Infinitum

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"O apartamento, que era tão pequeno, não acaba mais.
Vamos dar um tempo. Não sei quem deu a sugestão.
Aquele sentimento, que era passageiro, não acaba mais
."

Engenheiros do Hawaii - Novos Horizontes

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Essa é uma daquelas fics a quem eu não me digno a dar de presente a ninguém. É minha.

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Num momento tudo são esperas e presenças. No outro são saudades e ausências. O apartamento, que era tão pequeno, parece não acabar mais. Seu corpo parece mínimo naquele mundo que possui seu cheiro - e o dele, porém sempre leva o nome de ambos. Como numa velha canção de amor.

Rukia examina cada cômodo. Os móveis estranhamente faziam-na pensar na forma como ele sentava, lenta e silenciosamente. O jeito de apoiar a perna sobre o joelho, o olhar seguro que lhe dirigia de longe. Ou até mesmo só o som da voz a lhe chegar aos ouvidos, transmitindo-lhe um tremor incontrolável.

Sentia falta daquela presença que tinha o poder único de diminuir em quilômetros o espaço vazio daquele lugar.

Por um lado devia ser ciúme. Ela não estava acostumada a dividir seu irmão com ninguém.

Por outro lado era só uma carência absurda; afinal Byakuya nunca fora o irmão mais carinhoso do mundo.

Sentia falta daquele 'boa noite' frio que recebia antes de ir dormir, assim como do 'Até mais' quando porventura ela se ausentava.

Mas agora era silêncio.

Caminhava pelo apartamento inteiro em busca de ecos que pudessem repetir quaisquer palavras dele. No entanto era só o silêncio denso ao qual seu estômago ainda não se acostumara. Causava-lhe uma sensação de estresse, um frio na barriga. Raiva.

"Rukia, está tudo bem com você?"

A vontade era de dizer que sim. Talvez tudo voltasse ao normal. Mas então dizia que não. Que estava triste. Que a vida era ridícula. Que ninguém no mundo fazia sentido.

"Se precisar conversar, já sabe. Fale comigo."

"Eu sei."

No âmago da sua capacidade de fingir satisfação com um breve consolo de duas frases trocadas, ela sabia que não era o bastante. Sentia falta de tudo. Das raras conversas, dos assuntos em comum - aqueles comuns somente a eles, saudade até das birras e reclamações.

Porém odiava a idéia de que seu irmão não fosse o mesmo. Talvez fossem os novos amigos - ou amigas, ou até mesmo fosse culpa dela.

Preferia que fosse.

Se fosse sua culpa ela poderia reanjar as coisas; mudar de comportamento, fazer com que tudo naquele lugar vazio voltasse a caminhar nos eixos. Calar o medo de perdê-lo para o que quer que lhe esperasse além da porta de seu mundo.

Se fosse sua culpa, Rukia até sofreria menos. Suportaria melhor. Se a culpa era sua então ele continuava o mesmo e estaria lá para ela, sempre que ela precisasse. Era agoísta de sua parte, sabia disso. Porém era também inevitável.

O queria só para si. Era o seu irmão. Seu. Pronome possessivo. Posse. Não o daria a mais ninguém. Não o dividiria. Não poderia. Era demais para sua cabeça.

"Tem certeza, Rukia, que não está acontecendo nada com você?"

"É claro, nii-sama. Eu só... não quero atrapalhá-lo."

"Não seja boba. Você não me atrapalha."

E embora as palavras dele continuassem tendo o mesmo impacto e a mesma força, Rukia sabia que não eram as mesmas.

Elas eram lançadas naquele apartamento e ali permaneciam. Trancafiadas e abafadas pelo poder com que era ditas. Mas não saíam nunca de lá. Ficavam presas nos ouvidos de Rukia.

Ele dizia aquilo por costume. Ela tinha certeza. Ele só estava sendo gentil.

O apartamento inteiro repetia isso para ela. O perfume, a voz, a saudade.

Estava perdendo-o. E, se o perdesse, perderia-se.

Nas raras vezes em que ele a procurava e dava-lhe alguns minutos dos bons tempos, Rukia sentia que poderia morrer ali mesmo.

Depois... gostaria muito de saber o que se passava na cabeça dele.

De qualquer forma, preferia que a culpa fosse mesmo sua.


N/A: Então, é isso. Eu me abstenho de comentar.

Reviews, ou o Sparky vai comer o SEU cullen.