Disclaimer: Os personagens não me pertencem. *sigh*

Nota do autor: É minha primeira SSHG terminada, espero que gostem. Caso gostem, não gostem; caso vejam algum erro, caso vocês não sejam a minha mãe, caso vocês tenham um cachorro... Bom... CASO essas coisas aconteçam: Deixem um review me dizendo! ;)

Hope you enjoy!

B.

-Podemos conversar por um minuto?

-Claro. Se não se importa de irmos ao laboratório... tenho algumas poções para preparar enquanto na Sede. - ele se adiantou, dando o mínimo de seus olhos à luz antes de dar as costas para o termo que desalinhava sua equação rígida e devidamente balanceada.

Depois do meio giro Severo moveu o pé direito pra frente, transferindo apenas a quantidade de peso necessária para seu lado esquerdo, que se manteve em perfeito equilíbrio e postura distribuindo a massa pelos músculos até chegar em seu pé esquerdo que mal teve tempo de sentir a pressão sobre si e se viu obrigado a flutuar um pouco acima do chão, visto que o direito já ia ao chão e se preparava pra mais uma troca de peso e movimentação. A resposta dela nunca veio e seus pés rumavam para o laboratório naturalmente. Seu pescoço e ombros rígidos de ansiedade e suas mãos gélidas externalizavam secretamente sua preocupação. O pensamento em brasa.

Hermione o seguia com determinação e leveza intrigantes; frutos dos últimos e frescos anos de combate à Voldemort. Aprendera com louvor a espionar, seguir, investigar e à contragosto, muitas vezes em sua própria defesa, aprendera a matar. Para todo o resto seu sexto sentido nunca a deixara na mão. Podia destacar cada nota amadeirada que atiçava seu olfato e tocaria com elas uma sinfonia, se elas não fizessem com que a mulher perdesse o tom.

Ao destrancar a porta com um gesto e adentrar a sala, o maior pôde sentir o âmbar frutal que se desprendia da bancada e inspirou tudo que lhe coube daquele aroma que pairava leve pelo laboratório por um segundo, se dando conta de que a fonte que exalava tal perfume estava atrás de si, à uma distância facilmente coberta por um passo hesitante de uma criança travessa.

A porta às costas de uma grifindória inebriada pelo modo como ele se movia na sala de pouca e desgastada luz se fechara e o baque surdo apenas separou os dois tipos de silêncio: primeiramente o do percurso na casa velha que se negava a ranger sob o caminhar preciso e leve dos casal e agora do silêncio que se instalara no pequeno e organizado laboratório que os mesmos dois dividiam há aproximadamente dois intermináveis anos.

Num rompante a mão direita de Hermione alcançou o punho direito do sonserino enquanto ele ainda estava de costas. Uma das únicas partes em que a pele alva ficava suscetível à luz, ao toque, à ela.

O pé esquerdo do maior deu início à uma sequência de movimentos não calculados. Quando sentia seu aroma, quando admirava sua forma, quando banhava no mel dos olhos dela toda sua vontade latente derrubava seu raciocínio lógico ao chão em nocaute. Giraram: o tornozelo, a panturrilha, o joelho e a coxa até o pé esquerdo pousar de novo no chão.

A respiração da grifindória se enrijeceu assim que a mão esquerda igualmente alva e gélida tocou seu punho direito. A figura parada à sua frente colapsava seus pulmões, lhe colocava o coração a cavalgar a trotes rápidos: A boca descuidadamente entreaberta, pelo susto do primeiro dos choques entre as peles; os cabelos lisos com ondas suaves emoldurando o rosto pálido que ganhava uma tímida cor; os olhos negros que a fitavam.

A pele de Severo gritou e sinais elétricos percorreram todo seu corpo assim que sua mão cingiu o pulso pequeno e frágil de maneira dominadora e ele tomou consciência de si. Sua própria vulnerabilidade nunca fora tão alta ele mal conseguia formular linhas de pensamento pra digerir tudo aquilo. Aquele era, na realidade, o primeiro toque dela nele e dele nela.

De repente os dois anos voaram por entre os dedos dele: as noites de tortura, a vida dupla, as listas intermináveis de poções, as cobranças... e ela, que vinha derrubando com sopros maliciosos todas as barricadas que ele construíra.

De repente os dois anos maturaram tudo nela: a rebeldia do cabelo, o tom de voz, as curvas agora sinalizadas como perigosas, o desejo de ajudar a guerra a ter um fim... e ele, que deslizava deliciosamente pelos seus sonhos sem permissão.

O sonserino notou uma mudança significativa na atmosfera. Seus pensamentos eram abertos sem que ele os destrancasse e o mesmo valia pra mulher que vinha à sua frente, provavelmente inconsciente de que se vulnerabilizava.

Hermione se precipitou pra cima dele e ignorando o pequeno zigue zague de mãos que se formava, levou sua mão esquerda ao rosto dele. Os dedos descansavam por entre seus cabelos, também encostando na orelha; as falanges mergulhadas rasamente no mar negro. O início da palma da mão estava na perfeita altura dos olhos que experimentavam pela primeira vez o carinho de sua Menina; o polegar ia ao final da sobrancelha masculina. O resto da mão se contentou em tomar o formato do rosto oval, aquecendo instantaneamente as maçãs do rosto do maior.

Snape se perguntou se ela tinha consciência do que seu toque o causava. A camisa, lenço, sobretudo e capa não eram capazes de proteger o coração que antes inerte agora bombeava forte o sangue pra todo seu corpo; os tecidos não eram capazes de protegê-lo daquilo que ele sabia crescer e tomar lugar dentro do seu peito vazio. Era pouco provável que ela soubesse, visto que nem ele imaginava tal reação do seu corpo, tal torpor da sua consciência... mas ela imaginava e ela optara, há algum tempo, por descobrir as verdades que ele sufocara.

Os cílios superiores começaram a se juntar com os inferiores. O segundo se arrastou enquanto Hermione arrastava os olhos doces pela feição de um Severo que fechou os olhos ao seu toque, enquanto seu sentimento lutava pra não transbordar pelos olhos marejados. Mas a bruxa respeitável desmoronou junto com duas pesadas gotas salgadas que passaram por um pequeno trecho de suas maçãs antes de se chocarem com o chão de madeira. E quando o segundo acabou, os cílios já se distanciavam de novo, dando passagem pros olhos de azeviche que a fitavam interrogativamente.

Como as lágrimas brotaram em piscar de olhos e por que elas tinham de brotar? A menor leu a pergunta nos olhos dele mas nada pôde responder, apenas foi tomada de emoção, de vontade que tudo desse certo, de vontade dele, de amor e de receio. E ele saberia disso; a conversa quase acontecia pelas nuances que a atmosfera adquiria ao longo dos longos minutos... assim como ela saberia que ele se assustou e se preocupou ao rever, depois de piscar, o seu rosto com pequenos rastros que as lágrimas deixaram.

Quantas vezes não vira crianças, mães, pais, avós e amantes chorando? Implorando pela vida um do outro, jurando a pureza de sua linhagem, lhes dizendo que eles não podiam fazer isso, gritando do fundo de suas almas o quão cruel eles eram, por vezes gritando seu sobrenome... Então por quê a angústia de vê-la derramar um par de lágrimas o cortava de uma diagonal à outra desse jeito? Por quê essa insegurança ridícula se apoderava dele ao pensar que poderia ser a causa dessas lágrimas, ou ainda: sabendo que era e fora por inúmeras vezes. Por quê?

A aproximação repentina dela o tirou do transe momentâneo, o puxando delicadamente pra realidade. O passo que ela dera os colocou a menos de meio palmo de distância, fazendo com que ambos percebessem que eram eles mesmos que emanavam essas ondas estranhas que preenchiam o silêncio do laboratório organizado. Hermione soltou a mão direita do punho direito dele e a deixou deslizar pelo dorso da mão e dedos, enquanto sentia a mão esquerda dele afrouxar seu próprio pulso e fazer o mesmo. As peles inconscientemente pediam por mais contato; os donos conscientemente ansiavam pelas descobertas. O coração dele ameaçava seriamente seu dono, pulsando cada vez mais elétrico, querendo alcançar os dedos medianos e a palma da mão que se espalmavam em seu peito. Uma tocava seu rosto com uma delicadeza agradável e a outra vinha firme em seu peito e o pequeno tremor das pequenas mãos o colocava em outra dimensão. As mãos vinham e arrancavam tudo o que sobrara da razão no espião, comensal, assassino, impenetrável Severo.

A boca dela entreabriu, os olhos dela vacilavam entre uma pupila e outra, entre o nariz adunco e os lábios de tamanhos destoantes dele.

-Eu... eu sei que isso é distante de ideal... –ela disse, engolindo em seco – Mas por algum motivo o sentimento que plantei dentro das paredes de Hogwarts conseguiu florescer ainda mais em meio à guerra.

- Eu não posso simplesmente colocá-la no meio disso tudo. –ele espantou como uma mosca a vontade de pronunciar o nome dela com todas as letras- Estaríamos perdidos... – as palavras finalmente acharam o trajeto para a boca do maior, e saíram, desesperadas para tentar reaver um pouco de racionalidade.

-Você jamais poderia me colocar no meio... Há tempos escolhi um lado, creio que você suspeite. –a voz rebatia na face relutante.

Ele analisava o jogo de palavras, fitava os olhos castanhos nos seus sem deixar de querê-los para si, sem deixar de reparar nos lábios finos que pronunciavam as palavras que o desarmavam, sem deixar de ter consciência das curvas suaves da mulher que estava à sua frente. Não deu resposta. Não a achou, não a queria.

-Nos dê uma chance. Deixe que nos percamos. Nos... permita. – o sussurro hesitante, devido à proximidade, alcançava a boca entreaberta de um Severo que nunca pronunciaria uma sílaba.