Vagalumes

Aquilo havia se tornado rotina. Sair sem rumo pela vila, no começo do anoitecer, e só voltar para casa quando a sua mente tivesse sido vencida pelo cansaço e os seus olhos lutassem para permanecerem abertos. E já era assim há muito tempo.
Como aquilo havia começado? Ela lembrava bem. A pessoa que ela mais amava, a base de sua vida, a havia abandonado. E se deixar levar era o modo que ela havia encontrado de aliviar a dor da falta.
Agora, ela não o amava mais. Mas também não tinha mais esperança.
O céu estrelado refletido no riacho, perto do campo de treinamento, já não exercia a mesma fascinação. O som do vento, batendo nas árvores e nos seus cabelos, já não era ouvido. O cheiro de grama molhada já não a tranqüilizava. Não mais.
Um som soou atrás dela. Não era necessário ver um rosto para que ela reconhecesse o dono da voz que falou a seguir.
- Esse é um bom lugar para pensar. É por isso que você vem aqui, Sakura? Para pensar?
- Algo assim, Kakashi.
Agora, já ao lado da garota, ele prosseguiu disposto a fazê-la falar.
- Eu sinto falta da antiga Sakura. Desde que o Sasuke partiu, e isso foi há dez anos, eu ando te observando. Você diz não gostar mais dele, mas os seus olhos já não sorriem mais como antes e a maioria dos sons que saem da sua boca são suspiros. Eu não sei exatamente o que te aflige agora, mas sei que com o tempo...
- Não diga que as coisas vão melhorar! Eu já tenho idade o suficiente para saber que essas palavras só servem de consolo para aquelas pessoas que não sabem como é a vida. E esse não é o meu caso, Kakashi.
Ela não havia dito isso com raiva. Pelo contrário, só havia cansaço em sua voz.
Os dois ficaram lado a lado, em silêncio. Com o tempo, sapos, grilos e vagalumes começaram a reivindicar o seu lugar na natureza. Ele virou-se para ela, e viu os insetos brilhantes pelos seus olhos. Ela parecia querer falar alguma coisa, mas também parecia receosa. Finalmente, ela falou.
- Quando eu estou trabalhando no hospital, cuidando de um filho que perdeu as duas pernas em uma batalha, e os seus pais estão ao seu lado e ambos estão sorrindo, sorrindo de verdade, eu penso: Se eles conseguem sorrir numa hora dessas e seguir em frente, eu também consigo, eu ainda posso ter esperança. Mas eu não consigo! Eu esqueço esses pensamentos que eu tive e me afundo de novo na desesperança! Por que eu não posso ser igual a eles, Kakashi? Por quê?
Isso havia sido um desabafo que há tempos ela havia repassando e revisando dentro da sua cabeça. Os seus olhos marejavam agora, e o silêncio se abateu sobre o casal mais uma vez.
De repente, com um movimento rápido, o ninja capturou um dos vagalumes com as suas mãos e o depositou nas da garota. Surpresa com o gesto, Sakura o olhou.
- Você não vai esquecer.
- Como? – Sakura perguntou, sem entender.
- Você não vai mais se esquecer de como é ter esperança. Eu sempre estarei aqui ao seu lado para te lembrar, assim como estes vagalumes.
Como há muito tempo não acontecia, ela sentiu um calor dentro do peito que dizia que tudo realmente iria se acertar. E os dois permaneceram juntos, vendo o brilho dos vagalumes que se tornava cada vez mais forte.


Dei uma editada na história, mas ela ainda é uma tentativa meio que fracassada de tentar fazer um drama com uma pitadinha de romance. Fazer o que.