Capítulo 1º - Carne Estranha em Carnes Erradas.

"No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro."

(Álvaros Campo, "Acaso")

Os lábios a escorregarem pela pele alva e opaca do pescoço, sugando a vitalidade já quente da moça em seus braços. Rastros ruborizados revelando a voracidade da necessidade singular dele. A sua carne desejando. A sua cabeça enlouquecendo.

Mãos a rastejarem pelo miúdo corpo feminino. Por ora, unhas a riscarem a delicada cútis. E, por outra, os dedos se fechando ao redor dos braços finos, aumentando o contato já mínimo entre os dois.

Ela tentava não se contorcer, porém, os espasmos já eram involuntários. Cravava as garras manchadas de vermelho sobre os músculos da coxa dele, enquanto as mãos grandes e calejadas percorriam seu corpo. Ele sabia aonde ir, como ir e no que aquilo tudo resultaria.

Os cabelos louros às vezes entre suas mãos. Não, não pensava em quem ali estava. Tinha na cabeça uma única imagem presa. Muito singular, ainda.

A respiração estava descontrolada, mas não era o desejo que ascendia em suas veias. E sim a raiva. O coração batia apertado, trazendo desconforto ao peito. Não queria mechas louras a enroscarem em seus braços. Não queria olhos azuis a cerrarem as pálpebras entre os gemidos. Não queria ela – mas era o que tinha.

Os seios a roçarem em seu peito nu enquanto saciava a cobiça daquela boca. Não desta deitada sob seu peso, daquela . Aquela boca sempre coberta por um batom bege, dando mais formas aos lábios rosados. Aquela que lhe atiçava os mais pervertidos sentidos e que fervia o seu corpo. Aquela; não esta.

As sucções pelo colo, branco, diferente. As mãos pelas coxas, firmes, estranhas. A intimidade descoberta pela curiosidade; os gemidos surdos alternados pelos soluços e a mordida no lábio inferior.

O auge dela.

A cabeça inclinada para trás. Dedos a se fecharem sobre o lençol branco. Braços estendidos pela largura da cama. Seu quadril encaixado com o dele.

Ele de joelhos, entocando com veemência. Queria aquela outra que não teria. O fruto proibido no paraíso, que instigava sua sede enquanto andava frente aos seus olhos. Era a vontade insana que o fazia agir desta forma. Não importava quem e tampouco quantas, pois nunca seria saciado. Sua sede exigia um único tipo de água; uma única boca.

Queria tê-la para si – e somente para si. Envolvê-la entre seus braços, dá-lhes abraços. Sugar seu pescoço, deixar-lhe marcas do desejo que já não cabia mais em seus corpo.

O suor escorria pelo tórax dele, caindo sobre o peito ofegante dela.

- Sirius!

Um gemido pronunciado, agudo, seco, rouco. Mas ele queria mais. Tinha de exalar aquele ensejo esfaimado já tatuado em sua pele.

A vontade animalesca dele era praticamente histórica – e demoníaca. Os olhos estavam presos no ponto oscilante entre a realidade e o devaneio. Os seus momentos sonoros de prazer eram abafados e quase inaudíveis.

Aquela outra era o ponto máximo de uma amizade verdadeira. Ela traçava entre ele e o outro as fragilidades e traições humanas que não deveriam existir. Traía-a ali, com aquela garota, mesmo não sendo ela quem queria. Ela era a personificação de suas dores de cabeça e o único meio de não agir impulsivamente.

Mas a doçura e a simpatia que tinha; os seus amigos e os agrados que a todos fazia...Tudo lhe fervia a razão. Tudo transbordava por seus olhos, carentes daquela pele fresca e intocável.

- Sirius!

A voz soara dolorida, entretanto, pouco lhe importava. A sua freqüência só tenderia a aumentar enquanto não se sentisse completamente isento daquela ânsia desumana de atacar a garota morena.

A beleza angelical da altruísta fazia-lhe nervoso. Jamais a tocaria. Nunca a beijaria. Mas seu amigo sim... Um dia a teria, um dia fariam um filho. Um dia cairiam sobre lençóis de puro linho e amarrotá-lo-iam como demonstração física do prazer mútuo. Ela sentira em seu ventre sensações desconhecidas proporcionadas pelo sentimentalismo romântico de seu amigo. E ele, ali, estava sendo realista.

Ela arqueava-se enquanto todos aqueles pensamentos o desnorteavam. As mãos femininas presas em seus braços e os olhos azuis o fitando. Riscos aguados cortavam-lhe o rosto e alguns soluços tornaram-se mais audíveis.

- SIRIUS!

Não era prazer e tampouco gemido. Era súplica à dor. Mas a ele não importava.

Ela não sentiria dor. Ela não teria desgostos. Se ela queria um ser deprimentemente romanesco, ela teria – mas não seria ele. Não o podia ser porque não sabia o que era. Não a amava; deseja-a com todo o desconforto que a imagem dos dois juntos lhe proporcionava.

Porém, odiava-a. Os momentos juntos que nunca teriam. A felicidade que lhe era roubada a sua frente. A fidelidade...

Os cabelos louros sobre o lençol falavam sobre dor e usurpação, só que o que seria aquilo quando o mais malévolo dos sentimentos explodia dentro de si, contrastando com aquele outro que não conseguia distinguir?!

Entocava com força e os lábios sempre ríspidos. Os olhos – mais acinzentados que azuis – seriam capazes de fazê-la borbulhar.

Raiva é calor.

Calor é obsessão.

Obsessão é...

- PÁRA, SIRIUS!!!

Suplicava, temerosa, debaixo dele. Ele ouvia-lhe?! Sim, mas não a via. Não era loura, mas sim morena – de longas madeixas cacheadas, que se esparramavam pelo lençol ali, à frente dele, brilhantes. Cor marrom, sedosas, cheirando a luxúria. Descabeladas, mostrando o prazer que ele lhe proporcionava – e somente ele poderia dar.

Mas, ela , ele não teria. Seria sempre aquele outro, seu amigo, a admirar os cabelos esparramarem sem manchar o tecido nobre numa noite alucinante.

Violência para com um corpo – que ele não via.

Um choro escapou. Ela libertou-se dele e sentou-se sobre os lençóis amarrotados. Olhava-o de uma forma assustada e confusa.

- VOCÊ ENLOUQUECEU, SIRIUS?!

A voz não era angelical, não era erudita e tampouco amena. Estava aflita, nervosa, repleta de medo.

O corpo masculino caiu sobre a cama. Virou-o para encarar o teto. Respirou fundo e levou as mãos até o rosto. Passou-as por ele todo e as deslizou pelos fios de cabelo negros.

O peito nu fora tocado por uma das mãos. Do lado do coração, massageando a região, enquanto a outra mão lhe apertava a testa.

- Desculpe, Francine.

- Francine?!

A decepção dela era tão clara quanto os seus olhos azuis – vermelhos devido ao choro.

Ele virou o rosto para observá-la melhor. A pouca luz existente no recinto bruxuleava e ele não via com clareza. Via uma loura com os dedos encravados entre o tecido que cobria a cama, segurando com força uma coberta ante ao tronco, mas, por outras vezes, lhe parecia morena; castanha.

As formas eram perfeitas com as medidas que ele gostava, porém, entre uma piscada e outra, desenhavam um violão, sem seios fartos e quadris estreitos.

Ela riu em deboche.

- Francine?!

Ele pousou os olhos novamente no teto, e gargalhou demoníaco. A cabeça pendia para trás e a boca se abriu. O som saiu, ecoando por todo o recinto.

- Você está apaixonado pela francesinha, Sirius Black?!

A ironia da voz presa ao escárnio dos olhos azuis da loura.

Ela deslizou até a borda da cama e ali se sentou. Havia uma estranha lepidez em seus dizeres.

Ele riu mais alto.

A risada rouca, grossa, galante, posta a preencher todo o quarto mais uma vez. As mãos dela tentadas a deslizarem novamente pelo corpo do moreno.

O corpo de Hogwarts.

- Não seja tola, Morgan. – Ele sentou na cama, encarando a garota. – Paixão é para os fracos – as mãos másculas voltaram a tocá-la -, e você é fraca perto de mim.

Um beijo voltou a preencher a boca da loura.

As mãos voltaram a percorrer as extensões dos braços, pernas, cabelos. Rastros vermelhos e desejosos voltaram a lhe marcar a pele feito brasa. A cabeleira loura voltou a se enroscar entre seus dedos, trazendo dor prazerosa.

A língua percorrendo o pescoço, colo, seios. Mãos descendo pelas costas, mãos subindo pelas coxas.

Um soluço surdo.

O tronco do moreno sobre o dela, roçando, friccionando, exigindo mais contato físico.

Que o amigo ficasse com ela então! Que ele tivesse uma única mulher! Que ele deixasse todas as outras para ele; para que todas elas ficassem cada vez mais desesperadas pelo prazer vicioso que somente ele sabia proporcionar.

Elas querendo o prazer dele enquanto ele desejasse o bel-prazer.

Corpos suados, colados um no outro. Ora a boca sobre o pescoço, em outra, os dentes, marcando a pele sensível em roxos. Se pudesse, teria um pedaço para si para provar aquela noite diante dos olhos castanhos prateados da morena.

Não precisava dela. Tinha todas elas. Asoutras. Nunca ela.

O desconforto voltara. As entranhas laçavam-se uma nas outras, bloqueando sua sanidade – tornando-o mais impulsivo.

Não. Se tinha que ter todas, seriam todas. E ela seria dele. Tinha de ser.

Machucados já não atrapalhavam a jovem loura presa entre a cama e seu corpo. Ela delirava debaixo dele, contorcendo-se e se agarrando mais nele. As mãos de unhas grandes riscando as costas do moreno, e a voz fraca pedindo por mais.

Ele enlouqueceria – caso já não estivesse assim.

Era loura, porém fazia-se morena. Era inglesa, mas exalava à francesa.

Abriu os olhos já a se crucificar por esquecer do horário. Respirou fundo com o nariz metido entre o travesseiro e sentiu um cheiro diferente. Não cheirava a suor ou orgias de descontentamentos; apenas a travesseiro.

O lençol estava menos amassado do que se lembrava e a cama não era mais espaçosa. Em um movimento mínimo, apenas girou a cabeça para o lado e tentou observar melhor o que se passava ali. Porém, os olhos pareciam alérgicos à luz.

Virou-se para o outro lado, para a porção escura do recinto que seu subconsciente conhecia. Estendeu a mão pela cama e tudo o que encontrou foi o término da cama. Tentou abrir os olhos mais uma vez com êxito e percebeu que realmente o local já não era mais o mesmo.

Não tinha ali, ao seu lado, a languidez de uma loura de corpo formoso. Respirou aliviado. Ela era bonita, mas ainda não era a beleza que procurava.

- Chegou tarde ontem à noite, Pads.

O sorriso satisfatório brotou-lhe nos lábios.

- O serviço é completo, caro Prongs.

Uma almofada lhe atingiu a cabeça, mas não se importou. Procurou o corpo maltratado de um outro amigo; a responsabilidade que o grupo não conseguia ter em sua essência.

- Suas olheiras estão horríveis, Padfoot.

Leões arranharam seu interior quando ouviu o licantropo se pronunciar.

- São as conseqüências dos atos que elas procuram.

Remus pareceu não gostar do comentário. Mas ele, Sirius Black, gostou e muito – principalmente quando o amigo revirou os olhos e voltou a arrumar a cama.

- Vá logo tomar banho porque o primeiro tempo é com o Binns.

Sirius olhou para James e largou o corpo sobre a cama amarrotada.

- Não precisamos da aula dele! – E um travesseiro cobriu-lhe o rosto.

- E você não precisa de mais detenções.

Remus Lupin se tornou extremamente irritante para os ouvidos e pensamentos de Sirius. Sua eterna mania de agir corretamente e seu medo de atropelar regras eram de efeitos eméticos para o estômago do Black.

Os olhos castanhos claros de Remus eram enjoativos e sua voz estridente. Estava cansado de ouvi-lo. Cansado de vê-lo. Cansado da existência do amigo.

- Como você é chato, Moony.

A voz saltou-lhe pela boca rouca – por assim ser e por causa dos poucos minutos acordados.

Sentiu o olhar de James sobre si, mas não se importou.

- Vá logo, Pads – pediu o mesmo com toda a educação, autoritariamente, que lhe escapava devido à intimidade com Sirius.

A água descia pelo corpo como forma de caminho já traçado. Havia poucas provas visíveis dos acontecimentos da noite anterior. Nada que não pudesse ser escondido pelo uniforme que usava incompleto.

Mordeu o lábio inferior enquanto sentia o toque destemido da água quente. Cerrou os olhos, abaixou a cabeça, apoiou as mãos sobre os azulejos brancos e intensificou os jatos d'água.

Eles massagearam os músculos de suas costas largas, para relaxar. Toques contínuos, saudáveis, exorbitantes, macios...

As mãos i dela /i eram macias. Muito macias. Os dedos escorregavam feito óleo quando o tocou pela primeira vez. Uma carne estranha sobre a sua.

- Algum problema, Black?

Ele cumpria detenção e ela o supervisionava.

Estava sentada em uma cadeira próxima aos livros que ele deveria ordenar. Mantinha uma perna passada sobre a outra, o pés suspenso a balançar no ar. Um livro grosso que ele desconhecia sobre as coxas e um pedaço de pergaminho apoiado sobre este. Fazia incessantes anotações.

- Nenhum, Noir.

Os olhos castanhos platinados desviaram a atenção das anotações para ele, e apenas sorriu.

Sempre assim, em dúvidas, um gesto simples e maleável. Doce.

- Por quê?! – Atreveu-se perguntar, parando o trabalho de martírio.

- Por nada – disse entre o sorriso. – Apenas achei que você tinha se machucado.

- Não há nada para se preocupar – agarrou a mão esquerda, examinando-a por alguns instantes.

Era boa a idéia de que ela estava preocupada com ele. Agradava-lhe os ânimos e os sentidos.

Não pôde perceber a aproximação da jovem. Quando retirou os olhos da palma da mão, ela já estava lá, à sua frente, de joelhos apoiados no chão e com o rosto iluminado.

- Parece que entrou um estrepe aí.

Pouco se importava com o estrepe em sua mão. Pouco se importava com os livros que teria de ordenar. Não se importava mais com o tempo que levaria. E pouco importava como o cabelo estava preso em um coque e como a franja caía-lhe pelos olhos enquanto uma pequena porção desta ficava atrás das orelhas.

Detalhes, apenas.

Ela irradiava paz – e ele se sentia anestesiado diante do mais simples risco de sorriso da morena.

- Eu posso tentar tirar, se você quiser. Mas acho que pode doer um pouco.

Ela o fitou com os olhos a brilharem.

Ela o desejava; ele podia sentir – mas não podia consentir. Seria fácil demais.

- Não precisa. Está tudo bem.

Não. Ela não o queria. Era assim com todo mundo; educada, simpática, altruísta.

A morena se levantou após dizer algum "Tudo bem" com um sorriso ainda preso aos lábios, e sentou-se na cadeira. Aquele ato mostrava o quanto equivocado se encontrava diante do que acreditava que ela sentia por ele.

Quando entenderia de uma vez que ela era o desejo pecaminoso de sua fraca carne?!

Tentou continuar a trabalhar, mas a sensação de tê-la tocando-lhe por alguns minutos o incomodava muito. Pousou os olhos sobre ela, que passava a pena pelo queixo, absorta.

- Ai! - Fingiu a dor na palma da mão e obteve o resultado que queria.

Ela foi até ele.

- Largue a mão de ser teimoso, Black. Eu posso tirar isso daí em alguns segundos!

Não queria segundos. Exigia minutos, horas, tempos de uma vida completa para que ela o tocasse.

Apenas estendeu a mão. Não se importava com os dedos delicados e com as unhas compridas, até as pontas destes, cobertas por esmalte claro. Tampouco lhe chamava a atenção o anel dourado com uma pedra branca brilhante no anelar esquerdo.

Segundos mínimos se passaram quando um pequeno pedaço de madeira foi mostrado diante de seus olhos.

- Nem doeu, não é mesmo?!

Ela sorria, com os dentes brancos a mostra.

- Não. Você o fez muito bem.

- Obrigada – as bochechas ruborizaram.

Ele retirou a mão de sobre as delas em um ato vergonhoso.

Ela ainda ficou sentada diante dele, tímida.

- Suas mãos são calejadas.

Sim, eram – e este era o motivo de envergonhar-se dela tê-las tocado.

- É por causa do quadribol.

Por quê, Merlin?! Por que a colocara em seu caminho se não podia agarrá-la contra a parede em uma tentativa cega de tocá-la por inteiro?! Por que seu amigo a encontrara antes?!

A voz falhava-lhe e saía mais rouca que o normal. Não estava tímido, mas ficou quando sentiu os dedos deslizarem pelos calos. Os dedos dela fazendo movimentos circulares sobre a palma recém-ferida; e suas entranhas lhe trazendo desconforto.

Os músculos do braço, por inteiro, relaxaram-se de tal modo que esqueceu o cavalheirismo e deixou o peso do membro pesar sobre as pernas dela.

A junção das coxas encoberta pelos tecidos da saia e das meias. O máximo que chegaria a sentir da fresca carne que atiçava os sentidos mais lascivos e adormecidos que seus impulsos ainda tinham.

Mãos, dedos, tudo era macio. O toque, os movimentos, a atenção. Tudo o que ele teria dela, até ali. O fastígio da aproximação dos dois.

- Desculpe – disse após algum tempo e largou a mão dele. Levantou-se tão rapidamente quanto começou a falar.

- O Potter vai ser liberado em cinco minutos. Ele está no terceiro andar com o McGregory. Você pode ir até lá.

- O.k.

Levantou-se do chão, pegou a blusa de frio e jogou-a pelo ombro. Agarrou a gravata sobre um livro velho e pô-la envolta do pescoço. Caminhou até a porta, abriu-a, mas não a atravessou. Respirou fundo e voltou alguns passos.

Ela ainda não era de seu amigo – e ele era Sirius Black.

- Posso mesmo ir?!

- Já não o disse que sim?!

Não estava sendo irônica e tampouco grosseira. Sempre amável.

- Você quer que eu vá?

A sua voz rouca agora era a demonstração mais concreta do que ela teria das verdadeiras intenções do maroto – caso permitisse que assim ele se fizesse.

- Eu já aquiesci o ato, Black.

Ela se virou para pegar sua capa e livro quando sentiu a aproximação rápida do moreno.

- Então te vejo amanhã – e depositou sobre as bochechas com leves sardas um beijo estalado -, de manhã.

Não a encontrou na manhã seguinte.

Sirius adentrou a sala de História da Magia com os passos pesados.

Sua mente já tinha todo o lugar desenhado. As cadeiras, as suas mesas, a mesa do professor, o fantasma que era o professor... e a cadeira da frente.

Há alguns meses que nada o prendia na realidade. As aulas eram cansativas e as provas continham espaços em demasia para suas respostas.

Ele largou o corpo sobre uma cadeira ao fundo.

- Parece que você não mantém mais o mesmo rigor físico, Padfoot.

A voz masculina que ele não agüentava mais ouvir ecoara ao seu lado. Sirius bufou enquanto apoiava o cotovelo sobre a mesa de madeira para deixar o peso da cabeça sobre a mão.

Olhos azuis acinzentados. Ultimamente, mais cinzas que qualquer outra cor. Eles fitaram de soslaio a figura magricela do amigo inteligente que tanto lhe incomodava nas atuais conjunturas.

James, sentado à sua frente, riu – e Peter, para não se mostrar alheio ao que acontecia, fez o mesmo.

- Bem que você gostaria, não é mesmo Moony?!

O som ríspido atravessara-lhe a garganta por impulso único – e as risadas pararam.

- Alguém está de mau-humor...

- Não estou de mau-humor. – O tom seco, rasgado.

O olhar significativo trocado entre James e Remus incomodou Sirius ainda mais.

Seres apaixonados entristecem a essência conquistadora dos verdadeiros amantes das mulheres.

Há algum tempo que a sala de Binns deixara de ser a sala de História da Magia. Fora ali que ele a encontrou depois de seis anos estudando no mesmo castelo.


n/a: Eis o primeiro capítulo de alguns.

Bem, essa fic é praticamente um drama psicológico – as frustrações de Sirius -, então, os próximos capítulos são bem narrativos, mas depois eu torno tudo uma narração gostosa com ações (espero!)

Espero que tenham gostado da leitura e, mais uma vez – como sempre será, espero! -, quero agradecer à Morgana Onírica pela linda betagem que ela fez e por toda a ajuda que ela tem me dado. Obrigada por todo o suporte, querida!

Noah Black