Tudo começou com um incêndio. Um incêndio colocou aquela madrugada em apuros. Não demorou muito para a fumaça escura poluindo o ar e quase tampar a visão pela escuridão da fumaça seca. Corazon teve que apelar ao ver que seu irmão poderia ultrapassar os limites naquela noite, quando estava com Melissa em seu quarto. O loiro seguiu os dois, pois havia escutado tudo. Ele tinha que ver até onde iria os dois. Caso Melissa desse o menor dos gritos, ele arrombaria a porta e socaria o irmão ali mesmo, mesmo colocando seus planos e sua missão como membro da Marinha por água abaixo. Agora, se Melissa realmente fosse uma mente fraca, seu coração ganharia mais uma cicatriz. Era hora de saber por conta própria. Que a sorte estivesse ao lado do mais justo de tê-la como mulher. Mas quando escutou Doflamingo pressionando-a para falar a verdade, ele apelou em incendiar a cozinha, fazendo todos acordarem e ele sair dali obrigatoriamente.

Corazon sabia que sua jogada em incendiar propositalmente a cozinha foi literalmente infantil e irresponsável de sua parte, mas não havia jeito. Tinha alguns planos para Melissa e ele, mas não era tolo de fazer tudo sem pensar antes. Precisava manter a segurança dela. Queria fugir com ela, mas era totalmente impossível. Precisava manter a Marinha informada de todos os planos dos piratas Donquixote. A prioridade era a justiça, e não aquela "família". Um irmão insano que foi capaz de tirar a vida do próprio pai na sua frente e levar a cabeça dele para Marijois, com o auxílio daqueles três outros agentes oficiais, incluindo Vergo que estava sumido e que sequer conhecia Melissa. Por um lado, agradecia aos céus por isso ser fato, pois já imaginava que Vergo seria pior com ela, e talvez arranjasse algum tipo de conflito que pudesse prejudicar a jovem desamparada. Era sorte por um lado e azar pelo outro, seu irmão mais velho se apaixonar por ela. Também temia por aquele garoto Law, cujo passado foi desastroso e suportava a angústia de sua vida limitada pela sua doença, e ainda estava sendo orientado para se tornar dos piores daquele bando… como Trébol, Diamante e Pika fizeram com Doflamingo e Vergo quando crianças. Foi sábio e arriscado em fugir das mãos deles… não se imaginava como eles. Havia senso de justiça e bondade em seu coração, coisa que queria manter… o laço mais forte que tinha dos seus pobres falecidos pais. O loiro atrapalhado nunca os viu como "camaradas", mas ele não tinha nenhum problema em esconder sua verdadeira natureza deles – até chegar aos dias recentes. Se eles o flagrassem com ela, provavelmente contariam tudo para Doflamingo. Com exceção de Law, que parecia ser tão frio e distante até mesmo dos outros e que, aos poucos, parecia ter certa confiança nele. Ambos já não implicavam mais um com o outro.

Tomou uma ideia como plano definitivo: ajudaria Law primeiramente, procurando a cura daquela doença do Chumbo Branco e, assim, podendo tirá-lo da trilha daquele bando e depois raptaria Melissa, levando-a para junto de si para viver eternamente com ela, longe do irmão e do bando. Era uma total loucura, tratando-se de enganar seu irmão e o resto do bando – mas era a solução. Sentia-se parado demais, vendo as coisas acontecerem e da pior forma. Mas explicaria todo o plano para ela, para que não se assustasse com seu repentino desaparecimento. Porém, Melissa achou aquilo uma loucura, implorando para que ele não a fizesse.

No dia seguinte, Melissa estava cuidando do jardim quando começou um rebuliço lá dentro. Baby 5 veio gritando para ela.

– O Corazon fugiu com o Law!

– O quê? – ela deixou cair o borrifador de vidro no chão, quebrando-o. Por sorte, nenhum caco havia cortado ela. Ela fitou por poucos segundos aqueles cacos.

– Eles acabaram de chegar com essa notícia! Vamos ter que ir atrás deles! – disse Baby 5, puxando-a pela mão, fazendo com que ela fosse com ela até os outros.

– Mas… como isso? Por que Corazon faria isso?

– Não sei. Mas o Jovem Mestre está muito zangado, e se pegar ele, vai dar uma boa lição!

Melissa se lembrou daquele plano dele. Ela sacudia a cabeça, sem acreditar. Sozinha ali, nas mãos dos outros. Dele. Os agentes oficiais e Doflamingo estavam sentados em roda. O loiro tinha um bilhete nas mãos, escrito por Corazon. "Estou partindo para encontrar a cura da doença de Law." - essas eram as palavras do bilhete que parecia ter sido escrito às pressas.

– Parece que meu irmão querido está se movendo demais! – disse ele, virando-se para trás. Viu Melissa, com a mão dada à garotinha, e sorriu – você imaginava que seu tutor fugiria com um dos nossos por uma simples ocasião?

– … Que ocasião?

– Certeza que não sabe de nada? – ele encarou-a virando o rosto de lado.

– Não… mas… e ele está bem?

– Não sei… o jeito é ir atrás dos dois, não posso perder aquele garoto de vista! Vamos partir hoje mesmo atrás deles.

Todos entraram no grande navio em formato de um flamingo e novamente partiram em busca deles. Não voltariam para a terra firme antes de achá-los. Vivos ou mortos.

...

– Então é isso?

– Sim. Meu irmãozinho fugiu com aquele garoto que te falei em busca da cura da doença dele… estupidez. – disse o loiro, apertando o fone do den den mushi.

– Será fácil encontrá-lo.

– Vergo! Ele anda suspeito demais para o meu gosto, principalmente nesses últimos meses.

– Fugiu só com ele?

– Sim.

– E a tal mocinha que é protegida dele?

– Está aqui… não sei como ele não a levou junto. Mas sinto que ele trama alguma coisa envolvendo ela. Ele quer tirá-la de mim e da família.

– E ela é assim tão importante?

– Lógico. – ele não se estendeu em explicar nada que demonstrasse sua paixão.

– Entendo… bom, tenho que desligar, há gente por perto.

– Até!

Doflamingo desligou o den den mushi. Com o ar pensativo, foi até a janela do seu camarote do navio, olhando o lindo céu azul.

– Você está usando o Law para me intimidar, não é, Rocinante? – perguntou para as poucas nuvens no céu – Sei muito bem o que quer! Mas não deixarei tomá-la de mim com esses golpes indiretos. Não mesmo… mas, por que diabos não levou-a consigo também? Não… está usando esse pretexto com o Law para despistar seu plano… quer tomá-la enquanto estamos distraídos atrás do garoto. Já entendi tudo, seu idiota! …

– Falando sozinho, Jovem Mestre? – batendo à porta, Jora apareceu entre a porta meio aberta – desculpa interromper seus pensamentos, mas os outros lhe chamam lá fora.

– Ah… estava falando sozinho, sim… – esfregou os olhos sem tirar seus óculos em nenhum momento – realmente, não dá para trocar ideias com as nuvens, vou até os outros!

...

Melissa andava quieta pelos cantos do navio, apenas cuidava dos afazeres que era requisitada e quando era requisitada. Era notável a certa preocupação dela com seu tutor, até então. Porém, ninguém ali mexia com ela, apenas Baby 5 e Buffalo tentavam animá-la, como ela sempre fazia com eles quando estavam precisando de algum estímulo. Agora, ela era protegida de Doflamingo, para os outros – não para Melissa. Tinha medo que ele "avançasse" novamente. Agora, ele não escondia sua afeição por ela para os outros. Queria mostrar que ela já tinha seu dono. Melissa, que certa vez já havia o achado interessante, sentia raiva. Não uma raiva vingativa, pois seu coração não foi educado para ter tais sentimentos; mas uma simples raiva, por ele querê-la sem ela corresponder. Ela nem imaginava que seu relacionamento com Corazon era caso conhecido por todos. Mas todos comportavam-se como se nada disso tivesse acontecido.

Durante essa caça ao Corazon e Law, houve conflitos com a Marinha, que sempre estava disposta a caçá-los e prendê-los. Cada dia que se passava, Melissa ficava preocupada e atentada em querer fugir dali de alguma forma e em uma oportunidade boa que tivesse. Seria uma péssima ideia, obviamente. Se já estavam lidando com a fuga de um e sequestro de outro, imaginava como ficariam mais loucos se ela também fugisse do bando. Logo aquela que era a "queridinha" do Jovem Mestre.

...

– Já se passaram três meses. – Trebol conversava com os outros agentes oficiais e Doflamingo – e nada que possa nos levar até Corazon e Law!

– Uma hora nós vamos encontrar… até mesmo porque ele não conhece bem os mares dessa região. – disse Doflamingo, enquanto brincava com uma pena do seu enorme casaco rosa.

– Com perdão, Jovem Mestre… não acha que… aceitando-o no lugar do Vergo foi uma escolha sem produtividade? – Diamante perguntou, olhando para a janela.

– É… achei sim… mas ele era o único de confiança, até então, que eu poderia permitir substituí-lo… assim como confiava naquele garoto.

– Mas ele foi raptado. Law não gostava dele. – lembrou Pica.

– ...acho que as coisas estão mudando.

– Como assim, Jovem Mestre?

– É… aquele garoto também não me inspira muita confiança, agora. Só quis se infiltrar aqui achando que seria útil em destruir a Marinha por causa do que fizeram com sua família. Tudo está se encaixando perfeitamente como pensei… – ele esmagou a pena que havia se arrancado do casaco em seu punho firme.

– Acha que… Law virou de lado e nos traiu? – Diamante agora virou-se para o loiro, perguntando-lhe diretamente.

– Exatamente. E agora, não sei o que quer junto ao Corazon.

– Melhor então que eliminamos os dois logo!

– Espera… ainda quero pegar o Law de volta. Pelo menos aquele. Bom, … e meu irmão também. Quero ver o que realmente tem por trás disso tudo. Se confirmar o que estou achando, poderemos desfazer dos dois.

– E quando vamos voltar ao mar? – Trebol.

– Breve. Só estamos repondo os estoques, e vamos voltar para nossa caça! – finalizou lambendo os lábios.

...

Acordando indisposta e enjoada novamente, Melissa tentava amenizar aqueles sintomas debaixo de uma ducha de água bem fria. Sentia calor num clima que estava mais para frio. Desconfiava que uma certa gripe iria abatê-la. Só faltava os incômodos típicos no nariz. Enquanto se dirigia para a cozinha, sentia-se molenga. Durante esses três meses, ela sentia-se triste, embora mantinha sempre seu bom humor diante dos outros. Talvez o emocional estivesse desgastado. Ficar só chorando sozinha em sua cama à noite não era tão eficiente para se consolar. Mesmo que tivesse a companhia dos membros mais próximos, sentia-se tão incompleta, indefesa e inútil longe dele… "Corazon, por que foi fazer isso?" Ela sempre perguntava para si mesma. Ela sabia dos planos dele, mas… por que algo lhe dizia, desde a última vez que estiveram juntos, que nada daria certo? Era tanta insegurança que sentia em relação a ele… e se ele nunca mais voltasse? E se… quando vinha em sua cabeça a possibilidade dele estar morto, ela mudava bruscamente seus pensamentos, e inventava alguma tarefa para fazer. Não estava preparada para isso. Perder Corazon para sempre seria a pior cruz que teria que carregar.

Melissa foi chamada pelo Jovem Mestre enquanto estava com Jora, ajudando a criar as roupas loucas que a outra criava. Ela obedeceu, indo até ele. Doflamingo estava sozinho, aquecido pela fogueira que estava acesa e onde ele estava sentado próximo.

– Tenho uma novidade em relação a sua posição nessa família. Como você sabe, nós temos subdivisões que são classificadas de acordo com as habilidades de cada membro. E você fará parte do grupo de armada do Trebol.

Melissa não gostou muito daquilo. Trebol era irritante com ela. Tê-lo como subchefe seria péssimo para ela. Ela não falou nada, mas Doflamingo entendeu aquela atitude dela.

– Não se preocupa com Trebol, Melissa! Sabe que sempre estará protegida por mim. E ele já foi avisado disso. – ele fez sinal com dois de seus dedos para que ela se aproximasse mais – Venha cá.

Ela se aproximou, ficando diante dele, que estava sentado folgadamente em sua poltrona preferida. Ele pegou-a pelo queixo delicadamente e olhou-a nos olhos.

– ...anda tristonha. Que está havendo com a garota mais radiante que conheço?

– Nada, não. Bem… apenas sinto-me indisposta ultimamente. É só um simples resfriado, logo ficarei boa.

– Não… não quero que nenhum resfriado te deixe assim. Se quiser, vá para seu quarto. Baby 5 levará para você um chá para que passe esse resfriado.

De repente, a ideia de sorver um chá embrulhou-lhe o estômago. Ela pôs a mão na boca.

– Que houve?

– Hmm… nada, nada demais. Só… arrotei.

– Aaahhh... está mentindo!

– Hmm... sim, estou… - acabou se confessando - mas é que não quero assustar ninguém aqui!

Por instinto, Doflamingo segurou-lhe a mão, como se quisesse manter em pé aquela que, em seguida, fechou os olhos por uns instantes, indicando que estava tonta. E Melissa estava sentindo a cabeça girar.

– Senta aqui, senta! – ele a puxou para a cadeira que ele estava sentado, e colocou-a encostada no encosto e tirou-lhe os sapatos. Os pés dela não alcançavam direito o chão, somente a parte superior do pé – Você não me engana, Melissa! Já a vi quase vomitar no mar em outra vez! Está escondendo algo sério! – pôs a mão na testa dela, que não indicava febre.

– Perdoa-me… Jovem Mestre.

Era tão tentador levá-la até seu próprio quarto, mesmo ela estando naquele jeito. Sua doce voz, sua mão macia… aquele corpo que parecia ainda mais apetitoso cada vez que via. Mesmo estando fraco. E era assim que ficava mais provocante… mas ele não queria aborrecê-la naquele estado.

– Melissa. Prometa que não vai me esconder mais nada! Somos uma família, sabe disso! – ele lhe dava uma leve bronca, enquanto lhe acariciava os longos cabelos levemente ondulados – Quero que volte a ficar firme e forte como sempre. Jora! – ele chamou pela outra mulher.

– Não se preocupe… eu vou para meu quarto…

– Fica aí.

– Chamou, Jovem Mestre?

– Vá arranjar algum médico, enquanto a levarei para o quarto dela.

– O que houve com ela? Ela estava muito bem me ajudando a fazer minhas roupas!

– É, mas ela teve uma tontura e quase caiu.

– … – Melissa só ouvia. E isso a deixava mais assustada. Será que estava para morrer? Não podia morrer agora. Decepcionaria Corazon demais se ele viesse a reencontrá-la. Não, não podia morrer!

Doflamingo pediu licença para a jovem e a pegou no colo que nem uma noiva, levando para o quarto dela. Deitou-a cuidadosamente na cama. Ela não conseguia fechar os olhos, enquanto ele estava ali. Ela tinha medo que ele fizesse algo "errado". Não conseguia confiar mais nele como antes. Sentou ao lado dela. Por um momento, a presença dele ali lhe lembrou o irmão dele. Foi aí que ela conseguiu fechar os olhos e sorrir discretamente. Aquilo lhe confortava a mente.

– Por que está sorrindo? – Doflamingo achou aquilo curioso.

– ...porque sou uma louca.

Agora, foi a vez dele rir daquele comentário.

– Louca? Por que louca? Essas coisas acontecem. De vez em quando, a gente tem que ter uma caída, para recuperar-se e ficar mais forte! – ele tentava animá-la.

– ...é. – concordou a morena. Se falasse o motivo real, deixaria seu líder nervoso.

...

Em seu quarto, Melissa descansava em sua cama. Já estava com roupas de dormir. E sempre que vinha enjoos, Jora aconselhava a beber um copo d'água – que tinha sempre em uma garrafa nas mesas de canto, ao lado da cama. Só agora ela pode perceber as mudanças em certas partes do seu corpo, como os seios mais inchados e doloridos. Será mesmo que era gravidez? Jora parecia mais experiente que ela nisso, e ela não duvidou da suspeita dela. Um filho do Corazon estava por vir justo agora? Será que ela teria o bebê longe do pai deste? Ela sabia que tinha sido uma ideia errônea do seu amado em ter fugido para salvar aquele garoto. E ele prometeu retornar apenas para raptá-la. Essa seria a pior parte.

Foram em Swallow Island que conseguiram achar um médico que pudesse analisar Melissa. E a resposta não foi diferente da suspeita de Jora.

– Ela está grávida, senhor. Três meses, aproximadamente. Virá na próxima primavera.

Jora foi até ela e abraçou. Doflamingo ainda continuou.

– E… vai ser menino ou menina?

– Não dá para definir ainda, mas por favor retorne daqui há dois meses. Já poderemos então previr o sexo da criança. – virou-se para Melissa – mas trata de descansar bem enquanto tiver esses sintomas. Em um mês, vai sumir essas reações do corpo. O feto segue bem. E tenha cuidado com outros hospitais, senão seu filho corre perigo de ser contaminado sem ter nascido!

– Sim, senhor.

– Bom, o débito segue no papel que lhe dei.

– Você vem conosco, agora. Estamos precisando de um médico no meu bando.

– Mas… não posso abandonar minhas meninas aqui! Quero dizer… minhas enfermeiras!

As enfermeiras se puseram agarradas ao médico, não querendo que ele saísse dali.

– Ou segue conosco, ou mato você e suas meninas! – Doflamingo usou seu Haki para intimidá-los, fazendo ambos caírem no chão – com exceção do médico, que tentou se manter firme, mas com dificuldade. E com um sorriso cínico, continuou – mas… se aceitar vir conosco, pode ser que, depois da nossa criança nascer, você volte para suas queridinhas. Fufufufufufu, uma boa proposta, não?

Melissa fez um leve bico, estranhando aquele termo que ele usou se referindo ao filho do Corazon: "Nossa criança...". Depois de olhar para cada uma delas, o tal médico aceitou a ordem disfarçada de proposta de Doflamingo. Voltaram os quatro para o navio.

– Cadê os outros? – o Jovem Mestre perguntou para as crianças que se encontravam ali.

– Já estão voltando! – disse Buffalo, com Dellinger sentado em sua coxa dobrada e tomando o sorvete do grandalhão, que não gostou de ver aquilo – Ei! Esse sorvete é meu! Para de lambê-lo!

– Não conseguimos pegar os caras! – concluiu Baby 5, brincando de escalar as cordas que sustentavam as velas.

– Cuidado para não cair no mar! – avisou Jora.

– E quem é esse homem?

– Nosso médico temporário.

– Ahh! – Baby 5 pulou para o chão do navio. – e o que ela tem? – ela foi correndo até a moça, que a recebeu em um amistoso abraço.

– Nada demais. Apenas… estou me recuperando desses enjoos. – Melissa não quis falar ali de sua gravidez.

O médico olhou duvidoso para ela, assim como Jora fez também. Doffy sorriu e pegou Mel pela mão.

– Ah, Melissa… deixa de bobagens! Que tem demais em todos saberem que vem mais um novo membro na família?

Os dois ficaram olhando sem entender nada.

– A Melissinha está esperando um bebê! – Jora anunciou a novidade.

– Ahh! Outra criança? – Buffalo quase deixou cair o sorvete.

– Outro bebê? – Baby 5. – Mas… onde está ele?

– Melissa está gerando ele ainda, menina. Mas essas coisas não é para ficar explicando para você, ainda!

– Bem, vou para dentro descansar um pouco. Depois falamos dele, Baby 5. Com licença, pessoal. – Melissa saiu dali do meio deles.

– Ela… parece triste… – observou Buffalo, depois que ela se retirou.

– Não é nada! Depois, ela voltará a mesma de sempre! – justificou o loiro.

As crianças pararam de perguntar as coisas envolvendo a gravidez de Melissa. Em seu camarote, ela chorava quieta. De tristeza, de felicidade. Como ela queria que Corazon estivesse ali, no lugar do Doflamingo. Queria tanto que ele soubesse do filho, que visse-o nascer. Mas algo… uma frieza no peito… a deixava tão pessimista em relação ao seu grande amor. Foram poucos anos de convivência desde que conheceu, e era como se ele tivesse lhe acompanhado em toda a sua vida. Era como um amigo de infância. Torcia para que, realmente, pudesse ter seu filho aceito pelos outros. Obviamente, Doflamingo aceitou. E provavelmente seria o pai que criaria junto com ela. Mesmo ele sendo o tio, Melissa não queria que ele assumisse o lugar que era somente de Corazon.

E as coisas pioraram quando o outro havia tentado lhe roubar um beijo. Obviamente, Melissa reagiu, mesmo sabendo que isso provocaria a ira de Doflamingo.

– O que há demais em me dar um simples beijo?

– Sei bem o que realmente quer! – ela tinha o tom mais sério na voz.

– E daí? Ele está aqui para ver? Acha que ele vai voltar logo?

– Sim! E eu o respeito o suficiente para não traí-lo mesmo em sua ausência. E agora, solta meu pulso, vou sair daqui do seu quarto! – a morena puxava seu pulso fino contra si. A mão dele era extremamente grande e forte demais para conseguir se soltar facilmente.

– Não vai, não! Eu não mandei sair ainda!

– Foi para isso que… que me deixou passar a madrugada aqui com você? Não para que eu me sentisse sozinha, mas para aproveitar o momento que ele não se encontra...

– Deixei apenas porque não te faz bem ficar tão sozinha de noite. Realmente, foi por isso. E você... precisa de alguém que possa confortá-la nessa fase em que vive… – ele falava calmamente, explicando tudo tão convicto – ainda sem soltá-la.

– Todos já me confortam me respeitando e tratando com igualdade. Não preciso de sexo como conforto. Isso é tudo, Jovem Mestre! Agora me solta!

Ele segurou o outro pulso, estendendo os braços dela para cima. Curvou-se para ficar mais próximo de seu rosto.

– Você é bem direta, Melissa… mas precisa ser um pouco mais obediente a mim. – explicava na forma mais cínica e manhosa que podia – Aprenda uma coisa: se eu quiser que você seja minha, você será. Se eu quiser que esse filho seja meu também, ele será. Afinal… ele não terá tanto juízo em criar um filho que fez despreocupadamente e que ainda por cima o abandonou para fugir com o Law.

– Ele não sabia que eu estava grávida…

– Ainda não terminei! – ele cortou a defesa dela em um tom meio rude, e depois retornou o tom anterior – E ele foi bem ousado em fazer o que fez, nos deixando preocupado com o rapto do Law. Há pouco tempo, dei uma oportunidade para ele para ver se ele está fazendo tudo pelo bem do rapazinho. Comuniquei com ele para que possa voltar para a casa, visto que já tenho praticamente em mãos a cura. Até agora… ele não voltou.

– … você se comunicou com ele? – ela atreveu a se perguntar, sem se importar se isso o enfurecesse.

– ...sim, Melissa.

Ela não pode evitar sua sincera felicidade em seu sorriso. Lambendo rapidamente os lábios por certa impaciência, continuou a explicar ainda segurando-a com os braços para cima.

– Mas ele não retornou ainda. E aviso-lhe: se ele estiver tramando contra nós, não o perdoarei. E você terá que esquecê-lo, antes que minha raiva faça-me desprezar aquele que me tem quase como um pai! – ele se referia ao bebê que ela estava esperando.

– Pois prefiro que você nos abandone. Assim como não tolera traições, também não tolero.

Doflamingo ainda tinha que admirá-la pelas coisas que pensava, similares a ele.

– E sei que ele se magoaria muito se eu fizer isso. E mais: ele ainda e sempre será o único que meu filho pode chamar de pai! Aceito qualquer benefício que você quiser dar para ele quando nascer… mas você não vai tirar o lugar que é do Rocinante!

Ao ouvir Melissa falando do irmão e ainda pelo nome legítimo, ele a jogou na cama. Ela se levantou, mas ele pôs imponente diante dela.

– Vai ficar aqui, de castigo. Não sairá hoje para nada! E por tempo indefinido!

– Como? Por quê? Não falei nada de errado!

– Mas está sendo rebelde demais com quem ainda é seu chefe! E sendo também ingrata pelo que posso de oferecer de bom.

– Aceito tudo de bom que vier de você… menos suas tentativas de me fazer trair Rocinante.

Doflamingo entendia bem os fatos, mas era egoísta demais para aceitá-los.

– Nada me interessa das suas filosofias. Você vai ficar trancada aqui e finito!

Retirou-se dali, trancando a porta do camarote. Esfregando as mãos em seu rosto, Melissa respirava profundamente. Sentia-se realizada, por ter conseguido controlar aquele estranho impulso dentro de si e ter imposto sua dignidade diante de Doflamingo. Mas sabia que… aquilo lhe renderia dias de tormenta. Faria tudo por ele… e ainda achava que era mínimo o que estava fazendo por Corazon. Faria o máximo que pudesse por ele. Não queria ficar mais um minuto ali sem fazer absolutamente nada.