- Bom, houve um grande número de alunos novatos, vindos de países e vilas diferentes. Tivemos de dividi-los entre todos os times já formados. – Explicava Kakashi, um homem alto, de cabelos prateados e talhe esbelto, com uma máscara azul, que lhe cobria a maior parte do rosto, defronte ao trio do dilema: Uzumaki Naruto, um louro, de olhos azuis, Haruno Sakura, uma menina de madeixas róseas, e Uchiha Sasuke, um garoto pálido, de olhos e cabelos negros.

- E...? – A única figura feminina perguntou, sem demonstrar qualquer euforia.

- Agora, vocês têm um novo companheiro. Ou, devo dizer, "companheira". Seu nome é Talula, e não se sabe a que clã pertença. É inteligente, silenciosa e... Enfim. Nunca vi um time tão agraciado quanto o de vocês, realmente. Terão a ajuda de uma menina com notas surpreendentes. Além de tudo, devo dizer que é extremamente bonita. Eu diria, até...

- Ero-Kakashi! – O lourinho, apontando, de olhos arregalados, o mestre, gritou.

- Baka Naruto! Não fale assim com sensei! – Berrou Sakura, acertando-lhe um soco no crânio dourado.

- Ei, ei, ei... Onde essa... essa... Talula está?

O mais velho, num olhar gentil, dirigiu-se a um ponto ignota com sua voz:

- Talula, Talula! Venha cá! O que está fazendo?

Então, um belíssimo e grave timbre musical respondeu:

- Não serei imediata, Hakate-sensei.

- Que... vocabulário... – Haruno comentou, surpresa.

- Ah, sim. Por pouco, não me esquecia. Talula tem imutável hábito de ler. É, sem dúvidas, uma moça muito inteligente.

Alguns instantes depois, arbustos tremularam, atraindo a atenção de todos. Um laivo de vento, soprando com maior veemência, separou a copa de baixas plantas e revelou, assim, uma esplendorosa silhueta feminina, que, sem demorar muito, estacou.

- Talula, é? – Uzumaki, muito surpreso com a aparição, indagou.

- Deveras. Chamo-me Talula.

- Talula de quê? – A menina de cabelos rosados tomou partido do inquérito.

- Não convém. – A outra, ríspida, revidou.

- O meu é... – O lourinho recomeçaria a falação, mas a nova voz interrompeu-o:

- Conheço-o, Uzumaki Naruto. A senhorita, de madeixa rosicler (rosa pálido), atende por Haruno Sakura. – E apontou a outra garota, que não afastava os olhos de seu perfil. – E você é Uchiha Sasuke.

Apesar de suas palavras nada hostis, Talula mantinha uma expressão seca, distante, o que não agradou a seus colegas. Naruto, fazendo amuado beicinho, virou-lhe as costas; a menina de fronte rosada baixou os olhos verdes, numa certa desconfiança. Já Uchiha, em sua inalterável carranca, pôs-se a encará-la com normalidade, como se ela não lhe fosse estranha. Não, ao menos, uma patética estranha. E a moça, percebendo-o, lançou-lhe um olhar indiferente.

- Bem, creio que foram devidamente apresentados. – Hatake concluiu.

A novata era alta, possuía longas e sedosas madeixas negras, que lhe atingiam os belos pezinhos afilados. Os olhos eram pretos como fuligem, e dir-se-ia quererem arrastar tudo o que borboleteasse à sua frente. Sua acetinada tez (pele) era de uma alvura imaculada, intocável, o que contrastava com suas vestes. Coroando um colo soberbo, um busto farto sustentava-se no decote de um espartilho negro, que prendia um saiote bordô (vermelho escuro). Em ambas as voluptuosas e grossas pernas, uma grande fita de cetim perto descia, em espiral, ligada à sapatilhas de mesma cor. Pequena minúcia: em sua face direita, havia uma estranha cicatriz, que imitava um "jogo-da-velha" na diagonal.

"Ela é muito mais bonita que Sakura-chan!" – O menino dos cabelos de ouro pensou, estupefato.

- Por que não se apresenta direito? – Perguntou Sakura, deixando os primeiros arrufos de lado.

- Creio que já tenha sido.

- Faça-o por si mesma, "ué". – Naruto, fazendo o mesmo, insistiu.

- Céus... – A moça anelou um suspiro angelical, levando a mãozinha ao peito. – Sendo assim, chamo-me Talula, como Hatake já disse. Estou na idade do azar, ou seja, tenho treze primaveras. Bem... Creio que seja tudo. – Pausou, sem retirar os olhos do menino carrancudo, que ainda encarava-a.

- Só isso? – Uzumaki, voltando à perplexidade, indagou.

Aqui, as faces pálidas sombrearam-se de um laivo negro.

- Que mais esperavam, meus caros? – E, assim, calou-se.

- Ótimo, pessoal. Agora, temos uma missão. – O professor reiniciou sua fala..

Aqui, todos voltaram a atenção ao mais velho. Um brilho de empolgação iluminava os semblantes de Haruno e Uzumaki, enquanto um fulgor lucífero acendia os olhos do único Uchiha.

- Ei, ei. E o que é que vamos fazer? – O lourinho, rindo exageradamente, indagou.

- Tenho, comigo, três pássaros negros. Vocês terão de capturá-los e trazê-los para mim...

- O quê?? – Novamente, o mais afoito gritou, perplexo. – Só isso? Kakashi-sensei! Nós não poderíamos ter missões melhores, não?

O homem olhou-o com certa reprovação, levando uma de suas mãos à têmpora.

- Naruto, não será tão fácil. As aves são rápidas, inteligentes e treinadas. Vocês terão de correr bastante.

- Sem problema! – Rindo, Naruto ergueu os braços e exclamou. – Vamos, sensei! Solte esses bichos!

- Acalme-se. Ainda não terminei. – O outro voltou a cruzar os braços. – Vocês terão até a tarde para entregar-me os pássaros. Caso contrário, carregarão o peso de perder para simples corvos.

- Com certeza, isso não acontecerá comigo! – Novamente, o mocinho retrucou.

- Vá em frente e prove, Naruto. O mesmo é válido para vocês, Sasuke, Sakura e Talula.

Ao ouvir seu nome, a morena pálida lançou um olhar inexpressivo ao professor e baixou as pálpebras rosadas. O menino carrancudo, que não se sentia nem um pouco afetado pela presença da novata, sombreou um riso sarcástico, como era seu costume fazer. Sakura, por sua vez, franziu a testa.

- Certo. – E inclinou, rapidamente, a fronte.

- Preparados? Vão. – Kakashi, então, retirando uma gaiola de um lugar desconhecido, abriu-a.

Negros pares de asas esvoaçaram-se. Eram três pássaros, que corriam como vento. Sua velocidade, deveras, era incrível, dir-se-ia incalculável.

Em mesmo segundo, três dos integrantes do sétimo time puseram-se a correr também. O único a não o fazer fora ela, a própria, a pálida estranha, que se manteve de olhos cerrados por alguns instantes.

Passados alguns segundos, sua íris negra desvendou-se, revelando uma idéia curiosa. Estendeu a mãozinha afilada, ao ver que um dos corvos esvoaçar-se-ia a centímetros de sua aura. Quando estava prestes a agarrá-lo, no entanto, e seus dedinhos roçaram a ponta da asa negra do animal, todo seu semblante azulou-se; uma eletricidade percorrera-lhe os contornos, e, num impulso, foi obrigada a retrair o torneado pulso lívido, segurando-o.

"Que diabo?... Oh, sim. Como pude ser tão tola? Esse pássaro não voaria tão perto de seus caçadores assim, embalde. É elétrico... Então, que farei?..." – Refletiu e fitou o agressor, que já estava longe. Um forte laivo de ventania arrebatou todo seu talhe, e a moça, subitamente, sofreu estranha mutação: suas faces opacas iluminaram-se, e sua comprida trança negra enlaçou sua cintura. – "J'ai trouvé (Encontrei, em francês. Pode-se ver que, por qualquer razão, Talula possui uma descendência especulável)! Céus. Simples." – Calcando os dedos na esbelta cintura, olhou à sua volta, à procura de algum ponto alto. – "Bah. Tenho de apressar-me. Ou Uchiha pegá-los-á antes de mim. Veja como corre. Mère du Ciel!" – Avistando uma pedra, fez-se rápida e caminhou até a mesma. Num movimento perspicaz, alçou-se e pôs-se sobre a rocha, visto que a ponta de sua mimosa sapatilha pressionava-a. Assentou-se e, retirando uma espécie de vegetal, uma faca e algumas linhas finíssimas de uma pequena bolsa, começou a organizar algo estranho.

Em poucos instantes, com a navalha, rasgava parte da planta. Desta, em consistência repelente, mas incolor, um líquido escorreu e foi, logo, aplicado nos fios que a menina retirara de sua mochila minúscula. Rapidamente, ela se ergueu e fez uma rede com o resultado de sua ocupação interior.

A teia era finíssima, quase imperceptível, e Talula voltava a posicionar-se por sobre o seixo (pedra, rocha), selando os belíssimos e rasgados olhos negros.

"Exercício bucólico, minha cara... Você tem de, somente, preencher os pulmões com ar e soltar a voz das pregas vocais. Somente, simplesmente."

Uzumaki corria como um tresloucado, quando avistou a postura da novata. Esta se encontrava inerte, assentada, tranqüila e fleumática.

- Que é que ela está fazendo, dattebayo? – Indagou para si mesmo, assustado.

A menina de cabelos rosados, de sua parte, não podia deixar de horrorizar-se com a apatia de sua nova colega.

- O... o que ela está...? Que louca! Vai perder... – Enquanto corria, ponderava.

Uchiha? Bem... Numa estratégia inteligente, mas pouco provável, tentava agarrar uma das aves. Certo momento, quando tornou suas lívidas faces para a esquerda, avistou o quadro estranho. Entretanto, apesar de, interiormente, surpreender-se, não fez qualquer comentário ou denotou expressão de espanto. Simplesmente prosseguiu com seu plano, que, se não tomasse tanto tempo, seria o primeiro a libar êxito.

Um timbre magnífico, inefável inebriou a atmosfera de todos os presentes. Subitamente, Sakura, Naruto e Sasuke estacaram, lançando olhares incrédulos à morena pálida; a mesma cantava. Suas finas e negras sobrancelhas franziam sua bela fronte angelical, e seus olhos estavam cerrados a meio, coalhando-lhe a pungente luz que se desprendia das pupilas negras e frias. Todo seu semblante emanava um fulgor diáfano, celestial, que lhe avivava os brios d'alma.

Os corvos, de imediato, atenuaram seu vôo horizontal, fazendo grande giro e voltando-se para a direção de Talula. Esta, sem perder o afável fôlego, manteve a voz estável, magnífica e lúgubre, até que os animais achegassem-se à seu espaço. Contudo, antes que a tocassem, uma barreira colante ensopou-lhes a penugem obscura, atrapalhando-lhes o "planar". Caíram.

"Com efeito, Talula.". – Refletiu, erguendo-se e, com a própria armadilha que criara, atando os pássaros elétricos. Finalmente, tendo completado a tarefa, desceu de seu suporte e caminhou até Kakashi, que lia.

- Hatake-sensei. – Um fatídico sopro esvaiu-se, e o professor fitou-a. Sem impressionar-se muito, fechou seu livro e entrelaçou os braços.

- Talula-chan, você conseguiu. Pessoal, missão finalizada. Vocês

fracassaram, ao contrário da aluna novata. – Balançando, negativamente, a cabeça, prosseguiu. – Sabem que, ultimamente, estudamos o conteúdo relativo a sons. Como não se lembraram? Vocês não sabem, ainda, como trabalhar em equipe ou como prestar mais atenção às teorias. Bom trabalho, Talula.

Ela, sem agradecer ou mostrar satisfação, baixou a fronte, numa reverência formal.

- Sensei, como é que...? – Haruno, todavia, na precisão de contestar aquele acontecimento tão repentino, indagaria.

- Pessoal, já acabou. É só um treino. – O homem cortou-a. – Está certo que

Precisam prestar maior atenção à detalhes, mas... Enfim. Amanhã, teremos uma missão fora da vila. Teremos de acampar. Começaremos agora.

- Mas, mas, mas... Kakashi-sensei! Não temos barracas! – O lourinho

protestou, de mãos para o ar.

- Quem disse? – Ele, então, apontou uma árvore. Aos pés desta, havia uma pilha de bagagens práticas.

Imediatamente, a menina rosada e o garoto da Kyuubi gritaram, mais que espantados:

- COMO AQUILO SURGIU ALI?