Disclaimer: One Piece não me pertence. O mangá/anime, não. O tesouro One Piece sim, um dia. Ò.ó

Primeira fic RobinZoro. Estou soltando ferrugem pelos dedos... ¬¬' Caralho, me sinto velha pra isso.


Para ser um Homem Honrado

Ela rodou os olhos pela mesma página, pela vigésima segunda vez.

Ele estava contando.

Mirou o mar, apertando ligeiramente o semblante. Virou-se devagar em direção de Chopper, Luffy e Usoop, que tentavam ensinar o truque dos palitos no nariz para Brooke. Ensaiou um sorriso, voltou a olhar o mar. E os olhos voltaram para a mesma página, vigésima terceira vez.

"Robin-chaaaan! Seu café!"

Sanji depositou a xícara fumegante, com um sorriso gigante e abobalhado. Era constrangedor de assistir aquela cena de humilhação alheia. Robin sorriu discretamente, agradecendo com sua voz lenta e baixa. Mais baixa que o normal. Mas não o suficiente para aquele cozinheiro imbecil perceber, já voando direto para o escritório de Nami.

"Oeeee! Isso é supeeeeeeer!"

"Oh, finalmente consertou aquela máquina, Frank-san?"

Robin e Frank se davam muito bem, depois de tudo. Bom, não que ela não se desse bem com todos... menos ele. Ela continuava sorrindo do jeito leve e indiferente às palhaçadas de Luffy e Usoop. Continuava imensamente paciente com as questões e a necessidade de atenção de Chopper. Era a única "amiga" de Nami, conversavam horas a fio sobre qualquer assunto. Respondia sempre com elogio os agrados do cozinheiro. Até mesmo dava conselhos ao Brooke sobre 'se enturmar' de fato ao grupo do Chapéu de Palha.

E não que Zoro se importasse, ele tinha coisas muito mais importantes para pensar no momento... ele tinha que treinar. Focar no treino, completamente.

Vigésima quarta vez na mesma página.

Mas nos momentos em que Chopper o obrigava a repousar o corpo por causa de suas graves feridas, era inevitável. Ele percebia como os olhos dela fugiam dos seus, sem nunca lhe dirigir a palavra ou aceno. Não ensaiava sorrisos, nem se dava mais ao trabalho de fingi-los discretamente enquanto dizia "Espadachim-san". Não bebia seu café com a mesma tranqüilidade.

Não lia seus livros com os olhos vagos e vazios.

Certamente, Zoro pensava, era conseqüência do modo como ele a havia tratado no início. E ele não se importava, de forma alguma, não era isso. Mas ele era um homem. Um homem acima de tudo devia honrar suas atitudes e as conseqüências que acarretavam. Eles já tinham problemas suficientes com o Governo Mundial atrás deles, não havia espaço para qualquer "mal estar" entre nakamas. Luffy e os outros ficariam sentidos se notassem alguma coisa.

Sim, era isso. Ele era um homem com bom senso. E nada tinha a ver com o desconforto que sentia ao perceber a total atenção que ela dava naquele momento à conversa sem sentido do ciborgue.

.

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Robin tinha algumas manias, como todo mundo tem. Por isso Zoro sentou-se na cozinha, esperando que aquela fosse mais uma noite de insônia aonde Robin viria beber café e ler alguma coisa até quase amanhecer.

Já era a quarta noite seguida que ele esperava.

"Espadachim-san?"

Finalmente.

Ela abriu a porta da cozinha com os olhos cansados e curiosos. Zoro a fitou por alguns segundos, a camisola de tecido leve de cor roxa, o sorriso pequeno nos lábios discretos. Quando se deu conta de que estava em silêncio por tempo demais, Robin já havia entrado e feito seu caminho até a máquina de café.

"É raro vê-lo na cozinha a essa hora, Espadachim-san. Algum motivo especial?"

Hombridade. Respeito entre nakamas. Zelar pela união do grupo!

"Qual seu problema comigo?" – indagou, firme e direto. Porque afinal, ele era Ronronoa Zoro. Praticamente um rinoceronte de delicadeza.

Robin continuou de costas, o barulhinho da água fervendo o café na máquina se juntou a uma risada que falhou cruelmente em ser escondida.

"O que é?" ele berrou de novo.

"Achei que nunca iria me perguntar, Espadachim-san."

A água parou de borbulhar, se misturando aos grãos moídos de café. O cheiro amargo começava a inundar a cozinha, de volta ao silêncio.

Zoro coçou a cabeça, bufando. Mulher dos infernos. Devia ter continuado detestando ela. Era tão mais fácil.

"Olha... sobre a forma que eu te tratei desde o começo... eu realmente sint..."

"Oh, não. Não é nada relacionado a isso. Você tinha seus motivos para desconfiar de mim." Ela finalmente se virou, os olhos sérios e focados sobre o pirata. "E você estava certo."

Ela lhe deu as costas novamente, retirando o café já pronto e se servindo em uma xícara. Zoro assistia os movimentos dela, como fazia sempre que estava em sua presença. As mãos tremiam quase que imperceptivelmente. Girava a colher de açúcar no café de forma lenta, como se saboreasse o processo todo de fazer a bebida. Deixava a franja cobrir parcialmente os olhos, misturando timidez e aquele ar de segredo.

Bufou de novo, largando as espadas na mesa.

"Oi."

"Sim, Espadachim-san?"

Ele coçou a cabeça, irritado. "Me responda de uma vez mulher, qual o seu problema comigo?"

Os dedos finos apertaram a xícara, inconscientemente. Ela respirou fundo, pousando a louça na pia, o café intacto.

E simplesmente olhou para ele.

Como uma mulher sabe olhar e dizer tudo que um homem precisa saber.

Zoro não era o mais sagaz dos homens, mas era um homem. E um homem honrado. Que sabia como arcar com as conseqüências de suas atitudes.

Mas num breve segundo ele se perguntou, antes que colocar as mãos na cintura fina da arqueológa e puxá-la para si...

Quem ia arcar com o que as atitudes dela faziam com ele?