ENGANOS
por mrs. dellicourt. ©
para Srta. Abracadabra T.
"Fazer sofrer é a única maneira de se enganar."
Albert Camus.
Carvão na ponta dos dedos da mão pálida que depravadamente maculavam o bege quase branco do tecido em que pintava, ou, como gostava de chamar, onde criava bonecos e vida. Todos seus, obedecendo ordens estaladas na ponta da sua língua que agora passeava pelos seus lábios rubros quase roxos, como você quase sempre fazia quando estava quase muito concentrada, ou quase muito desatenta.
Nunca tivera um tema preferido ou um personagem predileto, suas telas eram quase-quase sempre diferentes e quando acontecia uma repetição era quase sempre por coincidência; os tolos chamariam de destino, mas você não era tola (talvez quase tola), e não gostava da idéia de ser controlada por uma força maior. Você pintava seu futuro — o destino era para os babacas. Por isso você tinha duendes e árvores falantes e guerras e reuniões de chá das cinco, e tinha pôneis e arcos, que só não eram cor-de-rosa e íris porque você quase desprezava as cores — na verdade, simplesmente não ligava para elas.
Um dia, você o viu e finalmente entendeu o seu quase desprezo pela aquarela, embora fosse completamente colorida.
Carvão na ponta dos dedos da mão pálida que depravadamente maculavam o bege quase branco do tecido em que construía, linha por linha, um rosto sem identidade. Esfumaçando em volta dos olhos e bagunçando os cabelos, a ponta da língua (passeando pelos seus lábios rubros quase roxos (e você quase sempre fazia isso), e a boca formando um quase sorriso quase imperceptível) clamando ser teu aquilo que você colocava na tela.
E você quase sorria mais ainda, quase chorando, por saber que na quase vasta lista de características dele "pertencente a Morgana" não estava incluso, nem por um momento, nem um pouquinho, nem quase. Aquela era a verdade absoluta, mas seu mundo não admitia tais verdades, por isso você fingia que não sofria, que não ligava, e principalmente que ele era seu.
Só para que aquele quase sorriso não desaparecesse quase completamente do seu rosto.
Quase seu — quase nada.
N/a: isso surgiu quase do nada depois que eu li pela décima quarta vez a fic que você, Hon, escreveu pra mim. E eu visitei o seu perfil e vi a quote em que você fala sobre o L, e, bem, eu havia te prometido uma fic L/Você há muito tempo, e achei que estava na hora de cumprir. Obviamente essa fic não é nada perto das coisas que você escreve, e também não chega nada perto do que você merece, mas eu tentei. E vou escrever outra, bem melhor, quando puder.
Pulo todo o blábláblá pro que realmente importa: amo-te, até a Lua e de volta.
