O sol se punha lindamente na baía verde em Bahamas. Mesmo sabendo que não devia estar ali, Tia Dalma não se importava. Olhou para o homem ao seu lado, que se vestia desajeitadamente. Um sorriso atravessou seu rosto; as últimas doze horas tinham sido agradabilíssimas na companhia dele. O sorriso desapareceu. Seu orgulho de deusa não permitia que ela demonstrasse emoções humanas, seria fraqueza.
–Sabe que está encrencado – disse ela, os olhos fixos na areia. Ele deu um sorriso presunçoso.
–Acho que isso depende de você, – respondeu, e seu sorriso tornou-se apreensivo. – e da reação que você deseja que ele tenha.
Tia Dalma deu de ombros.
–Pouco importa a reação, quando o efeito será o mesmo. Se eu não estiver em Londres em três minutos, ele sentirá muita raiva e isso, temo eu, resultará em rebeldia.
–Por que designou a função a ele?
–Porque é o mais carismático homem que eu já conheci, e cuidar dos mortos exige muito jeito. E eu sei que ele me ama. – Seus dedos escorregaram para o medalhão em forma de caranguejo, um presente de seu amado, e aquele sorriso teimou em reaparecer. – Então ele não tem motivos para descumprir o dever.
–Mas você descumpriu sua parte do trato, prometeu que o veria após dez anos, quando ele pudesse voltar a terra. Ele vai ficar decepcionado... E eu pensava que eu fosse o pirata aqui...
Tia riu tensa.
–Decepção é o mínimo. Se ele se rebelar, deixar de cumprir suas funções, atrairá uma maldição sobre si... E ele sabe como fazer, é isso que eu mais temo. Espero que ele não desista de suas emoções...
–Como poderia? – Interrompeu o homem, incrédulo.
–Davy Jones não é um homem comum – Disse Tia Dalma, apertando os olhos. –Ele tem conhecimento e poder demais. O que ele pode fazer é terrível, retirar o próprio coração e escondê-lo. E isso o tornará cada vez menos humano, sem emoções, sem bondade.
O último raio de sol estava prestes a sumir. Tia Dalma deu um suspiro. Acabara. Logo mais, o brilho de verde irrompeu pelo céu. Tia escondeu o rosto em lágrimas entre os joelhos. Sabia o que viria a acontecer. Traíra o homem que amava...
–Ninguém pode achar aquele coração. – Disse aos prantos. –Que ele o esconda muitíssimo bem. Ele não devia tentar esconder o que é meu! O coração dele pertence a mim!
A raiva mesclava-se à tristeza em sua voz, assustando seu companheiro.
–Perdoe-me por fazer isso acontecer! Por favor, não conte a ele!
–Não se preocupe, não contarei. A culpa não é sua, é minha natureza... Mas peço que me faça um favor.
–Qualquer coisa, o que for necessário.
–Davy Jones pode convocar a Corte da Irmandade e me subjugar em forma humana. Se ele o fizer, liberte-me. Desfaça a magia quando puder. A hora certa vai chegar, e então você deverá convocar a uma nova Corte e acabar com isso. Se for preciso, eu trarei você de volta do mundo dos mortos. Posso contar com você?
–Claro, minha soberana. – Disse ajoelhando. Tia Dalma sorriu.
–Conto com você, Hector.
–Por favor, me chame de Capitão Barbossa. É o que em breve serei. – Disse levantando o rosto e sorrindo com malícia.
E beijou-a mais uma vez.
