De um dia para o outro acabei sendo jogado naquele navio sujo.Não encontrei mais nenhum de meus amigos do orfanato.O destino de cada um estava traçado.Os Cavaleiros defensores de Atena seríamos nós.Seguíamos a ordem de morrer por alguém que nunca tivemos a oportunidade de conhecer ainda,nos subteríamos a duros treinamentos para um dia descobrir que tudo aquilo não passaria de uma desculpa pra proteger uma moça qualquer.

Estava indo para a China,a minha terra,o lugar onde eu nasci e nunca pude conhecer meus pais.Eu,Shiryu Suyama,com 7 anos e pensamentos tão absurdos para uma criança.Mas era a verdade,certo?

-Anda garoto!-disse um homem grosseiro,que me pegou pelo braço e me levou até o andar de cima do navio,que agora havia parado e descido sua enorme rampa para que eu pudesse descer.Ele me empurrou para fora do barco e me acompanhou com os olhos até que eu abandonasse a embarcação.Em seguida,o enorme monstro que me deixara no cais do porto apitou feito uma enorme chaleira e partiu veloz.

A cidade era bem esquisita.Talvez eu tivesse desembarcado num comércio enorme.Homens arrastando várias sacolas,usando chapéus pontudos e parecidos com pratos me olhavam de cara feia.

-Com licença,mas...Moço,com licença,você sabe como eu...

Ninguém queria me ouvir.Passavam apressados.Talvez pelas minhas roupas e por eu estar demasiadamente sujo,eles pensassem que eu pediria esmola.Até que uma mulher já de idade,bem magra e enrugada parou.

-Você quer alguma coisa,meu filho?-ela perguntou,com uma voz esganiçada.

-Quero saber como eu vou para Rozan.-respondi.

-Você já está em Rozan,querido.-riu a anciã.

-E onde eu encontro o Mestre Ancião?Me disseram que eu deveria ir até os Cinco Picos Antigos.

-Não é muito difícil,não.Vê aquela grande cachoeira ao norte?É ali.

-Ah!Muito obrigada,senhora.-agradeci e comecei a minha jornada.Talvez eu chegasse lá até o anoitecer.

Dito e feito.Quando o sol se pôs atrás da cachoeira,eu havia chegado.Haviam cinco enormes picos (acho que daí o nome).Entre dois deles,os principais,descia uma cachoeira cristalina e perigosa.Escalei um dos picos,o menor deles,e cheguei até um precipício.Pigarreei.

-Hãã...Com licença?-chamei.Ninguém respondeu.-Será que aquela senhora me falou o lugar certo mesmo?-murmurei.Me estiquei na ponta dos pés e enxerguei uma casinha no horizonte,que estava com as luzes alaranjadas todas acesas.Desci e escalei o lugar onde ela se encontrava.Cheguei à porta,sentindo o rosto corar e uma estranha sensação de que alguma coisa me atraía ligeiramente naquele lugar.Levei um punho fechado ao ar,e hesitei um ou dois segundos antes de bater.Tempo suficiente para que alguém abrisse-a antes que eu desse sinal de que estava ali fora.Uma garota um pouco mais baixa,branca como a neve,com os cabelos muito negros e lisos presos numa bela trança,usando uma roupa cor-de-rosa clara me olhava,meio curiosa,meio tímida.

-Hmm...Shiryu?-ela arriscou.Minha voz não saiu,ficou engasgada.Abaixei o rosto,corando violentamente.

-Sim.-respondi.

-Ah,seja bem-vindo!-exclamou a menina,sorrindo.-O Mestre Ancião estava esperando por você.Entre!

Ela segurou minha mão suavemente e me puxou para dentro.A casa era mrna e acolhedora,embora simples.Um homem muito,mas muito velhinho entrou na sala.Era tão velhinho que encolhera mais que suas roupas,e sua pele era estranhamente roxa.Eu me assustei um pouco,mas fiquei calado.

-Mestre,é Shiryu,o menino que veio do Japão.-disse a garota que me recebera,dispensando as cerimônias.

-É claro...está cansado,não é,Shiryu?Vá dormir e amanhã conversaremos mais.Shunrei,mostre a ele o quarto onde ele vai dormir,por favor?

-Claro,Mestre.-respondeu a mocinha,curvando-se ligeiramente e entrando em um corredor estreito.Segui ela,pensando se eu deveria fazer isso ou não.Ela abriu a última porta à esquerda e entrou.Eu fiz o mesmo.

-Você vai dormir aqui.-ela disse,simpática como era.-Se você quiser,é claro.

-Ah...é excelente.Obrigado por me mostrar.-respondi,sem encará-la.Que engraçado,pela primeira vez na vida eu sentia meu coração bater veloz e não era por causa de nenhum esforço físico.A menina tinha um perfume tão suave que chegava a me adormecer por alguns segundos.

-Está cansado...olha,amanhã eu te chamo mais tarde.Digo ao Mestre que você está tomando banho,ou algo assim,e você pode dormir até às 8.É o máximo que consigo.-ela disse.Senti minha cabeça sair do transe ao ouvi-la dizer isso.

-Claro.Obrigada...como é mesmo seu nome?

-Shunrei.-ela respondeu,saindo do quarto.E não passávamos de crianças.