Querido James,

Tenho medo. Muito medo mesmo. Principalmente medo por ti que aí estás em plena guerra.

Eu lembro-me dos sonhos que um dia partilhámos e das promessas que jurámos cumprir. Eu lembro-me quando nos sentávamos junto ao lago planeando o nosso futuro e como eu sorria por ver que os teus planos me incluíam na tua vida. Tudo teria sido perfeito… Nós podíamos ter-nos casado logo a seguir a Hogwarts se Voldemort não andasse a atormentar o mundo da magia. Nós podíamos ter agora o nosso bebé no colo se tu não fosses o James Potter. Mas tu és… A tua lealdade, a tua força e a tua coragem que nunca te permitiram parar e esperar que a guerra acabasse. Eu queria ter ido contigo. Acompanhar os "Marotos" nessa guerra pela destruição de Voldemort mas tu nunca o permitiste. E hoje aqui estou eu, esperando que voltes, pacientemente, para que juntos possamos construir a família que sempre sonhámos. Eu lembro-me a cada segundo da tua promessa. Naquela noite em que partiste e sussurrando ao meu ouvido prometeste voltar e me juraste amor eterno. Mas tu não sabes como custa. Custa levantar-me a meio da noite sobressaltada por o mínimo barulho. Custa porque esse medo não é o de ser atacada mas é sim a esperança que sejas tu que tenhas voltado para os meus braços. E nunca és tu… E eu sofro por isso e dou por mim a desejar que sejam os Devoradores da Morte. Porque tudo seria mais fácil se o mundo acabasse para mim. Porque sem ti a vida custa a passar e eu temo ficar. Porque tenho simplesmente medo que esta espera seja eterna. Que a minha mão nunca mais se entrelace na tua. Que o meu nariz nunca mais sinta o aroma dos teus cabelos negros. Que os meus olhos nunca mais perscrutem a intensidade dos teus. Eu tenho medo de esperar para sempre por alguém que simplesmente não vai voltar. Eu tenho medo que morras, e um maior medo de ficar para assistir a isso. Eu me mataria a mim mesma se soubesse que isso não te faria sofrer. Mas eu sei que faria… E eu quero sobretudo que o brilho dos teus olhos perdure por longos anos e quero que ele seja alimentado pelo brilho dos meus. Como tu me disseste um dia: "Os meus olhos, Lily, só brilham porque os teus brilham ainda mais". Eu guardei o que disseste para sempre na minha memória e por isso eu me mantenho viva, apesar de sentir que a tua falta e esta espera me vão definhando a cada segundo que passa. Foram palavras belas e mais profundas daquelas que uma vez te ouvi dizer. Eu soube naquele dia, que tu eras o homem com quem eu desejava passar o resto dos meus dias. Eu sabia que tinhas mudado mas eu ainda me lembro do garoto arrogante que um dia foste. E eu ainda me sinto mais especial ao saber que mudaste por mim. E eu orgulho-me disso. Orgulho-me de mim e do homem que és meu amor. Eu poderia ter apenas guardado o passado, lembrando como tu um dia foste insuportável mas eu sei, o meu amor por ti venceria sempre. Assim como eu te disse um dia, a frase que se tornou a nossa frase: Deitei fora as ruínas do passado, para viver feliz ao teu lado. Eu não me importo mais com o que um dia foste, eu também já não sou a mesma pessoa. E eu choro ao pensar que ninguém o é. Pessoas mudam com a guerra. Ideias alteram-se. Personalidades transformam-se. Pessoas morrem. Espiões morrem. E a dignidade destas pessoas é simplesmente descartada em função do ideal que ela escolheu abraçar. Essa é a função da guerra: destruir, dilacerar, magoar. E então, dominar. Completa e cruelmente. Quando nos vemos em campo de batalha, a guerra sai do nosso controle e viramos máquinas sem raciocínio. Somos peões que a pouco e pouco vão sendo devorados, bispos que se movem agilmente até um dia caírem… e a morte ri quando o xeque-mate é inevitável. Na guerra todos morrem, de uma forma ou de outra. Uns tornam-se carne em decomposição no chão e outros corpos que embora respirem são corpos sem vida. A diferença? Quase nenhuma. E eu assusto-me com isso. Por não saber o que sentes. Por não poder estar do teu lado e dizer-te que tudo ficará bem. Eu tenho receio de como estarás quando voltares. Se as marcas da guerra te alteraram como alteram todos os dias pessoas que consideramos nossos amigos. Mas eu estarei sempre á tua espera James… Mesmo que um dia não sejas mais o James que um dia fostes, eu lutarei para te lembrar do homem que és. Eu sei que sofres aí. Eu sei que tu também matas e que também torturas. Eu sei que essa é a única diferença entre o lado bom e o lado mau. Não existe o lado das Trevas ou o lado da Luz numa guerra, existe a escolha entre os que matam e torturam menos do que os outros. No fim, ambos o fazem. Mas eu sei que tu acreditas nesses ideais assim como eu também acredito e eu ficarei feliz no dia em que tudo acabar. Em que possamos ser felizes como ainda não nos deram a oportunidade de ser. Por isso e por mais egoísta que isto possa parecer, luta e aguenta. Porque eu preciso de ti. Porque tu és a única razão que me mantêm viva… E se tu não voltares, eu não terei mais razões para uma segunda respiração. Volta James… eu peço-te. Sê o meu marido e pai dos meus filhos. Poderemos ter um rapaz chamado Harry como tu sempre quiseste… Poderemos ser felizes. Só tens de voltar meu amor…

Despeço-me com saudade.

De quem te amará eternamente,

Lily Evans