Harry Potter © J. K. Rowling
Crisântemos © 2003 Cygnet Committee (theparadoxoofsin arroba hotmail. com)
Crysanthemums – http/www. fanfiction. net/s/1593735/1/
Tradução © Ameria
Capa © Ameria
Imagem © Amanda Keeys
Copyright © Dez/2004

ESTA FANFIC É UMA TRADUÇÃO


Crisântemos

Estou tão feliz que você veio,
Estou tão feliz que você lembrou,
Para ver como vamos terminar nossa última dança juntos,
Expectante,
Pontual demais,
Mas mais que nunca,
Eu realmente acredito que essa vez é para sempre.
Last Dance — The Cure

1. As Faces das Flores

O sol tinha há muito tempo atrás fixado sombras de rosa, laranja e violeta abaixo dos montes escurecidos. O último dia de outono. O frio viria em breve; esta sempre fora a estação favorita de Narcissa. Ela se lembrava brevemente dos dias em que elas tinham sido mais jovens. Os dias em que tinham dançado sob a lufada de neve nova que caía. Como parecida com um anjo débil ela era então, sua Narcissa, tão próxima da inocência quanto ela jamais estaria.

Se lembrava de como as partículas de gelo tinham se agarrado a todos os fios daqueles longos cílios pálidos. Como o blush iluminava a pele alabastro nas bochechas afiladas e dava vida a um rosto suave de cartum. Muito parecida com uma pintura viva, Narcissa sempre fora imóvel como se fosse imaculada.

Ah, como Bellatrix fora o contrário. Ela não conseguia ficar parada; mesmo em todos os anos de sua existência, nunca fora imaculada, sempre uma beleza de olhos negros, uma mulher feita de fogo, viva demais para ficar num lugar só, constantemente rodopiando e mudando como uma lagarta virava uma linda borboleta.

Esta noite seria a última que passaria na mansão Black. Toda a sociedade bruxa puro sangue tinha cultivado sua casa por um dos eventos previsíveis organizados por sua mãe a cada ano, mas este era um tipo de festa de despedida para Bellatrix, uma festa de noivado com Rodolphus. Porém, ela pertencia a somente duas coisas.

Seu mestre, a quem ela prometera lealdade, e sua boneca de porcelana viva, Narcissa. Não havia jeito de ela seguir outro caminho. Rodolphus seria um bom marido, e ela seria uma boa esposa. Porém, ela nunca o amaria. Nunca conseguiria.

Ela tinha pedido para ficar sozinha. Precisava disso. Deu uma olhadela obtusa para seu reflexo no lampejo na janela. Sua franja batia como fios negros de seda em sua fronte larga, seus olhos cor de avelã fundos se sustentavam naqueles do seu reflexo, como se ela estivesse tentando ler a si mesma. Algumas coisas simplesmente não foram feitas para serem entendidas.

Há quantas horas estava naquele quarto? Por quantos anos tinha ficado contra a janela, apoiando os cotovelos no parapeito, ponderando pensamentos que alguém tão jovem quanto ela fora não teria que contemplar? Aquela fora Bellatrix. E por quanto tempo tinha Narcissa sentado na cadeira do outro lado da cama, balançando para frente e para trás com aquela boneca familiar em seus braços que lembrava tanto a ela? Como aquelas pernas minúsculas ainda não tinham alcançado todo o espaço em cima da cadeira... Como a seda e a renda tinham se espelhado sobre o assento num movimento floral... Como aquele arco minúsculo no encosto sibilava com os movimentos de seu passo...

Aqueles olhos dela eram como diamantes recém-lapidados em seus orifícios oculares, sempre brilhando de malícia incomum a alguém tão pequena. Como as tranças platinadas tinham serpenteado seu caminho pelas costas dela, desviado gentilmente de seu rosto e ficado para trás com aquele familiar grampo de serpente...

Como um fantasma, ela assombrava o quarto, apesar de viver naquela casa a poucas portas de distância. Narcissa tinha saído da festa para ficar pensativa? A probabilidade era pequena. Narcissa chamava a atenção. Ela sempre agarrava qualquer oportunidade de piscar os olhos para quem achasse que valesse a pena.

Lucius sem dúvida estaria lá. Ele, junto de Rodolphus, obviamente. Bellatrix teria que se agarrar ao braço dele, agradecer e sorrir para todos que oferecessem os parabéns. Embora tranqüila por fora, por dentro ela se sentia como se estivesse berrando.

Através das portas de carvalho, podia ouvir a união instrumental e os tons melódicos da conversa humana. Como toda aquela nobreza soava como um coro de pássaros irritantes, as vozes macias e delicadas... Nunca disseram nada a menos que valesse a pena perder tempo com isso.

Os cabelos escuros dela estavam espiralados e presos num nó atrás da cabeça. A seda escura deles ficava muito bem sobre o vestido de cetim, fluindo em cima do assento da janela e sobre o chão. Seus sapatos lado a lado descansavam contra a parede próxima à mesa de cabeceira. Suas luvas se esparramavam sobre a superfície macia do local de descanso dela.

Por um momento ela admirou os detalhes de seu quarto, o artesanato elegante das paredes, a construção de sua mobília que carregava um século de memórias de sua família. Anos de memória das duas irmãs. Como a cada noite os familiares passos de Narcissa vinham tamborilando pelo saguão; as portas se abririam rangendo tão levemente quanto. Ela escorregaria em seus braços e ficava até de manhã.

Bellatrix se lembrou de observá-la, se lembrou de todos aqueles anos desta tradição e elas nunca disseram uma palavra uma à outra. O leve subir e descer do peito diminuto dela, as respirações constantes contra sua pele, e os fios de ouro se misturando com suas cordas cor de ébano. Como Narcissa tinha torcido seus dedos finos entre esses cachos negros até que ela caísse no sono e todo o movimento cessasse...

Se lembrava de vestir Narcissa todos os dias, decidindo exatamente que tons de azul e violeta iriam combinar com ela naquele dia. Como tinha colocado as meias de lã no inverno e meias de seda bordadas na primavera... Como tinha amarrado os por um minuto paralelos buracos atrás de seus vestidos de boneca, atado os laços largos em suas costas, afivelado os sapatos de couro e gentilmente passado o pente por sua juba beijada pelo sol.

Mesmo enquanto elas ficavam mais velhas e suas figuras evoluíam para as de mulheres, Bellatrix ainda colocava as meias, e agora ela afivelava as jarreteiras, ainda amarrava os vestidos — mas agora havia um corpete — ainda escovava os cabelos desnecessariamente, e Narcissa ainda se curvava contra ela de noite.

Bellatrix estava tão envolvida nos próprios pensamentos que não notou a chegada da irmã. Depois de mais uns poucos momentos relembrando, virou-se para encontrar sua irmã mais nova Narcissa parada a sua frente, segurando centenas de crisântemos nos braços. Ela fitou a irmã sem nem piscar, e seu olhar foi retribuído.

— Os últimos brotos da primavera — disse em voz baixa e deixou as mãos penderem ao seu lado conforme as flores anteriormente ninadas caíam de cabeça no colo de Bellatrix e no parapeito da janela. Conforme Bellatrix se ergueu, as flores estremeceram e deslizaram para o chão.

— Cuidadosamente preservadas durante o outono. São um presente — Narcissa declarou insossa. Ela sempre tivera uma entonação de pedra quando falava.

— Eu não tenho amor a flores como você — Bellatrix sussurrou mais para si mesma que para qualquer um, virou-se para a janela mais uma vez, e mais crisântemos brancos se espalharam pelo chão.

— Disso eu sei, mas elas são tão belas, tão vivas, que achei que você pudesse gostar de destruí-las.

— Eu gostaria — Bellatrix quebrou o cabo de uma flor com os dentes e cortou-o na popa com um movimento acentuado. Começou a arrancar as pétalas e a atirar os restos no fogo à sua direita. Por alguns momentos Narcissa assistiu desencorajada.

As amáveis lembranças da primavera se foram nos rugidos das chamas. Bellatrix era feita de fogo. Narcissa levantou as saias e se sentou ao lado da irmã. Quando Bellatrix contraiu a face brava, ela agarrou as flores e raivosamente atirou-as às chamas em montes maiores e mais freqüentes. Soltou um grito de ira quando se virou para encontrar ainda muitas delas espalhando-se pelo chão à sua volta. Ela os varreu e os empurrou para baixo da madeira onde foram pegos rapidamente pela fogueira e se contorceram em cinzas.

Bellatrix, agora ajoelhada diante da fumaça, arfou maldosamente por mais alguns momentos até que mais uma vez adquiriu uma postura passiva. Narcissa permaneceu onde tinha se sentado, no parapeito, segurando a última flor entre seus dedos indicador e médio.

Ela estendeu a mão e Bellatrix tentou agarrar a flor restante; estava prestes a cortá-la em tiras quando olhou para o rosto de Narcissa. A rainha do gelo ainda tinha o braço estendido e parecia congelada no tempo.

— Você destruiria tudo? — Narcissa perguntou gentilmente. A expressão de Bellatrix suavizou e ela apertou os dedos ossudos da irmã.

— Tudo não — Bellatrix pressionou os lábios contra a carne fria da palma de Narcissa.

— Se lembra daquela primavera? — Narcissa fez a pergunta inaudível para ninguém que não fosse Bella. E num instante ela se lembrou.


A primavera era ainda um verde pálido agarrando-se à bochecha do inverno; a primeira flor tinha brotado bem em frente aos seus olhos. Fora o primeiro sinal de magia de Narcissa, com cinco anos, aquele dia. Narcissa fizera a flor emergir das dobras do branco que se derretia. Bellatrix tinha dez anos então, se preparava para ir para Hogwarts, determinada a defender a honra da família, diferente de sua irmã Andrômeda, que tinha ficado grávida de um sangue ruim e fugido com ele com dezessete anos.

Naquela primavera Narcissa tinha ficado noiva de Lucius, e Rodolphus tinha exigido Bellatrix. Em todos os encontros com os pretendentes, Bellatrix fora rude e detestável deliberadamente, de modo que nunca pudesse ser escolhida. E aquilo dera certo por seis anos até que ele veio.

Ele achou sua vivacidade intrigante. Como ela era mais como um garoto, mas vigarista, controlada, poderosamente radiante. Tão diferente de uma dama e ainda tão feminina, de fato. Ele tinha uma vez requisitado o noivado. Bellatrix não tinha tido escolha. Seus pais estavam felizes de finalmente dá-la, e foi onde a animosidade começou.

Ela mal falava com os pais. Eles eram meros vassalos para trazê-la à existência. Nunca tiveram a pretensão de significar alguma coisa para ela. Não desprezava os pais, mas também não os amava. Seu pai era um homem milionário que enriquecera com o próprio suor, mas nunca estava em casa, e, quando estava, o escritório era onde ficava. Sua mãe se dava ao luxo do glamour, da riqueza, dando festas aqui e ali, ficando cada vez mais obsessa pela glória e honra da linhagem dos Black.

Bellatrix se orgulhava de sua pureza, mas escarnecia a mentalidade régia que vinha com ela. O glamour não era o que ela queria. Era o orgulho. Seu primo mais novo em torno da idade de Narcissa nunca tinha pensado por essas linhas. Ele desprezava tudo ligado à sua linhagem sangüínea, família e história. Queria romper todas as ligações do mesmo modo que Andrômeda. Bellatrix balançou a cabeça, a tola arruinada.

Naquela primavera os seus pais tinham viajado a estação inteira, aquela primavera ela nunca esqueceria. Com Andrômeda fora elas não tinham ninguém para separá-las. Os elfos cuidariam delas, mas elas estavam responsáveis pela casa durante toda a estação. Esta seria a última temporada de Bellatrix em casa, e a primeira de Narcissa sem os pais.

Deram tchau para os pais e imediatamente descobriram o quarto das mil chaves. A casa tinha tantas fechaduras, chaves, portas, entradas, saídas, e Bellatrix estava determinada a explorá-las.

Elas acharam a chave com a impressão digital vermelha manchada nela, e ao sótão viajaram. Bellatrix descobrira esse cômodo secreto com quatro anos. Sempre tinha fitado o pico mais alto da mansão com a janela de vidro única e se perguntado o que tinha lá.

Agora estava proibida de olhar, mas a curiosidade era mais forte que ela, e ela ia tirar vantagem desse momento. Narcissa a seguia de perto, silenciosa como uma boneca e obediente como um cachorro. Quando Bellatrix finalmente subiu a escada, a fechadura não abriu. Talvez fosse a chave errada?

Ela persistiu na fechadura mais uns minutos, e finalmente esta fez um clique e abriu. A primeira coisa que ela notou foi pó. Pó em toda parte. Deixava o ar denso como uma fumaça suja e entrava e saía de seus pulmões. Ela rapidamente puxou um lenço de seu corpete e o colocou sobre o rosto de Narcissa.

Uma vez que ambas entraram no cômodo, a porta se fechou. E não havia fechadura do lado de dentro. Estavam presas. Bella não notou esse problema de primeira. Tudo o que viu foi um cômodo cheio de brinquedos velhos, um carrossel, um grupo de bonecas de porcelana, manequins, lâmpadas, sofás e uma longa cortina que corria em volta do cômodo. Ela vagamente se perguntou o que tinha atrás da cortina, porém estava muito intrigada com o carrossel para se importar.

Narcissa estava com o lenço tapando o nariz e a boca para não respirar o ar nocivo. Bellatrix montou num cavalo de cerâmica e, na mesma hora que tocou sua crina, ele começou a se mexer, rangeu e a melodia que emitia era abafada e assombradora. Narcissa continuou a mover-se furtivamente em direção às bonecas de porcelana, e então gritou.

Bellatrix correu para o lado dela antes que ela pudesse desabar no chão. Os rostos das bonecas de porcelana estavam todos despedaçados, e os que não estavam choravam lágrimas de sangue. Suas mãos minúsculas estendidas para alcançar Narcissa. Os olhos de Bellatrix se arregalaram de medo. Não sabia o que fazer com elas, e Narcissa estava soluçando de medo agora. Ela arranhou o dorso de Bellatrix e gritou em seu ombro.

Bellatrix ninou Narcissa e se afastou das bonecas horripilantes. Tentou abrir a porta, mas se deu conta de que não havia maçaneta, fechadura, nem nada. E ela começou a bater o punho na madeira, chamando pelos elfos-domésticos, por Andrômeda, por seus pais, para que qualquer um viesse ajudar.

Mas a escuridão veio e se foi. Ela não podia ouvir nenhuma outra parte da casa naquele lugar maldito, e se perguntou se podiam ouvi-la. Sentou-se curvada num canto com Narcissa, de quem as lágrimas não haviam cessado. As bonecas continuaram onde sempre estiveram, e suas mãos ainda estavam esticadas para frente. O sangue pingava de seus olhos de vidro e o carrossel ocasionalmente começou sua melodia assombradora. O lugar era mal.

O verdadeiro MAL. Seu mestre não acreditava no mal, mas ela sabia de sua existência. O que quer que guardasse este cômodo, era a mais pura maldade. Depois de quatro dias sem água, comida ou ajuda, ela começou a se desesperar e procurar algo para comer. Não encontrou nada além de pó e montes de cabelo; cabelo que, para o seu horror, tinha montes de carne nas pontas.

Ficou ainda com mais medo do que tinha atrás daquela cortina. O pó empastava o chão de madeira e havia um círculo de pegadas de Bella. Uma hora ela tinha ficado tão brava que tinha pegado uma das bonecas sangrando e a atirado contra a parede, onde ela se estilhaçara e se enrugara no chão.

Narcissa soltou um gemido fresco para este cenário. Bellatrix tinha ficado tão irritada que tinha-na deixado ali para tremer e chorar. Tinha ficado louca com a fúria e arrancou fora a cortina desesperada por alguma comida. O que encontrou a assustaria pela vida toda.

Sete caixões de vidro, cada um com uma pequena criança dentro. A primeira era uma garotinha com o rosto desfigurado horrivelmente. Gêmeos unidos pela nuca, um menininho sem pernas, um bebê de um olho só, gêmeos que pareciam normais, uma multidão de doze bebês todos nascidos prematuros, e finalmente uma garota loira que parecia não ter língua nem mãos.

Isto era o que a natureza incestuosa da família Black produzia. Ela ouvira que na virada do século era costume matar um jovem mutilado ou uma criança que era desonra para a família de alguma forma. Então era isso o que faziam com eles: trancavam as crianças naquele cômodo para morrer, então elas nunca mais poderiam envergonhar a família.

Bellatrix soltou um grito tão longo e alto que não podia ouvir mais nada a sua volta; os caixões preservavam os corpos e ainda, muito devagar, estes decompunham-se. O rosto da garota sem língua estava deteriorando-se no osso. Bellatrix tropeçou de horror, ficando enredada na cortina, que a pegou em volta do pescoço e começou a sufocá-la e, conforme seu corpo se afrouxou, ela tinha certeza de que vira os olhos da garota sem língua se abrirem.

Narcissa tinha desemaranhado-na e arrastado seu corpo para o canto, onde as duas se sacudiram e choraram até que, uma semana depois, Andrômeda as deixou soltarem-se.

Ela tinha voltado para juntar suas coisas desde que descobrira que os pais estavam fora da cidade. Estava segurando um bebê recém-nascido nos braços, e Bellatrix o observou hipnotizada conforme sua face mudou completamente e ele mudou sua aparência à sua própria vontade.

Bellatrix se perguntou se, se elas tivessem vivido há um tempo atrás, Andrômeda e seu bebê sem rosto estariam num daqueles caixões. Bellatrix odiava a irmã pelo que ela tinha feito ao nome da família. Odiava tudo relacionado à Andrômeda, porém, ódio nenhum podia fazê-la condenar Andrômeda àquele lugar horrível.

Pelo resto da estação Bellatrix teve pesadelos, comeu muito pouco, raramente deixava seu quarto. Narcissa tinha pegado todas as suas bonecas de porcelana e esmigalhado seus rostos com um atiçador. Observou o fogo comer seus cabelos e curvou-se ao lado de Bellatrix.

As coisas não foram mais as mesmas então. Aquele momento levou as duas a um entendimento do que era trivial e o que significava tudo. Orgulho de quem você é e não de quem parece ser é o que importava. Todas aquelas crianças defeituosas deviam ter sido premiadas por terem sangue puro, não descartadas porque eram deformadas.

Se convenceu de que eram traidores como Andrômeda. Tentou justificar as ações dela. Mas sempre pensava na garota sem língua e nas lágrimas de sangue das bonecas estilhaçadas. Quando seus pais voltaram para casa, perguntou sobre o cômodo e descobriu que a garota sem língua e mãos fora sua tia.


— Claro que me lembro — Bellatrix sussurrou envolvendo Narcissa em seu abraço, descansando o rosto nos familiares cachos loiros da irmã. — Como poderia esquecer?

— Você me destruiria um dia, Bellatrix?

Bellatrix olhou naqueles olhos de diamante e se decidiu.

— Só se fosse de sua vontade, irmã.

— Você me mataria se eu te dissesse para fazer isso? E você apreciaria se eu te dissesse também?

— Eu nunca poderia apreciar.

— Mesmo se fosse a minha vontade?

— Eu nunca poderia apreciar te matar. Eu te amo.

— Amor — Narcissa repetiu devagar, como se fosse uma palavra estrangeira que ela não pudesse compreender. Depois de um olhar de confusão, arrancou uma pétala da flor e a deslizou para dentro de sua boca.

Ela agarrou os cabelos de Bellatrix e pôs seus lábios sobre os de sua irmã. Suas línguas se tocaram rapidamente e as duas afundaram para o chão. Desabotoaram os corpetes e escorregaram os vestidos por seus corpos e se mesclaram como luz contra a escuridão.

As chamas lamberam a madeira ao lado delas, o ar fumegava a cada toque. Bellatrix amava controlá-la, amava contaminar aquela aparentemente inocente fachada, e amava fazer o corpo dela se curvar do jeito que se curvava em vezes como essas. Narcissa amava se submeter, amava ser amada, e tudo era tão glorioso.

Quando finalmente atingiram o auge e desabaram juntas, seus corpos se entrelaçaram, como uma corda num nó delicado. Bellatrix amava essa parte. A parte que elas trançavam os dedos nos cabelos e envenenavam as bocas uma da outra com seu gosto proibido.

O total aspecto de que era errado fazia-nas sentir que era certo. Fazia tudo ser bom. Bellatrix se sentia como as noites frias de inverno, e Narcissa como a gelada luz do dia.

— Ah, o amor — Narcissa confirmou para si mesma. — Você vai amar Rodolphus?

— Não assim.

— Então como?

— Ele não é você. Ele e eu somos dois corpos feitos de fogo, mas nossos corações são feitos de gelo. Com você eu derreto o gelo, com ele eu só congelo mais.

— Lucius diz que me ama — Narcissa disse benignamente retorcendo os dedos pelos cabelos que iam até a cintura. Bellatrix começou a fazer os laços do corpete de Narcissa, puxar o vestido por cima de sua cabeça e admirar cada laço. Ela silenciosamente atou as fitas e colocou os sapatos de salto alto e fivela, incrustados de diamantes. O vestido de Narcissa era de um azul pálido, pálido como os prismas azulados em seus olhos.

Bellatrix fez os laços em si mesma, arrumou o próprio vestido conforme Narcissa recolocava a maquiagem, suas pulseiras usuais e colares que caíam. Bellatrix não usava jóias e seu vestido era vermelho, da cor do vinho do jantar, com sapatilhas combinando completamente com um laço diminuto no dedão. Retorceu o cabelo numa coroa ornamental de pérolas pretas.

Narcissa a colocou para ela, e retorceu as mechas negras com a mágica de sua varinha. Segurando todas as mechas no lugar, passou pó em Bellatrix e aplicou toda a maquiagem, fazendo-a contorcer-se desconfortavelmente; ela nunca usara maquiagem.

Narcissa deixou um beijo invisível na bochecha de sua irmã e começou a prender de volta o próprio cabelo com o familiar prendedor de serpente, deslizando o prendedor por ele. Bellatrix sorriu levemente, enroscou os braços em volta daquela cintura fina e gentilmente mordeu a orelha da irmã.

— Você vai descer para a festa, Bellatrix? — Narcissa perguntou ao pôr a mão na maçaneta.

— Não tenho escolha, tenho? — disse Bellatrix com os braços cruzados abaixo dos seios, olhando pela janela conforme uma rajada de neve clara começava a cair.

— Você aproveita por mim? — Narcissa quase suplicou.

— Não posso fazer isso — Bellatrix declarou em voz baixa, notando a superfície amarrotada de seu vestido.

— Você não pode aproveitar nada por mim? — era mais uma afirmação que uma pergunta.

— Eu posso aproveitar você, não uma coisa por você — disse Bellatrix andando até a porta e abrindo-a para Narcissa. — Você sabe disso.

— Sim. — Bellatrix deslizou suas luvas pretas sobre os braços e bateu os saltos até o saguão, deixando Narcissa parada na porta sozinha.


N/T: Sim, é um incesto, e eu sei que é absolutamente impossível de se acontecer, mas eu não vou responder comentários de reclamação.
Há algumas estruturas de frase e algumas partes estranhas na fic, mas eu achei que o original precisava de uma betagem mesmo.
Dez/2004