Fallen
Um livro sagrado, um anjo caído,
Um amor que não deveria existir
Prólogo
Vale do Loire, França.
Novembro de 1565
Corria. Seus pés descalços estavam doloridos devido à corrida forçada, não ousava olhar para trás, sabia que ele a seguia e estava cada vez mais perto de alcançá-la. Os galhos das árvores arranhavam-lhe a pele a medida que corria em meio a floresta, a noite cobria o céu deixando tudo em completa escuridão a não ser pela fraca luz lunar que iluminava seu caminho, avistou algo brilhante um pouco a sua frente, o rio Loire refletia a luz branca perolada da lua, num ultimo ímpeto de esperança correu mais depressa fazendo seus pés sangrarem a medida que pisava nas pedras , mas ele a alcançou, num gracioso movimento quase felino, suas orbes completamente negras sem pupilas a fitavam com diversão, seu corpo repleto de cicatrizes que cintilavam negras á luz da lua, em seus lábios havia um sorriso de escárnio, o ar tornara-se frio, como se toda vitalidade do lugar tivera sido sugada pra longe, apertou os braços em torno de si em uma inútil forma de proteção, isso pareceu diverti-lo mais ainda.
-sangue pra beber, carne pra comer, mas ele não vai deixar, ele disse pra não fazer...- Sussurrava, pondo a cabeça levemente pro lado dissimuladamente, aproximou-se dela lentamente como se ainda decidindo o que iria fazer.
Tremia, de frio e de medo, não sabia o que fazer, se corresse ele a pegaria, se lutasse ele a mataria. Uma sensação de impotência invadia seu corpo, recuou a medida que ele se aproximava, ele continuava a sussurrar como se não tivesse permissão para mata-la , mas estava claramente pensando a respeito.
-ele vai punir, trancar no lugar escuro, mas cheira tão bem... a alma... tão doce.- Ele tocou-lhe a face com a ponta dos dedos, sua respiração falhou, em um movimento rápido ele moveu mover sua mão ao lado esquerdo de seu peito, ouviu um barulho semelhante a de ossos se quebrando e uma dor aguda lhe atingiu as costelas, a mão dele fechou-se em seu coração e subitamente a puxou para ele, seu coração ainda pulsava na mão do ser a sua frente que sorria umedecendo os lábios com a língua.
Então tudo tornou-se escuro.
Sentiu seu coração apertar em um mau pressentimento, suas mãos tremiam e sentiu como se uma parte sua houvesse sido arrancada de repente de dentro de si, soltou a respiração que nem ao menos percebera eu havia prendido.
-alguma coisa aconteceu, mas oque...? - Sussurrava para ninguém em particular, a imagem de uma menina sorridente veio-lhe a cabeç, o desespero tomando conta de seu corpo, sem mais tempo pra pensar, voou, rumo a terra.
Precisava encontrá-la, sabia que logo menos os arcanjos iriam á sua procura, mas a sensação de perda consumia-lhe, pousou seus pés ao chão com um leve flexionar de joelhos, endireitou-se recolhendo suas asas para dentro de sua pele. Sentiu uma fria gota de suor escorrer por sua tempora e percebeu que suas mãos ainda não haviam parado de tremer, engoliu em seco, o lugar todo cheirava a sangue, encontrava-se perto do rio Loire, não sabia exatamente o porquê, apenas chegara ali por puro instinto. Caminhou por entre as árvores, o cheiro de sangue ficando mais forte a cada passo em direção ao rio, avistou-o refletindo a luz da lua e uma pequena poça despejando o liquido vermelho sobre a água. Seguiu a trilha viscosa com os olhos, sua respiração falhou, sentiu os joelhos fraquejarem, sua visão ficando embaçada pelas lágrimas que rolavam lentamente por seu rosto.
-não... – falou com apenas um fio de voz, olhava a menina no chão, seus membros frouxos como uma marionete que tivera suas linhas cortadas, em seu vestido branco ensangüentado havia um buraco no lado esquerdo, a ferida aberta do tamanho de um punho exatamente onde batia o coração, e este não estava mais lá. –NÃO! – gritou ajoelhando-se ao lado do corpo sem vida, a dor avassaladora em seu peito parecia só aumentar à medida que olhava os olhos azuis sempre alegres agora sem brilho e meio desfocados, os cabelos loiros espalhavam-se sob o chão desordenados.
-Inocence... – Sussurrou em meio aos soluços – Quem fez isso com você?... – Acariciou-lhe o rosto, agora frio como gelo, chorou mais forte abraçando-a contra seu corpo.
-Eu te amo tanto, Ino... – Sentiu as gotas de água começar a molhar sua face para logo após dar lugar a uma forte chuva.
Deus chorava junto com ele.
Fim do Prólogo.
