"Não Nicole, eu não posso jantar em casa esta noite tenho uma reunião."
"Mas Ezra… já não passamos a noite juntos à tanto tempo. É sempre a mesma coisa… já não queres estar comigo? Queres o divorcio é isso?"
"Não… pára com isso. Não quero discutir isto pelo telemóvel. Falamos amanhã."
"Isto não vai ficar assim, não podes afastar-me assim."
Eu termino a chamada.
Às vezes não tinha paciência para ela, ultimamente era impossível conversar com ela sem mencionar a palavra "divórcio". Ela não podia estar feliz por mim? Por ter uma promoção no trabalho? Uma realização pessoal? Eu gosto dela, mas com o passar do tempo parecia que não tinha "recarga". A nossa relação não tinha uma "bateria" nova todos os dias… era uma rotina chata e desgastante. As atitudes dela não estavam a ajudar.
Parei no semáforo. Estou a caminho de uma reunião importante e tenho de limpar a minha mente para correr tudo bem.
O semáforo abriu e eu arranquei. Os acontecimentos seguintes foram confusos ouvi o som de pneus a derrapar, o barulho da chapa e dos vidros a partir. Senti-me girar e depois tudo ficou negro, mas ainda podia ouvir os gritos e o barulho da sirene da ambulância.
Podia ouvir o zunido das máquinas à minha volta. Sentia-me confuso e o meu corpo estava pesado e dormente. Demorou pouco tempo para perceber que estava numa cama de hospital. Como é que vim aqui parar? Não me conseguia lembrar de nada. Espera… tinha uma reunião com o director da faculdade onde estava a trabalhar no momento. A minha mente estava cada vez mais pesada e eu ainda não sabia a razão para estar aqui.
Uma enfermeira entrou no quarto. "O que faço aqui?" Pergunto. A minha voz estava muito mais rouca do que me lembrava.
"Como se sente?"
"Estranho, mas o que faço aqui?"
"O senhor teve um acidente, mas esta tudo bem agora. Lembra-se do que aconteceu?"
"Não."
"Isso é normal, eu vou chamar a doutora." Ela apontou alguns valores das máquinas, sorriu para mim e voltou a sair.
Eu tive um acidente?
Estava a sentir-me cada vez mais sonolento, com certeza das drogas que colocaram no soro que entrava pelas minhas veias. Não devem ter passado mais de 10 minutos e os meus olhos estavam pesados tal como o meu corpo. Quase não conseguia mexer a minha mão.
Entrou outra mulher de bata branca, ela captou a minha atenção. Ela é a médica? Pode dizer-me porque estou aqui? "O meu nome é Aria Montgomery e sou a doutora que acompanha o seu caso. Como se sente Sr. Fitz?" Ela pergunta-me. Ela parecia muito jovem para uma médica, talvez tenha começado há pouco tempo.
"Sinto-me cansado."
"Sabe dizer-me o seu primeiro nome?"
"Ezra." Ela concordou.
"Qual a sua última lembrança Sr. Ezra?"
"Eu saí de casa para uma reunião." Ela concordou.
"Sabe em que dia estamos?"
"3 de Setembro de 2014, certo?"
"Estamos a 3 de Maio de 2017, Sr. Fitz. O senhor teve um acidente a 15 de Setembro de 2016 e esteve em coma por 8 meses."
"2017? Coma? 8 meses?" Eu exaltei-me.
"Tenha calma Sr. Fitz. Provavelmente teve alguma perda de memória que pode ser recuperada."
"Provavelmente? Quando é que vou ter a minha memória? Ainda estou assim tão mal? Quando é que posso ir para casa?" As perguntas pareceram voar da minha boca.
"Temos de fazer ainda mais alguns exames agora que acordou, mas para já vamos ter de esperar e ver a recuperação. Olhe para o meu dedo." Eu fiz isso e ela apontou uma luz aos meus olhos. "Diga-me se não sentir." Diz ela passando uma caneta levemente por ambos os meus braços e mãos. Depois destapou as minhas pernas e vez o mesmo nos meus pés. "Sentiu?"
"Sim."
"Não parece ter perda de sensibilidade."
"Como aconteceu o acidente?"
"Eu só sei o que vi no relatório. Ao que parece o outro condutor tinha ingerido bastante álcool perdeu o controlo e não parou no sinal vermelho no cruzamento que o senhor começou a passar. O seu carro capotou duas vezes felizmente tinha o cinto de segurança."
"E o outro condutor?"
Ela ficou com uma cara ainda mais séria. "O outro condutor foi projectado e morreu no local. O carro também capotou mais foi muito mais violento, havia também uma criança a bordo não resistiu aos ferimentos internos. Fizemos tudo o que podíamos." Diz ela.
"Fui o único sobrevivente?"
"Sim." Ela concordou. "Tinha várias contusões no seu corpo, fracturas múltiplas principalmente nos seus braços, duas na perna direita e algumas costelas. Fizemos vários TAC felizmente não teve hemorragias internas. No primeiro mês esteve em coma induzido, não havia como suportar tanta dor e a partir dai tivemos de esperar pela recuperação natural. Quando estiver pronto terá sessões de fisioterapia, não se preocupe estará em boas mãos." Eu não sabia o que dizer… era muita informação. "Vou ligar à sua esposa Sr. Fitz ela estará aqui em breve. Eu volto mais tarde."
"A minha esposa? Eu sou solteiro tenho a certeza."
Ela volta para mais próximo de mim. "Também não se lembra da sua esposa?"
"Não sou casado… eu ia começar um novo trabalho como professor."
"Diga-me o que fez no dia do acidente, lembra-se desse dia?"
"Só me lembro de sair de casa cedo e passei no café antes de ir a uma reunião com o director da faculdade."
"Não se lembra de falar com ninguém nesse dia?"
"Falei com o funcionário do café e com o director ao telefone."
"Não se lembra de mais nada?"
"Não."
"Se precisar de alguma coisa carregue neste botão. Descanse." Diz ela antes de sair.
Será que eu podia ter esquecido o meu próprio casamento? E espera… estamos em 2017… a última data que me lembro foi de 2014. Isso quer dizer que não me lembro de quase 3 anos da minha vida? A minha cabeça começou a doer de tanto tentar procurar respostas. Tenho de dormir.
Ezra Fitz. Foi o caso mais grave que chegou às minhas mãos desde que comecei a trabalhar. Tinha de dizer a verdade… no estado em que ele estava, eu pensei que ia ter o mesmo fim da criança.
Ele parecia sempre sem vida nos primeiros tempos… se não fosse o bip constante das máquinas que tinha à sua volta ninguém diria que ele estava vivo. Depois de todas as cirurgias que foram feitas, a quantidade de gesso, hematomas e ligaduras o melhor era manter o pobre homem a dormir.
No mês seguinte desligarmos a máquina para que ele respirasse sozinho e na semana seguinte reduzimos os analgésicos e todas as doses para o tirar do coma, mas nada aconteceu ele continuou a dormir até hoje. Era um alivio vê-lo finalmente acordado, mas infelizmente a memória dos últimos anos parecia estar em falta.
Lembro-me perfeitamente de ver a sua esposa a lamentar na sala de espera e no seu quarto quando a visita era permitida. Ela disse que a última vez que falaram tinha discutido com ele. Ao que parecia por ele ter aceitado um novo trabalho que pouco tempo deixava para ela. Ela parecia genuinamente preocupada com ele, mas pouco tempo depois as visitas foram menos frequentes. Apenas a avó, Sra. Fitz, vinha vê-lo todos os dias.
Procurei a ficha dele no meu registo. Fitz, E. Digitei o número de telefone da esposa e esperei. Ao quinto toque atendeu.
"Sim? Quem fala?"
"Boa tarde estou a falar com a senhora Nicole Fitz, certo? Daqui fala a D. Aria Montgomery do hospital de Rosewood."
"Sim é a própria. Boa tarde doutora. O Ezra está mal?" Ela perguntou. Pela forma que ela disse não podia distinguir qualquer emoção.
"Na verdade, tenho boas noticias o Sr. Ezra acabou de acordar."
Ouve uns segundos de silêncio. "Eu não posso ir ao hospital agora, estou no trabalho." Que raio… que esposa não viria a correr se o seu marido estivesse a dormir por 8 meses? Poderia justificar no trabalho mais tarde.
"Claro. Venha assim que puder, tenho de discutir algumas questões pessoalmente consigo."
"Ele tem algo grave é? Pensava que ele estava bem." Tenho a certeza que o tom não era de preocupação, mas sim de satisfação de curiosidade.
"Temos alguns exames para serem feitos ainda, terei de falar consigo pessoalmente sobre a condição actual. Não me parece adequado discutir isto ao telefone." Digo-lhe. O que ela queria que lhe dissesse? Olhe o seu marido acordou, mas ficou preso em 2014 e não se lembra de si. Isto dito ao telefone seria o caus.
"Muito bem, passarei por aí mais tarde."
"Obrigada pelo seu tempo Sra. Fitz. Com licença." Ela nem respondeu, apenas desligou. Se ela era assim não admira que se chateassem.
Devia ligar à avó, a senhora era sempre muito simpática e preocupada.
Insistiu que lhe chamasse apenas Belle, contou-me a história dos pais dele. Basicamente a mãe descobriu um cancro e o pai abandonou a mãe e ele ainda era um bebé. A mãe morreu pouco tempo depois. Nunca mais encontraram o pai dele, filho de Belle. Os avós maternos nunca estiveram por perto. Conclusão, Belle criou o Ezra.
Digitei o número, pegou ao segundo toque.
"Belle, fala a D. Aria."
"O que se passa com o meu neto?" Ela pergunta apressadamente.
"O seu neto está bem, ele acordou."
"Graças a Deus! Vou já para aí! Muito obrigada doutora." Diz ela.
"De nada!"
Era sempre maravilhoso dar boas noticias e ver a felicidade de volta.
Uma assistente veio avisar-me que a avó do Ezra tinha chegado e dei a autorização para ela entrar.
"Sra. Fitz."
"Belle, D. Aria. Posso ver o meu netinho?" A senhora era muito adorável.
"Podemos conversar um bocadinho?"
"O que se passa?"
"O seu neto está a fazer um TAC neste momento. Fisicamente está tudo bem ainda tem algum cansaço, mas penso que podemos começar a fisioterapia em breve. Eu queria falar consigo porque ele não se lembra de alguns anos da sua vida."
"Anos? Meu pobre menino." Ela lamenta.
"Eu pedi-lhe uma data que ele se lembrasse. Ele disse que se lembra de sair de casa, passar num café e ir a caminho de uma reunião com o director da faculdade a 3 de Setembro de 2014. Eu falei-lhe da esposa, mas ele não se lembra."
"O Ezra já não trabalha na faculdade, ele começou outro trabalho em 2015 ia aceitar uma promoção no dia do acidente. A Nicole está aqui?"
"Não. Ela disse que vem mais tarde, estava no trabalho."
"Trabalho? Ela não trabalha minha querida, ela vive do dinheiro do Ezra. Aquela rapariga não tem remédio, discutiam constantemente e ameaçava o meu Ezra com um divórcio. O que podia fazer? Ele era um tolo… o amor faz essas coisas, mas só ele é que a amava." Diz a senhora.
O telefone toca. "Com licença."
"D. Aria, o Sr. Fitz voltou ao quarto o relatório do exame já está no seu computador."
"Obrigada." Disse para a assistente do outro lado. Desliguei.
"O Ezra já está novamente no quarto, tenho a certeza que ele ficará muito feliz e quem sabe possa recuperar a memória. Estes casos são um pouco incertos nunca sabemos se a memória vai retornar. Peço-lhe que não lhe conte muito da vida dele para que não seja influenciado no processo de recuperação."
"Sim claro, farei o que for preciso para ajudar o meu neto."
"Eu acompanho-a até ao quarto." Seguimos pelo corredor.
Bati à porta e entrei. "Sr. Fitz, tem uma visita." Deixei a senhora passar e fechei a porta.
"Avó?"
"Meu querido, estou tão feliz por teres acordado." Belle acariciou o rosto dele.
"Desculpa avó deixei-te preocupada."
"Não, não a culpa não é tua. Eu sabia que estavas em boas mão de qualquer maneira a D. Aria tem feito um bom trabalho contigo. Não imaginas o teu estado, ela fez um milagre."
Eu sorri quando ela me mencionou. Eu estava a fingir ler as folhas com os registos das últimas horas. "Só fiz o meu trabalho."
"Não, ela ficou dias seguidos aqui por tua causa."
"Turnos seguidos são comuns." Eu disse rapidamente.
"Não seja modesta Aria, você salvou a vida do meu neto."
Eu apenas me deixei sorrir. Sinto-me muito realizada. "Eu vou deixá-los mais à vontade, tenho um relatório para analisar espero trazer boas notícias."
Quando ela sorriu com o comentário da minha avó fiquei encantado, ela era uma jovem bastante bonita. Ela devia ter menos 3 anos que eu talvez. Eu reparei nisso assim que a vi, mas estava tão avoado que nem pensei bem no assunto. Aqueles dentes brancos perfeitamente alinhados, sobrancelhas grossas, olhos verdes e cabelo longo ondulado. Ela é muito atraente.
"Então como te sentes?"
"Bem, mas confuso. Parece que me deitei uma noite em 2014 e agora estamos em 2017."
"A D. Aria disse-me que não te lembras de algumas coisas." Eu podia confiar plenamente na minha avó, ela foi uma mãe para mim.
"Também é frustrante estar preso a uma cama de hospital com todos estes fios e tubos."
"Isso vai melhorar, em breve vais voltar a andar e a ter uma vida normal novamente."
"Ela disse que sou casado. É verdade?"
"Eu não te posso contar muito, mas sim é verdade. Ela vem aqui hoje e tem cuidado, não confies muito nela."
"Não gostas dela?"
"Eu não tenho nada a ver com isso, foram as tuas escolhas." Diz ela. "O que achas da Aria? É boa rapariga, não é?"
Eu sorri. A minha avó tinha uma veia de casamenteira… perguntava-me sempre de todas as minhas colegas na faculdade. "Oh avó… sou um homem casado."
"Pois… mas continuas a ter olhos na cara para ver o que tens na tua frente."
"Por favor avó ela é médica, achas que pode ter algum interesse em mim? Sou só mais um doente."
"És o primeiro grande caso dela, estiveste 8 meses aqui… ela contou-me que é o primeiro hospital que a aceitou. É jovem, bonita e inteligente. Não sejas parvo, se tiveres oportunidade já sabes." Diz a minha avó muito atrevida. Eu sabia que ela fazia aquilo para me animar e estava a conseguir.
"Pois, pois…"
Ela procurou alguma coisa no telemóvel. "É do primeiro dia que te vi depois do acidente." Eu fiquei chocado ao ver a imagem, quase não podia ver pele expostas e o que estava à vista não tinha uma cor natural. Tinha um tubo grosso na minha boca. Não era eu… Ela tirou a foto.
"Este foi 1 mês depois." Naquela foto já não tinha tantas ligaduras, a minha pele ainda estava um pouco acinzentada, mas era defensivamente melhor do que a primeira. Mesmo assim parecia um cadáver.
Colocou outra. "Este foi no segundo mês." Nesta foto já não tinha o tubo na minha boca, mas sim uma máscara. Todos os gessos já tinham desaparecido. Aria aparecia e estava a usar o estetoscópio no meu peito. "Ela foi sempre impecável contigo e muito preocupada com o teu bem-estar."
Porque haveria de tentar alimentar uma esperança falsa? Eu nem estava perto de estar apaixonado por ela. Eu conhecia-a há poucas horas. Sim ela é bonita, mas isso não é tudo. Eu gosto de conhecer a personalidade das pessoas. Eu percebi que ela é gentil, mas só isso não me fazia gostar mais dela… Pessoas gentis estão por todo o lado. No entanto não posso negar que ela parece ter algo especial que não sei descrever. Preciso de mais tempo para a conhecer e sinceramente parece que vou ter ainda muito tempo por aqui.
Ouvimos bater à porta e alguém entrar. Era a Aria novamente e vinha com um sorriso esplêndido.
"Boas noticias doutora?" Pergunta a minha avó.
Aria fica aos pés da cama. "No relatório não existe absolutamente nada de errado com o cérebro do Ezra. Isto é muito bom, mas não nos trás grandes resposta para o seu problema de memória. Simplesmente não sei quando vai passar ou se vai passar."
"Então existe uma possibilidade de não me lembrar de 3 anos da minha vida para sempre?" Pergunto.
"Infelizmente sim." Diz ela. "Sente alguma dor?" Ela pergunta-me.
"Não, estou bem. Só um pouco cansado."
"Nesse caso é melhor sairmos para o deixar descansar." Aria fecha as persianas. "Descanse, mais tarde venho verificá-lo."
Uma luz acende no quarto apesar de fraca era inconveniente e fez-me cerrar os olhos e virar a face. "Sou tão má." Diz uma voz brincalhona. Era Aria. "É só um bocadinho." Diz ela enquanto analisava o monitor e mexia nos botões. Ela tirou alguns fios de mim e isso deixou-me mais confortável. "Vamos manter o soro." Ela olha para mim. "Já lhe vieram trazer um chá para tentar habituar o estômago a receber alimento."
"Não quero obrigada."
"Mas vai beber, quem manda sou eu." Diz ela. Aria pega na chávena e agita para arrefecer. "Sente-se."
"Eu disse que não quero."
"Mas eu não perguntei nada." Ela diz séria. "Ezra… se não colaborar a recuperação vai ser mais demorada e se não comer vou ter de manter o soro por muito mais tempo. O seu corpo está debilitado e estou a fazer o meu melhor, mas sem ajuda não vou conseguir."
Ela tinha razão. "Está bem." Tentei levantar-me, mas senti um enjoo muito forte e voltei a cair sobre a cama. Passou imediatamente.
"Calma." Diz ela carregando num botão ao lado da cama que me fez levantar. Não estava totalmente sentado, mas foi uma posição melhor para beber alguma coisa. "Muito bem. Eu acho que está bom."
Ela fez-me tocar a chávena e tentar agarrar foi terrível… como se o meu braço e a minha mão não soubessem o que fazer. "Eu não consigo."
"O corpo só se tem de ajustar foram 8 meses sem movimento. A fisioterapia para os membros superiores começa amanhã. Não fique impaciente por não conseguir à primeira e nunca desista." Ela leva a chávena à minha boca para eu beber. Assim que ingeri o liquido ela ficou feliz.
"Doutora?" Chamei-a e ela apenas olhou para mim. "Obrigada."
Ela sorri e pega na minha mão. "O ser humano é incrível assim que nascemos conseguimos logo pega no dedo de um adulto. Isso é instantâneo, não é preciso uma aprendizagem para o fazer."
"Isso quer dizer o quê?" Pergunto-lhe.
Ela colocou a sua mão na palma da minha mão. A mão dela era realmente pequena comparando com a minha. "Que pode agarrar a minha mão mesmo sem quer."
"Não consigo."
"Claro que consegue. Sente a minha mão e não existe nada de errado com o sistema nervoso."
"Sim, mas mesmo assim não tenho parte da minha memória."
"Mas não perdeu toda isso quer dizer que a informação ainda está aí dentro." Podia senti-la fazer mais pressão na palma da minha mão como se fosse uma massagem. "Eu tenho esperança que ainda vai recuperar a memória." Eu não podia tirar os olhos dos dela quando disse aquilo. Ela parecia tão certa. Tive vontade que o tempo parece só para não parecer inadequado. "Olhe o que fez." Diz ela.
"Como?" Os meus dedos estavam à volta da mão dela.
"Está tudo lá Ezra, temos de ter paciência nem tudo vai acontecer amanhã. Lembre-se que não fui eu que fiz isto, mas sim você." Eu sorri para ela. Talvez não seja apenas um inútil deitado numa cama, há uma esperança enquanto eu tentar.
Quem o viu e quem o vê. Eu desejei tanto que ele acordasse não que eu sentisse algo por ele, mas ver as pessoas bem depois de tudo era o meu trabalho e eu queria ajudar como podia. Não podia negar que ele era bonito, todos os traços do seu corpo pareciam ter sido feitos com uma precisão incrível de fazer babar qualquer mulher. Ezra ainda estava fraco num tom ainda pálido amarelado e por isso mesmo tinha de começar a comer novamente para ganhar alguma cor que os medicamentos lhe tiraram.
Quando lhe dei o chá senti-me realizada. Isto foi um marco de sucesso na minha carreira, a minha primeira recuperação num grande caso de acidente. Foi duro e pesado, mas valeu a pena cada segundo que o via sorrir.
"D. Montgomery, está aqui a esposa do Sr. Fitz."
"Claro deixe-a entrar." Lá vamos nós. Qual seria o humor de hoje? "Sra. Fitz." Digo para a saudar.
"Porque não posso ver o Ezra agora?" Ela dispara imediatamente.
"Pode ver o seu marido assim que falar consigo."
"O que é assim tão importante?" Ela perguntou desagradável. Um médico tem de se sujeitar a tudo.
"O seu marido está bem fisicamente, no entanto não se lembra dos últimos 3 anos da sua vida. Como lhe disse o cérebro está bem por isso não sabemos quando vai recuperar a memória ou se a vai recuperar algum dia."
"Só podem estar a brincar… vocês são uns incompetentes." Isto já estava a atingir o nível da falta de respeito.
"Sra. Fitz, eu não estou a brincar e posso lhe assegurar que não havia nada que pudéssemos fazer para resolver a situação."
Ela sopra. "Posso vê-lo então?"
"Pode, mas não lhe conte muito do passado para não afectar a recuperação."
"Eu não conto." Diz ela.
Percorro o corredor com ela. Eu pensei que seria muito pior que ela podia chorar pelo marido ou algo assim, mas foi o contrário a atitude dela foi rude. O que estava à espera depois do telefonema? Ela despachou-me, como se o marido fosse lixo e não pudesse vê-lo mais. Está aqui apenas para fazer figura de boazinha e preocupada, mas na verdade nem queria saber de qualquer maneira. Nem um sorriso vi na cara dela até agora.
Bati e entrei para fazer-me presente no quarto. "Sr. Fitz tem mais uma visita." Nicole entrou e olhou para o Ezra. Eu não sabia bem o que estava a acontecer ali, mas quebrei o silêncio. "Conhece esta senhora?"
Ezra negou. "Nunca vi essa senhora antes."
"Podes parar de fingir Ezra?" Ela disse rude. "Como podes não te lembra da tua mulher?"
Ezra arregalou os olhos. "Eu não me lembro." Ele tentou defender-se.
Nicole ia cuspir alguma coisa, mas eu impedi-a. "Sra. Fitz, por favor."
"Sentes-te bem?"
"Confuso e não estou muito bom com os movimentos, mas bem." Diz ele. "Qual o teu nome?"
"Nicole."
"Desculpa, eu não me lembro. A minha cabeça dói quando tento pensar."
"Não se esforce demasiado, eu vou deixá-los a sós." Diz a Aria.
Aria saiu do quarto deixando-me com uma estranha que eu podia dizer que estava chateada. Bom… se a minha mulher não se lembrasse de mim talvez fosse a minha reacção.
"Então… somos casados. Quando foi o casamento?" Eu tentei fazer conversa, mas não sabia o que dizer.
"Sim, foi no final de 2015." O silêncio foi desconfortável.
"Eu não sei o que dizer."
"Eu pensei que nunca mais irias acordar. Eu refiz a minha vida sem ti, talvez ficares sem memória não tenha sido uma coisa assim tão má. Isso pode facilitar as coisas."
"O que queres dizer?"
"Tu já não fazes parte da minha vida como antes, a nossa relação já não estava bem de qualquer maneira."
"Queres uma separação? Divórcio?"
Ela concorda. "Nestas circunstâncias é o melhor."
"Eu não sei… eu não me lembro de nada. Sinceramente se queres outra vida eu não te posso impedir, não é?"
"Isso quer dizer que aceitas o divórcio?" Ela parecia mais aliviada.
"Eu acho que tenho de pensar melhor. Tenho muita coisa na cabeça e estou cansado."
"Eu não posso vir amanhã, mas eu vou voltar." Ela diz, já não parecia tão áspera. "As melhoras Ezra! Descansa." Ela levanta-se para sair.
"Adeus."
Senti alguém entrar na sala. Era a Aria sem dúvida, cheirava a um perfume muito particular. "Ainda aqui doutora?"
"Céus, Sr. Fitz! Que susto pensava que estavas a dormir." Diz ela com a mão no peito.
"Desculpe." Sorri para ela. "Tenho muitos pensamentos na minha mente não consigo dormir."
"Foi da conversa com a sua esposa? Ou é outra coisa?" Ela pergunta.
"Sim foi um pouco da conversa que tivemos. Ela quer o divórcio."
"Lamento imenso. Posso fazer alguma coisa para ajudar?"
"Ter a minha memória podia ajudar a tomar uma decisão. É horrível olhar nos olhos de alguém que supostamente construí uma vida e não me lembra de nada. Ela quer ir fazer a vida dela e eu não a posso impedir sou um inválido nesta cama por 8 meses e sabe-se lá por mais quanto tempo e que problemas mais vou ter. Não posso pedir a ninguém para ficar muito melhor a quem não conheço."
"O Ezra não é inválido é um lutador. Se está vivo foi porque nunca parou de lutar. É uma situação difícil não ter a memória, mas pode tentar ultrapassar isso e viver um dia de cada vez e quem sabe um dia pode acordar e lembrar tudo novamente."
"Eu acho que lhe vou dar o divórcio. Eu não senti nada por ela assim que a vi… até tive um pouco medo dela, pensei que estava tão chateada que me queria matar."
Ela sorriu. "Nada lhe vai acontecer aqui. Muito menos no meu turno."
"Pode-me chamar apenas Ezra? Eu sinto-me muito velho quando me chama assim. Só tenho mais 3 anos do que pensava." Ela ri do meu comentário.
Ela colocou a sua mão quente no meu ombro. "OK Ezra, o meu turno acaba agora eu só o vim ver uma última vez. Vemo-nos amanhã, tente descansar e não pense de mais."
"Será que não me pode dar alguma coisa para ajudar a dormir?"
"Só se for chá."
"Por mim tudo bem." Aceito.
