CAINDO (DE NOVO) NA REAL
SUPERNATURAL ALTERNATIVE UNIVERSE
CAPÍTULO 1
AUTOR: DWS
SINOPSE
O fim do mundo pode ter as causas mais loucas. Como, por exemplo, o cancelamento de um seriado de TV.
UNIVERSO PADRÃO DE SUPERNATURAL
BUNKER DOS HOMENS DE LETRAS, 2015
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- Sam! Você está no laptop há horas. Algo interessante?
- Algo bizarro até mesmo para os nossos padrões.
- Mesmo? Já vimos tanta coisa que acho difícil que algo ainda me surpreenda.
- Um homem invadiu a estação de rádio local, fez o radialista de refém e divulgou uma mensagem alertando o mundo da iminência do Fim dos Tempos.
- O que tem isso de tão excepcional? O mundo está cheio de profetas do Juízo Final. Têm lugares em que você encontra um em cada esquina.
- O bizarro é o quê ele acredita que trará muito em breve o fim dos tempos: o aviso, pelos produtores, do cancelamento de um seriado de TV.
- Concordo que é inusitado. Esse realmente merece ser chamado de maluco. Um maluco com uma imaginação delirante, por sinal. E o que ele pretende? Sensibilizar os fãs a enviarem cartas e abaixo-assinados para a emissora? Quando falam em cancelar é porque o seriado está com sérios problemas de audiência e perdeu patrocinadores. Mas, e nós com isso?
- O assunto passa a merecer a nossa atenção quando o tal seriado se chama Supernatural, os personagens protagonistas são os irmãos Dean e Sam Winchester, seu criador chama-se Eric Kripke e o cancelamento acontece ao final da décima primeira temporada.
- Para mim está muito claro de onde saiu essa piração toda. Onde mais Supernatural e Irmãos Winchester aparecem associados? Esse lunático é só mais um dos leitores malucos da série de livros que o Chuck Shurley escreveu sob o pseudônimo de Carver Edlund.
- Foi a primeira coisa que me passou pela cabeça.
- Estou começando a achar que os fãs de Supernatural se dividem em dois grupos: os meio pirados e os completamente pirados. Já conhecemos diversos deles: Becky Rosen, sua mal-amada ex-esposa; Damien e Barnes, nossos clones gays da convenção de fãs de Supernatural; todo o pessoal que estava naquela convenção; Marie, combo de roteirista, diretora e atriz aborrescente, que enriqueceu nossa história de vida misturando demônios, robôs espaciais e uma deusa louca ao som de canções piegas; e qualquer um que ache que encenar 'Supernatural - O Musical' foi uma boa ideia. Ainda mais com aquelas insinuações estúpidas sobre nós dois e aquele absurdo subtexto Deanstiel.
- Estou de pleno acordo. Afinal, como é possível alguém levar a sério que existam dois sujeitos que abriram mão de tudo, até mesmo de terem uma vida pessoal, para protegerem estranhos de monstros e demônios? Acreditar que alguém correria o risco de pegar prisão perpétua ou de acabar no corredor da morte para salvar vidas? E sem receber absolutamente nada por isso. Nem mesmo agradecimentos.
- Não esqueça dos fantasmas e anjos.
- Para protegerem estranhos de fantasmas, monstros, demônios e anjos. Satisfeito? Um detalhe: Damien e Barnes eram cosplayers e não clones nossos. Outro detalhe: é Destiel e não Deanstiel.
- Cosplayers? O quê .. ? Ah! Deixa para lá. Vamos voltar ao que interessa: o tal profeta pirado.
- Pois é! Sabe como são esses blogs e noticiários da internet. Todos se dizem repórteres, mas as fontes de todos acabam sendo outros blogs e noticiários da internet. Ninguém vai verificar na origem o que é ou não verdade. Ninguém verifica os detalhes. O importante é ser o primeiro a dar a notícia. Veracidade é o que menos importa. Depois, desmente-se tudo e parte-se para outra.
- Feito esse preâmbulo ..
- Uma bizarrice tão óbvia é notícia. A história se espalhou e gerou as especulações mais estapafúrdias. Até que alguém fez uma pesquisa rápida e levantou um ponto importante. Não existe nem nunca existiu nenhum seriado chamado Supernatural. A história já era absurda e aí mesmo é que o cara ficou desacreditado. Os blogs divulgaram com o mesmo estardalhaço que era tudo uma fraude e/ou que o sujeito era louco de pedra e o assunto morreu. Ninguém mais voltou ao assunto. Quanto ao maluco, ele continua preso por invasão de propriedade e cárcere privado do radialista, dentre outras acusações. A promotoria agora estuda o enquadramento dele como terrorista.
- Terrorista?
- Sob a alegação que a divulgação de um boato sobre o fim do mundo poderia levar pânico à população com consequências imprevisíveis.
- A única consequência imprevisível que eu consigo imaginar é alguém ter escutado a história e deslocado o maxilar de tanto rir. Quem é que vai levar a sério uma bobagem dessas?
- Nós!
- Nós? Está falando sério? Sam, o cara é doido. Simples assim. Como é possível cancelarem um seriado que nunca foi ao ar? Como o cancelamento de um programa de TV pode decretar o fim do mundo?
- Parece loucura, mas nós SABEMOS que existe um seriado chamado Supernatural que, pelas minhas contas, estaria hoje na sua décima primeira temporada.
- Existe? Onde?
- Aí é que está. Existe, mas não aqui. Existe naquela realidade maluca onde o Balthazar nos jogou. Está lembrado, "Jensen"? O seriado de que participamos - entre aspas - chamava-se Supernatural. A maior evidência é que, como você mesmo lembrou, para os leitores do Chuck, o autor chama-se Carver Edlund. Não Eric Kripke.
- Kripke. Eric Kripke. Esse nome me é familiar. Tenho certeza que já escutei esse nome. Só não me lembro onde.
- Aí é que está. Foi lá que você escutou. Naquela outra realidade. Nós não chegamos a conhecê-lo. Mas, lembro claramente do Bobby Singer que não é o Bobby Singer que conhecemos falando que o tal seriado fora criado por alguém chamado Eric Kripke. Ele até convocou esse Kripke a ir ao estúdio quando nos demitimos do seriado.
- Acha que é DAQUELE seriado que o nosso maluco está falando? Mas, isso aconteceu em outra realidade. Você pesquisou na ocasião. Aqui não existe um polo cinematográfico na cidade de Vancouver. O KM Studios onde eram feitas as gravações não existe lá nem em lugar algum do mundo. Aqui não existe um Jensen Ackles nem um Jared Padalecki. Não existem nem mesmo representantes destas famílias na América. E, felizmente, também não existe nenhuma Genevieve Cortese ou um Misha Collins.
- Eu não tinha pesquisado o Kripke na ocasião, mas acabei de fazê-lo. Existe um Erick Kripke aqui, mas sem nenhuma relação com o mundo do cinema ou da televisão. Até onde sabemos Supernatural, Irmãos Winchester e Eric Kripke aparecem juntos apenas lá. Ou, quem sabe, numa terceira realidade. Se existe uma segunda, podem existir outras. Milhares. Infinitas.
- Já estou começando a achar que você, Sam, é quem está completamente pirado. Mas, eu entendo. Depois de tudo o que você passou, seria até estranho se não tivesse pirado. O tempo que você esteve na jaula com o Lúcifer. O tempo que o Lúcifer passou de férias na sua cabeça. O tempo que o Gadreel se escondeu dentro de você. É normal que os neurônios estejam todos bagunçados aí dentro.
- Pode fazer piada. Mas, você não pode negar que nós dois vimos você todo galãzinho fazendo NOVELA. Qual era mesmo o nome? Ah! Days of Our Lives.
- Um golpe muito baixo esse seu.
- Não, eu achei até que você mandou bem. Atuou direitinho. Juro. E deve ter rendido bons momentos nos bastidores com algumas fãs mais entusiasmadas.
- A menos que aquelas caras e bocas do Eric Brady fossem só representação. Sabe-se lá. Afinal, o cara é ator.
- Eric Brady?
- O nome do personagem.
- Você não muda, Dean. Mas, sério. O que acha dessa possibilidade?
- Vamos supor que você está correto e o sujeito fez, de alguma forma, contato com aquela outra realidade. Como o cancelamento do seriado poderia causar o fim do nosso mundo?
- Eu estive pensando. Sabemos que o Chuck Shurley é - ou era - um profeta do Senhor e que os livros que escreveu seriam o Evangelho dos Winchester. Nós estávamos destinados a ser os receptáculos do Miguel e do Lúcifer na Batalha Definitiva do Bem contra o Mal. O mundo que existiria depois, seria um lugar muito diferente de tudo o que conhecemos hoje.
- Seria, mas nós conseguimos abortar o Apocalipse. O mundo não acabou. Continuou a mesma droga de sempre. O Bem e o Mal continuam suas escaramuças, embora esteja cada vez mais difícil dizer quem é o Bem e quem é o Mal.
- Pois é. Não temos como saber o que estava planejado para depois do Apocalipse. Se havia outros planos para nós. Ou se o fato de não existirem outros livros é porque era para a nossa história acabar ali. Aqui, na realidade em que vivemos, Supernatural se limita a essa série de livros, que não conta a nossa história toda. A história para no ponto em que o Apocalipse é abortado e eu e o Adam caímos no Inferno. E você vai ao encontro da Lisa.
- Já naquela realidade, o Apocalipse nunca aconteceu. Ou melhor, aconteceu como ficção em Supernatural.
- Mas, o que importa é que lá a nossa história continuou sendo contada. Foi além dos livros do Chuck. Ao chegarmos lá, o seriado estava perfeitamente alinhado com o momento que estávamos vivendo na ocasião: a guerra dos anjos pelo controle do Paraíso. A facção do Rafael contra o grupo que apoiava o Castiel. O episódio que estávamos gravando era o episódio 15 da sexta temporada.
- E lá ficamos sabendo que o final do último livro do Chuck correspondia ao final da quinta temporada do seriado.
- Certo. Mas, voltemos ao Chuck. Ele sabia o que ia acontecer com a gente antes mesmo que acontecesse ou nós seguíamos sem saber o roteiro que ele escrevia?
- Seguíamos um roteiro? Como se fôssemos atores?
- É exatamente isso. Roteiros e atores. Aqui, o roteiro assumiu a forma de um romance. Cada aventura narrada em um capítulo. Na realidade que visitamos, era realmente um roteiro, só que na forma de diversos scripts encadeados; e eram realmente atores representando esse roteiro. O Jensen e o Jared representavam lá situações que nós realmente vivemos aqui seguindo scripts escritos lá pelo Eric Kripke. E, no roteiro escrito lá pelo Eric Kripke, existe um Chuck Shurley que escreve aqui um roteiro que os irmãos Winchester do seriado vivenciam.
- Sam, isso é muito louco. Numa outra realidade, um cara comum escreve um roteiro para um seriado de TV e aqui nós vivemos o que ele escreve como se fosse a realidade? Lá ele é um cara comum e aqui é como se ele fosse Deus.
- É muito louco. Talvez por isso nós não nos aprofundamos na discussão das coisas que vimos enquanto estávamos lá. Convenientemente, deixamos de lado como mais uma bizarrice. Outras das inúmeras que vivemos.
- Por que será, não é mesmo? E a resposta é: para não enlouquecermos de vez. Ou ficarmos ainda mais loucos do que já somos. Eu e você, irmãos. Jensen e Jared, dois atorzinhos babacas que ganham rios de dinheiro e se detestam. Eles não existem aqui e nós não existimos lá. Mas, se formos para lá, nós viramos eles. Para nossa sorte, e, creio que para a sorte deles também, eles nunca vieram para cá. Se viessem, eles seriam nós? Está bom para você?
- A questão é que agora precisamos entender como tudo isso funciona. É uma questão de sobrevivência. Nossa e do mundo inteiro. Se é verdade que nós vivemos um roteiro escrito por Eric Kripke, o que acontece se ele para de escrever o roteiro?
- Algo como 'Nosso mundo deixa de existir'?
- É uma possibilidade. Talvez o nosso profeta maluco não seja maluco e exista mesmo a chance do mundo acabar. Senão esse ano, no próximo. Ou no outro. Onze temporadas é muito mais que eu daria para aquele seriado. A produção era de baixo orçamento e, por isso mesmo, os efeitos especiais eram toscos; os monstros eram claramente atores fantasiados; a produção era amadorística; os diretores decidiam as cenas no improviso; os atores eram muito ruins ..
- Mas, a comida que serviam no set de gravações era ótima. E seu outro eu, a falsa Ruby e a alpaca viviam muito bem num imenso castelo.
- Era tudo muito diferente. Um mundo muito diferente do nosso. Aparentemente, lá não existe magia. Como consequência disso, não existem seres sobrenaturais. Nem monstros, nem fantasmas, nem anjos, nem demônios.
- Quanto a isso, eu já não tenho tanta certeza. O seriado trata do sobrenatural, é acompanhado por milhares de pessoas que gostam de seriados que tratam do sobrenatural e todos sabem identificar criaturas que podem até não existir, mas que, de alguma forma, fazem parte do inconsciente coletivo daquelas pessoas. Como poderiam fazer parte do inconsciente coletivo se nunca existiram? Em que momento isso teria acontecido?
- Bom argumento. Andou transando recentemente com alguma garçonete com curso de psicologia?
- Jerk!
- Desculpe, não resisti. Agora falando sério. O que acha que está acontecendo neste momento naquela realidade? Por que acha que o seriado vai ser cancelado?
- Cansaço do público. Chega um ponto que fica tudo muito repetitivo. Ou cansaço do atores. Eles não se davam bem. Podem ter resolvido dar um basta e seguir outros caminhos. Mas, não podemos nos iludir achando que um seriado de TV pode durar para sempre. Se a existência do nosso mundo depende disso, estamos ferrados.
- Você está certo. Acho até estranho que o seriado tenha continuado depois que saímos de lá. O anjo que nos seguiu até aquela realidade, o que se dizia guardião das armas de destruição em massa do exército celeste ..
- Virgil.
- Isso! Virgil! O Virgil invadiu o estúdio atirando. Não vimos, mas escutamos os tiros, vimos pessoas gritando e chorando. Dizendo que o criador da série fora morto. E também o Robert Singer e o Kevin Parks. E, antes, ele tinha matado o Misha, o intérprete do Castiel, um personagem importante na série. Não imagino como o seriado pode ter prosseguido e chegado na décima primeira temporada.
- Se o Eric Kripke morreu e o seriado prosseguiu, é porque outra pessoa passou a escrever os episódios. Será que isso significa que basta alguém escrever sobre Supernatural para funcionar?
- Talvez não baste escrever. Talvez tenha que ser levado ao ar e visto por um certo número de pessoas. Uma crença compartilhada e reforçada por milhares de pessoas.
- Como um tulpa? Acha que a crença das pessoas daquela realidade no universo de Supernatural criou e está mantendo o nosso mundo?
- Por mais louco que pareça, é uma explicação. Já enfrentamos tulpas antes. Aqueles palhaços que me perseguiram pareciam bem reais.
- Mas, uma vez criado, o tulpa não passa a ter uma existência independente de quem o criou? O nosso mundo, depois de criado, pode ser descriado?
- Se a crença das pessoas for abalada .. Se aquilo deixa de ser importante para elas .. Eu acho que sim. Surgiu do nada e volta ao nada. Como os tulpas que enfrentamos.
- Então é uma ameaça muito maior que o Apocalipse. O mundo pode simplesmente .. deixar de existir.
- Não dá para ter certeza de nada. Não sabemos nem mesmo se continua havendo um paralelismo entre o seriado e o que acontece aqui.
- Só há uma maneira de descobrirmos. Voltando lá.
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ESCLARECIMENTOS:
Um TULPA, segundo o budismo tibetano, é uma entidade (ou objeto) tornado real unicamente pela força de vontade, num ritual que envolve meditação, concentração e visualização intensas. Um pensamento que se materializa e ganha vida.
Um tulpa é criado para servir ao seu criador, mas, uma vez criado, não está totalmente preso à sua vontade. Como uma criança obediente aos pais que cresce e torna-se um adolescente rebelde, tulpas podem tornar-se agressivos e matar seus criadores. Enviados para executar uma missão, podem não retornar, fazendo as suas próprias escolhas e seguindo uma vida própria. O normal é o tulpa deixar de existir com a morte de seu criador, mas isso nem sempre acontece.
Os irmãos Winchester combateram tulpas nos episódios 1x17 (Hell House, com participação dos Ghostfacers) e 7x14 (Plucky Pennywhistle's Magical Menagerie).
DISCLAMER
Supernatural, na nossa e em muitas realidades, é uma criação de Eric Kripke. Isso faz dele o detentor dos direitos sobre os personagens do seriado nestas realidades. Mas, não podemos garantir que é assim em todas. Afinal, são infinitas.
Pode existir uma realidade em que, ao invés de Eric, haja uma Erika Kripke. E outra em que Eric era apenas o assistente de iluminação do estúdio em que Supernatural é gravado e que, depois de demitido na metade da primeira temporada do seriado, nunca mais assistiu a nenhum episódio. E até mesmo uma estranha realidade em que eu (a.k.a. DWS) sou o criador de Supernatural e Érico Kripke da Silva é um garoto brasileiro que usa óculos fundo de garrafa, tem espinhas no rosto e escreve fanfics padackles quando chega da faculdade.
Embora tenha integrantes do elenco e da produção de Supernatural como personagens, esta não é uma fic sobre pessoas reais. O Jensen, o Jared e outros que venham a aparecer nesta fic foram inspirados nos personagens do episódio 6x11 (The French Mistake) de Supernatural, escrito por Ben Edlund. Não nas pessoas de mesmo nome que vivem no mundo que ingenuamente acreditamos ser o mundo real.
01.07.2015
COMENTÁRIO:
Minha fanfic SETE VIDAS - VIDA 6 tem como subtítulo CAINDO NA REAL. Portanto, o (DE NOVO) remete tanto à segunda ida de Dean Winchester ao universo alternativo do episódio The French Mistake quanto à retomada de uma trama que reúne Dean Winchester e Jared Padalecki.
