Notas Explicativas: Esta mini-fanfic é um presente singelo ao meu amigo secreto de 2006. Quem é ele? Lord Hades. Pra falar a verdade, nada ofensivo, mas nem precisei ler a ficha dele pra saber o que este moço queria. Me esforcei para criar um texto com Hades a altura. Como é a primeira vez que escrevo com este deus que tanto fascina muitos fãs, não esperem um texto divino, um Hades fiel. Temos que analisar duas coisas: o contexto da história, que operará sim várias mudanças no deus. E a segunda é a experiência desta autora para com o mesmo. Mas tirando estas notas, que foram mais uma desculpa esfarrapada, espero sinceramente que esteja ao agrado de todos.

Disclaimers: Saint Seiya, assim como Hades e todos os outros que aqui aparecem, tirando os originais que certamente vocês identificarão, pertencem à Masami Kurumada, Toei Animation e licenciados. E a música inspiradora (porque, afinal, eu nunca esqueço dela XD), "Kirei na Kanjou", pertence ao anime Noir e seus respectivos donos, licenciados e derivados.

A DIVINA COMPOSIÇÃO DO DEUS DAS SOMBRAS
(Sakkyoku Tengoku no Kuro Kami)

Petit Ange

Nota Zero – Prólogo: Anjo do Silêncio
(
Rei Kakitsuke – Hajime: Chinmoku no Tenshi

Uma reconfortante escuridão preenche todo o silencioso ambiente. Silencioso... Aquele silêncio era tão angustiante, tão profundo, que reverberava por dentro. Podia tirar a sanidade dos piores humanos. Uma tortura desumana. Mas, para um deus, ainda mais um deus em recuperação, aquilo mais parecia o Paraíso, Tenkai, tantos outros nomes para um único lugar...

O lugar escuro e profundo, que a algum humano lembraria a sensação de estar no ventre materno. Se realmente lembrasse de um, com certeza teria uma sensação semelhante. Quente... Silencioso... Escuro... Uma reconfortante sensação de tranqüilidade, de silêncio tão esperado e até de força. Décadas, séculos, milênios... O tempo não importava para um deus. Um piscar de olhos deles equivaleria, tranqüilamente, sem problemas, a toda uma vida de um humano.

Para Hades, no entanto, nada daquilo importava. Sentia-se reconfortado, mas ao mesmo tempo, amargurado e cansado. Desejava voltar. Voltar e propagar a vingança. Sentia, com toda a raiva e força, que Atena não deixara Pegasus morrer. Ou seja... Seu eterno inimigo estava tão vivo quanto os outros, quanto a deusa, quanto a Terra.

Um plano falho.

As mãos fecharam-se com dificuldade. Ah... Sua raiva podia incendiar uma floresta, uma cidade... Ardia como brasa, como as chamas do Inferno, como os humanos diziam por aí. Vingança, raiva, desejo... Tudo ardia de uma só vez naquele corpo divino. E aquilo tudo, sabendo que nada poderia fazer, só esperar anos para tentar de novo, lhe davam um desânimo que, com certeza, pensava, iria atrapalhar bastante sua recuperação que precisava ser rápida.

"Atena..." – a voz masculina ecoou na seca escuridão, impiedosa, sem nunca parar. – "Atena..."

Clamava seu nome, sua presença. Queria-a perto dele agora, queria-a realmente perto dele, até se fosse com sua ridícula armadura. Não importava. Atena nunca seria-lhe uma ameaça. E se fosse, não iria dizer a nada, nem a ninguém. Mas de que adiantaria chamá-la, se naquele silêncio acolhedor não obteria resposta, nem ajuda, nem absolutamente nada?

Fechou os olhos azuis, já acostumados com a escuridão, mas que ainda sim nada conseguiam visualizar. Sentia-se ainda melhor, como se flutuasse delicadamente num vácuo. O descanso divino... Deuses ansiavam por aquele tipo de descanso. Mesmo feridos de batalha, mesmo humilhados... Era naquela escuridão, naquele silêncio e naquela solidão que podiam tramar, descansar, perdoar ou fazer qualquer coisa, o que suas consciências divinas quisessem fazer.

Em seu caso, o seco coração do senhor do Inferno não queria perdoar. Não podia perdoar, sob hipótese alguma. Queria vingança, queria a cabeça, o coração, os membros de Atena... Todos em suas mãos, a morte dela em sua cabeça, o sangue em seu corpo. Queria tudo dela nele. Não de forma doentia, de forma carnal... Simplesmente na forma que só inimigos eternos concebem.

Quanto tempo poderia ter se passado? Horas? Dias? Meses? Anos? Mas nada importava. O tempo era só uma preocupação mortal. Ele tinha muitos séculos de descanso. Mas ansiava tanto por uma vingança naquele momento... Uma brecha, uma luz naquela escuridão, que iluminasse-a, que lhe mostrasse um caminho para uma revanche.

Seus desejos foram atendidos no momento em que, muito longe, muito pálida, uma pequena luz pulsante emitia sua vida. Desde quando estava ali? Quem a trouxe? Como apareceu? As dúvidas naquela cabeça não eram poucas. Mas, de qualquer forma, no fundo, sentiu-se satisfeito por ter visto algo que não fosse aquele negrume que, lentamente, levavam um imortal ao sono reparador.

"Luz..." – os olhos azuis do deus pareceram não acreditar. Seu desejo tornou-se real?

Sem dar-se conta, pareceu que fora arrastado para aquela cálida iluminação. Sua mão quis esticar-se em direção da mesma, mas continuou imóvel. Hipnotizado. Parecia um buraco-negro luminoso que tudo suga, sem dar chance de escapatória.

O que seria aquilo, que nem ele mesmo reconhecia ou sabia?

Sotto furerarete
(Toco-a suavemente)
Kono hoho no tsumetasa ni yatto kidzuita
(E só assim noto minha face gelada)
Asa me ga samete
(Ali acordo sobressaltado)
Tori no koe ni hajimete kidzuku you ni, totsuzen
(Como se ouvisse pela primeira vez o som dos pássaros)

"Nova Utopia"? Era algo tão idiota quanto a vida humana habitando aquela face terrestre tão destruída. A verdade é que sempre fora um deus contra qualquer tipo de chance para humanos. Não compartilhava de idéias de nenhum outro deus, queria aquelas criaturas asquerosas destruídas. Sempre no Inferno...

Eternamente no sofrimento. Pagarem por todos os pecados que teimavam em cometer.

Se foram feitos à semelhança de deuses, por que eram tão imperfeitos, tão dignos de pena e ódio... Tão humanos? Tão asquerosamente humanos? Sentimentos tolos como "amor", "amizade", "alegria"... Tudo aquilo eram meras quimeras, palavras sem nenhum valor, palavras vazias. Num mundo como aquele o qual a Terra transformou-se, tudo perdeu o sentido e a graça. E, mais do que nunca, os humanos neste momento necessitavam de um castigo divino.

Uma segunda chance? Nunca.

Hades não soube porquê, mas sentiu um calor que nunca sentira antes. Calor? Desde quando deuses sentiam alguma coisa? Ainda mais calor... O fogo era algo somente deles, roubado pelos humanos, mas jamais sentiram as chamas esquentarem-lhes as faces. Tudo que viam eram as labaredas escarlates crepitando sem parar. Uma visão calmante, poderosa.

Não foi só calor. Foi um estranho frio, unido a este calor, uma sensação realmente estranha, nova, que lhe causou um misto de nojo e curiosidade. Que era aquilo? O que acontecia?

A última coisa da qual lembrava era de estar numa escuridão calmante. Num lugar de descanso, em seu santuário de trevas, esperando pacientemente o dia em que sairia para buscar a vingança contra a deusa que tanto lhe causava raiva. De repente, uma luz.

E depois dela, nada mais viu ou sentiu.

Os momentos de total vazio deram lugar àquelas sensações estranhas, que jamais havia sentido outra vez na vida imortal concedida-lhe. Não eram só as sensações, apesar de serem elas mais assustadoras e convidativas. Um som contínuo e enjoado, que machucava-lhes os sensíveis ouvidos, retumbava forte em seu interior, parecia atravessar um caminho que lhe deixava atordoado.

Ao mesmo tempo em que ansiava abrir os olhos, tinha um certo receio do que encontraria? Onde estava? E o que era aquilo tudo?

Abriu um dos olhos, e um ambiente branco, com a luz do sol... Espere! Luz do sol? Imediatamente, ao ter em sua cabeça a informação que o que olhava era mesmo a luz do sol, levantou-se assustado. Viu-se numa cama. Sim, uma cama. Não era tão confortável, mas nem tão desconfortável. Levemente macia. Como sentia a maciez dos lençóis, da própria cama? Como? O que era toda aquela situação? Onde devia estar?

Olhou ao redor, tentando não assustar-se tanto com aquele lugar. Uma espécie de máquina... Sim, uma máquina humana era a causadora daquele barulho horrível que machucava-lhe o fundo da cabeça. Uma figura estranha. Como os humanos chamavam? "Coração"? Sim, o famoso coração. Riscos passavam do lado direito do coração. Riscos verdes, que junto com outros riscos embaixo e com números que Hades não compreendia ao lado causavam aquele barulho.

Os lençóis daquela cama eram brancos e leves. A roupa que usava era verde. Uma espécie de manto, de vestido. O ambiente era branco, havia um vaso com flores amarelas e vermelhas, que começavam a murchar. Sentiu-se familiarizado com aquelas rosas.

"Que lugar..." – mal conseguia completar seu pensamento. A sobrecarga de informações, de descobertas... Tudo parecia ser demais até para o deus.

E quantas sensações lhe sucediam! Espanto, asco, admiração, vergonha, raiva, desejo... Não entendia nada daquilo, precisava saber o que acontecia. Sentiu-se estranhamente mais leve. Resolveu descer da cama. Sentiu uma leve pontada no pé. Uma dorzinha incomoda. Dor? Deuses sentem... Dor? Não sabia porquê, mas em sua mente, no mais profundo inconsciente, uma rápida idéia do que fosse passou-se. E ele não acreditou. Não podia ser aquilo que pensava.

Recusava-se a acreditar que sentia-se mais leve por aquilo. Devia ser, talvez um dos efeitos daquela cálida luz de antes.

"Tudo é uma alucinação, uma ilusão de péssimo gosto." – tentou reconfortar-se.

Viu um espelho. Um pequeno espelho perto de um estranho objeto de... Couro? Era isso, não? Aproximou-se mais dele. Queria saber o que acontecia, precisava ver seu rosto, seu corpo, tirar a limpo seus pensamentos, colocá-los em ordem, ver onde estava...

Várias e várias coisas a se fazer.

Foi ao olhar-se no mesmo, momentos depois que o pegou, que uma onda de espanto que jamais sentira outra vez atravessara seu corpo. Onde estava o rosto divino, os olhos azuis, os cabelos verdes e o corpo atlético? Onde estava o deus Hades?! No lugar dele, uma outra figura totalmente diferente do deus do Inferno apareceu. Ao que parecia, um jovem humano de cabelos negros e olhos castanho-claros. A pele pálida, o corpo magro, mesmo que pouquíssimo atlético. Cabelos curtos, rebeldes... Um rosto jovem e quase que inocente. Não. Aquele não era Hades!

Onde estavam seus belíssimos olhos azuis? Hades?

"Senhor Karasuyama...?" – uma voz feminina o tirou de seu desespero. No fundo da 'alma', o deus realmente gostou de ter ouvido uma voz. Virou-se, mas a visão o desanimou por completo: humana. Vestida em trajes brancos e estranhos. – "O senhor... Acordou...?"

Hades não conseguiu esboçar nenhuma fala. Pela primeira vez, sua confusão, aquele desespero... Tudo travou a voz que ele nem sabia como devia ser completamente. Os olhos não mais azuis refletiam puro desespero. Que tudo aquilo fosse um pesadelo!

Não podia ser realidade!

Tsudzuki...

Notas Finais: Ufa! Prólogo enfim acabado! Sinto que serei apedrejada. Portanto, fiquem a vontade para me apedrejar, me mandarem críticas, sugestões ou elogios (meu favorito XDD). Antes que falte algo, a idéia desta fic vai ser algo fora dos padrões dos deuses de Saint Seiya (lutas). Será algo mais introspectivo, quem sabe com leves doses de comédia.

De qualquer forma, espero que, aos que leram, tenham agradado. Esperarei os comentários anciosamente. Não prometo continuação logo, uma vez que tenho outra fanfic na frente agora, mas assim que minhas provas e deveres acabarem, o que espero que não demore, lhes enviarei outro capítulo desta fanfic. Mais mistérios e dúvidas (o que certamente surgirá) serão resolvidos mais tarde (afinal, é uma fic pequena).

Obrigada desde já.

P.S.: Lord, seja gentil com esta dama e lhe jogue uma pedrinha de tamanho médio, tá? XDD