Olimpos © Aki.


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Apolo não queria sacrifício algum, mais ainda se este viesse na forma de uma garota barulhenta com o nome de uma divindade fictícia. Para falar a verdade, nenhum deles queria, talvez pelo simples fato de não nutrirem qualquer verdadeiro sentimento com relação aos humanos. Não desejavam suas preces, sua devoção, suas oferendas.

Antes que percebesse, acabou explicando tudo isso e muito mais a Íris. Disse a ela, com certa impaciência, que muitos de seus deuses eram meras criações, que suas representações e rituais eram exageros e extravagâncias, que as demonstrações de devoção dos seres humanos eram estúpidas e mundanas, que as estátuas que faziam com tanto zelo em nada se assemelhavam aos poucos deuses que veneravam e de fato existiam, preferindo manter-se tão longe, acima de tudo e de todos, não se importando nem um pouco com as criaturas de baixo.

Humanos, seres tão simplórios, associando coincidências a bênçãos divinas e retirando generosas partes do que era seu por direito, como uma colheita mais farta, em agradecimento por uma concessão que na verdade jamais havia sido feita. Típico de sua necessidade fútil e terrena de se sentirem vigiados e protegidos por uma força maior.

(Zeus, por exemplo, era o que menos se interessava com os assuntos dos mortais, apesar de ser tão amado. Apolo murmurou a si mesmo que aquela era uma constatação amargamente irônica a se fazer.)

Viu-se preocupado, viu-se entretido, viu-se tomando um interesse bem maior do que deveria naquela criatura que em nada era parecida com sua graciosa irmã Ártemis. Viu-se provando o doce sabor das uvas adoradas pelos mortais e ouvindo as baboseiras que escapuliam aos montes daqueles lábios sorridentes. Viu-se achando engraçado como a garota relutava em entender todas as informações que ele lhe dava sobre o mundo superior e tanto contradiziam as crenças nas quais fora imersa desde criança. Viu-se perdido, viu-se sem saber o que era realmente poder dizer que gostava ou não de algo. Achava sua existência tão eminente por ser um Deus, mas na verdade nada sabia. Aprendeu mais sobre os mortais, frágeis e insignificantes como insetos, do que Íris sorveu com as verdades não tão sagradas que ele a transmitiu.

Por fim, entendeu que a amou, deixando-se prender na armadilha que, de forma incauta, preparou para si mesmo. Envolveu-se mais do que deveria, e a verdade consigo chocou-se da pior maneira. Veio visitá-la apenas para ver seu reles sangue de mortal espalhar-se pelas escadarias do templo, ouvindo uma profusão de sandices humanas saindo das bocas daqueles que o idolatravam.

(A seca se foi e, em seu lugar, surgiu uma abundante colheita. Oferecemos nossos agradecimentos a Apolo. Deixeis que esta garota se junte a vós nos céus.)

Desejou que as vãs preces dos humanos surtissem efeito ao menos uma única vez e, achando-se mais um tolo que um deus, o Sol quis chorar. Fê-lo sobre uma videira.

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[N/A] Tá uma droga, eu sei, mas eu precisava escrever alguma coisa. Minhas duas fics mal começadas de The Legend of Korra já empacaram, então... Meh. Olimpos merece mais, então vão ler esse mangá por aí (só dois volumes, galera, nada de preguiça) e façam coisa melhor que eu. Vou tentar escrever algo que preste e aparecer por aqui nas férias.

(Ironicamente, começou a tocar uma música do Ólafur Arnalds chamada "Þú ert sólin" quando eu estava quase terminando de escrever. Significa "Você é o Sol" em islandês.)

R&R, galera. s2