POV. EDWARD

Abri a porta de casa sentindo meus ombros caírem. Mas não era de alivio, era cansaço, puro cansaço. A voz de minha irmã – com poucos dias de vida – já era ouvida, misturado com os soluços de minha mãe. Podia apostar que Esme estava abaixada, segurando a cabeça chorando, enquanto Carlie se esgoelava suja ou com fome.

Subi em direção ao barulho, parando na porta do quarto dos meus pais, minha mãe estava no jeito que eu achara, abaixada ao lado da pequena escrivaninha do outro lado do quarto, enquanto Carlie balançava as pernas freneticamente, a frauda aberta. A pobrezinha já estava vermelha de tanto chorar.

– Mãe? – a chamei, entrando no quarto, queria ajudá-la, levantá-la de lá e a consolar, mas eu sabia que Carlie era quem mais precisava de mim. Terminei de fechar sua frauda (que estava quase posta nela), e a peguei no colo, depois de balançar um pouco seus gritos baixaram, e os de Esme também, mas a pequena começou a chupar o dedo com força. – Desde que horas ela não come? – questionei.

Minha mãe ficou alguns segundos intermináveis calada, quase achei que ela não diria mais nada, quando sua voz sussurrada ser fez audível.

– Eu não sei... – suspirou. – Talvez desde as 14:00hrs. – balancei a cabeça, indignado, mordendo a língua para não falar nada.

– São 17:00hrs mãe, ela não pode ficar tanto tempo sem comer. – sem olhar pra ela, desci as escadas, antes de ir para a faculdade, eu deixava algumas mamadeiras prontas na geladeira, por isso foi rápido apenas colocar no micro-ondas pra aquecer.

Assim que depositei o bico da mamadeira na boca da pequena, ela sugou com força, dando pequenos suspiros enquanto o leite entrava em sua boca.

Minha mãe não quis amamentá-la. Seu quadro de depressão pós-parto era grave, eu temia deixá-la sozinha com a bebê, mas com a faculdade era impossível, eu morava sozinho até Carlie nascer, mas depois, com o quadro da minha mãe, tive que me mudar pra cá, já que meu pai pouco ligava pra como estavam as coisas em casa.

Não. Ele não era um pai ruim. Ausente seria a palavra correta. Carlisle sempre, a vida toda, se preocupou em dar o bom e o melhor para nós todos, mas isso nos custava um preço caro.

Ele chegava tarde do trabalho – médico num dos melhores hospitais do país – e quase sempre trazia mais trabalho pra casa.

A noticia da gravidez de minha mãe alegrou toda a família, é claro. Mas não mudou nada em relação ao trabalho do meu pai.

Esme queria atenção, não pra si. Mas ela odiava o fato de ter que ir em consultas sozinhas. As vezes eu ia junto, mas não era sempre que eu podia. As brigas eram frequentes, e depois que a neném nasceu tudo piorou.

Carlie tinha três semanas de vida, mas já era uma guerreira, minha mãe a rejeitou, meu pai nunca estava presente, ela tinha apenas a mim e uma empregada de confiança que vigiava minha mãe.

Não era a primeira vez que a pobrezinha ficava sem comer por horas. Ou que sentia frio quando minha mãe tentava dar-lhe banho mas não conseguia concluir, e então ela tinha que ficar molhada em cima da cama até que alguém chegasse para socorrê-la.

O médico de Esme dizia que ia passar, mas eu não tinha certeza daquilo.

Peguei Carlie, levei-a para o meu quarto junto com algumas roupas dela e a banheira. Depois que ela arrotou, tirei sua roupinha rosa mal colocada, e a depositei na água morna da banheira.

Ela suspirou.

– Pronto, pequena. Tudo bem. – sussurrei, despejando um pouco de água com a mão sobre seus cabelinhos loiros. Ela fazia barulhos estranhos, mas claramente, de satisfação. – Você ta grandona, sabia? Nem parece que precisou ficar no hospital pra ganhar peso. – Carlie abriu a boca, "sorrindo".

Depois de dar banho nela, troquei sua frauda e sua roupa, deixando a aquecida, a fiz dormir e a deitei na cama, em meio a vários travesseiros, para que não caísse.

Assim que fechei a porta atrás de mim pude ouvir os gritos dos meus pais discutindo – mais uma vez.

– VOCÊ NUNCA ESTA PRESENTE EM CASA E ACHA QUE TEM O DIREITO DE ME COBRAR ALGUMA COISA? – gritava minha mãe, a resposta do meu pai, ao contrário do que eu pensava, que seria calma e acolhedora, veio tão fria quanto a dela.

– JÁ É QUASE UM MÊS E VOCÊ CONTINUA COM ESSA BOBAGEM DE DEPRESSÃO PÓS-PARTO. PORQUE QUE NA GRAVIDEZ DO EDWARD VOCÊ NÃO TEVE ISSO?

– DEVE SER PELO FATO DE QUE NA PRIMEIRA GRAVIDEZ EU TIVE APOIO.

– APOIO? VOCÊ SABE QUEM É QUE PAGA TODA ESSA VIDA BOA QUE VOCÊ TEM? SOU EU. EU, ESME. EU. FAÇO MINHA PARTE, FAÇA A SUA TAMBÉM.

O silencio reinou depois disso, até que alguns minutos depois ouvi a porta do quarto sendo batida com violência.

Corri até lá, encontrando minha mãe se derramando em lágrimas em cima da cama.

– Mãe... – sussurrei, chegando até ela e me surpreendendo quando ela deixou-se ser abraçada.

– Leva ela. – sussurrou, agarrada na minha camisa.

– Como? – perguntei sem entender.

– Leva ela, Edward. Eu não quero esse bebê. Não quero agora, filho. Leva ela de mim. – meus olhos devem ter crescido muito. Eu quase os sentia fora do rosto.

– Não acredito. – sussurrei.

– Eu só vou melhorar longe dela.

– Mãe eu...

– Por favor. – suas lágrimas ficaram mais fortes. – Você vai cuidar melhor dela do que eu ou seu pai.

– Mas mãe, eu não terminei a faculdade, não tenho um emprego, nada. Como vou sustentar nós dois.

– Eu te dou um dinheiro, pra vocês começarem. Depois, com o tempo, vocês voltam.

Mas nós não voltamos.

Minha mãe me deu 10 mil dólares. Com esse dinheiro, eu fui embora de Los Angeles para Nova York sem me despedir do meu pai ou da minha mãe, com algumas malas e uma bebê nos braços.

Todo o começo é difícil, o meu não foi diferente. Depois de travar meu curso na faculdade e me mudar pra uma casa simples no Brooklyn, e tendo uma menina pra criar, as coisas, definitivamente, jamais foram as mesmas.


N/A: Oi, gente! Depois de tanto tempo dei as caras por aqui. Tava com saudades, sei que devo muitas explicações, e todas elas estão no meu perfil.

Sobre Por Amor: Eu realmente gosto dessa história, ela é levinha e super romântica, um pouco diferente de tudo o que eu já escrevi. De todo o coração espero que gostem, e semana que vem tem mais.

Beijos!