And I don't know how I can do without,

Por Padfoot


"Picture perfect memories,
Scattered all around the floor."

Sherlock não me pertence, por isso dou os devidos créditos e direitos à BBC, Steven Moffat, Mark Gatiss e Sir Arthur Conan Doyle. Como pode ver, esta fanfic (escrita sem fins lucrativos, apenas à título de apreciação) é baseada na série estreada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman. Finalmente tomei a coragem devida de dar vida ao tão amado OTP Johnlock. Por favor, seja bacana: é a primeira vez que escrevo sobre eles e eu decidi que deveria ser bem doce e triste, de uma forma sutil. Espero que, de alguma forma, agrade ao leitor que se aventurar.


"I can't fight it anymore."

Há muito que não te escrevo.

Sim, eu vejo o meu erro — agora mais o que nunca. Mas não vim aqui para pedir desculpas, pois reconheço que não há formas de desdizer o já dito. Tampouco desfazer o já feito. Estamos separados por esta finíssima linha de consciência, a qual não pode ser transposta nem por pensamentos.

E mesmo assim, eu os tenho.

Perdoe-me, mas devo ser sincero pelo menos nesta carta. Enquanto ainda posso e o fôlego prossegue entre os soluços esquivos de um coração sufocado.

Dramático? Sim, você diria isto. E eu concordaria com uma carranca indisfarçada. Engraçado como, para algumas situações, meus sentimentos sempre ficavam à amostra para você. Gosto de pensar, até, que isto não mudou — apesar de tudo.

Não, não tente deduzir. Você não conseguiria. E também não sinta raiva desta verdade, porque ela é impossível de se contra argumentar — não se esforce, mesmo que eu saiba que você pode, ainda agora, ler a minha mente.

Não é algo lógico o que proponho escrever aqui, principalmente pelo estado emocional em que me encontro para dizer-lhe isto. Isto, que eu já disse desde o começo. Desde a primeira linha ou o primeiro impulso de lhe escrever. Este vão entre o eu e você.

Eu sei, não é sua culpa. Eu realmente acredito que há alguma justificativa plausível para — oh, desculpe, não posso prosseguir com isto! Caminhar ao mesmíssimo ponto de onde paramos não é saudável para a minha sanidade. Parar à esquina — na verdade, tentar cruzá-la — para observá-lo decidir por nós dois o meu destino — pois o seu já estava selado — não é recomendável. Eu já nem consigo olhar para cima, para o teto, sem lacrimejar ou esbofetear um móvel à deriva.

Não é culpa minha, também, ter este sentimento.

Por favor, não me pergunte ainda o que é. Estou tentando reunir forças para confessar a mim mesmo, imagine para escrevê-lo tão logo. E, sim, eu sei que eu me propus a isto — mesmo quando você ainda podia ouvi-lo e respondê-lo, à seu modo esquivo e único de ser. Meus olhos me entregavam mesmo antes de eu perceber que era a você que eles procuravam.

Certo, seguindo sua lógica, eu não deveria nem ter principiado — e me refiro a tudo isto que estou fazendo desde que o conheci naquele laboratório. Eu não deveria, aliás, ser tão patético a ponto de dedicar tempo, esforço e folha a um cadáver. Afinal, em que ele poderia me retribuir?

Mas a grande pergunta é: o que, quando vivo, ele poderia ter sido?

Eu ainda não sei.

Na verdade, não tenho muito tempo para saber, porque nossa boa e velha senhoria aconselhou-me a ocupar o ócio. E assim o fiz — concordo que crochê, aulas de culinária e saídas à biblioteca não são atividades muito cansativas, mas, para um cérebro já exausto de esperar, são estimulantes pílulas para o esquecimento. De qualquer forma, não vou mentir: ainda, na calada da noite ou numa brisa fria, entorpece a minha mente a pergunta do por vir destruído e eu inundo minhas lembranças de pedaços inverídicos.

Em um desses devaneios, por exemplo, voltamos ao dia em que aquela mulher intrometeu-se em nossas vidas. Eu recolho todas as doídas impressões de como sua figura o envolveu e preencho seu êxtase com palavras de calmaria ao meu coração explosivo — "Não se preocupe: ela não é nada para mim"; "Eu não alimento qualquer interesse além do profissional"; "Eu não a acho melhor do que você".

Nessas ocasiões, também, atrevo-me a desenhar um beijo — macio, de lábios quentes e úmidos à espera de retribuição há muito, de línguas sôfregas pelo encontro e mãos ávidas por pele e cabelos. É aí que eu travo. Não vou muito além do desenho de seu contorno quase sobre o meu. Tenho medo do que o resto da memória pode fazer nascer dentro de mim — se é que ainda cabe mais sentimento com relação a você, aqui.

Bem, vejo que não tenho mais forças — ou razões — para adiar o veredicto: eu te amo. Com uma brandura violenta, com um calor polar e uma ilógica acertada de postulados teorizados por tantos outros autores do mesmo tema. E eu amo. Amo mesmo. Com uma verdade irrepartível. E é exatamente por este amor infrutífero que minha incapacidade de imaginar sua concretização se consolida.

Eu não consigo ver o que poderia ter sido de nós dois como um casal, porque já havia me acostumado com a realidade de ser apenas o seu parceiro, o seu amigo — o único, como me confessou certa vez. Ou, talvez, porque já me basta a dor de não termos sido: adicionar a mortal ferida de sermos, em minha imaginação, é pedir demais de mim.

E este é o meu erro.

Não ter sido.

Não ser.

E ir.

Ir seguindo.

Ir mentindo.

Ir sozinho.

Enquanto o levo comigo — para algum lugar que possamos estar, em algum momento, perto do derradeiro fim de ficarmos juntos.

Sinceramente, eu não sei por que insisto nisto. Nisto de escrever-lhe todas as manhãs que a saudade aperta no peito, e morre na caneta — ou finge que morre enquanto a queda é inevitável.

Na verdade, eu só queria ter dito. Naquela hora. Fatídico medo, porém, impediu o pedido de sair. Só conseguir implorar um "não, não faça". Mas o que poderia ter te parado, o que poderia ter te controlado e ter te forçado a não mentir para destruir nossas lembranças, nosso laço... Isso, eu não fui capaz de dizer. Não tive tempo de fazê-lo.

É por isso que o faço. Agora. Tarde. Com o peso da culpa queimando as pálpebras molhadas.

Eu só queria não ter errado em esconder tudo o que podíamos ter sido de você. Ou mesmo de mim.

— Por favor, não se vá! Viva! Não se jogue!

Eu te amo, Sherlock.

"Another shot of whisky,
can't stop looking at the door.
Wishing you'd come sweeping
in the way you did before."