As palavras não ditas
"Eu não quero magoá-la, voltando a isso..."
"Acho que muito poucos... Bem exceto mentes doentias" – sorriu fragilmente – "muito poucos querem magoar uns aos outros. E é por isso que, agora, não posso ficar, Gil. Eu não quero ferir você, nem me ferir ou ao nosso relacionamento."
"Sar..."
"Gil. Eu preciso ir. E preciso que você compreenda isso. E talvez você não compreenda agora, mas... bem, tanto eu como você somos quase mestres em lidar com o tempo, não é?" Ela sorriu da própria tentativa de aliviar a tensão. Mas ele não.
"Ainda não quero que você vá." Disse, não numa tentativa de convencê-la. Sabia que quando ela estava decidida a algo, pouco ou nada podia detê-la. Grissom encostou-se contra a mesa e baixou os olhos, resignado. Será que ele era mesmo um fracasso como amante? Ou já era um marido padrão? A mulher nem queria ouvi-lo!
Nossa! Tantos anos pra conseguir que o homem expressasse o que sentia, e agora, justo agora, ele não conseguia parar.
Sara aproximou-se dele. Como fazê-lo entender que isto não era um adeus? Não tem como dizer adeus a alguém a quem você ama e que já vive dentro de você. Mas Vegas, e todo esse cenário... Tudo a fazia se sentir cada vez... pior.
A pergunta, que já não martelava mais em sua cabeça, uma vez tomada sua decisão de se afastar, estava ali, na ponta da língua, mas ela não diria a ele. Como fazer alguém a quem se ama feliz, quando você mesma está infeliz? Sabia que no fundo, ele entendia e responderia não ser possível – se ela perguntasse. Mas não podia fazê-lo. Mesmo que esse sentimento não tivesse nada a ver com ele, que não fosse culpa deles estar naquela situação agora, não poderia dizer aquilo, com aquelas palavras. Sim, Sara amava o Grissom emocional, mas neste momento precisava chamar pelo Grissom racional.
Ela tomou o rosto dele entre suas mãos e ele levantou a mão direita, pegou a mão esquerda dela e a beijou, de olhos fechados.
"Griss..." Ele olhou para ela e o coração de Sara quase parou, tamanha a tristeza que viu nos olhos dele.
Tudo é tão fácil na teoria. Cinco minutos atrás ela caminhou até ele resoluta. Diria, 'Gil, já conversamos sobre isso, você sabe que eu o amo e que logo estarei de volta (espero). Meu táxi está lá embaixo. Ligo quando chegar.' Tudo bem, não esperava de verdade que fosse ser tão fácil assim. Mas nada era tão difícil quanto olhar para aquele par de olhos azuis, cheios de expectativa, agonia... e amor.
Depois de tudo o que já conversaram, ele parecia ainda esperar que ela simplesmente mudasse de idéia. Sara suspirou.
Oito anos atrás, definitivamente não esperava que um dia deixaria Vegas e um Grissom... deste jeito. Indescritivelmente perdido... Abalado.
Eu preciso ir. Preciso deixar tudo isso para trás. O cheiro desta cidade, o calor do deserto, as luzes artificiais, os loucos a solta, os sonhos desfeitos, os apostadores pelas ruas... Tudo aqui está me fazendo mal. Mas o amo demais para pedir que deixe tudo o que você construiu ao longo de sua vida para vir comigo. Foi este o homem por quem me apaixonei: o cientista entusiasmado que se devotou a ajudar aqueles que não podem ou não puderam se defender. Jamais pediria isso a você, Gil...
As palavras simplesmente não saíam da boca de Sara. E por mais que Grissom quisesse que ela dissesse algo, sabia que isto também não estava sendo nada fácil para ela.
"Eu amo você." Disse ele. E esperava que ela entendesse que com isso quis dizer que respeitava a decisão dela e esperava que ela encontrasse ou reencontrasse aquilo que precisava. Ele esperaria por ela quando ou onde quer que fosse.
Sara sorriu, apesar da lágrima que corria por seu rosto, e o beijou.
É, as palavras não eram realmente tão necessárias (embora às vezes fossem desejadas) entre aqueles dois.
Eles se abraçaram sofregamente e o beijo se intensificou até que não puderam mais respirar, e se afastaram ofegantes.
"Acho melhor eu ir antes que..."
"Antes que eu te impeça e faça amor com você em cima desta mesa."
"Gil Grissom, não me tente."
"Isso a deixa tentada?" Disse, erguendo uma sobrancelha.
Ele a virou repentinamente, apoiando-a sobre a mesa e beijando-a novamente enquanto corria a mão por sua coxa esquerda, até que chegou ao seu joelho e a levantou ligeiramente. Ela afastou a cabeça.
"Gil!"
"Desculpe. Não vou impedi-la de ir."
"Mas quer me fazer voltar da porta do aeroporto!" Disse ela em tom brincalhão.
Ele sorriu. Como era bom vê-lo sorrir.
"Gostou tanto assim da idéia?"
"Vai ficar na minha lista de incentivos para voltar mais rápido, em segundo lugar. Nossa, Gil, assim você nem me deixa espairecer... Se, quando eu tiver ido, não conseguir tirar isso da minha cabeça..."
"Volta correndo. Fica como uma promessa. Quando você voltar..." Disse apontando a mesa com a cabeça.
Ele era mesmo maravilhoso. Sabia que ele estava, naquele momento lutando contra sua própria natureza, não só pela história da mesa – Gil Grissom, você às vezes me sai com cada uma – mas contra a angústia que sentia, como ela também sentia.
Ela o abraçou uma última vez. Queria levar o calor dele consigo. E o levaria em cada memória. Isso era indispensável, pois ele aquecia muito mais que seu corpo: aquecia seu coração. E dava forças a ela. Será que ele sabia disso?
Gil não sorriu. Continuou lá, imóvel, do jeito que ela o deixou.
Olhou para ele uma última vez antes de seguir para a porta.
Sim, ele sabia.
"Sara?"
Ela se virou para ele.
"Qual é o primeiro lugar da lista?"
Ela inclinou o pescoço para a esquerda, uma expressão de "Qual é Gil?" no rosto.
Ele deu de ombros. "Quero ouvi-la dizer."
"É você. O motivo que sempre me traz a Vegas. Você."
Sara sorriu e saiu da sala.
Mas ela voltaria.
Sim. E ele sabia.
Não é o FIM.
N.A.: Tudo bem, todas nós vimos a promo, e provavelmente não é bem isso que vem por aí. Mas e daí? Histórias alternativas são nosso ômega 3 virtual há muito tempo. Até a Marvel tem uma linha só de realidades paralelas, por que não teríamos também?
Críticas, dúvidas, sugestões, elogios, todo e qualquer comentário é muito bem vindo, gente (e qualquer ser de outro planeta que tenha acesso a isso heheh).
Agradecimentos a todas vocês que leram e a todas que me incentivaram a tirar essa "experiência" do HD e compartilha-la (viu Lindsay?).
E obrigada pela força, Cassie!
