Sakura Haruno se mantinha nas sombras como uma fugitiva. A alguns metros se erguia o hotel mais luxuoso de Mendoza em sua gloriosa majestade colonial, de frente para a imponente Praça da Independência. Ela garantiu a si mesma que não era uma fugitiva. Estava apenas se preparando… Avaliava o nível das pessoas que entravam no saguão: ricas e exclusivas, a elite da sociedade de Mendoza.

A tarde escurecia e as lâmpadas que piscavam nos arbustos e nas árvores criavam um ambiente de contos de fadas. Sakura endureceu os lábios e tentou acalmar o coração. Há muito tempo deixara de acreditar em contos de fadas — se é que já acreditara. Jamais abrigara ilusões a respeito do lado sentimental da vida. Era o que provavelmente acontecia com qualquer criança que a mãe tratasse como uma boneca para ser mostrada, e cujo pai se ressentisse por ela não ser o filho que ele perdera.

Sakura sacudiu a cabeça para afastar a repentina melancolia e, ao mesmo tempo, percebeu a chegada de um carro esporte prateado — evidentemente antigo e luxuoso — à entrada do hotel. Ela se encolheu, sentiu a boca seca e as mãos úmidas de suor. Seria…? O porteiro do hotel abriu a porta do carro e uma longa silhueta saiu do banco do motorista.

Era ele.

Sakura sentiu o coração parar por um instante. Sasuke Uchiha. O mais bem-sucedido vinicultor de Mendoza e provavelmente, naquele momento, de toda a Argentina. Sem contar a sua vinícola na região de Bordeaux, na França, que garantia que ele tivesse duas vindimas por ano. No meio reconhecidamente instável da produção de vinhos, os lucros de Sasuke haviam triplicado nos últimos anos e ele irradiava sucesso de cada centímetro dos seus 1,95m e dos ombros largos.

Ele vestia um smoking preto e olhava ao redor com um olhar entediado. Sakura podia ver o seu belo rosto arrogante e severo. O olhar dele passou pelo lugar onde ela estava escondida, e só então ela sentiu o coração bater novamente e voltou a respirar. Esquecera como aqueles olhos negros eram impressionantes. Ele parecia mais magro. Mais bronzeado. Mais sexy. O seu notável cabelo preto facilitava a sua identificação no meio da multidão — não que o seu carisma e a sua elegância não o distinguissem. Ele tinha mais que aparência… Tinha uma aura quase tangível de poder e de energia sexual.

Um movimento inesperado fez com que Sakura desviasse os olhos e visse o porteiro ajudar uma bela loura a sair do outro lado do carro. A moça se aproximou de Sasuke. Seus cabelos brilhavam quase tanto quanto o vestido muito justo de lamê prateado. Ela enlaçou o braço no dele e Sakura não conseguiu ver o olhar que os dois trocaram, mas, pelo sorriso da loura, não duvidou que tinha sido intenso. Ela sentiu uma pontada de dor e colocou a mão no peito. Não! Não deixaria que ele a perturbasse daquele jeito. Não deixaria que ele a perturbasse de jeito nenhum.

Sakura passara a maior parte da adolescência sonhando com ele, desejando-o. E seus sonhos tolos haviam terminado em desastre, no recrudescimento da hostilidade que existia entre as suas famílias há gerações. O desacordo acabara com todas as brigas e levara a sua própria família a se separar. Ela realizara todas as suas fantasias, mas também fora jogada em um pesadelo de terríveis revelações.

A última vez em que vira Uchiha Sasuke fora alguns anos atrás, em um clube, em Londres. Os olhares dos dois haviam se cruzado através da sala cheia de gente, e ela jamais esqueceria o desprezo que vira em seu rosto, antes que ele se virasse e fosse embora.