Disclaimer: Saint Seiya não me pertence. Faço este fic sem fins lucrativos, apenas por diversão.
Uma Luz no Escuro
Por: Mitzrael Girl
Ele ainda era muito novo quando chegara ao Santuário, mas já sabia o que estava destinado a fazer. Seu treinamento continuava tão rígido quanto quando estivera na Índia, e ali, finalmente teria a chance de obter a sua tão sonhada armadura de Ouro de Virgem.
Mesmo tão novo, com pouco menos de dez anos, Shaka não conseguia lembrar qual fora a última vez que abrira os olhos para ver toda a beleza do seu mundo, ou mesmo do Santuário. Desde cedo aprendera que para ser um cavaleiro forte, para ter grandes técnicas, deveria se privar de um dos sentidos, um precioso sentido. E ali estava ele, nas florestas vazias que preenchiam o espaço entre o Santuário e o pequeno vilarejo ao redor deste, sem poder abrir os olhos, sem poder descobrir a beleza que lhe cercava. O seu mundo, desde sempre, estivera mergulhado em uma eterna escuridão.
– Ei… você está perdido?
Shaka precisou virar-se quase por completo para se certificar que não tinha nem sentido a presença tão minúscula ali perto de si, dona da voz feminina e infantil.
– Não… – ele respondeu, ainda sem ação diante do que tinha acontecido.
– Você não devia estar aí, tem muitos cavaleiros do Santuário por aqui e você pode se machucar. – a garota disse, se aproximando do loiro. – Seus olhos… você não pode ver? Foi por isso que se perdeu?
– Eu… posso ver. Não estou perdido.
– Então por que está com os olhos fechados, está com medo? Quer que eu te ajude a voltar pra casa?
– Eu não estou com medo. Você que não devia estar aqui… faz parte do Santuário, só os cavaleiros vêm aqui.
– E por que você está aqui?
– Porque eu sou um cavaleiro de Athena.
– Ah… está com medo de voltar pra lá?
– Já disse que não estou com medo.
– Então por que não abre os olhos? Vai bater nas pedras se voltar andando. – o tom da garota parecia ainda mais curioso.
– Não vou, é parte do treinamento. Não posso abrir os olhos.
– Nunca?
– Nunca.
– Você não tem medo do escuro?
Shaka hesitou diante da pergunta dela. Por que teria medo daquilo? Já estava tão acostumado com aquela escuridão que era a última coisa que podia assustá-lo.
– Por que eu teria?
– Porque te deixa mais sozinho. Se eu fosse você, acho que teria medo.
– Eu não…
– Opa, eu tenho que ir. Boa sorte com o treinamento, menino.
Shaka não teve tempo de dizer mais nada, apenas escutou o farfalhar das folhas quando ela pareceu se levantar e começar a correr na direção contrária a que ele estava, e naquele exato momento, ele não teve tempo de hesitar, sentiu os olhos abrindo lenta e cuidadosamente até que conseguisse ver apenas os longos cabelos castanhos dela desaparecendo com sua silhueta por entre as árvores. Não conseguia imaginar por que fizera aquilo, mas daquele momento em diante, a sua escuridão nunca mais fora tão vazia e tão solitária… até o momento que pudesse abrir os olhos mais uma vez.