Prólogo - A Guerra de Hogwarts.

"Sei que estão se preparando para lutar..."

Ouviram-se gritos entre os alunos; alguns se abraçaram, aterrorizados, enquanto procuravam ao redor de onde vinha aquele som.

"Seus esforços são inúteis. Não podem lutar comigo. Não quero matar vocês. Tenho grande respeito pelos professores de Hogwarts. Não quero derramar sangue mágico."

Fez-se, então silêncio no salão, o tipo de silêncio que comprime os tímpanos, que parece vasto demais para ser contido entre as paredes.

"Entreguem-me Harry Potter", disse a voz de Voldemort, "e ninguém sairá ferido. Entreguem-me Harry Potter e serão recompensados.

Terão até meia-noite."

O silêncio tornou a engoli-los. Todas as cabeças se viraram, todos os olhares no salão pareciam ter encontrado Harry, para mantê-lo congelado à luz de milhares de raios invisíveis. Então, uma pessoa se levantou à mesa da Sonserina e ele reconheceu Pansy Parkinson, no momento em que ela esticou para o alto um braço trêmulo e gritou:

– Mas ele está ali! Potter está ali! Agarrem ele!

Antes que Harry pudesse falar, houve um movimento massivo. Os alunos da Grifinória tinham se erguido à sua frente e encaravam, não Harry, mas os colegas da Sonserina. Em seguida, os da Lufa-Lufa se puseram de pé e, quase no mesmo momento, os da Corvinal, todos de costas para Harry, todos olhando para Pansy, e Harry, aterrado e sufocado, viu varinhas surgirem por todo lado, sacadas de capas e mangas.

– Obrigada, srta. Parkinson – disse professora McGonagall, em tom seco. – Será a primeira a deixar o salão com o sr. Filch. Se os demais alunos de sua Casa puderem acompanhá-la…

No salão irrompeu o barulho de palmas de todas as mesas do salão, menos, é claro, a mesa da Sonserina.


– O quê? Eu penso no bem de todos e somos retirados à força do Salão? Mas o q… – A voz esganiçada de Pansy Parkinson se destacava entre a multidão repleta de alunos com capas contendo o símbolo verde e prateado da Sonserina. – Tire as mãos de mim, seu aborto nojento! TIRE AS SUAS MÃOS NOJENTAS DE MIM! – Sua voz ecoou alto mais uma vez e, num súbito movimento ofuscado por um lampejo vermelho, ela apenas viu o sr. Filch afrouxar as mãos de seus braços e cair no chão, inconsciente.

– Qual é a vantagem de se duelar com um aborto se ele não pode revidar, afinal? – A voz arrogante de Blaise fora facilmente distinguida entre os demais sonserinos confusos, que em momento algum se calavam ou paravam de falar no nome de Parkinson. Ela sempre fora popular na Sonserina, é verdade, mas não tanto quanto seria esta noite. Afinal, não só desafiara a enregar o "Santo Potter" que era tão detestado pelos alunos da casa verde e prateada, mas dera a solução mais fácil no meio de toda aquela guerra. Além disso, sua ousadia com os professores de Hogwarts – característica fortalecida na convivência com Draco Malfoy – fora o que marcou sua passagem na escola durante os últimos sete anos.

– Acho que perdemos o nosso zelador, Blaise. – Pansy riu em um tom de deboche tão insuportável que faria qualquer pessoa se irritar. – O que faremos com esses pirralhos desesperados?

– Por que não o matamos de uma vez? – Sugeriu Blaise, impaciente, andando contra as ordens da Profª McGonagall.

– Matá-los? Você enlouqueceu? Eles são todos sangue-puros! O que o Lorde das Trevas f… CUIDADO!

Pansy se lançou contra Blaise de forma brusca e ambos caíram no chão, assim como metade dos alunos sonserinos presentes também foram derrubados em impulsos inconscientes. Um lampejo verde invadira o corredor escuro e quase atingira em cheio uma aluna segundanista que estava distraída.

– GREYBACK, SEU IMBECIL! – A voz esganiçada de Pansy tornou a quebrar o silêncio e, em questão de segundos, ela estava de pé, diante da janela, empunhando a sua varinha com fúria. – Estes alunos são todos da Sonserina! É com eles que você quer acabar? Talvez o Lorde das Trevas comece a matança com a sua cabeça se você fizer isso!

O lobisomem de aparência feroz, os dentes pontiagudos, as unhas amareladas e os cabelos emaranhados de um tom cinza, apenas bufou e, ironicamente, fez uma reverência à Parkinson, se retirando do local imediatamente. Blaise parecia não estar reagindo como um bruxo decente no meio da guerra reagiria, então Pansy, mais rápida, resolveu tomar as devidas providências como monitora. Ela empunhou a varinha diante da garganta e, com um encantamento, ouviu a sua voz um pouco mais alta do que a dos demais alunos, como se falasse em um microfone:

– Ok, pirralhos, me escutem. Vocês não vão lutar hoje! Ah é, você vai me desrespeitar? Crucio! – Ela lançou rapidamente a varinha contra um terceiroanista que havia resmungado qualquer coisa como "você não manda em nós" e viu o garoto tombar ao chão, se contorcendo entre gritos e gemidos. – Pois eu mando em vocês, sim! Não é porque o covarde do Snape foi embora, que eu deixei de ser a monitora desta casa. Parem de cacarejar como galinhas e entrem naquele trem estúpido, ou eu vou torturar cada um que resolver ficar!

Os alunos, embora contrariados, assentiram e, um a um, se retiraram do corredor. Os insistentes, que tentavam fugir ou simplesmente davam às costas, logo eram jogados ao chão e cediam depois de serem forçados pela dor da maldição Cruciatus. Enquanto os demais se retiravam, Pansy e Blaise presenciaram diversas cenas, entre elas, um aluno desconhecido da Corvinl, estatelado no chão como uma estátua, morto, Lavender Brown sendo atacada por Greyback, Colin Creevey falhando em um duelo e outros demais alunos que eles não se importavam.

– Onde está Draco? – A garota de cabelos louros acizentados que pendiam até o meio das costas, o uniforme – antes impecável – agora imundo e em trapos, lembrou-se do amigo e, assim como Blaise, também queria tirá-lo dali.

– Eu não sei! Ele sumiu com Crabbe e Goyle! – um Blaise mau-humorado e assustado respondeu com rispidez.

– Sempre aqueles dois imbecis! Vai acabar morrendo pela estupidez alheia. Vamos atrás dele! – Pansy retrucou, irritada.

Passados os minutos enquanto eles procuravam por Malfoy, mais cenas tristes ocorreram. Muitas mortes fáceis alcançaram alunos inexperientes, despreparados ou simplesmente mais fracos que os Comensais. Não que Parkinson se importasse, mas ela se perguntava quantos sangue-puro estavam morrendo naquela noite. Não seria mais fácil se o idiota do Potter apenas se entregasse? E ela era vista como traiçoeira por tê-lo entregue? A meia-noite se aproximava e nada parecia acontecer além de mortes inúteis e uma violência irritantemente incômoda. Além da agonia de ter a escola sendo destruída aos poucos – que, Pansy, apesar de tudo, respeitava –, ela não sabia quantas pessoas que ela se importava sobreviveriam àquela noite. Não que fossem muitas, mas era um número suficientemente grande para lhe tirar anos de felicidade.

No fim das contas, Parkinson encontrou Malfoy, Goyle e… Crabbe. Ou melhor, o corpo de Crabbe. Sabia que um dia a burrice mataria os dois, mas não fazia ideia de que o outro idiota ainda conseguiria sair vivo dessa. Malfoy estava claramente abalado, mas tudo o que Pansy queria era salvá-lo daquela terrível guerra e tirá-lo dali – como Narcisa lhe pedira mais cedo –, mas parece que a estupidez da dupla Crabbe e Goyle afetara Draco também.

– O que? Você… eu ouvi direito? – Pansy gritou.

– É, é isso. Agora cala a boca e me deixa passar! – Um Malfoy irritado retrucou.

– Você quer salvar aquele traidor de sangue e… E, pior, você quer salvar a sangue-ruim? O fogomaldito afetou sua cabeça, Draco? – A loura, agressiva, parecia mais gritar do que qualquer outra coisa.

– Eles salvaram a minha vida, sua idiota! Acha que eu quero dever um favor à uma sangue-ruim? É óbvio que não. Mas Potter e sua trupe salvaram a droga da minha vida. Agora eu preciso fazer o mínimo por eles. – Draco respondera com fúria, embora fosse notável um pouco de ressentimento em sua voz. Seus olhos, aos poucos, começaram a ficar marejados.

– Certo. E o que o Santo Potter quer que você faça? – Debochou Pansy, gargalhando histericamente.

– Eu… Eu não sei direito. Ele só quer que eu descubra onde Snape está. Me deixa passar, merda, Pansy! – Malfoy gritou e, pela primeira vez na noite, Pansy teve medo da sua reação.

– O Lorde das Trevas vai matar você se descobrir que você traiu a confiança dele ajudando Potter! Draco, não seja idiota! – Ela se jogou nos braços de Malfoy e tentou impedí-lo, abraçá-lo, mas o louro apenas se desvincilhou.

– Que se foda o Lorde das Trevas. Eu não vou mais passar medo por causa dele. Agora sai da minha frente, Pansy. Tem uma sangue-ruim me esperando. – Ele gritou mais uma vez e Pansy sentiu seus olhos arderem.

– Você… Você não pode, Draco. Não vai, ele vai te matar! Eu não posso perder você também! Me escuta! Ao menos… Uma vez, escute a sua namorada! – Pansy tentou manter a voz firme.

– Minha namorada? – Draco riu em um tom debochado. – Você deixou de ser a minha namorada quando voltou pra Hogwarts, Pansy. Eu pedi pra você fugir comigo e com a minha família, mas você escolheu voltar e glorificar sua estadia como monitora aqui, com Snape. Agora fique com seus preciosos méritos. Foda-se você! – Malfoy empunhou a varinha, trêmulo. – Agora, Pansy, de uma vez por todas, saia da minha frente!

– Você não me mataria, Draco. – Pansy respondeu; a voz esganiçada agora falhava.

– Eu não mataria você, tem razão. Mas… – Malfoy respirou fundo e, antes que ela pudesse responder, ele fora mais rápido. Firmou a varinha em sua mão e, sem pronunciar o feitiço – um talento que acabara aprendendo graças a Snape –, apenas mentalizou: Imperio.

Pansy não teria como revidar ou criar um feitiço-escudo se não sabia o que estaria por vir. Ironicamente, a sua expressão dura, rígida e firme logo fora substituída por uma feição débil que lembrava Crabbe. Ela sabia que seu melhor amigo, namorado (ou ex?) e amor da sua vida estava lançando uma maldição imperdoável contra ela; pior do que isso, estava dominando Pansy e ordenando-a o que fazer. Pansy queria usar a Oclumência contra Draco, mas como seria possível? Ali estava sua grande paixão, tomando conta dos seus pensamentos e querendo que ela fizesse algo. Ela o amava tanto, que não havia uma maneira de se colocar contra isto. Toda e qualquer teoria óbvia sobre Oclumência não funcionaria enquanto ela olhasse o fundo daqueles olhos que ela amava observar. Antes que pudesse fechar sua mente contra Malfoy, um único pensamento passou a dominar o seu cérebro, como uma ordem firme e séria que ela teria de seguir: Deixe Hogwarts e salve a sua pele. Eu vou lhe escrever quando puder. Mas saia daqui, mesmo que isso signifique me deixar morrer. Saia, Pansy. Eu não quero você por perto.

E, num súbito movimento, Pansy assentiu, se virou e rumou em direção à uma das saídas.


Pansy abrira os olhos. Tudo o que via era escuridão. Não fazia ideia de onde estava, se é que estava viva. Se ergueu e sentiu o seu corpo todo doer. "Mas que porra eu estou fazendo aqui?", ela se forçou a pensar. Reconhecera, após alguns minutos de observação, que estava na Floresta Negra. Não lembrava como ou porquê, mas sabia que era, pois passara muito tempo ali observando os unicórnios que Hagrid apresentara em sua aula, principalmente quando queria esconder-se com Malfoy. Sua última lembrança, apesar de distante, estava vívida em sua mente, como se ela pudesse assistir numa televisão. "Agora fique com seus preciosos méritos. Foda-se você!" As palavras de Draco estavam tão fixas, que a dor física não parecia nada comparado aquilo. Onde ele estaria agora?

Ela se levantaria e iria atrás dele, é óbvio. Mas somente quando Pansy se apoiou no chão para levantar, é que sentiu que havia algo ao seu lado. Lumus, ela sussurrou e a ponta da varinha iluminou uma boa parte do ambiente.

– Arrre! – Ela gritou, esquivando-se do que acabara de ver; o choque invadira suas entranhas e ela não sabia se chorava ou se gritava. Ao seu lado, frio e imóvel, estava Blaise. Os olhos abertos e fixos em lugar nenhum indicavam o pior. Pansy sentiu seus olhos arderem e, quando tocou a têmpora, sentiu uma dor na cabeça tão forte, que logo localizara com a ponta dos dedos um corte em sua testa. Teria sido atacada? Mas ela era uma sonserina, tinha o sangue-puro, assim como Blaise… Por que estariam ali? E, para o horror dos seus pensamentos: quem teria matado o seu amigo?

Pansy, sentindo uma onda enfurecedora dominá-la, levantou-se, trêmula e tentou caminhar. Não queria deixar Blaise ali, mas não era hora de ser nobre. Aliás, quando fora nobre durante a sua vida? Isso era uma tarefa para Potter e seus amigos grifos. Deveria salvar a sua pele enquanto podia, mesmo que isso significasse deixar o corpo do amigo. Antes que pudesse se arrepender, ela já estava longe, caminhando para a parte mais funda e escura da Floresta. Após minutos caminhando, ouvira vozes. Não eram poucas, mas, sem dúvidas, umas cem vozes juntas. Não fazia ideia de quem estaria àquela altura do campeonato ali, se é que ainda havia guerra. Quantas horas se passaram? Com uma habilidade incrível de ser mover silenciosamente, Pansy escondeu-se atrás de algumas folhas e observou a cena à sua frente.

"HARRY, NÃO!"

A voz inconfundível do gigante Hagrid dominou toda a Floresta e assustou Pansy, mas esta não se moveu e continuou a observar a cena. O meio-gigante estava amarrado, dobrado e preso à uma árvore próxima. Seu corpo maciço sacudiu os galhos no alto quando ele se debateu desesperado.

– NÃO! NÃO! HARRY, O QUE É QUE VOCÊ…

– CALADO! – berrou Rowle, e, com um aceno de varinha, silenciou Hagrid.

Bellatrix, que se pusera em pé de um salto, olhava ansiosa de Voldemort para Harry, o peito argante. As únicas coisas que se moviam eram as chamas e a cobra, se enrolando e desenrolando na gaiola atrás da cabeça de Voldemort.

Voldemort e Harry continuaram a se encarar, e agora o lorde inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, examinando o garoto parado à sua frente, e um sorriso singularmente sem alegria encrespou sua boca sem lábios.

– Harry Potter – disse ele, muito suavemente. Sua voz poderia fazer parte das fagulhas da fogueira. – O menino que sobreviveu.

Nenhum dos Comensais da Morte se moveu. Aguardavam; tudo aguardava. Hagrid se debatia, e Bellatrix ofegava.

Voldemort erguera a varinha. Sua cabeça ainda estava inclinada para um lado, como a de uma criança curiosa, imaginando o que aconteceria se ele prosseguisse.

Pansy viu a boca se mover e um clarão verde, e Harry caiu no chão.


Pansy prendera a respiração. Teria sido tão fácil? Por que fora tão fácil? E por mais que o idiota Potter estivesse morto, por que ela sentira vontade de chorar? Obviamente, por Blaise e por Malfoy. Mas, no fundo da sua consciência, Pansy sabia que era injusto com Potter e com todas as pessoas que morreram naquela guerra. Por mais que soubesse que deveria apoiar o Lorde das Trevas, ela sentia raiva em seu interior. Seu amigo estava morto e ela sequer sabia o porquê. Malfoy estaria vivo ainda? No entanto, seus pensamentos logo foram derrubados por passos apressados das pessoas desviando o caminho. O que fariam se a encontrassem ali? Potter estava morto, então a guerra também estaria acabada?

Sem mais tempo para questionar o que seria, Pansy se levantou em um salto e tentou se esconder atrás de uma árvore qualquer. Queria, mais do que tudo, fugir e nunca mais ter que olhar na cara de Voldemort, mas não resistiria à curiosidade de saber o que aconteceria. Além do mais, respiraria aliviada se pudesse ver Draco, vivo ou morto, uma última vez. Por isso, esperou a grande reunião de bruxos passarem e, silenciosamente, os seguiu, por trás das maiores árvores que encontrava. Quando se deu conta de que eles se aproximavam de Hogwarts, Pansy não queria ser reconhecida, ao mesmo tempo em que queria observar de perto o que aconteceria e conferir se Draco estaria vivo. Então, com um aceno da varinha para o próprio rosto, mentalizou Mutare Face e, em seguida, Mutare Vox. Não fazia ideia se os feitiços deram certo de verdade, mas quando balançou as madeixas para frente dos ombros, reparou que as mechas que antes eram louras de tom prateado, agora possuíam um tom puxado para o castanho escuro, embora ainda permanecessem louras. A garota deu de ombros e escondeu a varinha sob as vestes, voltando a acompanhar silenciosamente o bando que seguia. Quando chegou à Hogwarts, viu que uma multidão se reunia na frente do castelo e, discretamente, se juntou a eles sem ser notada, reparando que mais ninguém percebera sua presença ou sua aparência que ela ainda desconhecia.

Enquanto Pansy se colocava no meio da multidão, a voz de Voldemort magicamente amplificada de modo a se propagar pelos terrenos da escola retumbaram os tímpanos de quem ouvia.

"Harry Potter está morto. Foi abatido em plena fuga, tentando se salvar enquanto vocês ofereciam as vidas por ele. Trazemos aqui o seu cadáver como prova de que o seu herói deixou de existir."

– Mentiroso de uma figa! Ele se entreg… – Pansy sussurrou e, ao reparar que sua voz estava mais esganiçada do que o normal, calou-se para disfarçar ao notar que dois alunos a observavam. Só então se deu conta de que o símbolo da Sonserina de seu uniforme estava queimado, não dando para distinguir de qual casa a aluna pertencia. O feitiço que usara era realmente poderoso.

"A batalha está ganha. Vocês perderam metade dos seus combatentes. Os meus Comensais da Morte são mais numerosos que vocês, e O-Menino-Que-Sobreviveu está liquidado. A guerra deve cessar. Quem continuar a resistir, homem, mulher ou criança, será exterminado, bem como todos os membros de sua família. Saiam do castelo agora, ajoelhem-se diante de mim e serão poupados. Seus pais e filhos, seus irmãos e irmãs viverão e serão perdoados, e vocês se unirão a mim no novo mundo que construiremos juntos."

Pansy estremeceu. Embora odiasse a raça de sangues-ruins, nascidos trouxas e traidores de sangue, não podia imaginar um mundo justo com Voldemort no comando. Por um momento, desejou estar morta como Blaise. Desejou também, mais do que tudo, não ser bruxa e, em momento algum, ter que se envolver nessa guerra. Ou, nos seus pensamentos mais profundos e inadmissíveis, desejou um mundo onde estivesse com Draco e não precisasse se preocupar com os bruxos das trevas e suas ambições. Seus pensamentos se converteram em mais medo quando presenciou as cenas que viriam à seguir.

– NÃO!

O grito fora terrível porque ninguém jamais esperara ou sonhara que a professora McGonagall pudesse emitir tal som. Ouviu uma risada de mulher ali perto e percebeu que Belatriz exultava com o desespero de McGonagall. Voldemort tornou a espreitar por um segundo, e viu a entrada se encher de gente, à medida que os sobreviventes da batalha saíam aos degraus, para encarar os vencedores e constatar, com os próprios olhos, a morte de Harry.

– Harry! HARRY!

As vozes do garoto e da garota Weasley, misturadas com a de Granger, foram piores que a de McGonagall. Os gritos dos amigos de Potter tiveram o efeito de um gatilho, a multidão de sobreviventes se uniu a eles, gritando e berrando insultos para os Comensais da Morte até…

– SILÊNCIO! – exclamou Voldemort. – Harry Potter está morto! Entenderam agora, seus iludidos? Ele não era nada, jamais foi, era apenas um garoto, confiante de que os outros se sacrificariam por ele!

– Ele o derrotou! – berrou Ronald Weasley, e o feitiço se rompeu, e os defensores de Hogwarts voltaram a gritar e a insultar até que um segundo estampido mais forte tornou a extinguir mais uma vez suas vozes.

Pansy estremeceu ao ver Hermione. Não sabia exatamente o porquê, mas imaginar aquela sangue-ruim tão perto, sem ninguém para atacá-la ou matá-la ali mesmo. Só conseguia pensar que, se Draco estivesse morto, seria por tentar fazer um favor à ela. Ela sentia sua cabeça queimar com raiva e, antes que pudesse se der conta, já sacava a varinha em direção à garota trouxa. No entanto, a voz de Voldemort lhe derrubou os pensamentos.

– Ele foi morto tentando sair escondido dos terrenos do castelo – disse Voldemort, e, na sua voz, havia prazer com a mentira –, morto tentando se salvar...

Voldemort, no entanto, foi interrompido: alguém se destacara da multidão e investira contra ele.

– E quem é esse? – perguntou com o seu silvo suave de ofídio. – Quem está se voluntariando para demonstrar o que acontece com os que insistem em lutar quando a batalha está perdida?

Bellatrix deu uma gargalhada prazerosa.

– É Neville Longbottom, milorde! O garoto que andou dando tanto trabalho aos Carrow! O filho dos aurores, lembra?

– Ah, sim, lembro – disse Voldemort, baixando os olhos para Neville, que fazia força para se pôr de pé, sem arma nem proteção, parado na terra de ninguém entre os sobreviventes e os Comensais da Morte. – Mas você tem sangue puro, não tem, meu bravo rapaz? – perguntou Voldemort a Neville, que o encarava, as mãos vazias fechadas em punhos.

– E se tiver? – respondeu Neville em voz alta.

– Você demonstra vivacidade e coragem, e descende de linhagem nobre... Você dará um valioso Comensal da Morte. Precisamos de gente como você, Neville Longbottom.

– Me juntarei a você quando o inferno congelar. Armada de Dumbledore! – gritou ele e, da multidão, ouviram-se vivas em resposta, que os Feitiços Silenciadores de Voldemort pareceram incapazes de conter.

– Muito bem – disse Voldemort, e Harry detectou um perigo maior na suavidade de sua voz do que no feitiço mais poderoso. – Se essa é a sua escolha, Longbottom, revertemos ao plano original. A culpa será toda sua – disse ele, calmamente.

Pansy viu Voldemort acenar com a varinha. "Quanta baboseira", pensou, procurando impacientemente na multidão por Draco. Vira, ao longe, Narcissa olhar a multidão numa distração óbvia, claramente procurando pelo filho, tão aflita quanto Parkinson. A garota se sentira tentada à juntar-se à mulher, mas uma vez reconhecida pelo Lorde das Trevas, dificilmente conseguiria liberdade no futuro.

Segundos depois, das janelas estilhaçadas do castelo, algo semelhante a um pássaro disforme voou na semiobscuridade e pousou na mão de Voldemort. Ele sacudiu o objeto mofado pelo bico e deixou-o pender vazio e roto: o Chapéu Seletor.

– Não haverá mais Seleção na Escola de Hogwarts – disse Voldemort. – Não haverá mais Casas. O emblema, escudo e cores do meu nobre antepassado, Salazar Slytherin, será suficiente para todos, não é mesmo, Neville Longbottom?

Ele apontou a varinha para Neville, que ficou rígido e calado, então forçou o chapéu a entrar na cabeça do garoto, fazendo-o escorregar abaixo dos seus olhos. A multidão que assistia à porta do castelo se movimentou e, sincronizados, os Comensais da Morte ergueram as varinhas, acuando os combatentes de Hogwarts.

– Neville agora vai demonstrar o que acontece com quem é suficientemente tolo para continuar a se opor a mim – anunciou Voldemort e, com um aceno da varinha, fez o Chapéu Seletor pegar fogo.

Gritos cortaram o amanhecer, e Neville ardeu em chamas, pregado ao chão, incapaz de se mexer, e então, muitas coisas aconteceram no mesmo instante.

Ouviu-se um clamor nas distantes divisas da escola, dando a impressão de que centenas de pessoas escalavam os muros fora do campo de visão de todos e corriam em direção ao castelo, proferindo retumbantes brados de guerra. Nessa hora, Grope apareceu contornando a quina do castelo e berrou "HAGGER!". Seu grito foi respondido por urros dos gigantes de Voldemort: eles avançaram para Grope como elefantes estremecendo a terra. Depois vieram os cascos, a vibração de arcos distendendo e flechas começaram repentinamente a chover entre os Comensais da Morte, que romperam fileiras, gritando, surpresos.

Pansy, assustada, sabia que deveria sair dali imediatamente, ou não escaparia viva. Droga, mas e Draco? Por um momento, ficou sem saber o que fazer, mas seus instintos a guiaram para dentro do castelo. Enquanto corria sem olhar para trás ou sem pensar, logo foi interrompida por um baque do seu corpo chocando com o de outra pessoa. Quando já estava ao chão, se deu conta de que quem tombara junto à ela, fora a professora McGonagall.

– Arrre! Veja por onde anda! – Minerva gritou, seca. – Tome sua posição, senhorita… – ela colocou seus óculos novamente no rosto e encolheu os olhos ao olhar para Pansy. – E quem raios é você?

– Eu? – Pansy não pensara nisso até então. Sua voz esganiçada lhe atrasara o cérebro. Quem ela seria, afinal? – Quirke, senhora. Orla Quirke.

A professora endireitou os óculos na face estreita, apertou ainda mais os olhos e, desconfiada, perguntou:

– E de qual casa você é? – apontou para o símbolo queimado do uniforme de Pansy.

– E por que isto lhe interessa, McGonagall? Saia da frente e me deixe lutar! – Pansy rosnou, empunhando a varinha.

Para a surpresa de Parkinson, McGonagall a desarmou e, de uma vez, ordenou, seca:

– Eu pensei que tivesse sido clara quando lhe mandei pegar um trem de volta a Londres, srta. Parkinson! Se quer se oferecer de alvo para a guerra e morrer, fique à vontade, mas saia do meu caminho! E na próxima vez, experimente se transformar em Goyle. A estupidez dele cai bem em você! – e, em passos elegantes e apressados, McGonagall se retirou em direção à um dos Comensais para estuporá-los. Pansy deveria se sentir ofendida, mas pela primeira vez admirara a coragem da professora em sempre falar o que lhe vinha na cabeça. O único problema, é que se McGonagall a reconhecera tão fácil, qualquer outro poderia reconhecê-la também. O que será que a entregou dessa vez? A não ser que McGonagall fosse muito boa em Legilimência, Pansy deixara algo escapar.

A investida dos centauros dispersava os Comensais da Morte, todos fugiam das pisadas dos gigantes, e, cada vez mais próximos, estrondeavam os reforços que ninguém sabia de onde tinham vindo. Entre a confusão que estava a guerra, Pansy viu Yaxley ser nocauteado por George Weasley e Lee Jordan, viu Dolohov cair com um grito às mãos de Flitwick, viu Walden Macnair ser atirado do outro lado do salão por Hagrid, bater na parede de pedra e escorregar, insconsciente, para o chão. Viu Ronald Weasley e Neville abaterem Lobo Greyback, Aberforth estuporar Rookwood, Arthur e Percy Weasley derrubarem Thicknesse e Lucius e Narcissa Malfoy correndo entre a multidão, sem sequer tentar lutar, chamando, aos berros, pelo filho, que seguia logo atrás. Draco estava vivo. E estava indo embora. Foi para isso que ele não a procurou mais? Para fugir e deixá-la ali?

Apesar de sua raiva por Draco estar fugindo queimar, Pansy se sentiu completa por ao menos vê-lo vivo. Sabia que sua expressão amolecera e que não precisava ser nenhum Legilimente experiente para constatar que Pansy amava Draco. No momento em que se retiravam, a garota viu, de relance, a Sra. Malfoy olhá-la com alguma compaixão –– afinal, há anos convivera com a sonserina em sua casa –– e fazer um gesto para que se aproximasse (e depressa!). Teria o efeito do feitiço passado e Pansy já podia ser reconhecida? Se é que, em algum momento, o feitiço dera certo. Seria esta uma indicação para que Pansy fugisse com eles? Sem esperar mais um segundo sequer, a loura tentou ignorar a dor em suas têmporas e no restante do corpo, pegou a varinha que escapara de suas mãos ao ser desarmada por McGonagall e prosseguiu em direção à família Malfoy. Porém, antes que ela os alcançasse, ela ouviu, ao longe, uma voz aguda, fria e esganiçada pronunciar: Incarcerous!

Parkinson desejou, mais do que qualquer coisa, que o feitiço não fosse contra ela. Mas teve certeza de que era azarada no momento em que sentiu seu corpo inteiro ser amarrado magicamente por cordas e tombar ao chão com estrépito. "Merda," ela pensou. Queria gritar, mas seu corpo ardia demais para lhe dar qualquer outra força.

– Onde a lourinha pensa que vai? – gritou uma Bellatrix empolgada, já lançando Crucio na garota, que agora apenas gemia de dor. – Você não tem a burrice de achar que uma traíra como você vai escapar impune, não é, Parkinson?

– De que merda você está falan… – Pansy gritou, mas antes que pudesse completar a frase, uma nova onda de dor lhe tomou os sentidos.

– NÃO SE FALA ASSIM COM OS MAIS VELHOS, PARKINSON! Anos de estudo numa escola de magia, monitora-chefe da Sonserina e você não aprendeu o básico sobre educação? – Bellatrix deu uma risada histérica e lançou a maldição da dor na garota mais uma vez.

A loura apenas queria entender porque estava sendo castigada, se é que aquilo poderia ser realmente um castigo ou apenas um modo de Bellatrix se divertir. Mas, considerando que a guerra acabara de recomeçar e todos os bruxos presentes se atacavam, Madame Lestrange não perderia tempo com Pansy se não fosse por um motivo muito importante. Pansy ouviu Narcissa sussurrar um "por favor" e quis, de uma vez por todas, entender o que acontecia. Contudo, com a dor que sentia, o máximo que conseguira fazer, fora olhar para o lado e avistar Draco, há alguns metros de distância, a observando apavorado.

– Não, Cissy! – Gritou Bellatrix impaciente. – É você e sua família ou a garota! O Lorde das Trevas sabe que alguém ajudou Potter a encontrar Snape. Nós duas sabemos que Draco é suficientemente burro para fazer isso! Mas se você quer escapar, eu vou levar a garota como garantia de que alguém o traiu!

– Draco, não deixa ela fazer isso! – Pansy reuniu toda a força que tinha para gritar, mas logo fora silenciada com mais uma dose de Crucio.

– CALADA! – esganiçou Bellatrix. – Cissy, é pegar ou largar!

O silêncio fora maior do que o restante da guerra que ocorria há alguns metros de distância. Pansy se virou para Draco mais uma vez e, ao se deparar com Lucius e Narcissa seguindo em frente, pediu com o olhar, uma última vez, para que Draco a tirasse dali. "Por favor", ela sussurrou; os olhos estavam molhados e, pela primeira vez, ela sentira medo. Medo de nunca mais ver Draco. Medo de morrer. Medo do que o Lorde das Trevas faria com uma suposta traíra. Mas, principalmente, medo de Draco lhe deixar morrer. E, antes que ela pudesse pedir mais uma vez por ajuda, antes que ela pudesse implorar para que o seu melhor amigo não a deixasse, Draco negou com a face, virou as costas e desapareceu em meio aos destroços.

Bellatrix, mais uma vez, dera uma gargalhada debochada que cortou o ar. Pansy não reagiu.

– Ele era o seu namoradinho, não é? – Bellatrix sussurrou próximo à orelha da garota. – Nós, mulheres, devemos confiar apenas em homens corajosos, Parkinson. É isto que você recebe por se apaixonar por um covarde.

– CALA A BOCA! – Pansy gritou com toda a força que conseguira reunir em seus pulmões. – Você é tão covarde quanto todos eles! Eu só quero que você se foda e exploda junto com o seu Lorde das Trevas!

Pansy sabia que seria o fim. Aquelas palavras teriam sido imperdoáveis. Ela declarara alto e em bom tom o seu ódio ao Lorde das Trevas, á família de Bellatrix e Draco. Quantos minutos ela teria até morrer? Qual seria o último som que ouviria? Pansy fechou os olhos e apenas esperou.

Avada Kedavra! – A voz de Bellatrix inundou o ambiente.

Pansy sentiu o seu corpo estremecer. E, antes que fosse atingida, pensou uma última vez em seus pais.