maligno de Hades. Sob hipótese alguma, deixem de fingir que lutam por Hades!
— E após a missão ser concluída?
— Voltaremos à Grécia para auxiliar os Cavaleiros de Ouro.
Dante e Capella se entreolharam; depois olharam para Argol e sorriram.
— Por Athena — disse Dante, e sua voz era cheia da calma serena de quem sabe o porquê da vida.
— Por Athena — repetiu Capella, e havia um entusiasmo escondido, de quem luta por uma causa que acredita.
Argol olhou para o semblante dos dois e teve que segurar as lágrimas que lhe surgiram no canto dos olhos.
— Por Athena.
Desceram a encosta.
O Mestre Ancião de Libra não estava sentado em seu habitual lugar de observação. Havia apenas a garota que ele criava, aos prantos, escondendo o rosto nas mãos. Argol mal distinguia o barulho da cachoeira dos soluços dela.
A moça ergueu os olhos e sufocou um grito ao ver os três homens parados ali.
— Calma, menina — Argol disse. — Não queremos te fazer mal, nem a você nem ao Cavaleiro de Libra. Onde está Shiryu de Dragão?
— Estou aqui.
Uma outra voz se juntou às anteriores, e, por trás deles, surgiu o Cavaleiro de Bronze de Dragão.
Argol deteve-se por alguns minutos em examinar as faixas que encobriam seus olhos cegados, amaldiçoando-se internamente. Como Dragão poderia estar cego novamente?! Seu escudo era inútil naquela situação, diabos!
— Shunrei, venha para cá — pediu Shiryu, e a menina não hesitou, indo atrás dele aos tropeços e se abraçando ao seu peito largo.
— Shiryu, eles apareceram do nada, eu…
— Vai ficar tudo bem, Shunrei — Dragão disse carinhosamente. — Vai ficar tudo bem.
Capella olhou para Dante e os dois olharam para Argol. Sim, pensou Argol, tudo ficaria bem. Tudo ficaria bem desde que eles cumprissem o prometido.
A voz de Saga não saía de sua cabeça.
— Quem está aí? — perguntou Shiryu, colocando-se em frente à garota em atitude protetora.
— Não consegue reconhecer os cosmos, Dragão? — perguntou Argol, tentando impor desdém à sua fala. — Não consegue mais ver os seus adversários?
A surpresa contraiu as feições do Cavaleiro.
— Argol de Perseu? Você está morto!
— Hades nos deu uma nova vida, Dragão. A mim, a Dante de Cérbero e a Capella de Auriga.
— Hades?
— Sim, Hades… Há um novo mestre agora, Dragão! E quem não obedecer suas ordens vai se arrepender!
As ordens de Hades…
As ordens de Saga…
— Prepare-se para a luta! — gritou Dante de Cérbero, sempre o mais pronto a atacar, sempre o mais impulsivo. — Maça do Inferno!
Shiryu poderia ter se desviado. Sim, poderia. Porém, Argol percebeu, se evitasse o golpe, ele acabaria atingindo a menina.
O segundo que ele usou para afastar a garota de si lhe custou caro.
A maça de Dante atingiu Dragão nas costelas, impulsionando-o em direção à cascata de Rozan. Seus pés não encontraram onde se equilibrar e ele caiu junto com as águas.
— Shiryu! — gritou a garota.
Parecia querer ir atrás do Cavaleiro, mas Argol segurou os braços dela com força, ouvindo-a gritar.
— Dante! — exclamou Capella, os olhos injetados de angústia.
— Droga! — gritou o italiano.
— Calma — sussurrou Argol. — Ele vai voltar.
Ele iria voltar.
Com uma grande explosão de cosmo que jogou água para todos os lados, Shiryu de Dragão levantou-se da cachoeira, as roupas molhadas, os cabelos encharcados e uma raiva feroz no cosmo.
— Por que estão vestindo as cores de Hades? Não sabem vocês que a missão de um Cavaleiro de Athena dura por toda a sua vida e as vidas posteriores? Como ousam trair Athena?
— Fazemos o que é melhor para nós — disse Argol sem hesitar, soltando a garota. — Athena… Sabe como é a realidade no outro mundo para os pecadores, Dragão? Muito pior que imagina!
— Realidade nenhuma, lembrança nenhuma, é motivo para trair Athena!
— Fácil falar!
A garganta do cavaleiro doía.
— Ataque do Disco! — gritou Capella, vendo que Argol estava incapacitado de fazer qualquer coisa.
Seus discos cortantes quase atingiram Shiryu, que saltou para evitá-los.
— Recebam a ira do Dragão!!!! Cólera do Dragão!!!!!!!!!!!!!
Argol tentou evitar o golpe; foi atingido em cheio no peito e voou para trás, se segurando na beirada do rochedo para não cair.
— ARGOL!!! — gritaram Dante e Capella.
— Estou bem! — ele respondeu, tentando se erguer, conseguindo finalmente visualizar os outros dois. — Lembrem da missão que recebemos!
Os olhos da dupla brilharam.
Dante olhou para Capella e sorriu. Capella sorriu também. Argol sentiu o fundo de seu estômago despencar.
— Juntos, Capella?
— Juntos, Dante.
Pois sempre estariam juntos. Eram companheiros. Sempre tinham sido e o seriam para sempre.
Argol sabia o que queriam dizer aqueles olhares e não podia permitir.
— Não! NÃO!
Eles estavam tranqüilos. Faziam aquilo por Athena.
Avançaram ao mesmo tempo, seus olhos cintilando de maneira estranha, frouxos sorrisos em seus lábios — os últimos sorrisos.
— Maça do Inferno!
— Ataque do Disco!
— Queime, cosmo!!!! Cólera do Dragão!!!!
Dante e Capella foram atingidos pelo golpe.
Eles voaram pelo ar. Seus corpos descreveram uma curva graciosa por cima das pedras e caíram. Caíram, apenas.
Caíram para nunca mais tornarem a se erguer.
O sangue dos Cavaleiros de Prata manchou a água de Rozan.
— DANTE! CAPELLA!
Talvez fosse por isso que tivesse sido difícil segurar as lágrimas naquela hora.
De alguma forma, Argol já sabia. Desde o instante em que Capella e Dante pediram para acompanhá-lo.
Já sabia que jamais iriam voltar.
A dor trancou sua garganta completamente, enquanto, com uma manobra audaciosa, voltava para cima do rochedo.
— Seus companheiros se foram, Argol de Perseu — disse Shiryu. — Se foram por continuarem defendendo Hades. Quer mesmo essa vergonha?
— É tudo o que eu mais desejo.
Shiryu suspirou.
— Certo. Que assim seja.
Argol estava confiante. Ele sabia o que iria acontecer.
— Górgona Demoníaca!!!!
— Dragão Nascente!!!
O ataque de Argol se desvaneceu com a explosão de cosmo arrebatadora e poderosa. Ele foi atirado pelo ar com aquela força, sentindo todo o seu corpo se sacudir.
Caiu e seu corpo se arrastou pelo rochedo.
A vida deixava seu corpo.
Argol sabia que isso aconteceria.
Argol sabia que Shiryu jamais deixaria de lutar por Athena, como ele mesmo se recusara a acreditar que o Grande Mestre estava errado. Argol sabia que seu cosmo seria imenso demais para ser suplantado.
Desde o início, aquela era uma missão perdida. E a vida deles também.
Pensou em Saga lhe pedindo para proteger os Cavaleiros de Bronze e suspirou.
— Perdão… perdão, Athena.
Shiryu de Dragão se aproximava de seu corpo agonizante. Ele era um verdadeiro Cavaleiro de Athena.
— Está se arrependendo, Argol?
"Não deixe com que percebam que somos fiéis a Athena! Em hipótese alguma, entendeu? É por Athena que assumimos essa vergonha, e sob essa vergonha permaneceremos até o fim!"
— Jamais me arrependerei, Dragão.
Argol de Perseu fechou os olhos. A imagem de Athena lhe queimava as pálpebras.
Sentiu quando Shiryu de Dragão ergueu um dos potentes braços.
"Por Athena."
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