OBS: Esse conto faz parte de uma estória muito maior que já postei aqui antes, "Sob pedras e areias". No entanto, inacabada, eu resolvi deletar . Simplesmente não consigo continuar a escrever, já publicando o começo da estória. Mudo de idéia tantas vezes que é melhor mostrar somente quando tiver certeza. Assim, tenho mais liberdade pra criar...


TRINDADE

Com a chave do dormitório Sammuel destrancou a porta, girou a maçaneta e

penetrou no aposento escuro. Guiava-se somente pela luz do corredor que

projetava-se no chão.

Próximo ao batente não ousava profanar a escuridão. Parte por a achar

quase tangível, parte pelo cheiro enjoativo de barato desinfetante floral

que impregnava o ambiente.

Com estrondo, a porta fecha-se. Por segundos uma escuridão abissal

apodera-se do mundo...

As luzes se acendem. Ofuscado pelo repentino clarão, Sammy leva as mãos

aos olhos. Tenta bloquear a luminosidade que fere suas retinas.

Quando a luz não mais o machucava, vislumbrou-se em um quarto branco, sem

móveis ou vida. Exceto por uma pequena mobília no centro da sala, uma

insignificante mesa branca de apenas alguns centímetros de altura. Sobre

essa um arranjo de rosas escarlates e uma algibeira. À sua frente, uma

pálida cortina alva pendia de uma armação metálica. Nas extremidades das

paredes laterais fracas lâmpadas fosforescentes iluminavam a sala, num total

de quatro luminárias. Lançavam sobre a alvura do local uma estranha

morbidez...

Não havia saída. A porta, por onde entrara, desaparecera. Em seu lugar uma

sólida parede, às insistentes batidas de Sam, demonstrava ser maciça. As

cortinas eram um grande logro. Abertas apenas revelavam a repetição da

brancura tão bem conhecida.

Prisioneiro de intrigante cripta conjeturava quem seria seu possível

carcereiro. Talvez, uma artimanha do Inimigo? Não, demônios não agiam assim.

Apreciavam mais a mera destruição do que o terror psicológico, e ele sabia

disso. Todavia, esse era o menor de seus problemas. Precisava fugir...

Neste instante, três vozes femininas ecoaram pelo lúgubre aposento.

"Por...quê?..." Eram doces seus timbres, não obstante houvesse certa

esterilidade de sentimentos.

Simultaneamente as paredes tomam forma. Sinuetas delicadas despontam

frágeis dos muros e do teto. Primeiro a perna, depois o pé, braços, tórax e

rostos. Suas vestes brancas misturam-se ao acabamentoda alvenaria. Um

líquido avermelhado escorre de seus ventres... As vozes, agora, possuem

matéria.

" Por... quê?..." A tríade, em uníssono, pergunta. Rostos sem cor

voltam-se para o aprisionado." Por... que... você... nos... MATOU?"

Já não é sem lágrimas ou dúvidas que Sam pode encará-las. Eram elas,

mortas, a comtemplá-lo. Suas faces desbotadas e inexpressivas interrogavam o

Winchester abalado.

Diante dos espectros não se move. Apenas murmura: "Sarah..."