Entre lençóis e travesseiros
Quem sabia sobre os dois, sempre imaginava que Merlin era o pequeno, frágil, gentil, a "garota" da relação. Afinal de contas, Arthur era um guerreiro, forte, imponente, o Rei, enquanto Merlin vivia tropeçando nos próprios pés e corando em qualquer menção de algo remotamente sexual. Entre os cavaleiros mais velhos, que tinham sido leais a Uther, a piada era que um dia Arthur achara Merlin com o vestido de Gwen e se confundira, achando que era uma bela atendente nova e acabara gostando da experiência (todos concordavam, afinal, que Merlin tinha uma boca para tentar qualquer homem, não importando o quanto gostasse de mulher. Ela era cheia e vermelha, macia e sensual de uma forma inocente).
E, às vezes, Merlin realmente era todas essas coisas. E em outras vezes, ele ordenava que o Rei se abaixasse, exigia carinhos e demonstrações, e dominava completamente aquele que comandava as vidas de todo o reino. Mas isso era só sexo, e sexo sempre tem haver com poder (especialmente entre dois homens), e no fundo, não era importante. O sexo era uma parte, um jogo que os dois jogavem, mas não era o que os mantinha juntos - haviam outras coisas, lealdade, compreensão,amor. Coisas que os outros preferiam não ver, pois não poderiam aceitar que fosse algo além de um desejo irrefreável.
Eles não viam que Arthur e Merlin dividiam a mesma cama todas as noites, mesmo muito depois do desejo ter acabado. Eles não viam a forma como Arthur abraçava Merlin por trás, cheirando sua nuca antes de dormir, e não viam como, quando Arthur o soltava e mudava de posição, Merlin o abraçava pela cintura, jogando suas pernas sobre o quadril do rei. Eles poderiam até imaginar que, algumas noites, Merlin deitava com a cabeça no peito de Arthur e dormia em paz, o braço forte em torno de seu corpo magro, mas não sabiam sobre todas as outras noites, nas quais Merlin se tornava um imenso travesseiro no qual o Rei deitava, a despeito das reclamações sobre a dureza do corpo do servo.
Eles não viam que, em algumas noites, Arthur chegava na cama com as costas doendo, e Merlin as massageava, e Arthur dormia de bruços, com Merlin com a cabeça sobre suas costas. Não viam, também, que mesmo quando viravam de costas um para o outro, continuavam a se encostar o tempo inteiro, os dedos entrelaçados, as costas alinhadas uma contra a outra, o calor dos dois sob os cobertores.
Eles viam perfeitamente bem as piadas e brincadeiras, os olhares de desejo e as reações indisfarçáveis do corpo, mas não viam os sorrisos lentos ou os longos olhares, as conversas noturnas e as confissões a luz da lareira. Eles não viam que ambos eram dois lados da mesma moeda - eles só viam o que queriam, e estava tudo bem.
Arthur e Merlin não precisavam de outras testemunhas além de seus lençóis e travesseiros.
