Unsaid

Para o primeiro Challenge Harry/Luna do fórum 6V. (L)

Finalmente havíamos chegado ao nosso destino. O pequeno corpo de Dobby em meus braços parecia ter o peso do mundo. Meus membros doíam muito mais do que eu pensei que poderiam doer; e foi com força que meus joelhos bateram no chão, fazendo-me perder o equilíbrio e a vontade de permanecer de pé.

A única coisa que eu conseguia ouvir era o som das ondas quebrando e mais nada. A minha voz - assim como a de todos os outros - parecia ter sido sugada pelo barulho da água, e eu não soube mais o que fazer para tentar encontrar ar em meus pulmões. Senti o vento frio bater em meu rosto e soube que estava chorando. Por mais uma derrota, mais uma vida, mais uma luz que havia nos sido arrancada.

Outra vez, o sol havia morrido para nós, e só o que víamos era a mancha negra no céu que deveria ser azul. Eu procurava por algo, mas só o que conseguia era enxergar as trevas que cada vez mais se alastravam ao nosso redor. Em um mundo que deveria ser de todos, fossem bruxos ou não.

Olhei finalmente para os olhos de Dobby - não sabendo de onde havia tirado coragem para tal, pois eu não queria admitir que fosse mesmo verdade - e fiquei paralisado; imóvel. Até que uma pequena figura aproximou-se de mim. Os cabelos longos e loiros balançando ao vento e os pés fazendo um leve ruído em contato com a areia.

Como eu poderia me esquecer de você? Ouvi seus joelhos baterem no chão, e você ergueu uma de suas mãos pequenas, sujas e marcadas pelo tempo. Senti vergonha de mim mesmo ao vê-la. Desculpe, eu deveria ter ido até você antes. Perdoe-me, digo em pensamento. Você sorri para mim e para a pequena criatura em meus braços. Um sorriso triste, mas ainda assim um sorriso, que sempre carregava a luz de que tanto precisávamos em tempos como estes. Sua mão pousou carinhosamente sobre os olhos vidrados de Dobby e então os fechou.

-Pronto, agora ele poderia estar dormindo.

E a verdade é que eu quis dizer tanta coisa ao ouvir sua voz. Tanta coisa, Luna. Porque foi só naquele momento, tendo você ao meu lado de novo, que percebi a verdade desabar diante de mim. Eu queria que nós dois pudéssemos fechar os olhos; que você fechasse meus olhos e me levasse embora daquele lugar. O som das ondas me entorpecia, e a minha voz continuava morta em minha garganta. Minhas mãos estavam cansadas. Meus olhos estavam cansados, e as lágrimas continuavam a escorrer.

Eu queria que você pudesse me fazer dormir - assim como Dobby dormia. Fazer-me sonhar com um lugar que não fosse aquele. Pois o que poderíamos esperar do futuro, afinal? Eu... Eu apenas esperava que você pudesse pegar a minha mão para fugirmos dali. Porque você é uma pessoa que acredita na luz, num novo futuro. Que acredita em mim, não por eu ser o escolhido, mas sim pelo que sou. E isso, Luna, é maior do que qualquer sentimento que possa existir. Assim era também o sentimento que martelou meu coração. Talvez tarde demais, talvez no momento errado, mas que estava presente. Aquela pequena luz, igual à carregada em seus olhos, que iluminou a minha mente e livrou meu coração das trevas que o rodeavam.

Porém, eu não disse palavras porque elas não eram necessárias. Não era a hora certa - em meio a lágrimas, dor e sofrimento. Mas eu continuaria em frente, eu esperaria pelo novo mundo que ambos acreditávamos, pela luz que você - e agora eu - carregávamos.

Até chegar o momento em que eu pudesse finalmente fechar os olhos e sonhar, sem preocupações. E que você pudesse segurar a minha mão e nunca mais soltá-la.