Então, esse é um projeto D/G que eu tenho há muuuito tempo e tô finalmente postando! É mais romântica e menos depressiva que as outras, hahaha. Espero realmente que gostem, porque essa fic é meio que minha favoritinha. Hihi. Beijos. Enjoy!
(E reviews sempre deixam a tia Blue feliz, muito, muito feliz.)
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ROUGE ET GRIS
Miss BlueBird
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I. O herói de gelo
Que merda.
- Harriet! – gritei, o mais alto que pude, com a voz rouca e entorpecida. – Você esqueceu a janela aberta de novo.
Não houve resposta. Que merda, que merda, que merda. Trôpega de sono e tremendo de frio, esfreguei os olhos. Aos poucos, fui me lembrando de que Harriet não estava ali. Estava na Flórida, passando o feriado com os pais e o irmão caçula. Minha colega de apartamento me largara aqui sozinha e desolada, em pleno natal. Quando lhe expliquei minha situação familiar deplorável, ela até me convidou para ir junto com ela, mas acabei recusando. Afinal, natal é algo que se passa com sua família, e não com colegas de apartamento penetras. E como eu não tinha mais nenhuma família... Resmunguei, puxando o cobertor por cima da cabeça para tentar evitar o maldito feixe de luz batendo bem no meio da minha cara. Espere um minuto.
Ergui o corpo num impulso só, o coração acelerado, jogando o cobertor longe, já perfeitamente acordada. Aquele não era o meu quarto. Meu quarto era pequeno, cheio livros velhos e pergaminhos jogados pelos cantos e tinha um cheiro estranho de madeira antiga. Nesse quarto não tinha nada disso. Olhei ao redor, meio cega pelo desespero súbito, procurando alguma coisa que me fosse familiar, sem sucesso. Balancei a cabeça e fechei os olhos com força. É um sonho. Você está sonhando.
Mas quando eu abri os olhos novamente, eu ainda estava ali. Foi então que percebi o que estava vestindo – absolutamente nada além de uma camiseta preta dos Beatles e minha calcinha. Oh, céus. Não pude evitar um grito. Senti as lágrimas me brotarem nos cantos dos olhos, enquanto tentava não pensar nos possíveis motivos pelos quais eu poderia estar seminua num quarto completamente estranho. Eu tinha acabado de me levantar quando notei o vulto parado na porta.
Meu estômago despencou, juntamente com alguns compassos do meu coração. O vulto se aproximou um ou dois passos, e seu rosto saiu das sombras. O choque que eu senti em seguida foi tão grande que tive impressão de que meu coração explodiria de tão acelerado que estava.
- Malfoy? – guinchei, num tom muito agudo, completamente horrorizada. Draco Malfoy era, literalmente falando, a última pessoa que eu esperaria encontrar dentro de um quarto. Ele ficou parado na soleira da porta, imóvel, me encarando sem expressão alguma, enquanto eu desesperadamente comecei a tatear os cobertores em busca da minha varinha. Não seja estúpida, se ele tirou suas roupas provavelmente também pegou sua varinha. Milhares de cenários passaram pela minha cabeça, e nenhum deles me agradava.
- Procurando por isto? – ele perguntou, impassível. – Aqui, tome. – ele estendeu a varinha, aproximando-se alguns passos. Eu recuei, retesando o corpo, quase instintivamente. Senti um ligeiro pânico me subir pela espinha. Ele se imobilizou, erguendo as sobrancelhas, num misto de surpresa e divertimento. Não há nenhuma saída. Se você quiser fugir, tem que passar por ele. – Weasley, por favor. – ele exclamou, exasperado, revirando os olhos. – Se eu quisesse machucá-la, eu teria simplesmente deixado você jogada na neve, onde a encontrei.
Pisquei os olhos algumas vezes. Jogada na neve. O pânico se dissolveu lentamente, se transformando em confusão. Forcei a memória e alguns flashes perpassaram minha mente, mas não consegui identificar muita coisa. Conseguia me lembrar do frio, muito intenso, que parecia entrar na minha pele, cortando minha carne até chegar aos ossos, e de alguém chamando meu nome. Malfoy continuou parado onde estava, a mão ainda estendida. Estremeci. – Mas...
- Não se lembra?
- Ahn... Não muito. – confessei, relaxando o corpo. Ele não parece querer machucar você. Malfoy relaxou o corpo também, e pousou minha varinha numa cômoda próxima. – Alguns flashes, mais nada. – suspirei. De repente me senti muito cansada. Percebi que meus olhos formigavam, e que minha cabeça doía. – Onde me encontrou?
- Central Park. – ele informou, num tom seco, me encarando com aqueles dois olhos gelados. Tentei decifrar o que ele estava pensando, sem sucesso. Ele parece uma parede de concreto. – Em uma das alamedas, perto dos campos de Heckscher.
Ele se calou, ainda me encarando. Senti o rubor subir pelo meu pescoço, e desviei o olhar.
- Você tirou minhas roupas. – murmurei, num tom interrogativo. Seminua no mesmo quarto com um homem que a detesta e que não vê há mais de cinco anos. Nada mal, garota estúpida.
Ele revirou os olhos. – Suas roupas estavam molhadas, sujas e rasgadas. – replicou, num tom de impaciência, como se tivesse que explicar alguma coisa muito simples a uma pessoa muito idiota. – Você teria adoecido. E não se preocupe, – acrescentou, e eu poderia jurar ter visto a sombra de um leve sorriso de malícia quando seus olhos perscrutaram meu corpo de cima abaixo numa olhadela rápida. – você não faz meu tipo. Eu teria mandado alguma das empregadas fazer isso, se não estivessem em recesso natalino.
Corei novamente, puxando a barra da camiseta para baixo. Tinha quase me esquecido de que era natal.
- Você me salvou. – declarei, com certa obtusidade. De uma provável morte muito dolorosa, diga-se de passagem.
- Provavelmente. – ele respondeu, sem emoções. – Feliz natal! – acrescentou, num tom muito irônico.
Parei alguns segundos para fitar a figura alta de Draco Malfoy. Ele usava calças de flanela, de um tom escuro de cinza, um par de chinelos e uma blusa branca, de mangas compridas. Malfoy... de chinelos? Os cabelos muito loiros estavam despenteados, e ele provavelmente não se barbeava já há alguns dias. Parecia estranhamente... normal. Humano. Em nada se assemelhava ao garoto petulante que eu conhecera alguns anos atrás. Parecia um cara normal que tinha uma vida normal. Um cara normal, de chinelos, desses que leem o jornal no café-da-manhã. Bom, nem tanto. Os olhos ainda são os mesmos. Azul meio acinzentado, ou cinza meio azulado, gelados e impassíveis. Franzi a testa, e a pergunta saiu antes que eu pudesse me refrear.
- Por quê?
Ele não respondeu, mas sua expressão séria se suavizou um pouco. Encarou-me alguns segundos. – Está com fome? – perguntou, num tom displicente, com quem pergunta as horas dentro de um elevador. Pisquei mais algumas vezes, confusa. Fome? Senti meu estômago roncando. Oh, sim, você está com fome.
Não respondi. Olhei em volta, finalmente reparando no quarto. Era extremamente suntuoso, e a decoração parecia completamente baseada em alguma corte espanhola, ou algo do gênero. Havia três portas no quarto. Uma delas imaginei que daria para um banheiro, a outra, atrás de Malfoy, obviamente para um corredor e a terceira permaneceu um mistério. As paredes eram branco-gelo, enfeitadas com detalhes em ouro. Na parede de frente à cama king-size havia uma televisão imensa, de tela plana, pousada num rack elegante. Logo ao lado da TV havia um iPad, preso a um suporte dourado. Era tudo muito fora da realidade com a qual eu estava acostumada.
- Onde estou? – perguntei, momentaneamente maravilhada.
- No Plaza. – ele respondeu, seco. – Está com fome?
No Plaza? Soltei uma risadinha de escárnio. O Hotel Plaza? Aí está você, Ginevra Weasley, provavelmente numa dessas suítes executivas, ou reais, ou presidenciais, de um dos mais elegantes e sofisticados hotéis de New York, de calcinha e camiseta, numa manhã de natal, com Draco Malfoy. Pensei comigo mesma quantos meses eu teria que trabalhar para conseguir pagar uma noite sequer num lugar como aquele. Voltar a encarar Draco, que ainda me olhava com aquele olhar gelado. Quase comecei a rir do quão ridícula era aquela situação.
- Preciso ir. – murmurei, deslumbrada, com a voz praticamente inaudível. Reuni minhas forças e fui em direção à porta, sob o olhar repentinamente irritado de Draco Malfoy.
- Por Merlin, Weasley, seja sensata. – ele exclamou, lívido, bloqueando meu caminho, mas sem me tocar. Draco Malfoy era consideravelmente maior e mais forte do que eu, então eu simplesmente o encarei, com as sobrancelhas arqueadas, e cruzei os braços. – Você acabou de se recuperar de uma hipotermia. E você pretende ir embora desse jeito, e deixando sua varinha? – continuou ele, num tom mais ameno, sem sair da minha frente. – O que gosta de comer no café-da-manhã?
Quanta insistência. Senti meu estômago se revirando.
- Não estou com fome. – balbuciei, malcriada, desviando o olhar.
- Weasl- – ele começou, num tom de voz irritadíssimo, mas parou, suspirando, e fechou os olhos por um momento. Após respirar fundo uma única vez, ele abriu os olhos novamente, completamente recomposto. – Comprei roupas novas pra você, estão naquele closet. Há toalhas limpas no banheiro. – informou, com a frieza de sempre. Será que Draco Malfoy nunca se permite sair do controle? – Vá se limpar enquanto peço algo para comermos. – ordenou, autoritário, e saiu pela porta, antes que eu pudesse reclamar ou responder.
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E entããããão? *-*
