Resumo: Ela achava que seu mundo seria perfeito assim que casasse com o homem de sua vida. Mas nem sempre vivemos aquilo que sonhamos e, às vezes, seus piores pesadelos tornam-se parte de sua vida. Fic Reeditado.

Olá! Este fic já foi postado na minha antiga página então alguns leitores de fanfics já podem ter lido ele, porem fiz algumas ligeiras alterações e, além disso, o texto passou pelas mãos da minha adorável revisora Rô. Na primeira versão o texto era intercalado por estrofes de algumas musicas, porém agora não usei este mesmo artifício. Esta história é dividida em duas partes com o total de nove capítulos. Vou tentar postar um capitulo a cada semana.

Para os que nunca leram, espero que goste e para os que vão reler, espero que gostem tb. Gostaria muito de ler a opinião de vocês. Por favor, se puderem deixem um review!

Agora, divirtam-se!

Revelações Dolorosas

Por Kath Klein

Capítulo I – A Descoberta

            Sakura acordou, dava para ouvir o barulho da chuva batendo nas enormes janelas do seu quarto. Sentou-se na beirada da cama e acendeu o abajur da mesinha de cabeceira. Olhou para a cama e como havia sentido, seu marido ainda não tinha chegado. Seus olhos foram até o relógio, marcava três da manhã e nada de Syaoran chegar. Aquelas ausências do marido já estavam freqüentes demais.

Levantou e foi até a janela onde afastou as cortinas para ver o dilúvio que caía lá fora.

"Ele está demorando demais, será que está preso no escritório por causa da chuva?", pensou em voz alta. 

            Foi até a cozinha para beber um pouco de água e ver se tinha mais alguém acordado na enorme mansão dos Li. Estava tudo escuro com poucos abajures acesos, ninguém estava acordado. Mesmo com 23 anos de idade ainda morria de medo de que aquela mansão guardasse alguns fantasmas. Li morria de rir com o medo dela em andar pela casa a noite, quase correu pelo corredor, até chegar à escada, deu uma boa espiada na sala, tudo deserto. Ouviu um barulho qualquer e com o susto quase caiu escada abaixo. Desceu ainda apreensiva, o barulho da madeira dos degraus rangendo, dava uma trilha sonora quase perfeita de filme de terror.

             Chegou a cozinha e acendeu todas a luzes iluminando o ambiente. "Agora sim está tudo bem", pensou. 

            Foi até a geladeira e pegou a valiosa jarra de água. Serviu num copo e bebeu devagar apreciando cada gole. Olhou novamente para o relógio, três e quinze e nada de Li chegar. Encheu novamente o copo e bebeu a água remoendo um monte de sentimentos que afloravam pela sua cabeça, em como havia se iludido que teria Li ao seu lado a todo o momento depois do casamento e da sua mudança para Hong-Kong. Doce engano, Syaoran estava cada vez mais preso ao trabalho e às suas atividades como líder do poderoso clã Li. Qualquer problema ou desavença era ele quem tinha que resolver de maneira sábia e justa. Às vezes o rapaz mal dormia andando de um lado para outro para não tomar uma decisão errada ou não decepcionar a confiança que depositavam nele. 

            Um ano de casamento e Sakura sentia Syaoran cada vez mais afastado dela, cada vez mais ela se sentia sozinha naquela enorme casa, sem amigos, sem sua família. Era respeitada por ser a futura matriarca da família e por ser a poderosa Mestra das antigas cartas Clow e agora cartas Sakura, mas mesmo assim, alguns membros do clã deixavam claro sua antipatia por haver uma estrangeira na família tradicional. Li sempre a defendeu contra qualquer comentário maldoso a este respeito, fazendo com que Sakura o amasse cada vez mais, não só por isso, mas por conhecer com o tempo de convivência, o bom caráter do marido e descobrir como ele podia ser mais carinhoso e atencioso quando lhe restava um tempo. 

            Sakura começou a caminhar de um lado para o outro, retorcendo as mãos pelo nervosismo de não saber o paradeiro do marido. Foi até a sala, pegou o telefone e discou o número do celular, porém este estava fora de área. Pensou em como estes aparelhinhos nunca funcionam quando realmente se precisa deles. 

            Sakura ouviu o barulho da porta e olhou apreensiva para ela. A figura de Syaoran apareceu, completamente molhado. 

"Ainda acordada?" 

"Estava preocupada, está chovendo muito forte". 

"Não precisava, eu avisei que chegaria tarde", disse enquanto fechava a porta. 

"Eu sei, mas não consegui dormir."

"Não havia porque se preocupar, minha flor". 

"Eu estava com sede então vim pegar um copo de água".  

"Nossa está chovendo muito. Estou louco para tirar esta roupa molhada". 

            Os dois se dirigiram para o quarto. 

"Sua irmã vai ter um ataque quando ver o tapete molhado", disse ela sorrindo.

"Vai mesmo. Fenmei reclama de tudo"  .

"Sempre". 

            Os dois entraram no quarto. Li colocou sua pasta molhada em cima da escrivaninha. 

"Não agüento mais ficar até tarde resolvendo problemas dos outros", disse enquanto tirava as roupas. 

"O que foi desta vez?" 

"Problemas na filial dos Estados Unidos, eles esquecem que aqui é o outro lado do mundo. Meio dia lá, é quase meia noite aqui". 

"Como meu maridinho é responsável", falou sorrindo. 

"E com a minha mulherzinha é bonitinha quando faz biquinho", disse dando beijinhos. 

"Isso faz cócegas. Vá tomar um banho antes que pegue um resfriado". 

"Não quer tomar um banho comigo?", falou sorrindo maliciosamente.

"Não devia estar fazendo esta proposta para mim". 

"Ah claro, para quem mais eu posso fazer esta proposta? Quem sabe para a minha tia avó de oitenta anos de idade". 

"Seu bobo". 

"Vem logo", Li puxou Sakura para perto de si lhe dando um beijo.

*~*~*

            Sakura acordou abraçada ao corpo de Li que dormia profundamente, ela adorava admirá-lo enquanto dormia, ele ficava tão sereno, tão próximo a ela. Deu um beijinho de leve nos lábios dele e ia se levantar quando Li acordou e a abraçou por trás. 

"Já vai me abandonar sozinho nesta cama enorme?"

"Acordei você?" 

"Da melhor forma possível". 

"Tenho que ir, senão sua irmã vai dizer que a futura matriarca do Clã Li é uma preguiçosa", disse tentando se levantar.

"O problema é dela em pensar isso. Fica mais um pouco comigo", depois a beijou com ternura. 

            Sakura demorou mais um bom tempo para descer para o café.  

"Não acredito! Pensei que ficariam trancados a manhã inteira no quarto", falou Fenmei, a irmã mais velha de Syaoran quando viu os dois descendo para tomar o desjejum. 

"Bem que eu queria ficar mais no quarto, mas a Sakura achou melhor descermos para tomar café". 

"Syaoran, respeite-me. Sou sua irmã", Fenmei explodiu vermelha de vergonha percebendo sobre que o irmãozinho caçula se referia. 

"Ah Fenmei, dá um tempo". 

"Está ouvindo como ele fala comigo mamãe?" 

"Primeiro, bom dia meus queridos", cumprimentou serenamente Yelan. "Dormiram bem?" 

"Bom dia Sra Li", cumprimentou docemente Sakura. "Dormimos sim".

"Bom dia, mamãe", beijando a testa da senhora. 

"Estávamos esperando vocês para tomar o desjejum". 

"Quase morremos de fome esperando". 

"Como tu és amargurada", rebateu Li. 

            O café da manhã não saiu às mil maravilhas. Fenmei criticava tudo, até como Sakura pegava a xícara de café. Li jurou que da próxima vez tomaria café no quarto quando a irmã viesse visitá-los. Sakura apenas rodava os olhos, era triste admitir mas estava acostumada com as indiretas e diretas da família Li. Syaoran era mais agressivo quando via que estavam sendo duros demais com a esposa.

            Sakura escutava entediada a discussão acirrada entre o marido e sua cunhada, apesar do tom baixo que ambos mantinham pela presença da matriarca da família. Porém Meilyn e seu marido, Quan Dan entraram como loucos gritando dentro da mansão e assim finalizando a discussão entre os dois irmãos.

"Pode ficar com esta cretina para você, Syaoran", berrou o rapaz. 

"O que está acontecendo aqui?" 

"O que está acontecendo Senhora Li, é que esta p... chegou ontem depois das três da manhã e me disse que estava com seu filho". 

            Sakura sentiu como se seu sangue tivesse escorrido de seu corpo. Syaoran e Meilyn juntos e debaixo do nariz dela, pensou atordoada. 

"Ryu não aconteceu nada do que está pensando". 

"Seu cretino". 

            O descontrolado rapaz tentou dar um soco em Li, mas este se defendeu muito bem. 

"Syaoran, você estava ontem com a Meilyn?", Sakura estava tentando se controlar. 

"Estava comigo sim. Você acreditou mesmo nas desculpas que ele dava para chegar tão tarde? Como você continua burra Sakura". 

"Não fale assim com a minha esposa". 

"E como você quer que eu fale que nós dormimos juntos?", gritou Meilyn na cara do rapaz. 

"Que invenção é esta Meilyn, eu nunca encostei um dedo em você", rebateu Li já se descontrolando. 

"Mentiroso!" 

"Eu vi os dois saindo juntos da empresa, ele a colocou num táxi e depois saiu de carro". 

"Isto é verdade, meu filho?"

            Syaoran olhou para sua mãe que o encarava com o semblante sério, depois desviou os olhos para sua esposa que estava em pé com os olhos de esmeralda arregalados o fitando. 

Respirou fundo e respondeu, "É. Meilyn apareceu no meu escritório dizendo que me amava que queria ficar comigo, conversamos durante um bom tempo e expliquei para ela que eu não a amava..." 

"Mentiroso! Você quer me jogar fora como faz com todas as mulheres", gritou Meilyn indignada. 

"Todas? Que todas são estas?", perguntou Sakura nervosa. 

"Ela está louca!" 

"Louca é? Você não contou para sua esposinha o casinho que você teve com a filha do doutor Lang?"

"Que mulher é esta Syaoran?", perguntou Sakura, já se descontrolando. 

"O que mais vai inventar Meilyn? Que eu andei dormindo com a China inteira?!" 

"E não é verdade?", perguntou maliciosamente Meilyn. 

"Eu não quero mais esta p... fique com ela e faça bom proveito Syaoran. Só tenho pena que tenha agido assim com a mulher maravilhosa que você tem". 

 "Eu é que não quero mais você, Dan. Nunca mais olhe na minha cara". 

"Pode ter certeza que não vou". 

            O rapaz jogou Meilyn em cima de Li e saiu bufando da casa. Meilyn continuava chorando. Enquanto Sakura observava aquela cena sentindo uma enorme dor no peito. 

"É verdade que esteve com Syaoran nesta madrugada?", perguntou Yelan. 

"Eu juro tia, ele me prometeu mil coisas..." 

"Mil coisas? Como o que Meilyn?", alterava-se Li.

"Você não se lembra mais? Passei a noite mais maravilhosa da minha vida com você e finge que nada aconteceu".

"Eu não vou continuar com isso. Estou indo trabalhar". 

"Espera Syaoran, temos que resolver isso de uma vez", falou seriamente Yelan.

            Sakura precisou se apoiar na mesa para não cair, com tudo o que estava acontecendo. "O que realmente aconteceu?" 

"Não aconteceu nada", foi a resposta séria de Li. 

"Como você pode ser tão cretino assim Syaoran?", berrou Meilyn.

            Syaoran olhou para a moça com desprezo, "E como você pode ser tão mentirosa?" O rapaz saiu da sala batendo a porta com força, ele bufava de raiva, pensando em como fora estúpido na noite passada em pensar que poderia colocar alguma coisa na cabeça oca da prima. Entrou no carro e deu uma última olhada para mansão pensando que Sakura acreditaria nele, ela nunca duvidaria do amor e da fidelidade dele. Partiu para o trabalho.  

            Dentro da mansão, Meilyn chorava no colo de Fenmei que pedia para que ela se acalmasse, Sakura estava em pé olhando pela janela o carro de Li se afastar enquanto Yelan, tensa, caminhava de um lado para o outro da sala.

"Como ele pôde fazer isso comigo?", Meilyn repetia a toda hora. 

"E o que ele fez com você, Meilyn?", perguntou Sakura impaciente. 

            A chinesa levantou o rosto inchado para encarar a jovem, "Eu preciso repetir para você entender?" 

            Sakura se afastou da janela,  "Não sei porque está fazendo isso tudo". 

 "Porque eu sempre o amei, antes mesmo de você entrar na vida dele. Ele era meu por direito". 

"Ninguém é de ninguém". 

"Ele era meu!", berrou ela. 

"Acalmem-se, por favor, vamos tentar achar uma solução para você, Meilyn". 

"Que solução vê para mim, tia? Fui mais uma das mulheres que seu filho enganou". 

"Não fale assim". 

"Por quê? Só porque a esposinha dele está aqui, todo mundo fica fingindo que ele é um santo". 

"Syaoran é homem", sentenciou Fenmei. 

            Sakura sentiu aquilo como se um piano tivesse caído sobre sua cabeça. O que Fenmei quis dizer com aquilo? Juntando toda coragem que tinha, perguntou temendo pela resposta. "Como assim?" 

"Como você é ingênua Sakura. Achou mesmo que Syaoran nunca teve outras garotas? Achou mesmo que quando vocês estavam a meses separados e sem se ver, ele não saía com outras?" 

"Você está louca, Syaoran nunca mentiu para mim", berrou Sakura. 

"Ele não mentiu, só omitiu a vida amorosa dele para você". 

"Meilyn, já chega!" 

"Não chega não, nunca vai chegar. Eu estou cansada de ser sempre a certinha e amiga. Enquanto o homem que eu amo coloca uma estrangeira no pedestal". 

Sakura olhava Meilyn com um misto de pena e raiva, "Você está descontrolada..."

            A jovem sorriu debochando, "Ele escolheu você para casar, mas nunca foi só seu. Pode perguntar para Fenmei, ela não vai mentir."

            Sakura olhou um pouco atordoada para a irmã de Li, ela via que a mulher estava nervosa e incomodada. Fenmei se levantou. "Eu não sei de nada. Mãe, eu estou indo. Meus filhos devem estar sentindo a minha falta", disse beijando o rosto tenso da senhora. 

"Espera...", gritou Sakura, "É verdade isso? Quando eu estava no Japão, o Syaoran saía com outras garotas?" 

            Fenmei a encarou diferente do que o de costume e isso preocupou Sakura, ela nunca gostara da japonesa e todos os olhares que Fenmei lançava para ela eram de reprovação. "Eu nunca me intrometi na vida do meu irmão caçula". 

            Não era esta a resposta que Sakura queria, ela se deixou cair no sofá refletindo que realmente Li nunca lhe tinha jurado fidelidade, inúmeras vezes ligou para ele a noite e Wei se limitava a responder que o rapaz não estava. Sakura nunca havia perguntado onde o seu namorado havia ido, pois nunca imaginou Li a traindo, mas agora tudo parecia tão claro. 

"Decepcionada?", perguntou Meilyn olhando com gosto para o rosto desesperado de Sakura. 

"Sim... com você", esta foi a resposta fria dela antes de se levantar e sair pela porta da mansão deixando a Sra. Yelan com a sobrinha. 

*~*~*

            Sakura caminhava pelas ruas de Hong-Kong sozinha, tinha dispensado os seguranças da família para tentar esfriar a cabeça. Há mais de um ano que se mudara para a China e aprendera a língua local, Li a ensinara com tanta dedicação e carinho. Uma lágrima caiu de seus olhos e ela a secou com a palma da mão, mal reparando nas pessoas que passavam por ela na calçada, olhando-a, não só porque estava chorando, mas pela bela mulher que Sakura havia se tornado. Além, é claro de que sua figura junto com o marido era muito freqüente nas colunas sociais da China. Li havia triplicado não só as posses, como o prestígio da família Li, até mesmo políticos pediam conselhos administrativos a ele. Li era o orgulho da família, por isso, apesar de não aceitarem seu casamento com uma estrangeira. não o impediram de se casar.

            Ali não tinha Tomoyo para desabafar, não tinha seu pai para lhe preparar um chá e lhe fazer cafuné, não tinha Touya para lhe defender, não tinha Yukito ou Kero para tentar animá-la. Sakura estava sozinha, trancara a faculdade de Educação Física e se mudara para outro país, quando ainda mal sabia falar a língua local. Ela parou em frente a uma agência telefônica e entrou, precisava falar com alguém e ninguém melhor do que sua amiga Tomoyo. 

"Bom dia", tentou falar animadamente para a atendente. "Gostaria de fazer uma ligação para o Japão". 

            Em menos de 5 minutos estava com o telefone nas mãos ouvindo-o chamar. "Atende Tomoyo, por favor, atende". 

"Bom dia, Mansão Daidouji". 

"Bom dia, gostaria de falar com a Senhorita Tomoyo". 

"A senhorita Daidouji está viajando pela Europa. Gostaria de deixar um recado?" 

"Diga a ela que a Sakura ligou". 

"Com todo prazer senhora Li". 

"Obrigada". 

            Sakura desligou o telefone com pesar, queria tanto falar com a amiga que por alguns segundos pensou na loucura de pegar um avião e ir para o Japão. Saiu da cabine, pagou e agradeceu educadamente a atendente. 

O que faço agora? Perguntava-se enquanto caminhava sem rumo. Ela não queria voltar para a mansão Li, era incrível com depois de tanto tempo ainda se referia a sua casa como mansão Li. Encontrar Meilyn agora seria mais penoso do que qualquer coisa. Mil pensamentos invadiam a mente da jovem, por mais que ela lutasse, imagens do seu marido com outras mulheres invadiam a sua mente, ela precisava vê-lo, ela precisava tirar estes fantasmas da sua vida. Pegou um táxi e pediu para o motorista ir até as empresas Li. 

*~*~*

"Bom dia, senhora Li", a secretária de Syaoran a cumprimentou assim que a viu entrar na sala do último andar de um dos edifícios mais altos e luxuosos de Hong-Kong. 

"Bom dia, Ly Wu. Syaoran está ocupado?" 

"Ele está numa reunião com um grupo da América Latina, mas acho que não se importará se esperar na sala dele", disse, abrindo a porta da enorme sala para que Sakura pudesse entrar. 

"Obrigada", agradeceu entrando. 

"Gostaria de alguma bebida? Ou alguma outra coisa?" 

"Não, obrigada novamente". 

            Ly Wu gostava muito de Sakura, até porque era a única que era gentil com ela da família, os outros membros nunca nem ao menos a cumprimentavam, muito menos a agradeciam por alguma gentileza, por isso quando a senhora viu Sakura entrando pela porta com o rosto de quem havia chorado, ficou muito preocupada, pois sabia que a família nunca a aceitara muito bem. Na verdade a empresa inteira sabia, só que não tinham o atrevimento de mencionar nada na frente do patrão. 

            Sakura caminhou até o janelão do elegante escritório de Li, olhou para baixo e teve uma vertigem por causa da altura. Achou melhor não apreciar mais a vista, desviou os olhos para a mesa do marido onde este havia deixado alguns papéis sobre ela e reparou no belo porta-retrato que a enfeitava. Nele havia uma foto do seu casamento. 

"Como ele estava lindo aquele dia", pensou em voz alta. Syaoran era um homem muito bonito, ela havia ouvido até um boato de que quando solteiro era disputadíssimo entre as jovens da alta sociedade. Consideravam-no o melhor partido da China, pois além de riquíssimo era um dos campeões em torneios de artes marciais que são muito apreciados no país. Pensou que eram muitas qualidades para um homem só, tornando-o quase perfeito. 

"Quase...", repetiu o que havia pensado. Este quase, se devia à família e ao excesso de responsabilidade no trabalho, o que forçava Sakura a ficar pouquíssimo tempo com o marido. Agora, além de se sentir sozinha, sentia-se abandonada com a dúvida sobre a fidelidade dele. 

Li entrou na sala discutindo com um outro senhor. Sakura não pode entender, pois falavam em inglês e ela nunca fora boa aluna nesta matéria no colégio. Quando viu a esposa, Li parou de discutir e a encarou. Ele sabia que ela havia chorado só em ver os seus olhos. Trocou algumas palavras com o senhor, parecendo interromper o assunto, e este saiu da sala ainda reclamando. O rapaz fechou a porta, pedindo antes para que Ly Wu não permitisse a entrada de ninguém. 

"Estou atrapalhando o seu trabalho?", perguntou sem graça. 

"Não. Foi o melhor, não agüentava mais discutir com eles", respondeu afrouxando a gravata e abrindo o primeiro botão da camisa. 

            Ela contornou a mesa e se apoiou nela procurando apoio para começar o penoso diálogo. 

"Meilyn...", começou. 

"Não quero falar dela mais. Ela enlouqueceu de vez agora...", interrompeu irritado.

"Mas precisamos conversar, Syaoran".  

"Conversar sobre o quê? Eu já disse que não tive nada com ela, nunca tive nada com ela". 

"E com outras mulheres?", perguntou encarando-o.

            Li não esperava por aquela pergunta, arregalou os olhos como sempre fazia quando era pego de surpresa. Ele ficou um tempo em silêncio para realmente acreditar que Sakura havia perguntado aquilo mesmo.  

"Por que me pergunta isso?" 

"E por que não me responde?", ela rebateu. 

"Não. Nunca tive outra mulher depois que casamos. Era só isso que queria saber?", respondeu ofendido. 

"E antes?" 

"Antes do quê?" 

"Antes do nosso casamento, quando ainda namorávamos e nos víamos apenas nas férias". 

"Por que isso agora, Sakura? O que importa o que eu fiz antes?"  

"Não me responda com outra pergunta Syaoran Li. Responda se teve outras quando estávamos namorando?", Sakura começava a se alterar. 

"O que mais Meilyn inventou depois que eu saí?" 

            Sakura fechou os olhos e respirou fundo. Depois encarou séria o marido  tentando segurar as lágrimas que se formavam em seus olhos. 

"Quando dormimos juntos pela primeira vez eu percebi que você estava seguro, sabia o que fazer, o que eu ia sentir...", ela parou sem forças para continuar. Li desviou os olhos dela para admirar a vista da sua sala. 

"Foi a noite mais importante e especial da minha vida", falou, esperando que ela aceitasse isso com resposta. 

"Mas não foi a sua primeira, não é?" 

            Li ficou em silêncio. 

"Você nunca mentiu para mim, Syaoran. Não faça isso agora". 

            Ele ainda ficou em silêncio por algum tempo. "Não, não foi a primeira vez que eu dormi com uma mulher". 

            Sakura sentiu como se fora atingida por um punhal no meio do peito, levou uma mão até a altura dele e a outra segurava com mais força a borda da mesa para não cair. 

"Por quê?" 

"Estávamos longe um do outro e eu..."

"Não podia se controlar?!"

"Você queria o que Sakura? Como queria que eu permanecesse virgem até os 22 anos?" 

"Eu me guardei para você". 

"É diferente, você é mulher!" 

"E você é machista, Senhor Syaoran Li!" 

"Não é machismo". 

"Então é o quê? E se fosse eu que tivesse dormido com um monte de homens quando estávamos afastados, se casaria comigo?" 

"Esta conversa não tem cabimento", disse Li na tentativa de terminar com a discussão. 

"Não me respondeu". 

"E não vou responder! Chega Sakura, eu preciso trabalhar". 

            Sakura não conseguia mais segurar as lágrimas, Li deu alguns passos na sua direção e ia tentar abraçá-la, mas ela se afastou dele dirigindo-se para a porta.

"Bom trabalho", foi o que disse antes de sair. O rapaz passou a mão na cabeça nervoso observando a esposa se afastar. 

"Droga!", gritou antes de derrubar tudo o que tinha sobre a mesa.

Going Under

Indo para baixo

By Evanescence

Now I will tell you what I've done for you

Agora eu vou te contra o que eu tenho feito por você

50 thousand tears I've cried

Eu tenho chorado cinqüenta milhões de lágrimas

Screaming deceiving and bleeding for you

Gritando, enganando e sangrando por você

And you still won't hear me

E você ainda não vai me ouvir

Don't want your hand this time I'll save myself

Não quero sua mão, agora eu vou me salvar

Maybe I'll wake up for once

Talvez eu acorde de uma vez

Not tormented daily defeated by you

Não atormentada diaramente, enganada por você

Just when I thought I'd reached the botton

Justo quando eu penso que alcancei o fundo

I'm dying again

Eu estou morrendo novamente

I'm going under

Eu estou indo para baixo

Dowing in you

Afogando-me em você

I'm falling forever

Estou caindo eternamente

I've got to break through

Eu estou indo para baixo

Blurring and stirring the truth and the lies

Diminuindo e movendo as verdades e as mentiras

So I don't know what's real and what's not

Eu não sei o que é real e o que não é

Always confusing the thoughts in my head

Sempre confundindo os pensamentos na minha cabeça

So I can't trust myself anymore

Eu não posso mais confiar em mim mesma

I'm dying again

Eu estou morrendo novamente

I'm going under

Eu estou indo para baixo

Dowing in you

Afogando-me em você

I'm falling forever

Estou caindo eternamente

I've got to break through

Eu estou indo para baixo

So go on and scream

Então continuar e gritar

Scream at me I'm so far away

Gritar para mim que não estou tão longe

I won't be broken again

Eu não vou estar quebrada de novo

I've got to breathe I can't keep going unde

Eu tenho que respirar, não posso continuar indo para baixo.