Por que esse tipo de coisa só acontecia comigo? Ah, é! Porque sou eu.
Fazia um dia nublado. Comum para a época do ano.
Estava bem frio, mais ainda não nevava.
Não sei o que me levara a sair tão cedo. Eu só tive um impulso.
As ruas estavam desertas, ninguém se levanta tão cedo em pleno domingo.
Finalmente havia chegado ao parque. Embora eu não tenha planejado conscientemente vir para cá, parecia que eu tinha este plano desde que me levantara.
Eu queria ficar um pouco sozinha e pensar. Pensar no quê? Em tudo. Eu queria apenas refletir.
Refletir sobre minha viagem à França daqui à dois dias. Sobre meus planos de ir aos Estados Unidos logo depois. Sobre a falta que eu sentiria de tudo aqui.
Ah! A saudade...
O sentimento me dominou completamente. Parecia até que eu já havia partido.
Nunca me esqueceria de meus pais, meus amigos, meu gato, o flufy. Também sentiria saudades das paisagens. O parque, com seu lago cristalino, onde crianças sempre se divertiam espalhando água para todos os lados. A floresta, sempre obscura e cheia de segredos. Até mesmo a cidade barulhenta e movimentada, que, embora fosse comum em toda grande metrópole, para mim não seria a mesma coisa. Não seria mais com as mesmas ruas e pessoas conhecidas.
Mas eu estava disposta e deixar tudo isso para trás e recomeçar.
Neste momento começou a nevar.
Grandes flocos brancos, parecendo algodão, desciam em cascata cobrindo o chão rapidamente.
Me levantei e fui andando para casa.
Não queria ir embora, mas logo a neve formaria uma grossa camada no chão, e meus sapatos não eram os melhores para se andar na neve.
Decidi cortar caminho pela floresta.
O percurso era bem curto, e havia uma trilha que eu poderia seguir.
Eu não iria me perder.
Eu já andava há alguns minutos e a floresta ficava cada vez mais densa.
Já não dava para ver o céu, nem os flocos de neve conseguiam ultrapassar as copas das árvores.
Comecei a ficar com medo. Eu conhecia aquela trilha. Já havia passado por ali várias vezes. Mas o caminho que eu conhecia não era tão longo, nem a floresta era tão densa.
Se eu não chegasse logo em casa meus pais ficariam preocupados.
Mas eu não conseguia ver o final do caminho. Eu devia ter pego a trilha errada.
Eu já estava à beira do desespero. Iria começar a gritar por ajuda quando ouvi um ruído, como o de um galho se partindo.
Olhei a minha volta bem a tempo de ver uma família de coelhos da neve fugindo.
Por que eles estavam fugindo? Não era normal. No inverno esse animais hibernavam como ursos. Mesmo que eu os tivesse assustado, eles não sairiam de sua toca. Se ficassem assustados com alguma coisa eles fariam exatamente ao contrário disso. Eles se esconderiam.
Ainda aturdida tive a estranha sensação de que alguém me observava. De que eu não estava sozinha.
Voltei a caminhar. Desta vez mais depressa.
Estava quase correndo.
Afastei uma samambaia e me deparei com uma abertura à frente.
Mais alguns passos eu estaria entregue à civilização.
Quando ia dar o passo que me tiraria da floresta uma mão tapou minha boca, enquanto um braço me dava uma chave de pescoço e me imobilizava.
Começaram a me puxar de volta para a floresta.
Tentei gritar, mas a mão que tapava minha boca estava apertando tão forte que mal consegui abri-la
Tentei me debater, na tentativa de fazer meu atacante me largar, mas obtive tanto efeito quanto o grito.
Ainda lutando para me soltar, senti dentes afiados perfurando meu pescoço.
Depois disso tudo ficou escuro, e eu não senti mais nada.
