Eu não sei como posso começar isso.
Não sei bem como dizer onde estava. Só sei que estava lá.
Vi o sol fazer aquele desponte pela janela. O dia amanhecera e eu estava lá. De novo.
Não havia palavras ecoando em minha mente, por que não havia palavras.
Muito menos lágrimas que teimavam em sair.
Tudo absolutamente normal.
Normal até demais.
Eu simplesmente odiava aquela normalidade. Aquilo me cansava.
Me esgotava, me acabava.
Desci meus pés da cama para o chão.
Um novo dia. Normal.
Uma hora cansa sabia?
Queria uma guerra lá fora, em plena seis e meia da manhã.
Mas eu não lutaria. Ao invés disso, somente olharia aquelas milhares de pessoas que se acham patriotas morrerem.
Não ouve guerra, não houve mortes.
Não houve nada.
Fiz o que tinha de fazer e o que todos devem fazer.
Tomar banho, escovar dentes e colocar uma roupa limpa.
Ou pelo menos fingir isso.
Ainda estava frio, uma fina neblina pairava no ar.
Tudo como um dia normal e frio deve ser.
Olhei algumas vitrines de algumas lojas fechadas, as poucas pessoas que andavam pelas ruas vazias.
O dia não havia começado.
Somente os mais antigos acordavam tão cedo.
Se eu fosse antigo, talvez eu passasse meu tempo lembrando do passado e ficasse sem fazer nada. Mas ninguém diria nada sobre isso. Afinal, eu já teria vivido uma vida.
Sinto cheiro de café.
Talvez eu pudesse me apaixonar pela dona da padaria.
Ou pela filha dela.
Mas não, não quero croissants quentinhos todas as manhãs.
Nem de perto.
Paro em outra vitrine, mas meu foco não é nos objetos dentro da loja.
Mas algo fora dela. Que prefiro observar pelo reflexo.
Uma pessoa cai no chão.
Olha que surpresa! Vou ter história pra contar pros meus netos.
Como eu odeio esse altruísmo dentro de mim, me deixando sempre em último lugar.
-Tudo bem? – indago a pessoa. Que no caso é uma moça, de estranhos olhos.
-Não – ela diz se apoiando num muro pixado.
-Por que não? – indago sem me mover.
-Me dói... Me dói aqui – ela diz pousando a mão no coração.
-Dor de cotovelo? – pergunto, somente chegando mais perto. Só mais um pouco.
-Na verdade – ela arfa- é pulmão.
Eu só sei que ela perdeu as forças. Totalmente, a ponto de eu ter de segura-la.
Ela estava tão gelada.
Em plena seis da manhã.
