Necessário

Soube das coisas cedo demais. Compreendeu o necessário – mas nada além disso, nenhum dos detalhes mais importantes – muito antes do devido. Não que fosse esperto, era bobo, e jamais conseguiu identificar que esta era parte do problema.

Aprendeu desde pequeno a não pensar no amanhã. Futuro era feito de risadas num campo de treinamento, de brigas infantis com gritos em voz alta, de implicâncias e amizade e um pouco de amor – só. Ou talvez esse fosse o Presente. Não aprendeu a diferenciá-los, só a não se importar com qualquer um dos dois.

Entendeu que estar apaixonado era estar bobo. Era estar feliz, era estar idiota, era estar irritado, e – feito de sorrisos tímidos para outra pessoa, junto com um leve rubor na face – era estar sozinho também. Às vezes. Era bom. Era o sorriso dela, a preocupação dela com as coisas que ainda não tinha conseguido aprender (com coisas que ele já entendia, mas nunca conseguiu explicar direito), era ela, ela, ela. Aprendeu isso com doze anos e jamais ensinou a ninguém.

Entendeu que ter amigos era engraçado. E que não fazia muito sentido, também. Aprendeu que gostar de uma pessoa era tê-la ao seu lado todos os dias da sua vida, da maneira mais desagradável possível, e perceber que não seria a mesma coisa se ela não estivesse lá – e que às vezes a mesma coisa faz falta. Que as pessoas têm jeitos esquisitos de tratar os amigos e que ele não era exceção – que nenhum dos dois era. Que às vezes risos e suores e lágrimas e alegria e raiva e vitória e todo o resto se misturam e então não faz a menor diferença gostar ou não da pessoa, porque ela já faz parte de você.

Entendeu que gostaria de ser um herói. Aprendeu que um herói normalmente não tinha capa e também não tinha superpoderes, e era incrível por fazer o que fazia justamente sem nada disso. Que heróis não são famosos e raramente são reconhecidos; que eles não têm belas máscaras coloridas que os escondam dos olhares dos vilões que matam, nem das pessoas que salvam. Que você pode ser forte e pode ser inteligente e pode ser admirado por todos e pode ser todas essas coisas complicadas e mesmo assim você pode destruir tudo porque recuou uma vez e quis ser um herói e não um guerreiro – só.

Aprendeu que dói. Aprendeu que uma boa parte das coisas dói e que a outra parte só acontece de vez em quando. Entendeu que não era o esperado, mas não soube que jamais poderia ser. Aprendeu que, às vezes, mesmo que você tente e se esforce e seja forte, as coisas simplesmente não acontecem – e você não consegue lançar fogo com o jutsu, demora para despertar a sua linhagem sanguínea, não é o que o seu clã queria e merecia. E que isso dói.

E que às vezes o futuro-presente e a dor se misturam e viram um só, e então a amizade-amor-implicância chega e muda tudo. Muda de repente, não pede licença nem por favor, e muda tudo e você começa a rir e a fazer caretas e a se esquecer de tudo que (quase não) importa.

Aprendeu que morreria por isso.

Soube das coisas cedo demais. Compreendeu o necessário – mas nada além disso, nenhum dos detalhes mais importantes – muito antes do devido. E se foi antes disso também.

X

N/A: Surto causado por overdose de fics fodas + uma tarde tediosa: Deu nisso. Sempre quis escrever uma centred no Obito e finalmente consegui. 30Cookis, set Outono, tema 28: Sentido. Ficou subentendido e tal, mas eu usei "sentido" como o significado das coisas, aqui, espero que tenha dado para perceber. Espero as reviews, também.

(A Abra disse que ninguém tem o direito de reclamar do título, porque nenhum de vocês teve que me aturar pedindo sugestões e rejeitando todos os títulos de poemas do Álvares de Azevedo que ela me dava. E eu super concordo.)