Título da Fic: Zen.

Anime: Harry Potter x Weiss Kreuz

Casal: Harry x Draco/Aya x Omi

Classificação: Crossover/ Yaoi/ Lemon/ Angust/ Sobrenatural/ Suspense.

Status: Em andamento.

Autora: Lady Anúbis.

E-mail: Yume Vy e Dany

ooOoo

ZEN

Capítulo I – Quando Dois Mundos Colidem.

28 de Dezembro. 06:00 Hs. Escócia. Apartamento de Harry Potter.

Harry atravessa a pequena sala ainda sonolento, é como se todos os seus músculos doessem, mesmo aqueles que ele nem imaginava que pudessem doer. Entra desanimado na cozinha, ainda é muito cedo, o sol mal nascera, mas precisa começar a fazer o café da manhã. É seu dia de cozinhar.

Luta contra o sono, tentando se apressar, pega a cafeteira no armário, coloca o pó e liga na tomada. Desde que haviam ingressado no Programa Preparatório de Aurores, há cerca de seis meses, o café substituíra o chá pela manhã.

"Só assim para agüentar." – Pensa e boceja.

O café... Fazem questão de usar a técnica trouxa para prepará-lo, pois nenhuma magia pode reproduzir o efeito da evaporação da água atuando sobre o pó de café brasileiro que compram no mercadinho da esquina.

Lembra com saudade dos tempos de escola, que não estão tão distantes assim... Faz apenas um ano que terminara, logo depois do confronto mortal com Voldemort. "E eu reclamava do excesso de lições! Que saudade delas!", Aquilo nem se compara à estafante rotina de quatro horas de aulas teóricas e quatro horas de treinamento de campo pesado, com muito exercício físico. Isso sem falar dos duelos, que geralmente terminavam com uma nova dor, em um lugar desconhecido do corpo.

E essa rotina só é quebrada quando viajam em missão, acompanhando um auror-orientador, o que não quer dizer que estas missões são boas e isso o faz se sentir agradecido por estas viagens sempre serem em duplas.

"Ainda bem ou a única voz que eu ouviria o tempo todo seria a do meu orientador me chamando de estúpido ou inútil." – Ficara contente em ter Hermione ao seu lado, pois o responsável por eles é o melhor e mais duro auror do curso. Ashler Goldsmith capturara ou enfrentara alguns dos maiores comensais da morte e Harry Potter, para ele, é apenas mais um aluno idiota. E dia após dia deixa isso muito bem claro.

Começa a ouvir ruídos vindos do restante do pequeno apartamento, talvez atraídos pelo cheiro do café que já se espalha pelo ambiente. Só então ele utiliza a magia, dando andamento aos ovos e ao bacon que vão dar energia para o dia cansativo. Logo a mesa está posta, apenas a espera dos demais moradores do apartamento.

Os quatro haviam decidido morarem juntos quando ingressaram no curso, animados e felizes pela honra de terem conseguido aquilo que poucos alcançam. Para ele e Draco o dinheiro não era um grande problema para se estabelecerem na nova cidade, mas Rony teria que desistir da idéia se tivesse que morar sozinho.

"Eu não teria vindo sem o Ron. Não seria justo." – Então decidiram viver os três rapazes e Hermione em um apartamento alugado com três quartos minúsculos. Não havia sido uma adaptação muito fácil, pois os gênios de todos eram muito diferentes.

Draco e Rony custaram a se entender, se conseguirem isso algum dia, mas pelo menos a implicância entre eles diminuíra bastante. Bem, talvez o cansaço tivesse uma grande influência nisso, pois sobrava pouca vontade de brigar quando só se desejava um banho quente e uma cama. Mas esse clima decidira a disposição dos quartos, Ron e Harry dividindo o quarto maior, onde mal cabiam as duas camas de solteiro.

O estranho era ver Draco todo dia ao lado deles, morando junto. "Nem acredito que fomos inimigos há tão pouco tempo." Mas tudo mudara pouco antes da morte de Voldemort, quando o jovem Malfoy arriscara sua vida para salvar o velho inimigo. Enfrentara o seu próprio pai e outros comensais em uma armadilha, o que o tornou odiado tanto pelos aliados do Lorde das Trevas quanto por aqueles que desconfiavam de sua mudança. Só o apoio de Harry convencera as pessoas de que suas atitudes eram autênticas. Afinal, ele vira em seus olhos toda a sinceridade quando se colocara sobre ele para proteger seu corpo já ferido.

"E ele quase morreu." - E a partir desse dia algo mudara na relação dos dois.

"Não eram as palavras, mas os olhos." – Logo depois do ocorrido, seus olhos se cruzavam numa atitude de reconhecimento. O moreno sentira a necessidade de conhecer melhor seu ex-inimigo e ambos passaram a conversar. O que, para eles, fora muito difícil no início.

Demorara até que os insultos se transformassem numa descoberta de quem realmente eram. Algo que estava além das aparências. Falavam de tudo. E com o tempo havia uma eletricidade em seus olhos... Uma cumplicidade que os fazia saber o que pensavam sem dizer qualquer palavra, por isso Harry insistira tanto que ele tentasse ser um auror, apesar da descrença do loiro de que entraria. Daí para dividirem um apartamento, mais para ajudar o Weasley, foi um passo.

- O café já está pronto? Estou desmaiando de sono! – Rony vinha se apoiando nos móveis para conseguir chegar à cozinha. – Ainda mais depois do tombo que levei ontem. Acho que algo está solto aqui na minha bunda.

- Tem algo solto é na sua cabeça, Weasley! – Draco entra na cozinha sob o olhar fuzilante do ruivo. Senta rapidamente a mesa, parecendo bem disposto, apesar das olheiras denunciarem o contrário.

- Você fala isso porque o professor não pega no seu pé nos exercícios. Ele parece ter um prazer sádico de me fazer correr e me exercitar muito mais que os outros. – Reclama.

- É que você está fora de forma. – Um sorrisinho irônico surge nos lábios do loiro. Ele tem um prazer todo especial de provocar Rony, principalmente de manhã.

- Melhor isso do que ser discriminado pelo meu nome. – Ron diz isso, mas se arrepende imediatamente. Sabe que é um assunto delicado e Malfoy olha raivoso para ele. – Desculpa ter dito isso. Eu não quis...

- Quis sim. – O loiro faz menção de se levantar, mas Harry toca seu ombro.

- Parem com isso os dois! Estamos cansados e ainda não tomamos café. – Ele fala alto, sem muita vontade de discutir com os amigos. - E onde está a Mione? Ela ainda não acordou?

- Se o Weasley não ficasse no quarto dela até tarde, quem sabe a pobrezinha não ficasse tão exausta durante o dia. – Draco fala aquilo como uma vingança, pois ainda não deixara de lado a ofensa anterior.

Hermione entra então na cozinha e bate na cabeça loira. Senta-se ao lado de Ron e o beija delicadamente nos lábios. Os olhos dele brilham ao vê-la, como se somente neste momento seu dia começasse. Harry sorri, pois admira a profunda paixão que o amigo sente pela garota.

- Da próxima vez me mantenham de fora da briguinha de vocês dois. Ouviu senhor Malfoy? E, por acaso, Harry e Draco, quando vocês pretendem tirar um final de semana pra saírem e conhecerem umas garotas? – Fala a garota, enquanto olha os dois.

Harry e Draco apenas a observam, ainda em silêncio.

- Eu sei que no curso não há nenhuma menina atraente, mas quem sabe não conhecem alguma garota trouxa em alguma festa? Estou cansada de ver vocês ficarem assistindo televisão em pleno sábado à noite.

"Ah! Televisão!" - Uma das coisas trouxas que os dois mais apreciam.

Não que Harry não conhecesse, mas não tivera qualquer oportunidade de usufruí-la na casa de seus tios. E depois de uma semana cansativa, adorava ficar com Draco assistindo televisão, comendo pipoca ou apenas conversando. É relaxante! E sair para conhecer garotas parecia não atrair sua atenção.

"Fico muito sem jeito diante delas." - Ele prefere a companhia desafiadora do loiro.

- De novo essa conversa, Granger?! Parece nossa mãe. Nem todo mundo tem a energia de vocês dois e eu adoro assistir TV. – Malfoy toma seu café de um gole, o líquido quente parecendo tão confortador. – Mas adoro mesmo quando o Harry faz o café. Forte e energético. Assim dá até pra agüentar as aulas sacais do início do período.

- O brasileiro do mercadinho que ensinou. – O rapaz fica muito contente e corado com o elogio, olha então para o relógio e percebe que a hora corre para eles. – Vamos nos atrasar neste ritmo.

Os quatro se levantam rapidamente, indo para os quartos vestir os uniformes e correr para ver quem entra primeiro no único banheiro. Hermione, surpreendentemente sempre é a mais rápida para se vestir, então os garotos ficam do lado de fora esperando que ela termine diante do espelho. Depois que ela sai, os três têm que correr. Rony é o mais rápido, atendo-se a escovar os dentes e pentear o cabelo. Por isso, ele e sua namorada sempre partem primeiro do apartamento, desaparatando juntos.

Mas Malfoy jamais sairia sem estar com seu cabelo perfeitamente alinhado e a aparência impecável. Harry não é tão obcecado assim pela aparência, mas fica enrolando para fazer companhia para o amigo. Particularmente nesta manhã está na sua interminável briga com seus rodamoinhos, que mantém seus cabelos sempre de pé.

"Odeio essa droga de cabelo." – Harry resmunga em pensamento.

- ...! – Draco o vê tentando domar os seus fios selvagens e sorri, pega um pouco de gel, espalha na mão e se aproxima.

- Posso tentar ajudar? – Fala bem próximo, fazendo o outro se voltar para ele. – Isso vai segurar um pouco esses cabelos.

Começa a passar delicadamente o gel nos cabelos que resistem bravamente. Ele está bem próximo, a ponto de seus rostos estarem a poucos centímetros de distância. Harry pode sentir o delicioso cheiro do perfume que o outro rapaz usa. "É o perfume que dei no aniversário dele." O moreno até fecha os olhos, se deleitando com a fragrância.

- Não vou deixar igual ao meu. Prefiro você com os cabelos arrepiados! – Diz isso, mas percebe como tal afirmação soa e encara o moreno.

Harry percebe também a conotação das palavras e abre os olhos. Entreolham-se com uma energia tão forte que rapidamente precisam se afastar um do outro. "Afinal, o que é isso?" Os dois ficam corados e perturbados como nunca haviam ficado.

- É melhor irmos, senão chegaremos atrasados. – Harry fala ainda meio trêmulo.

- Tem razão. – Os dois também desaparecem da sala.

ooOoo

A sala de aulas é pequena, tendo apenas dez mesas, o número máximo de aspirantes aceitos por ano. Os rapazes estão tentando resistir ao sono enquanto o professor explana interminavelmente sobre o perigo das salamandras da Sérvia. Rony dorme ao lado de Harry, mesmo que seus olhos estejam abertos. O moreno lança um olhar para Draco, sentado na última mesa a sua esquerda.

"O que foi aquilo que senti? Será que ele sentiu o mesmo?" – Percebe que o loiro evita olhar para ele, mantendo seus olhos diretamente no pequeno homem que fala sem parar. Em seguida, Harry volta a olhar para a mesa vazia de Hermione. Aproveita um momento em que o professor se distrai e acorda o amigo. Este o olha como se isso ainda fizesse parte de seu sonho.

- Ron, onde está a Mione? – Diz apontando para a mesa que ela geralmente ocupa.

- Foi até a Enfermaria depois da segunda aula. Ela não estava passando muito bem. Ela acha que é o stress.

A expressão do moreno fica ainda mais preocupada. Sua amiga e parceira jamais faltaria a uma aula. Nem que estivesse morrendo. Isso o perturba, pois significa que é bem mais que um mal estar. Ele só desperta de seus pensamentos ao ouvir o barulho da porta se abrir. Um aluno das turmas avançadas entra e entrega um bilhete ao professor, saindo logo em seguida. O homem idoso o lê devagar e volta-se para os alunos, claramente procurando por alguém. Sorri ao descobrir quem procura.

- Senhor Potter, seu mestre o chama na sala dele. Pode ir. – Olha novamente para o bilhete e parece procurar novamente pela sala. Faz um meneio de cabeça e fecha a expressão, com profunda insatisfação. Volta-se novamente para o quadro negro e volta a dissertar sobre as salamandras, de costas para os alunos.

Harry treme ao ouvir isso e olha para os amigos com apreensão. Nunca é boa coisa quando seu mestre o chama. Ele se levanta e começa a andar até a porta. Ao passar por Malfoy, este olha para ele desejando sorte. Sorri em agradecimento e sai resignado.

ooOoo

Ashler Goldsmith é um homem de meia idade, muito branco, ligeiramente careca, sem meias palavras e gentilezas. Para ele tudo é "preto e branco, sem matizes de cinza" como costuma dizer aos seus aprendizes. Ao ver Potter entrar não consegue disfarçar a insatisfação.

- E a senhorita Granger? Pedi que os dois viessem a minha sala. – Faz um sinal de impaciência ao apontar a cadeira para que o garoto se sente à frente de sua mesa.

- Soube que ela está na Enfermaria. – Fala meio indeciso, sem saber se revelar o paradeiro da garota fora uma decisão acertada.

- Que droga! Então vou ter de me contentar com você mesmo por enquanto. – Harry sempre se sente um lixo diante de seu orientador. – Vou explicar pra você a natureza de nossa nova missão. Preste bem atenção.

O homem procura entre os papéis sobre sua mesa o relatório da missão, mas parece um tanto perdido. "O trabalho dele não deve ser nada fácil." O rapaz sabe o quanto ele é ocupado, sendo o coordenador dos aurores-orientadores e entende o acúmulo de trabalho que tantos papéis revelam.

- Pronto, aqui está. Vamos para o Japão desta vez.

- Japão, senhor?! Não é um pouco fora da nossa jurisdição? – Diante dele Harry se esforça por parecer mais inteligente. Não que não se ache esperto, mas o homem o deixa tão nervoso que sempre acaba falando tudo errado.

- Sim, bastante fora, mas eles fizeram um pedido de ajuda. A luta contra os comensais foi muito difícil por lá e sobraram poucos aurores mais graduados. A maioria dos que restaram são inexperientes. Então pediram por minha ajuda em especial.

O homem parece orgulhoso de tal honraria, seus olhos brilhando de satisfação ao dizer isso a seu famoso aluno. O garoto sorri sem graça, mas de forma a parecer que está tão orgulhoso quanto seu orientador por essa honra. O homem então volta a olhar para o relatório em suas mãos.

- Vamos caçar mais um comensal da morte que escapou. Ele foi responsável pela morte de muitos aurores japoneses e tem conseguido muito poder no país. Tem agido no mundo bruxo, mas muito pior, tem alcançado muito êxito atuando no mundo trouxa. Por isso tem causado tanto estrago. Tornou-se um mafioso e tem comercializado uma nova droga, extremamente viciante, que na verdade é uma potente poção inventada por ele.

- Parece uma missão bastante perigosa.

- E é. Vamos precisar tomar muito cuidado. Ainda mais estando assim entre os dois mundos. Temos que evitar que trouxas se envolvam.

Hermione então entra na sala, ainda bastante pálida. O professor olha para sua aluna favorita e sorri, mas logo disfarça a animação com uma expressão de insatisfação. A garota olha desanimada para o amigo e senta-se a frente da mesa.

- Ainda bem que se dignou a apresentar-se na minha sala. Não gosto de ficar esperando por aprendizes.

- Desculpe, professor. Isso não se repetirá. – Ela diz isso de cabeça baixa. Harry estranha o leve tremor em sua voz.

- Temos uma missão muito importante e temos que nos preparar. – O homem já está animado.

- Não posso ir. Sinto muito. – Sua voz sai baixa, falhada.

Os dois olham para ela com surpresa. A garota continua ali, sentada, de cabeça baixa. O amigo então percebe que o tremor não é apenas em sua voz, as mãos da garota tremem também. Nunca a vira assim tão quieta e isso o preocupa ainda mais.

- Como assim!? Não pode ir? Você é minha aprendiz e eu decido se você vai ou não. – Dessa vez o homem está autenticamente irritado.

- Fui proibida de atividades externas, como as nossas missões. – Ela levanta a cabeça e o encara. Harry conhece aquele olhar. É decepção, pois essas missões são o que a garota mais aprecia no curso, na busca frenética para ser a mais jovem auror-orientador da história do Ministério.

- Mas por quem? Ou melhor, por quê? – O mestre já começa a se exaltar, o que acontece sempre que é contrariado.

- Tenho que me ater às atividades do curso normal até que o bebê nasça.

"Grávida!?!" Essa sim é uma notícia que quase faz os dois homens presentes caírem da cadeira. A extremamente inteligente e ambiciosa Hermione está grávida? E ela não se protegia contra tal possibilidade? Ambos olham para ela com um ar de incredulidade. Podiam esperar qualquer motivo, menos esse.

- Mas... Você... Senhorita Granger, por acaso você não se protege? – O constrangimento do homem é evidente.

Ela fica calada. Não parece ser um assunto que deseje discutir com seu orientador, apenas se levanta e sai, sem sequer pedir a permissão para se retirar. Seu orientador ainda não sabe o que dizer, olha para Harry e novamente para a porta, balbuciando algumas palavras sem nexo, tal é sua surpresa.

- E agora? Vou ter de escolher outro aluno para participar da missão. – Pára alguns instantes pensando nos demais, os olhos perdidos no ar. – Quem sabe o senhor Weasley?

- Acho que não mestre. Ele é a segunda peça participante dessa surpresa e duvido que ele tenha concentração para isso.

- Mas quem eu... – Seus olhos tentam visualizar os alunos dessa turma e não consegue encontrar alguém a altura da melhor aluna que este curso já vira.

- Mestre, e o senhor Malfoy?

- Não! Absolutamente não. – A voz dele denota indignação com a sugestão de seu aprendiz. Isso incomoda a Harry profundamente.

- Mas, depois de Hermione, ele tem sido o melhor aluno da turma. É esforçado e o orientador dele tem feito relatórios elogiosos. – Um nó na garganta dificulta sua fala.

- Senhor Potter, melhor do que ninguém, você deveria saber que o sangue sempre fala mais alto. Não confio nele. Pode ser um bom aluno e ser elogiado por seu orientador, mas também, quem dá atenção à opinião de Rocheford? Nem pensar.

O rapaz sente raiva de seu orientador nesse momento. "Quem é ele para julgar Draco?" Sente-se mais incomodado por aquele homem estar falando do loiro dessa forma do que sente quando o chama de idiota. Esforça-se para acalmar-se e encarar o orientador.

- Eu confio nele plenamente. Estive presente quando enfrentou o próprio pai em duelo, apenas pra me salvar. Eu estava lá e sei muito bem que não foi uma encenação! Ele só precisa de uma oportunidade para provar o seu valor. Além disso, se a missão é perigosa, gostaria de ter alguém forte como ele a nosso lado.

Goldsmith o encara com desconfiança. Ele procura alguma razão secreta para ser um defensor tão ferrenho de um ex-inimigo, mas percebe que as palavras do aprendiz são sinceras. Potter realmente acredita no que diz.

- Muito bem. Vou dar uma chance para o seu amigo, mas se ele agir errado, você também será expulso do curso. Está preparado para arriscar seu futuro por ele?

- Sim, mestre. Mas sei que isso não vai acontecer.

ooOoo

Harry coloca sua mala no centro da sala e vai até a cozinha. Sua amiga de tantas aventuras está sentada, ainda de roupão, pois acabara de acordar. Ela não parece nada feliz. Senta-se diante dela e segura sua mão.

- Como você está? – Há um profundo carinho em suas palavras.

- Estou bem. – Mas seu rosto não diz o mesmo que suas palavras.

- Sei que um filho atrapalha seus planos, mas...

- Harry, não quero que você pense mal de mim. Não estou arrasada por estar grávida. Sabe, não tenho o direito de culpar a criança quando o erro foi meu. Nessa correria toda e com o cansaço, negligenciei a regra primária. Agora tenho de assumir as conseqüências. É só que vou ter de repensar toda minha vida.

- Mas não quer dizer que terá de desistir de sua carreira tão sonhada por causa da criança.

- Eu sei. E nem vou. Mas mesmo assim vou ter de sentar e repensar tudo.

- E o Rony? Como ele reagiu?

- Incrivelmente, ele reagiu tão bem que até me espantei. Ficou assustado no começo, mas já me cercou de tantos cuidados que vou acabar socando ele. Acho que está curtindo a experiência mais do que eu. – Isso faz os dois sorrirem. Essa atitude é bem do Rony mesmo. Em muitos pontos ele se parece muito com sua mãe.

- Mas você vai continuar as aulas de campo e duelos?

- Sim. Colocaram um feitiço de proteção especial em mim e vou poder fazer tudo normalmente. Só as missões que estão proibidas. Pena! Essa missão parece ser um grande desafio.

- Desafio é agüentar nosso orientador sem você presente. – A admiração dele por sua aprendiz favorita faz com que se esqueça de criticar Harry. Mas só de vez em quando.

- Mas o Draco vai estar lá. Ele vai ser o centro da atenção.

- Coitado! Tenho até pena dele nas mãos do Goldsmith. Sabe que o homem diz o que pensa, invariavelmente. Sei que vai destilar veneno sempre que possível.

- Mas se o Malfoy conseguir provar o seu valor para um orientador que deseja que ele falhe... Sei que o Draco vai conseguir. Se há alguém que pode enfrentar o Goldsmith e ser tão arrogante quanto o próprio, esse é o nosso amigo. – Riem ao pensar como os dois homens às vezes são tão parecidos. O loiro entra na cozinha, já pronto para sair.

- Estão rindo do quê? – Como sempre, ele é desconfiado.

- De você, se quer saber. – Hermione o encara. – Ficamos com pena de você com nosso orientador, mas acho que deveríamos ter pena dele.

O rapaz não parece aceitar muito bem a piada, mas não pode negar que está muito nervoso com essa missão. Não pelo perigo, mas pela perspectiva de trabalhar com o bruxo que se opusera formalmente a sua entrada no curso. "Vou provar que ele que está errado." Ainda assim a apreensão faz seu estômago doer.

- Cuide do Harry por mim. – A garota se levanta e toca seu braço. – E se cuide também.

- E você cuide bem desse be... – Ela percebe seu constrangimento por ter sido gentil. Ela sorri com a necessidade dele de sempre ser durão e insensível - Digo, bem, cuide para o Weasley não mexer nas minhas coisas enquanto eu estiver fora.

- É melhor irmos logo. Dê um abraço no Ron quando ele acordar. – Harry a abraça forte e os dois rapazes desaparatam do meio da sala.

ooOoo

29 de Dezembro. 02:00 Hs. Tóquio. Koneko no Sume Ie.

A Koneko é uma famosa floricultura, muito popular principalmente entre as garotas que freqüentam a loja, mas estas nem sempre vão àquele comércio para comprar flores... O real intuito das ginasiais e colegiais está em contemplar os belos rapazes que trabalham naquele local, que a propósito, são quatro... E as garotas se dividem ao tentar paquerá-los...

O mais fechado entre eles é Aya Fujimiya... O belo rapaz possui vinte anos, tem 1,78 m de altura, cabelos vermelhos num tom cereja, liso, com uma franja fina e alguns fios maiores que são mais longos ao lado do rosto, sua pele branca e macia não possui marcas... Seus olhos finos são de um tom violeta, bem brilhante, que encanta quem os vê, mas também pode exercer medo de acordo com o humor de seu dono. Seu caminhar é como o de um felino... Elegante e silencioso. Aya é simplesmente... Misterioso!

O mais charmoso e galante é Yohji Kudou... Um belo playboy de vinte e um anos, cabelos loiros quase chegando ao ombro, tem 1,82 m de altura, olhos verdes como esmeralda e um sorriso que encanta e seduz qualquer garota... Mas ao ser indagado se sai com qualquer uma das 'fãs', sua resposta é sempre a mesma... "Só saio com garotas maiores de dezoito anos"... O que as deixa bastante... Frustradas!

O esportista entre eles e também ex-jogador de futebol é Ken Hidaka... O belo rapaz de vinte anos possui pele amorenada, 1,75 m de altura, cabelos castanhos com franja, olhos verde-mar ingênuos e amigáveis, além é claro de ter as... Mais bonitas coxas que aquelas garotas já tiveram o prazer de apreciar aos domingos... Quando o jovem joga futebol com os meninos do bairro.

O mais novo entre os quatro é Omi Tsukiyono... O garoto é o único que ainda estuda, tem dezessete anos, sempre com um sorriso alegre em seus lábios finos e delicados. Possui 1,63 m de altura, cabelos loiros sedosos com mechas mel que emolduram uma face de anjo, destacando as duas belas safiras que brilham em seus olhos. Sua inteligência e gentileza se destacam entre todos, e outro atrativo... É o fato de que o jovem está muitas vezes de short, dando as garotas uma visão privilegiada de suas belas pernas.

Com rapazes tão bonitos assim, a Koneko faz jus ao título, que significa algo como 'Morada dos Gatinhos' ou 'Toca dos Gatinhos'. O que as garotas não sabem é que a floricultura é apenas uma fachada e que os belos rapazes não são apenas vendedores de flores e sim... Assassinos profissionais, mas não meros assassinos... Eles são os Weiss!

A Weiss Kreuz é um grupo de jovens assassinos recrutados pela Kritiker, uma organização que elimina o mal que geralmente fica impune, seja por impossibilidade da polícia ou pelo poder dos bandidos. Estes jovens foram escolhidos por terem também, de alguma forma, sido vítimas desse mesmo mal...

Aya sabe... Ele sabe de tudo isso. Tem plena consciência de que a vida que levam é arriscada, mas o ruivo se mantém no grupo, pois faz tudo pela irmã, vítima de um atentado e que no momento está em coma... Desde o assassinato de seus pais pela mão de um maldito multimilionário político, mas que tem envolvimento com o submundo e por isso... Nunca foi preso. Provavelmente sua irmã, que apesar de viva se encontra em estado vegetativo e talvez não acorde, nunca o perdoaria por ter se tornado um assassino, mas uma vez nas trevas... Não se pode mais sair dela!

- ...! – A madrugada já avança e Aya continua ali, sentado no sofá, em completa escuridão.

O belo ruivo de olhos violeta brinca nervosamente com seu relógio de pulso, sua preocupação é genuína. Ele se levanta por alguns instantes e caminha até a janela que dá pra rua, observa a noite fria lá fora, que não está convidando a sair... Tenta manter-se calmo, desejoso de conservar sua habitual frieza, mas está ali sozinho e não precisa sustentar essa máscara.

"Posso enganar todo mundo, mas não a mim mesmo." – Aya é mais passional do que gosta de admitir.

Ultimamente seus sentimentos têm ocupado um espaço incômodo em sua mente que o incomoda, pois ele precisa ser frio para ser um bom líder, ainda mais no trabalho que fazem... Um grupo de assassinos profissionais como o dele, precisa de alguém que os comande nos momentos em que tem que lutar com a contradição de seus sentimentos. Ter piedade pode significar a morte. Decide sentar-se para esperar, o sono tinha deixado de ser seu companheiro desde que essa missão começou.

ooOoo

03:15 Hs. Tóquio. Koneko no Sume Ie.

A porta se abre e por ela o jovem de olhos azuis entra devagar. Sente-se cansado e preocupado por ter que acordar cedo para ir à escola... Ele tenta não fazer barulho, pois não quer acordar os seus companheiros. Tira o casaco e pendura no armário de entrada, sua cabeça dói e os pés também... O jovem loiro tira os sapatos e anda pela casa de meias, aproveitando a boa sensação que isso lhe dá. Há algum tempo se sente frustrado, não com sua vida... Apesar de ainda doer muito quando pensa que foi seqüestrado aos seis anos e que seu pai se negou a pagar o resgate... Até agradece ter se esquecido por tantos anos! Mas a sua maior frustração é com...

"Se pelo menos não pensasse nele o tempo todo..." – Caminha na direção da escada e só então percebe que alguém está sentado no sofá. Uma tênue luz vem da janela e pode perceber o corpo esguio que se levanta e vem em sua direção.

- Hoje você demorou, Omi. Não gosto que você vá sozinho neste lugar. – Aya se aproxima devagar, como um gato, observando os cansados olhos azuis. Se o garoto parece bem mais jovem que sua idade real, este ar exausto o rejuvenesce ainda mais.

- Já falamos sobre isso... Ali não há perigo. Estou só me enturmando com o grupo. São um bando de jovens que se reúnem pra beber. – Sorri palidamente, feliz com a preocupação dele. – Não devia ter me esperado.

- É meu papel. Por mim eu estaria lá dando cobertura, nem que fosse de longe. – A postura do líder surge novamente.

- Bem... É o seu papel... – Omi fala decepcionado. - Mas eu disse que não havia problemas. Conheço alguns deles da escola, não que sejam meus amigos, mas são inofensivos. Só que hoje foi compensador...

- Mesmo? – Aya pergunta, enquanto o olha com seriedade.

- Consegui algo! A rave vai ser na véspera de ano novo. E... – O garoto satisfeito tira do bolso um convite dourado. – Tenho um dos convites especiais. Estou dentro!!!

O ruivo sorri satisfeito, enquanto tenta disfarçar a preocupação que isto lhe causa. Omi vai ter de entrar na rave sozinho, já que não permitem a entrada de ninguém acima de vinte anos e mesmo que sigam o localizador do relógio de Omi, vão ter que arranjar uma forma de entrar... Isso não lhe agrada nem um pouco.

"Se não conseguirmos entrar, ele estará completamente sozinho." – E essa situação tem sido dura para o controlado Aya. Ele já percebeu que sua agonia com esta missão vai além do normal... Pode ser o caráter extremamente arriscado do papel assumido pelo loirinho, mas sente que vai além disso.

- Não gosto nada disso. Um de nós precisava entrar com você. Quem sabe o Ken consegue?

- Uma das garotas disse que é impossível entrar sem o convite ou se tiver a idade errada. A amiga dela já tentou e não conseguiu. Vai dar tudo certo. – Omi tenta imprimir tranqüilidade a suas palavras, mas também está receoso. São muitas variantes imprevisíveis e para ele tudo tem de ser muito bem planejado, afinal como perfeccionista do grupo, detesta falha em seus planos...

- Hum... – Aya ainda não está satisfeito.

- Localizamos o lugar onde vai ser a rave e vocês encontram uma forma de entrar. Eu tento descobrir se o mafioso está no local e acabamos com ele. – Omi passa os dedos pelos fios loiros e os arruma atrás da orelha.

- E você já sabe como descobrir se ele está por lá? – Aya se senta na escada que leva aos quartos, olhando o garoto de pé a sua frente. Sabe bem das habilidades dele, seja como arqueiro ou hacker, afinal, Omi é um gênio, mas não consegue deixar de se preocupar.

- Essa garota tem uma amiga que entrou na última. Ela me disse que alguns são selecionados durante a rave pra fazer parte do "Círculo da Morte", onde se tem contato direto com o tal mafioso. Os demais recebem drogas somente depois dessa seleção.

- E essa amiga dela foi chamada pra esse círculo? – Questiona o ruivo.

- Não. Estes nunca mais são vistos. Parece que se tornam parte de uma forma de... Sei lá... Acho que um tipo de harém ou coisa parecida. Pelo menos foi o que um dos guardas disse para ela.

- ...! – Os olhos violeta fitam o chão. Não quer que Omi perceba como isso o deixa perturbado. É um perigo a mais ao qual o garoto irá se expor e...

"Não quero que ele se machuque." – Aya olha para ele novamente, já mais centrado.

- Não se exponha a perigos desnecessários. – Percebe o cansaço claro naquelas safiras e decide deixar a conversa para o dia seguinte. – É melhor você dormir.

Levanta-se, mas permanece no degrau, deixando espaço para que o garoto passe. A luz do corredor de cima iluminando a escada, permitindo que os dois se encarem quando o garoto passa por ele... O ruivo percebe que seu rosto está machucado e o segura pelo braço. Sua expressão se fecha instantaneamente.

- O que foi isso no seu rosto? – O tom de sua voz assume a severidade de quando estão em missão. – Não disse que foi tudo tranqüilo?

- Isso não foi nada. – O arqueiro leva a mão ao rosto. Sente o local úmido e o que vê em seus dedos é sangue. – Alguns garotos brigaram e sobrou um soco pra mim... Acho que deve ter sido algum anel que me cortou.

Aya o puxa pelo braço até a cozinha e acende a luz. Realmente é um pequeno corte, quase imperceptível, mas que ainda sangra um pouco... E ver isso não é agradável a seus olhos de forma alguma. Ele puxa uma cadeira e o faz se sentar.

- Vou cuidar disso. – Pega a maleta de primeiros socorros dentro do armário e coloca sobre a mesa.

- Não precisa. Eu estou bem... – Tenta se levantar, mas o ruivo o empurra de volta.

- Vou desinfetar esse ferimento. Não queira ser mais teimoso que eu.

Isso encerra a discussão. O ruivo segura o rosto do garoto pelo queixo e observa bem o ferimento, o solta e vasculha na maleta procurando o que precisa, molha um algodão com anti-séptico e novamente segura seu rosto.

Aya fica bem próximo, a ponto de Omi poder sentir o cheiro do perfume de rosas que é tão marcante no ruivo. Fecha os olhos por um instante e fica ali, curtindo a delicadeza daquele toque, seu coração acelera apenas por saber que o belo rapaz de olhos violeta está tão próximo e precisa se controlar pra que sua respiração não se altere.

A leve dor causada pelo remédio sobre o ferimento faz Omi abrir os olhos, apenas para encarar os olhos violeta que o observam. Isso o faz corar intensamente, ficando ainda mais envergonhado, pois percebe claramente que o ruivo se surpreendera com essa sua reação involuntária. Desvencilha-se rapidamente do homem a sua frente e fica de pé.

- Eu... Ahn... Estou morrendo de sono. Pre-preciso dormir... Amanhã tenho aula. – O loiro gagueja tanto que se sente ainda mais constrangido com a situação. Sobe a escada correndo, tropeçando em um dos degraus e quase caindo.

- ...! – Aya permanece ali na cozinha, sem saber o que dizer. Viu muito bem como a face angelical tingira-se de vermelho ao olhar diretamente em seus olhos.

"O que foi aquilo que vi em seus olhos, Omi? Ou você viu o que sinto de verdade?" – O ruivo teme, mais do que tudo, que tenha deixado o garoto constrangido com o fogo que há algum tempo existe dentro dele.

Apaga a luz e fica parado ainda ali, no escuro. Seus pensamentos parecem queimá-lo por dentro. E se... Sobe a escada devagar, procurando em seu interior a coragem de que precisa. Pára diante da porta do quarto de Omi e respira fundo, enquanto olha diretamente para ela... Sem fazer nenhum movimento.

"Que irônico! Enfrento os bandidos mais perigosos sem hesitação e fraquejo diante da porta de um garoto." – Dá alguns passos a frente e chega a segurar a maçaneta da porta, mas perde a coragem. Coloca a outra mão sobre a porta, encosta a testa nela e respira fundo, mas não consegue... Desiste de tentar e se afasta devagar, indo para seu próprio quarto.

Por detrás daquela porta, o loirinho está com as costas encostadas nela. Desejando que ter coragem bastante para voltar àquela cozinha... Quer dizer tudo que sente... Tudo que povoa suas noites e seus dias, aquilo que se tornara mais importante do que tudo.

"Mas não vou suportar o seu olhar de reprovação." – Então se acovarda novamente. Que novidade! Como sempre faz quando está perto dele. Afasta-se da porta e anda devagar em direção à cama, para desabar sobre ela, cansado sim, mas o que mais o incomoda é o calor que o queima por dentro.

Deitado ali, encarando o teto, observando as formas que a luz batendo na janela projeta nele, pode ver o rosto de Aya com nitidez. Aqueles olhos violeta que brilham tão intensamente... Seu perfume, seu corpo, seu toque! Tudo parece parte de uma conspiração para deixá-lo assim, doente de amor e desejo. Ama até sua aparente frieza, a máscara perfeita para o ruivo espadachim, mas percebe o homem passional que existe dentro dele. O homem que já foi um garoto comum, com sonhos e desejos...

Com aqueles olhos solitários em sua mente, o garoto fecha os seus. Quer guardar essa imagem pelo maior tempo possível em sua lembrança, mas o sono começa a se apossar de seu ser. Aqueles olhos começam a se mesclar com lembranças do passado, do presente e... Uma praia paradisíaca. Pronto! O cansaço vence e Omi já está dormindo profundamente em minutos.

ooOoo

30 de Dezembro. 11:00 Hs. Tóquio. Aeroporto Internacional.

No salão de desembarque do aeroporto de Tóquio, um estranho grupo de quatro pessoas parece esperar a chegada de alguém. Eles destoam completamente das pessoas a sua volta e parecem meio deslocados naquele lugar, como se tudo isso fosse uma novidade para eles. Observam os telefones públicos, as portas automáticas, tudo que os cerca, o mais velho deles parece ser o único com um pouco mais de familiaridade com o ambiente e observa o monitor que indica os aviões que estão pousando.

Eles se agitam ao ver um homem de meia idade, cabelos levemente grisalhos, um pouco acima do peso, atravessando a porta de desembarque, acompanhado por dois rapazes. Suas vestes não deixam dúvidas de sua origem. O bruxo que comanda o grupo vem até eles e cumprimenta o auror-orientador curvando-se diante dele e, logo em seguida, apertando a sua mão.

- Estamos satisfeitos que tenham vindo! Necessitamos muito de sua ajuda. – O homem realmente parece bastante aflito. Ele se volta para os rapazes com um sorriso. – Qual deles é o famoso Harry Potter?

Isso faz Goldsmith ficar vermelho! É como se estivessem esperando o garoto, na realidade, mas prefere não pensar assim. Afinal, ele venceu mais comensais da morte do que qualquer outro auror. O jovem Potter tivera sorte!

- So-Sou eu, senhor. – Harry fala timidamente e custa a conseguir soltar a sua mão, que o homem agarra e sacode freneticamente. Olha para Draco, que tem um sorrisinho sarcástico nos lábios.

Fica até agradecido quando seu orientador afasta o homem dele, mesmo sabendo que não fizera isso pensando em seu bem, mas isso pouco importa no momento, pois continua a não gostar de toda essa atenção. Faz um movimento, afastando-se e empurrando Malfoy junto com ele. Colocam-se a uma distância que considera segura e ficam observando o exótico grupo, que rodeia o auror, que assim se sente satisfeito.

- Ele está adorando isso! – O loiro diz isso entredentes, demonstrando o desprezo que tem por Goldsmith. – Mas percebeu muito bem porque nos chamaram. Queriam você, não ele.

- É melhor nem pensar, pois vou sofrer por causa disso. – Ele olha para o rapaz de expressão cansada a seu lado. – Nossa! Você está precisando de descanso.

- Também... De quem foi a infeliz idéia de virmos dessa primitiva forma trouxa primitiva de viajar? Se fomos da forma tradicional até Sidney, podíamos ter vindo até Tóquio. – O cansaço sempre o deixa irritado e isso é claro em seus olhos cinza.

- Ele temia que nossa vinda pudesse ser detectada de alguma forma se usássemos magia. Não sabemos qual a dimensão dos poderes desse comensal. – Harry não gosta de defender seu orientador, mas seu pensamento nesse caso tem lógica. Ele percebe que Draco se incomoda com sua resposta, mas nada pode fazer quanto a isso. E também está cansado demais para discutir. – Já usou a poção de tradução?

- Já tomei aquela coisa horrível. – Seu mau-humor está à flor da pele.

Harry vê que o melhor é falar o mínimo com ele nestes momentos.

- Espero que funcione mesmo. Não quero ficar neste país tentando falar japonês com um dicionário na mão. Credo! Que coisa trouxa! – Diz desgostoso.

- ...! – Apesar da colocação incomodar muito a Harry, procura não julgá-lo. É algo que fizera parte de sua criação e não pode exigir que o loiro mude de uma hora para a outra.

"Mas ele está tentando." – Afinal, não vê mais aquela expressão de desprezo que Draco sempre tinha ao falar dos trouxas ou dos nascidos trouxas. Apesar de preconceituosa, sua fala é automática, não maldosa.

- Pronto. Ele já foi bastante adulado, agora podemos ir. – As palavras de Draco têm um tom sarcástico. O homem realmente acena pra que o acompanhem. – Vamos, nosso 'mestre' precisa dos coadjuvantes para dar seu show na reunião.

- ...! – Harry ri internamente, enquanto fita Draco.

Os dois se juntam ao grupo e deixam o aeroporto.

ooOoo

30 de Dezembro. 18:00 Hs. Koneko no Sume Ie.

Os quatro Weiss estão reunidos no porão. Assim que conseguiram fechar a floricultura, decidiram se preparar para a difícil missão do dia seguinte. O dia de trabalho fora tenso... Aya com seu mau-humor terrivelmente exacerbado e os outros três tentando manter a calma diante da imensidão de garotas que lotavam a Koneko. No fim todos sentem o mesmo, nunca haviam se deparado com uma situação onde não tivessem como agirem juntos e arriscar o caçula do grupo preocupa demais todos eles, principalmente o ruivo.

Yohji, sentado no sofá, tenta demonstrar despreocupação, aparentemente calmo, acendendo mais um cigarro enquanto espera, mas este seu ato é o mais revelador de sua tensão, pois há um leve tremor em suas mãos e já é o terceiro cigarro consecutivo, embora, sua expressão, como sempre, demonstre o contrário. O loiro de olhos verdes até sorri, mas está tenso, sentindo seu maxilar travado pelo nervosismo. Faz tempo que não se sente assim. Desde a morte de sua parceira, quando era detetive, que não temia pela segurança de alguém dessa forma.

Todas as informações coletadas estão em um relatório que Omi pretende apresentar aos companheiros, o loirinho está concentrado, como sempre faz diante de uma nova missão. Elas sempre representam perigo para o grupo, mas esta parece especialmente complicada... Os amigos notam sua tensão, expressa em um olhar preocupado, pouco característico dele, sempre tão sorridente e alegre.

Ken, o ex-jogador moreno de olhos verde-mar, tenta ajudar o garoto a organizar a papelada que vai apresentar aos outros, percebendo que este está um tanto enrolado com isso. O Weiss mais jovem sorri para ele, agradecido pela ajuda espontânea, afinal, há uma amizade especial entre eles. É para ele, e apenas para ele, que o moreno fala de seus sonhos de ser um jogador profissional e de como esses foram frustrados por ser envolvido injustamente na "máfia de resultados".

Aya permanece ali encostado na escada de caracol que leva ao térreo do prédio. Seus olhos não saem do pequeno, seu coração apertado pelo perigo a que terá de expô-lo. Não sabe como definir, mas tudo isso, desde o início, o desagrada. Só não sabe explicar muito bem porque essa missão o incomoda tanto. Não é só pelo fato de Omi se arriscar tanto, pois tem essa sensação desde antes de constatar isso. É algo mais, mas não sabe dizer o quê.

"Não acredito em sexto sentido, mas... É a única coisa que se aproxima do que sinto." – Queria que houvesse um jeito de desistir dessa missão, mas sabe muito bem que é muito importante acabar com esse mafioso, como ressaltou Manx, a ruiva de olhos azuis que repassa as missões para o grupo, fazendo a comunicação entre eles e a organização Kritiker.

- Consegui coletar muitas informações importantes para nossa missão. A Manx não tinha muito a nos dar, apenas a urgência do fim desse tráfico, por isso a pesquisa que fiz teve que partir do início. – O jovem diz firmemente.

As exposições dos dados sempre são um 'Momento Omi', pois seus companheiros percebem o quanto a aparência frágil esconde um cérebro prodigioso. Aya sorri orgulhoso, sabe muito bem como essa missão tem exigido tanto dele, em todos os sentidos.

- Esse mafioso se chama Noboru Yashiaki. Aparentemente ele não existia há um ano atrás. Surgiu depois de alguns estranhos incidentes que aconteceram em Kyoto.

- Estranhos incidentes? – Ken parece paralisado, atento a todos os detalhes da explicação. A preocupação também está em seus olhos verde-mar.

- Sim. Houve algumas mortes estranhas. As autópsias não revelaram qualquer causa de morte e os mortos também não existiam... Como ele. – Revelou aos outros Weiss.

- E ele só surgiu somente depois disso? – Yohji tira o cigarro da boca e fica com ele parado no ar, a cinza ameaçando cair a qualquer instante.

- Isso mesmo... – Omi faz menção de continuar, mas percebe que Aya se move em sua direção. Passa então a observá-lo, se aproximando devagar, um tanto pensativo e então parar a seu lado e encará-lo.

- Me diz uma coisa. Você diz que eles não existiam... Como se tivessem vindo de um mundo paralelo ao nosso? – A pergunta vem acompanhada de um olhar sério.

- ...! – Os três o observam curiosos. Nunca viram aquela expressão nos olhos do ruivo. É como se ele tivesse se dado conta de que sabe mais do que imagina.

- Pode-se dizer que sim. Mas por que me pergunta isso? – O garoto encara o homem de olhos violeta.

- É melhor vocês ficarem sentados, pois o que tenho pra contar é meio inacreditável. – O ruivo faz Omi sentar-se ao lado dos demais e toma seu lugar diante dos amigos.

Omi, Yohji e Ken observam o ruivo atentamente, esperando o que ele tem a dizer.

- Quando era criança, minha avó materna era uma pessoa... Como posso dizer... Estranha. Ela era uma mulher de costumes diferentes e me falava de um mundo paralelo ao nosso, onde bruxos viviam como nós, mas que usavam magia no dia a dia. – Revela seriamente.

- Bruxos! O quê? – Ken ergue uma sobrancelha, sem acreditar.

- Ela me falava que vinha desse mundo e o deixara por causa do meu avô. Muitas das pessoas daquele lugar jamais haviam tido contato com o nosso mundo, mas alguns conviviam conosco sem sequer percebermos. Ela nos chamava de trouxas. – Ele explica sem se abalar com os olhares incrédulos dos outros...

- Aya, isso eram histórias pra crianças. Não vai me dizer que acredita? – Yohji o encara com sarcasmo.

- Eu não acreditava, mas não podia negar que ela fazia coisas que outras avós não faziam. Morava conosco e meu pai a proibia de fazer suas 'magias' em casa, por isso sempre tive dúvida sobre o que era verdade ou não. – Ele olha para o garoto e não vê incredulidade nos olhos azuis.

Omi parece fascinado pela revelação de uma faceta de Aya que não conhecia.

- Quando eu tinha onze anos, mais ou menos, recebi uma carta entregue por uma coruja. Dizia que eu iria estudar em uma escola de bruxaria, que ficava próxima a Kyoto. – Fala pensativo, como se estivesse vendo aquela imagem de novo.

- Uma coruja? – Omi pergunta deslumbrado.

- Sim. Minha avó ficou orgulhosa, mas... Lembro como se fosse hoje... Houve uma terrível briga entre meu pai e ela, que acabou deixando nossa casa por não concordar com a decisão dele. Nunca mais a vimos. Morreu pouco antes dos meus pais. – Fala sério.

- Então você acredita nisso?! – Agora é o arqueiro que pergunta admirado, mas sua voz não revela o sarcasmo de Yohji, mas felicidade por perceber que há mais sob aquela camada de frieza do ruivo do que poderia imaginar.

- Não posso dizer que acredito. Sou um pouco como meu pai, mas não posso negar que em momentos de forte tensão coisas acontecem. Por isso tenho minhas formas de controlar isso. – A sua frieza habitual volta a seus olhos, deixando esse momento tão íntimo e raro para trás.

- Ah... – O pequeno ainda o olha com admiração.

- Quando você descreveu essas pessoas que pareciam nunca ter existido, me lembrei das histórias da minha avó. Podem ser histórias pra crianças como disse o Yohji, mas... Não posso negar que meu pai temia isso de verdade. – Aya pausa por breves instantes, como se pensasse bem nas palavras que deve usar.

- E? – Yohji pergunta, pois sabe que ele ainda não tinha concluído, apesar de achar aquilo muito fora da realidade pra sair da boca do líder dos Weiss.

- Ele não agia como se achasse minha avó maluca, mas como se temesse que nos envolvêssemos com isso. E na época que recebi a carta, ele ficou extremamente nervoso. – Disso Aya tem certeza, o medo de seu pai era quase palpável!

Tudo aquilo parece se encaixar no relato de Omi, mas eles não sabem como lidar com essa nova informação, pode ter algo a ver com a missão ou não. Então todos olham para o garoto, pois sabem que há mais informações a serem passadas por ele e pouco tempo de preparação para a noite seguinte. Este se levanta e fica ao lado do espadachim. Volta o olhar disfarçadamente para ele, mas em seguida volta-se para os demais.

- Muito bem... Ele teve uma ascensão meteórica dentro do submundo, alcançando grande poder em pouco tempo. – Começa a repassar as informações.

- Hum... Ninguém consegue subir tanto assim em tão pouco tempo... – Ken comenta.

- Sim, mas... Isso foi principalmente graças à droga criada por ele, que tem se espalhado rapidamente. É extremamente viciante e a dependência é total. Caso a pessoa tente deixar o vício, a abstinência a faz definhar até a morte. Não há como escapar. – Omi suspira. Esse é o motivo da missão ser tão urgente... Aquela droga viciante e mortífera chamada pelos adolescentes de... Potion!

- Mas você não vai ter de tomar na rave? – Ken pergunta aflito.

Aya apenas lança um olhar de esguelha ao garoto, também preocupado.

- Não se preocupe com isso, Ken. Não vai ser a primeira vez que simulo tomar uma droga. Já tenho uma técnica aprimorada para isso. – Sorri tentando acalmar o amigo.

- Não sei não... – Ken resmunga baixinho. Apesar de serem assassinos, considera o outro como sua família, não apenas Omi, mas todos ali presentes.

- Bem... O grande problema dessa missão é a impossibilidade de todos nós entrarmos. Pelo menos, todos os relatos dos agentes da Kritiker e dos garotos com quem vinha saindo, atestam que é impossível entrar se estiver acima da idade. – Esse é o ponto que mais incomoda a todos.

- Então como vamos entrar? – Yohji diz sem sequer demonstrar preocupação, mas acende mais um cigarro.

- Qualquer prédio em que vai acontecer a rave tem que ter um ponto fraco. Vocês seguem o sinal do meu localizador e descobrem o local. Depois é encontrar esse ponto fraco. – O garoto suspira.

"Omi..." – Aya não gosta nada disso.

- Sei que não é um grande plano, pois há muitas variáveis, mas é o único que temos. Esse homem é muito esquivo.

- Mas tem certeza de que ele estará no local? – Finalmente Aya volta a falar, depois de ficar apenas observando. – Não podemos nos arriscar a invadir inutilmente. Estaríamos apenas alertando que estamos atrás dele.

- Pensei nisso também. Então vou mudar o sinal do localizador. Quando descobrir que ele está por lá, o sinal passa de compassado para intermitente. Não quero me arriscar usando um rádio. – Tudo isso lhe parece muito inseguro para Omi, mas procura não deixar que os outros percebam o que sente. Olha para o ruivo e fica vermelho.

"Impossível ele ter percebido minha preocupação. Que droga! Tinha de ficar corado de novo?" – Pragueja internamente o jovem Weiss.

O ruivo o observa com cuidado... É claro em seus olhos o quanto tudo isso o assusta também. É fácil acreditar que o medo é ruim, mas Aya sabe muito bem como o medo os mantêm vivos. Porém gostaria de poder afastar o medo da vida do garoto.

"O medo não combina com esses olhos azuis." – Como gostaria de poder abraçá-lo nesse momento em que o sente tão frágil, mas... Ao mesmo tempo, nunca viu tanta coragem!

- E como você vai conseguir se aproximar? – Ken fala, mas não percebe o quanto tudo isso deixa o garoto nervoso.

- As únicas pessoas que se aproximam dele fazem parte de um grupo de escolhidos que se intitula "Círculo da Morte". Tenho que descobrir o critério de escolha e, assim que descobrir se ele está por lá, vocês entram. – Omi pára alguns minutos e respira fundo. – Viu como não precisam se preocupar?

Omi usa toda essa encenação somente pra acalmar seus companheiros, mas tem um pressentimento de que algo vai dar errado. Teme algo nesse alvo, mas não sabe dizer o quê. E se Aya estiver certo, ele for um bruxo e souber usar magia... Eles não estão preparados para um inimigo como esse!

"Se não fosse tão importante acabar com esse traficante... Eu desistiria." – Pensa, mas... O que o ruivo pensaria dele? Não quer parecer fraco.

"Como eu quero um abraço do Aya agora!" – Contém um suspiro, só que não adianta ficar desejando coisas que nunca vai ter. O melhor é pensar apenas na missão e dar o melhor de si.

"Afinal... É isso que o Aya espera de mim, não é?" – Conclui em pensamento.

ooOoo

Os dois rapazes ouvem atentos a exposição dos fatos feita por um bruxo um pouco mais velho que eles e depois dessa apresentação o jovem deixa os enviados do Ministério inglês sozinhos na sala. Aquelas informações mudam totalmente a natureza de sua missão.

Ashler olha bem para os dois, seus olhos revelando sua profunda insatisfação. Aqueles homens realmente não o haviam chamado! Já estavam cientes de todos esses detalhes há um bom tempo e haviam chamado Harry Potter. Sua raiva transparece em suas pupilas absurdamente azuis, fazendo-as parecer ainda maiores.

- ...! - Aquilo começa a incomodar o moreno, pois não deseja essa atenção e, muito menos, esse ódio de seu orientador.

- Muito bem... Se o show está nas mãos dos dois... Precisamos planejar muito bem o que faremos. – A voz do homem sai com dificuldade, estrangulada pelo nó na garganta que o sufoca. Ele sai da sala por alguns instantes, talvez para acalmar-se longe dos olhos dos jovens bruxos.

- Esse foi um duro golpe pra ele! – Draco quase ri diante da situação. – Pra quem o ouviu falar a viagem inteira sobre como é fantástico, a ponto de ser chamado pra uma missão tão prestigiosa... É um imenso prazer vê-lo tão desconcertado.

- Chego a ter pena dele. – Harry realmente sente isso, mas não pode negar que o loiro tem razão.

O homem volta com alguns pergaminhos, com todas as informações que os aurores japoneses tinham conseguido sobre o ex-comensal da morte. Senta-se diante de uma mesa de reuniões e faz sinal para que os dois se juntem a ele. Assim que eles se sentam, Goldsmith abre um dos pergaminhos e os encara.

- Muito bem... A melhor forma de se aproximar deste homem é através dessas festas... – Fala olhando para o pergaminho, não para eles. Parece altamente desconfortável.

- Rave. – O loiro diz encarando o auror cabisbaixo, que imediatamente levanta a cabeça e encara diretamente os olhos cinza. O jovem sorri para ele sarcasticamente. – Esse é o nome certo.

O homem o ignora e volta a expor.

- Vocês vão entrar no local com os convites especiais que os aurores daqui arranjaram. Infelizmente o feitiço de restrição de idade vai me impedir de entrar, então vocês vão sozinhos. Mas vocês só identificam se ele está no prédio e tentam coletar informações. Nada de se aproximar. Depois eu o enfrento em outro lugar. – Diz descontente.

- Mas pra ter certeza se ele está por lá, vamos ter que entrar no "Círculo da Morte". – Draco diz, concentrado nas dificuldades desse plano. Percebe então que o mestre finge não ter ouvido o que disse, pegando um novo pergaminho. Engole em seco, segurando a raiva que a expressão de desprezo lhe causa.

- Vocês, como meros alunos, não podem ser expostos a perigos. Eu seria punido pelo Ministério se os colocasse em risco. Eu, um auror experiente, sou quem deve enfrentá-lo.

- Mas eu tenho uma idéia de como podemos fazer isso sem nos arriscarmos. Podemos... – É cortado antes que possa terminar de falar.

- Depois de descobrirem as informações, vocês... – O Goldsmith novamente finge sequer ter ouvido o rapaz loiro a sua frente, que se levanta e o encara.

- Até quando você vai continuar fingindo que não estou aqui? Agüentei isso durante a viagem toda, mas neste momento... – Harry o segura pelo braço tentando acalmá-lo, mas Draco puxa o braço com raiva. – Quando você vai parar de agir como uma criança mimada?

Ashler Goldsmith se levanta e encara o garoto com a mesma raiva.

- Primeiro, ninguém te deu permissão de me chamar de você. Segundo... – O homem não grita, mas seu rosto está tão vermelho que parece que vai explodir.

- No fim, VOCÊ parece muito com meu pai... – Draco rosna as palavras ásperas.

- Não me compare com esse... Esse... Criminoso. – A raiva do auror aumentando a cada segundo.

- Não mesmo. Ele era melhor que VOCÊ. Pelo menos ele nunca fingiu ser bonzinho. Sempre foi o canalha que era na verdade! Não ficava dando uma de "herói das forças do bem" como você, mas que na verdade é tão preconceituoso quanto ele. – Draco destila o seu sarcasmo como nunca fizera antes.

O rosto do auror começa a mudar de cor novamente, passando do vermelho para o roxo. Harry então se levanta, percebendo que talvez tenha que intervir nessa briga que já começa a ultrapassar os limites.

- Não é questão de preconceito. É um fato. Quando o sangue de alguém é podre, não adianta tentar negar. Você é e sempre será podre como toda sua família. – O homem até sua enquanto fala. – E, pra mim, toda a família devia ser eliminada quando se elimina um comensal da morte. Imagina! Terem deixado sua mãe partir para o exílio ao invés de prendê-la...

- Não fale da minha mãe! – Dessa vez o tom sarcástico some, dando lugar a uma voz aguda que Harry nunca ouvira até então. – Ela não participou da guerra e se exilou porque quis. Deixa ela em paz.

- E você? Deixar um Malfoy entrar para um curso de aurores! Esse é o absurdo dos absurdos. E não pense que me iludiu com sua encenação de salvar o Potter. Você não me engana.

- Eu ter matado meu próprio pai não foi o suficiente pra você, não é? Eu querer mudar de vida, também não. Pessoas de mente curta e muito ego como você não podem entender algo complexo como fazer escolhas. – O sarcasmo de volta a sua voz.

Claramente essas últimas palavras atingem fundo o roxo homem a sua frente. Ele avança na direção do garoto e lhe dá um forte tapa no rosto.

Ainda surpreso pela atitude do orientador, Draco fica ali parado... O loiro pensa em tudo que já passara desde que tomou a decisão que mudara a sua vida. Sabia muito bem que isto poderia acontecer quando resolvera salvar a vida de Potter, mas não estava preparado para realmente ter que passar por isso e olha com raiva para o homem.

- Nunca mais me toque. Ser um orientador não lhe dá o direito. – Sibila irritado.

- Eu desprezo você e todos os seus. E se você estivesse se afogando e só precisasse que eu estendesse minha mão pra te salvar, eu não o faria e o deixaria morrer com prazer. – A seriedade da expressão dele revela a verdade em suas palavras.

Malfoy deixa a sala e sai para a pequena varanda. O frio é intenso, mas ele não sente. Só pode sentir o calor que o queima por dentro... Está tão concentrado em toda a raiva daquele momento que nem percebe a chegada de Harry que toca seu ombro, mas ele se afasta.

- Que foi, Potter? Se veio me implorar pra pedir desculpas pra ele... Desista. – A raiva ainda marca sua voz. Um leve tremor revela que ele sente frio, apesar de não perceber.

- Desculpas por quê? Você está certo! - Harry fala sem vacilar.

Draco então se volta para ele. O sempre conciliador Harry está sendo sincero... Isto está claro em seus olhos! E aquele entendimento que vinham partilhando há algum tempo consegue acalmar um pouco o espírito inflamado do loiro.

- Vim aqui te dizer que eu não penso como ele. Sei muito bem que você não estava encenando nada quando me salvou. Eu estava lá. Vi a dor em seus olhos por ter que matar o seu próprio pai e isso não se disfarça. E você quase morreu. – A firmeza naquelas palavras é inquestionável, bem como o brilho dentro dos olhos verdes.

O loiro sorri para o amigo. É muito difícil pra ele acreditar nessa nova realidade. A pessoa que melhor o entende... Que o vê através do sangue... Do nome... Das aparências... É a pessoa a quem foi ensinado a odiar.

"E ele me respeita como eu sou e não se importa com meus defeitos." – Analisa admirado, apesar de não demonstrar... Ou pelo menos tenta não transmitir isso ao outro.

- Você sabe que foi a decisão mais difícil da minha vida. Até minha mãe me odeia por isso. – Suspira, agora mais calmo.

- Eu sei. Sempre quis te perguntar por que fez. – Os dois estão diante um do outro. Essa conversa vinha sendo adiada há muito tempo.

- Você se lembra do nosso confronto, logo depois que a guerra começou? – Questiona.

Harry assente com a cabeça.

- Naquele dia eu estava apavorado! Não estava pronto pra lutar e tinha que encontrar exatamente você! Sabia muito bem que era melhor que eu em um duelo...

- Draco... – Harry sussurra, seus olhos verdes fixos no loiro.

- Como acabou acontecendo, você me desarmou depressa e lá estava eu... Indefeso diante da sua varinha! Me preparei pra morrer, mas você olhou em meus olhos e foi embora. Teria sido fácil me matar. E depois de tudo que eu te fizera durante tantos anos... – A lembrança é dolorosa para ele, respira fundo e desvia o olhar do moreno a sua frente. Não gosta que Harry perceba seus momentos de fraqueza...

"E ele me vê por inteiro quando esses olhos verdes me encaram!" Passa a olhar para as árvores, que já começam a ficar cobertas por uma fina névoa.

- Quando o meu pai me contou sobre a armadilha que estavam preparando pra você... Como iam pegá-lo pelas costas... Não achei isso certo. Pela primeira vez me questionei sobre tudo que estava acontecendo. Você podia ter me matado e não o fez. Por quê? – Draco não sabe, mas agora que começa a falar, continua... Como se questionasse não só o outro, mas a si mesmo também.

Harry ainda o observa, querendo entendê-lo.

- Quando estávamos ali, atacando você impiedosamente, aquele momento não me saía da mente. Quando vi que tinham te derrubado... Não podia deixar isso acontecer!

- ...! – Harry não sabe o que falar. Draco, pela primeira vez, está contando-lhe algo que há tempos queria saber, mas nunca pôde, ou não quis, perguntar...

- Derrubei os dois que acompanhavam meu pai... Nem lembro quem eram... E me coloquei entre você e ele. Enfrentei meu pai! Pela primeira vez na vida eu dizia "não" pra ele. – Ele respira fundo. A dor clara no modo como suas mãos se contraem, emitindo o ruído do estalar dos dedos.

Os olhos verdes se fecham um instante. Sabe que aquilo foi difícil para o loiro.

- Quando ele me acertou e caí sobre você, pensei que era o fim! Mas assim mesmo reuni toda a minha coragem, me voltei e o atingi direto. Ver meu pai cair é algo que me assombra até hoje. – Draco silencia.

Os olhos cinza continuam perdidos nas árvores, como se buscassem o perdão que ele mesmo não se permite ter. Traíra tudo em que acreditava e as pessoas que confiavam nele, mas tinha uma consciência, mesmo que tivesse sido ensinado a ignorá-la. Crescera para ser um Malfoy insensível, mas... O pai sabia que ele era diferente! Sempre soube. Por isso sempre fora tão exigente com ele. E os castigos físicos... Parecia querer quebrar algo nele... Algo que um verdadeiro Malfoy não possui.

- Quer saber por que não o matei naquela noite? – Harry fala encarando o jovem loiro perdido em lembranças dolorosas. Ele se volta para o moreno com um olhar curioso.

- Claro. Preciso disso. – Sua voz sai com dificuldade.

- Eu tinha a intenção de matá-lo. Você participara do plano que tirou Dumbledore de mim e eu o amava como se fosse um avô. Queria vingar o que você e os outros haviam feito com ele. Por isso foi tão fácil te derrubar. A vingança me dava forças. – Suspira, encarando os olhos cinza.

- Mas então... Por que não...? – Não compreende. Harry queria vingança e ele sabe que esse sentimento pode corromper qualquer coração, mas ainda assim...

- Mas quando me aproximei de você caído... Desarmado... Vi algo em seus olhos que me deteve. – Fita os olhos cinzas.

- O... Que?

- Ou melhor... Não vi! Não havia maldade. Você era apenas um garoto assustado, como... Eu mesmo. Percebi que você também tinha sido arrastado pra essa guerra como eu e tantos dos nossos amigos. Não podia simplesmente te matar. – Um fraco sorriso se faz presente nos lábios de Potter quando este desvia o olhar por um instante, porém...

Os olhos verdes se encontram com os cinzas e ambos se enchem de lágrimas. As lembranças daqueles tempos... Tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes, ainda são vívidas! Todas as perdas, principalmente da inocência, ainda os incomoda. Sorriem, pois essa conversa os aproxima ainda mais. Ambos sentiram uma profunda solidão durante toda a vida, carentes de amor, mas não se sentem mais assim, mas a eletricidade de seus olhos se encarando os assusta novamente e os dois passam a olhar para as árvores.

- Briguei com ele mais porque estou preocupado com essa missão... Na verdade... Estou com medo. E sei que não podemos contar com ele se precisarmos. – Os olhos cinza observam o tempo limpando e pequenos flocos começarem a cair.

- Eu também estou com medo, mas vai dar tudo certo. Ele pode não estar lá por você, mas eu estarei. Juro. – Aquela é uma promessa que Potter não iria descumprir... De forma nenhuma!

Os dois se olham por alguns instantes, para logo em seguida voltarem a observar a neve que já cai com um pouco mais de força. Os desejos contidos paralisando-os, com os olhos perdidos no vazio. Ambos querem se abraçar e fazer com que o outro se sinta seguro em seus braços, mas não podem. Suas vidas são complicadas demais para se envolverem em algo assim tão intenso e as escolhas que fizeram já trazem tanta dor... Mas a única coisa que povoa a cabeça dos dois é...

"Eu te quero!" – Pensam ao mesmo tempo... Isso é o que desejam... Nada mais!

Continua...

ooOoo

Uau! Esse foi um super desafio para mim. Juntar dois universos que podem parecer tão diferentes e manter uma história plausível... E apresentar aos fãs de HP um fandom de anime tão complexo como Weiss Kreuz. E essa era minha maior preocupação, pois sei que muita gente deixa de ler crossovers por desconhecer o outro universo...

E essa idéia diferente e inusitada não é exatamente minha. Eu desejava presentear minha adorada amiga Samantha Tiger pela ajuda que ela me deu na confecção e betagem da minha fic "A Lua do Lobo". O pedido dela me surpreendeu: uma cross de HP com Weiss Kreuz. Daí as idéias tomaram conta do meu cérebro. E este é o resultado. Minha primeira fic de HP e um inimaginável cross dos dois fandoms que eu adoro.

Amiga, você que sempre me apoiou nos piores momentos, que esteve ali sempre para me ouvir, essa fic é totalmente dedicada a você. Te amo de paixão. E como sempre te digo, "amigos são presentes de Deus".

Agradeço a minha querida beta Yume Vy, com quem sempre aprendo tanto e que se empolga tanto com o meu trabalho, sempre me incentivando a continuar a escrever. Te adoro amiga!

E a Dany, que iniciou a betagem e me deu boas dicas. Pena que o seu tempo escasso a impossibilitou de concluir. Beijos!

Espero que gostem e COMENTEM!!!!!!

12 de Abril de 2007

1:52 PM

Lady Anúbis