1 - Assisto minha vida passar

Watched my life pass me by

(Assisto minha vida passar por mim)

in the rearview mirror

(Na visão de trás do espelho)

Acabou.

"Vejo tudo passando lentamente, embora minha consciência de tempo possa ter sido alterada com os fatos. Os olhos verdes fitam meu rosto, a meu pedido".

Liliam o fitava, ele podia vê-la novamente. Céus, como era bom vê-la novamente. Com aqueles olhos, os olhos secretamente slytherin que ela ostentara tantos anos em seus sonhos mais sombrios, obscuros. Pesadelos que ele ardentemente desejava ter todas as noites, apenas para rever aqueles olhos se fosse necessário.

COMO SE fosse necessário. Aqueles olhos estavam gravados a ferro quente em sua memória, em sua alma.

Seu "A" duplo: Amor X Angustia.

Seu "B" duplo: Benção X Burrice.

Seu "C " duplo: Carinho X Culpa.

Seu "D" duplo: Deleite X Desespero.

Ela era seu alfabeto de duplicidade, como se já não bastasse toda a vida dele ser dúbia.

Pictures frozen in time

(Retratos congelados no tempo)

are becoming clearer

(Vão se tornando mais nítidos)

Perdeu a força, já não adiantava lutar, Lili se foi, havia uma outra voz, mas ele não deu atenção. Quando enfim o silêncio parecia ter invadido sua mente ele pensou: "Assim é morrer?".

Um canto leve e bonito, triste, mas tranquilizador se apoderou de seu corpo. Aos poucos dor o abandonou, mas algo estranho aconteceu, podia sentir o chão sob si. Podia sentir a vida voltando lentamente ao seu corpo.

Com muito esforço arrastou a mão até seu peito. Podia sentir, estava ali ainda, fraco, mas batendo. O coração que ele há muito esquecera que existia estava lutando para viver. Lutando por uma subsistência maldita e indesejada.

"Não!", protestou o homem, "Me deixe ir, me deixe morrer"

I don't wanna waste another day

(Não quero disperdiçar mais um dia)

Stuck in the shadow of my mistakes

(Preso na sombra dos meus erros)

yeah

Ele havia visto Lili. Algo em sua mente confusa dizia que ela o estava esperando em algum lugar, mas seu coração parecia não entender que ele queria rumar para ela e não para nenhum outro ponto no universo.

Pois não há universo sem amor e seu amor não habitava o universo. Doce e amarga contradição.

Ele queria buscar por ela, desesperadamente clamou pela morte em segredo e agora ela estendia sob ele seu manto de misericórdia. Tudo por ela, para ela.

'cause I want you

(Porque eu quero você)

and I feel you

(E eu sinto você)

crawling underneath my skin

(Espalhando-se debaixo da minha pele)

O silêncio era doloroso e amigo. Quando nada mais ele queria ouvir e ao mesmo tempo ansiava por sua voz.

O escuro era um martírio agradável. Quando tudo que ele mais queria era o fim e ao mesmo tempo desejava de maneira insana vê-la, ao menos mais uma vez.

like a hunger

(Como um esfomeado)

like a burning

(Como um incêndio)

to find the place I've never been

(Para achar um lugar que eu nunca estive)

Ele queria o paraíso e era merecedor, mas aceitaria o inferno se ela estivesse lá. E o inferno seria seu paraíso, consciente, sóbrio, doloroso, amado.

Profano, o vazio o invadiu. Ele tentou se lembrar de seu rosto e não conseguiu.

now I'm broken

(Agora estou despedaçado)

and I'm fading

(E estou perdendo força)

I'm half the man I thought I would be

(Não sou metade do homem que eu pensei que seria)

Corrompido, abusado. Tentou se lembrar de seu amor, devoção, mas tão pouco esses habitavam sua memória.

Violado, injuriado. Não havia mais o verde dos olhos que o povoaram a vida toda, não havia culpa, dor, sofrimento, e acima de tudo, não mais amor.

I've been dying inside

(Estou morrendo por dentro)

Little by little

(Pouco a pouco)

Queria ir para ela, mas não havia ninguém para quem ir. O desespero de não ter com o que sonhar era maior em si do que a desesperança de saber que seus sonhos nunca seriam realizados.

Crueis, seus protestos mudos não foram ouvidos. Maldita, sua batalha era vencida.

Parou de lutar. Adormeceu.

Nowhere to go

(Nenhum lugar para ir)

But goin' out of my mind

(Mas perdendo a cabeça)

In endless circles

(Em círculos que infinitos)

O sono sem sonhos era um presente, uma maldição. Um terreno tortuoso e cheio de intempéries, vazio. Um refúgio sem paredes, seguro e desprotegido.

Acre, amarga, enlouquecedora traição. Traia a verdade. Traia o tempo. Traia o cômodo incômodo que era sentir. Sentir o que mesmo? Agora nada.

runnin' from myself until

(Fugindo de mim mesmo até)

You gave me a reason for standing still

(Que você me dê uma razão pra continuar de pé)

Seus olhos se abriram lentamente. Estava frio ali. Constatou que o chão o abandonara e agora parecia estar deitado em algo muito mais macio. A visão embaçada ainda, ofuscada pela luz dolorosa que infringia na retina acostumada à proteção sombria das pálpebras.

Respirou fundo e suas narinas foram invadidas por um forte cheiro amendoado e açucarado. Era inebriante e parecia pertencer a todo lugar, como se cada partícula de ar que lhe entrava tivesse uma gota desse perfume.

Conclui que a morte chegara, pois aquele só podia ser o paraíso. Mas porque mesmo ele queria estar ali? Não queria. Parecia errado.

Então lembrou. Como uma pluma, leve e suave Lily lhe invadiu. Como um resquício do passado, esquecido, enterrado. Uma dívida paga.

E novamente o vazio. Sem razão, sem eira, sem beira, sem paixão.

Sentiu um peso inesperado sob si e deslizou inconscientemente os dedos sob as formas do corpo feminino. Foi aí que os olhos castanho se focaram nos negros. Os cabelos castanhos da moça desciam até se perderem no ângulo em que ele via. Ela lhe sorriu. Ele se amargurou.

-Granger – balbuciou, tentando se livrar do torpor. – Eu não morri. – constatou.

-Não, Fawkes te encontrou – a menina sorria e chorava ao mesmo tempo. Por que ela sorria? Pelo que ela chorava?

A visão de Snape se recuperou totalmente. Sentiu algo em seus estomago anunciar a fome em alto e bom som e a boca ressecada pela sede reclamava o esforço de falar.

Mal levantara o rosto e já havia um prato nas mãos da menina, disposto em uma bandeja com um copo de água cristalina e convidativa.

-Coma, você ficou desacordado por dois dias – suspirou a moça. Estava sentada na beirada da cama que ele agora se sentava apoiado nos travesseiros. Ele estava sem camisa, para seu profundo constrangimento e ainda trajava as mesmas calças do dia em que...

Mas algo ocorreu a Severus. "Dois dias! E a guerra, Voldemort, Potter?". Hermione pareceu prever seus pensamentos. Delicadamente a moça tocou seu braço esquerdo,no caminho de depositar a bandeja ao lado dele, no espaço vazio da cama de casal. O toque o fez estremecer, o calor das mãos de Hermione abrandando o frio que sentia. Olhou para o próprio braço... Nada, não havia nada alí.

-Potter...

-Nós vencemos, vencemos a guerra. – disse baixinho para ele.

"Nós?", o pensamento lhe ocorreu, será que Potter contara a todos sobre ele?

-Onde estou?

Hermione corou violentamente. E virou a cabeça para longe, como se a janela do outro lado do quarto fosse de fato mais interessante do que qualquer livro que ela já lera.

-Na minha casa. A casa dos meus pais – corrigiu, mas se apressou em dizer – Eles não estão aqui.

-Por quê? – perguntou ele simplesmente, melancólico, mas ela sabia que ele não se referia à ausência dos Granger.

A tristeza lhe tomou quando repassou mentalmente sua quase morte.

Falling faster

(Caindo rapidamente)

Barely breathing

(Mal consigo respirar)

-Professor... – começou Hermione, sem saber como terminar. Ele era um homem marcado pelo amor, mas ela não conseguiu controlar. Não se importava que ele não lhe correspondesse, apenas a vontade insana de consolar Snape lhe tomou. Ela se jogou sobre ele carinhosamente, passou seus braços pelas costas do homem que agora se encontrava sentado na cama.

A surpresa tomou Severus, o ato era tão inesperado que seu corpo, sem saber se era certo apenas reagiu. O calor do corpo Hermione contra o seu, fez ele sentir o coração palpitar violento em seu peito. Seus braços puxaram a moça para mais perto. Mas a razão o chamou e ele deixou os braços penderem lateralmente enquanto ela ainda apertava seu corpo macio contra o dele.

-Hermione – não sabia de onde tinha tirado o primeiro nome da moça, mas lhe pareceu tão certo dizer, quanto dois mais dois são quatro. Irracional, ele pensou se ela seria sua salvação.

Give me somethin' to believe in

(Dê-me algo em que acreditar)

Tell me it's not all in my head

(Diga-me que não é tudo da minha cabeça)

-Severus – ela sussurrou de volta em seu ouvido. Mas algo a parou, ela se afastou dele e voltou a lhe oferecer o prato em uma bandeja – Você precisa comer, não está totalmente recuperado ainda.

Um choque elétrico parecia ter percorrido o corpo do homem. Seu nome ficava tão bem na voz dela que ele mal ouviu as palavras que se seguiram. Pensamentos inapropriados lhe vieram e deixaram na mesma rapidez que sua mente trabalhava para encaixar o que sentia e ocorria.

Ele estava vivo e podia sentir isso pelo simples fato de que seu coração parecia uma máquina fazendo hora extra, disparando em seu peito como se quisesse fugir, um animal encurralado, batendo na grade da jaula, desesperado para se libertar.

Mas não havia libertação para o coração de Snape. Havia a sensação de missão cumprida, dívida paga. E o que mais havia? Nada. Nem mesmo podia afirmar que aquele animal rugindo e se agitando em seu peito era um coração.

Afinal, ele tinha coração? Não! Embora vivo, seu coração havia morrido a tempos e a lápide que o enterrava tinha nome e sobrenome: Lilian Evans Potter.

Ele comeu, a lentidão e a inexpressão com que comia refletia que dentro de si estavam se passando todos os tipos de reflexões. Ele pensava tão arduamente em tudo: passado, presente, futuro, que Hermione não pode deixar de conter o que ela mesma pensou:

– Deixe-me entrar – disse tocando seu coração quando ele jogou o prato vazio novamente na bandeja, descartando também o copo depois de extinguir seu conteúdo – Deixe-me tentar.

As palavras soavam como tortura. Se deu conta do como queria isso, não sabia se já havia querido antes, mas não importava, Hermione estava oferecendo para ficar com os cacos do que restava dele.

-Eu não sou completo, Hermione – mas o beijo dela o calou.

Os lábios doces como mel tocaram os seus, eram quentes e molhados. Ela queria mais, sua língua impetuosa pediu passagem por entre os lábios dele, encontrando-se com a dele, dançando uma dança indecente. Ele separou-se dela, olhou em seus olhos, podia ver a luxúria consumindo a moça. Lutou contra todos os impulsos do seu corpo, mas lá estava ela, novamente quebrando a barreira que ele tentou em vão estabelecer.

O corpo dela foi com tanto ímpeto contra o seu que mal pôde resistir e se deitou, ela estava deitada sobre ele e nada disso era certo. Mas o certo já não importava mais, ele a queria com todas as forças do seu ser, com todos os músculos do seu corpo.

Girou lentamente o corpo jogou seu peso contra ela, agora ele estava em cima. O corpo delicado de Hermione por baixo do seu, usava um vestido verde claro.

Seus olhos estavam hipnotizados pelo rosto dela, percebeu-a corando levemente sob seu olhar. Hermione passou as mãos, ansiosas pelo contato, em seu peitoral, liso, pálido, forte, porém magro.

Mas ele a repeliu. Afastou-se dela como se fosse uma enferma e lançou seu olhar de nojo. Somente ele sabia que aquele nojo não era direcionado a ela e sim a ele. Que diabos ele estava pensando? Em nome de Merlin, Hermione era uma menina, ela a conhecia desde os 11 anos de idade ela fora sua aluna até um ano atrás.

Aquilo era doentio e ele não podia contamina-la com a sujeira que o habitara durante anos.

Ele se levantou, o andar não era mais tão familiar depois de tantos dias parado. Apoiou-se em uma poltrona que ladeava a cama e ordenou, com o melhor tom de professor de poções:

-Saia senhorita Granger, ou saio eu – ele não teve coragem de olha-la nos olhos, pois apenas a fungada que ela deu já traiu a lágrimas que vertiam de seus olhos pueris.

Ela saiu, como ele sabia que faria. Ela nunca seria capas de deixa-lo sair ainda debilitado, não Hermione, não sua menina. Ele riu alto. Sua? Desde quando ela se tornara objeto do seu desejo?

Ela estava ali novamente, momentos depois. Ele se recordava de tê-la mandado embora, mas não sentia vontade de faze-lo novamente.

Ela se jogou na cama, puxando-o pelos cabelos. Ele tornou a se deitar sob ela, sua boca deu um breve beijo nos lábios da moça e em seguida se enterraram entre beijos e chupadas no pescocinho fino dela. Severus respirava forte e Hermione ofegava, ela tinha o gosto mais delicioso que já provara em sua vida.

As mãos do bruxo passeavam com lascívia pelo corpo macio, quente, delicado da bruxinha. Levantou o vestido e deu espaço para que ela o retirasse pela cabeça. O corpo branco com seios pequenos e rijos era um convite, Severus deslizou as mãos pela cintura da menina e alcançou seus seios, ela arfou, ele sentiu seu membro vibrar. Hermione também sentiu pois Severus estava encaixado no abraço de suas pernas, ela o sentiu vibrar diretamente em seu sexo.

Ela gemeu, ele entendeu, uma mão abandonou um seio e rapidamente alcançou a calcinha, sentiu-a por cima do pano, estava molhada. Hermione o queria tanto quando ele a queria. Afastou o pequeno pedaço de pano, e tocou o pequeno feixe de emoções dela. Sentiu o corpo da menina se retesar, gostou, tocou novamente, e mais, e mais, Hermione gemia sob seu toque áspero, um de seus dedos deslizou propositalmente para dentro dela, gritou, agarrou a cabeceira da cama, e trincou os dentes.

Severus sorriu com a visão e o som, seus dedos brincavam no corpo de Hermione, embaixo estimulavam o feixe de prazer e se enterravam nela e em cima, apertavam seus seios. Hermione tremeu, seus gemidos cada vez mais fortes, ele sabia que ela estava alcançando o prazer, isso fez com que a fera adormecida nele rugisse.

Ele acordou suado e em completo desespero. O coração se precipitava para fora do peito, tamanho o esforço que fazia para manter-se bombeando sangue para o corpo faminto.

Ele teve no fundo sua alma uma revelação: aquela era a primeira vez que sonhava com Hermione; e uma certeza: não seria a última.

A angustia era enorme e sabia acre em seus lábio.

Levantou e vagou pelo quarto, achou a camisa branca lavada e o resto de suas vestes penduradas em uma cadeira. A varinha estava em cima da penteadeira em que a cadeira estava. Olhou novamente aquela cama, como se precisasse olhar para gravar como era. Partiu, sem dizer palavra à sua anfitriã.