Disclaimer: Pokémon pertence à companhia Pokémon.

Disclaimer 2: O continente e os personagens dessa história pertencem ao RPG Shinki Adventures RPG. Mais informações no meu perfil.


Primavera

O sol começava a se mostrar com mais frequência agora que o inverno se afastava. A primavera gritava em cada botão de flor preparando-se para florescer e, com ela, a vida retornava para a cidade de Nyender. Murkrows voavam e grasnavam alto, iniciando os ritos de acasalamento. Pokémons felinos desfilavam pelas cidades com a pelagem brilhosa do verão surgindo pelos tufos da pelagem de inverno que se desprendia de seus corpos.

No centro da cidade, um grande prédio cinzento dominava a região. Em frente a uma linda praça, um grande Persian deitava sua garra sobre um globo, indicando a submissão do mundo aos cadetes. Dentro da grande Academia de Polícia, em sua sala, a Comandante e Chefe de toda organização se erguia com dificuldade. A gravidez em estágio avançado atrapalhando os movimentos sempre muito graciosos. O ventre já baixo indicava que não demoraria muitos dias para que o bebê nascesse, então mais do que tardiamente a mulher encerrava seus afazeres pela última vez antes de sair de licença.

- Comandante, o relatório que solicitou.

A mulher de longos cabelos negros e olhos avermelhados erguia a face que já não era capaz de ocultar o cansaço e mirava o homem que batia continência próximo à porta aberta. A Persian que estava deitada ao lado da mesa ergueu a face para o recém-chegado, reconhecendo o homem e retornando a deitar o rosto no chão frio. A pelagem da Pokémon brilhava ainda mais com a chegada primavera e a característica marca de estrela em seu ombro direito chamava mais a atenção do que as cicatrizes conquistadas em duras batalhas. Assim como sua dona, Persian era uma sobrevivente.

Lendo rapidamente o relatório, Angélica Thompson, a mulher mais poderosa dentre os cadetes, seguia recolhendo alguns pertences, livros e relatórios que analisaria com mais calma durante a licença. Buck Kibato, responsável pela delegacia local, ex-membro do esquadrão da atual comandante, era sem dúvidas um dos oficiais em quem a mulher mais depositava sua confiança. Seu Persian, que esperava pacientemente do lado do capitão Kibato, mantinha-se ereto e demonstrava sua arrogância a quem o mirasse. No entanto era completamente ignorado pela outra felina da sala que, ciente de sua posição superior, não perdia seu tempo competindo por pose.

- Providenciem um Taillow. – A Comandante ditava no telefone antes de desligar o aparelho e voltar os olhos para Kibato. – Preciso que chame Cornélios e que ordene a seu esquadrão que se prepare. Vocês irão partir em missão ainda hoje. – A mulher ditava com velocidade e firmeza.

Enquanto o Capitão se retirava para acionar seu esquadrão, outro cadete de Rank menor adentrava a sala com um Taillow pousado sobre a mão. Após bater continência perante a Comandante, o oficial deixou a ave sobre a mesa e se retirou. O pequeno pássaro, que usava um quepe característico, piou e esticou as asas, revelando estar pronto para sua missão. Angélica, sem mirar o Pokémon pássaro, terminou de escrever uma carta, após lacrá-la com seu carimbo, enrolou e colocou no tubo de proteção que o pássaro carregava em suas costas.

- Tomy Hyatsugy.

Após dizer somente o nome, a mulher liberou o Pokémon pela janela de sua sala. A ave, sem precisar de mais informações, preparou-se para voar para Mengun City, uma das cidades mais distantes e perigosas do continente. Nada a deteria até que encontrasse o cadete para quem estava destinada a missão que carregava nas costas.

- Mandou me chamar, Comandante. – Cornélios Darbas, Capitão de grande poder, segundo em comando na organização e substituto da Comandante durante sua licença. Ao seu lado, um Persian de maior tamanho e tão poderoso quanto o da própria Angélica. O felino exalava crueldade, diferente da fêmea na sala, que transpirava poder e justiça.

- Você está no comando a partir de agora, mas as missões enviadas até o final do dia de hoje terão seus relatórios enviados diretamente a minha residência, compreendido? – A Comandante exigia sem abrir espaço para desobediência.

- Sim, Senhora! – Cornélios respondia de prontidão, batendo continência e preparando-se para acompanhar a mulher até a saída da Academia.

Ao sair da sala, Angélica foi seguida de perto por sua companheira de longa data, a Persian que acompanhou seu desenvolvimento desde que adentrara na organização como uma simples Recruta. Logo atrás, Cornélios Darbas e seu felino inicial. No corredor, a secretária da comandante se erguia em respeito e, prestativa, perguntava se já poderia mandar os pertences da morena para a casa da mesma, pergunta que recebeu um simples sim. Abaixo da mesa da secretária, um Houndour roia um dos pés da mesa, sem perceber o olhar de desaprovação que recebia dos felinos no local.

Os passos da mulher eram mais lentos que o tradicional, no entanto ninguém ousava cruzar seu caminho, por puro e simples respeito. Já próximos à entrada da Academia, Angélica percebeu Kibato com seu esquadrão a espera de sua missão. Involuntariamente a mulher permitiu ao canto esquerdo de seu lábio se erguer em um meio sorriso, afinal Kibato demonstrava a postura que ela mais prezava dentre os cadetes: competência e agilidade. Desmanchando o sorriso antes que os outros vissem, a Comandante se aproximou e, sem dizer uma palavra, entregou uma carta ao capitão Kibato. Este, com a missão em mãos, bateu a continência uma última vez e se retirou, sendo seguido pelos seus. Ao lado dos cinco cadetes, Três Persians e dois Meowths, símbolos da organização.

Do lado de fora, a mulher agora seguia sozinha. Cornélios retornava para o prédio, começando a ditar as ordens para o andamento do dia, a começar pela delegação de Thalita Hernandez, uma oficial que recém adquiriu o título de Agente, quarta posição hierárquica na organização, como responsável pela Delegacia até o retorno de Kibato. A mulher de aparência latina sorriu em satisfação pela confiança que lhe era atribuída e, ao lado de seu Persian e de seu Lucario, avançava para o prédio que ficaria sob seus comandos.

O vento frio do inverno competia com os raios de sol pela atenção dos cidadãos de Nyender. No entanto aquele estava ganhando a competição, já que com a hora avançada o sol perdia seu espaço para a noite. Ao lado de uma árvore, um Mienshao observava a Comandante se afastar com a Persian a seu lado. A falta do uniforme não reduzia o porte da mulher que jamais poderia ser confundida com uma simples civil mesmo que estivesse sem seu Pokémon ao lado. O Pokémon lutador respirava profundamente, sentindo o cheiro da primavera que se aproximava e, repentinamente, virando-se e chutando a árvore a seu lado. O tronco inteiro estremeceu, assim como os galhos. Juntamente com diversas folhas, uma mulher foi derrubada.

- Minha câmera!

Miss PokéNews, a repórter mais criativa na hora de obter uma imagem para suas matérias, choramingava pela câmera claramente destruída durante a queda, assim como pelas imagens que perdera por consequência. Enquanto a ruiva resmungava de forma desolada, Mienshao se afastava, rumando em direção a sua dona e comandante. Talvez, nos próximos meses, o Pokémon pudesse desfrutar de um descanso e algum tempo para aperfeiçoar suas habilidades de luta, contudo, seus instintos lhe informavam que a paz não duraria muito.

Enquanto alguns cadetes eram abordados na saída da Academia por PokéNews, que na ausência de câmera optava por um bloquinho de notas, Angélica finalmente chegava a seu lar. Sabendo que chegara mais cedo do que o previsto, não estranhou ao notar a casa deserta. Logo sua filha também chegaria em casa, possivelmente acompanhada pelo pai. A comandante teria esse tempo para analisar mais alguns relatórios, antes de ter sua atenção completamente roubada pela criança.

Angélica não perdeu tempo na sala. O blazer cadete foi solto sobre o sofá e a mulher rapidamente optou-se por um banho. Persian permaneceu na sala, esfregando a cabeça na de Houndoom que repousava sobre um tapete. Próximo das duas pokémons, uma estante com diversos livros, uma televisão e algumas fotos da pequena Yasmin, inclusive fotos que não fora a dona da casa quem colocara na estante.

Não muito longe de casa, a pequena Yasmin andava pelos corredores do hospital da cidade ao lado de um Luxray. O grande e poderoso Pokémon, parceiro de sua mãe a tanto tempo quanto Persian, farejava os corredores atrás do Pachirisu e da Marill da criança, já que após algumas horas tentando encontrá-los sozinha, a menina falhou miseravelmente. Yasmin suspirava ao lado de Luxray, muito desanimada com a busca.

- Não quelo mais binca de esconde-esconde. – A jovem choramingava sozinha. – Pippy, Lilly, a bincadela acabou! Apaleçam! – Chamava Yasmin por seus pokémons.

Com cuidado, a criança abria a porta de um dos leitos hospitalares e sussurra por seus companheiros. O tom infantil não era mais do que um sussurro após constatar a luz apagada do aposento, a televisão desligada e as cortinas fechadas. Antes de sair, no entanto, a curiosa criança foi atraída pelo estranho aparelho que ficava apitando. Luxray bufou da porta, chamando a menina e a alertando de que não deveria entrar no aposento, porém foi completamente ignorado.

- Olá, pequena. – A voz do senhor de idade fez a criança pular de susto, já que acreditava que o estranho estaria dormindo. – O que está fazendo aqui em cima?

- Tô procurando o Pippy e a Lilly, o senhor viu eles? – Yasmin questionava em sua inocência.

- Quem são eles? – Questionou o paciente com a voz fraca.

- Pippy é um Pachilisu muito espeto e Lilly é uma Malil muito fofa. – Explicava a pequena criança enquanto puxava uma cadeira para perto da cama e se sentava na mesma, a fim de conversar com o homem mais de perto. – O que essa máquina faz? – A jovem questionou depois de ficar quieta por alguns segundos após ouvir a negativa do homem sobre seus Pokémons.

- Essa máquina mostra os batimentos do coração. Cada vez que a linha sobe, é porque o coração bateu uma vez.

Perante a explicação leiga, os olhos infantis brilharam de ansiedade e voltaram a analisar a máquina que apitava de forma rítmica. O Pokémon elétrico mantinha-se quieto e atento a qualquer perigo para a criança, porém retribuiu o olhar que o estranho lhe dirigiu com igual intensidade.

- Esse Luxray é seu, pequena?

- Não, ele é da mamãe. Mas ela dexa ele comigo pa me potege. – A pequena respondia erguendo na cadeira e tocando com a ponta dos dedos a linha da vida que se desenhava na tela. – Seu colação tá batendo bem lapido, não é?

O homem riu da pergunta infantil. Lembrava-se de quando o médico comentara sobre seu quadro e sabia que sua situação não era tão favorável quanto aparentava para olhos ingênuos. Antes que o homem pudesse responder, no entanto, uma enfermeira entrava no quarto com a medicação e acendia a luz, surpreendendo a criança.

- Yasmin-chan, o que está fazendo neste andar? Este não é um lugar para crianças. – A mulher falava depositando a bandeja com os remédios sobre um balcão ao lado da cama. – Seu pai sabe que você está aqui?

- Papai foi chamado pa uma cilugância. Mas ele tava demolando demais, então eu fui binca de esconde-esconde com o Pippy e a Lilly, mas eles sumilam. – A menina relatava tentando justificar o motivo de ter parado no andar da oncologia sem autorização.

- Me espere do lado de fora. Assim que aplicar os remédios do Sr. Bear, lhe ajudarei a achar os dois. – A mulher pedia com a voz gentil.

- Tá bom. Desculpa se te acodei senho Bea.

- Você não me acordou, pequena. E pode voltar quando quiser. Traga um dia o Pippy e a Lilly para que eu os conheça. – Pediu o enfermo que na maioria dos dias ficava sozinho, sem vontade nem mesmo para pedir que ligassem a televisão.

- Tá bom. – Yasmin respondeu alegremente antes de se retirar. Contudo a menina parou na porta e, rapidamente voltou para a cadeira ao lado da cama, dando um beijo na bochecha do estranho e retomando o caminho para o lado de fora, onde esperaria a enfermeira. O estranho sorriu para o gesto singelo, assim como a mulher que lhe aplicava a medicação intravenosa.

Cerca de 15 minutos depois, a enfermeira reaparecia no corredor e se deparava com uma criança sentada no chão e fazendo desenhos com a ponta dos dedos. A imagem do tédio simples e puramente. O olhar infantil se iluminou ao reparar na mulher que lhe ajudaria em sua busca e, pouco depois, ambas andavam de andar em andar em busca dos pokémons fugitivos. Não demorou mais do que meia hora para que encontrassem o Pachirisu aprontando no refeitório dos profissionais e, quarenta minutos depois, a Marill no banheiro feminino com um Kit de maquiagem emprestado e seu tradicional chapelão.

A pequena Yasmin apertava o esquilo de encontro ao corpo enquanto caminhava de volta para a sala de seu pai. Marill, ao lado da criança, olhava a bolsa de maquiagem que, após tentar devolver para dona, ganhou de presente. A menina comentava feliz sobre o que mais havia feito durante o dia e sobre a chegada da mamãe Swanna com sua irmãzinha para a enfermeira que a acompanhava. A empolgação da criança era contagiante e a mais velha ria, comentando esporadicamente um assunto ou outro, principalmente com perguntas para incentivar a pequena a seguir com seu relato.

A sala do pai de Yasmin era fácil de se encontrar. A menina não era somente filha da Comandante dos cadetes, como também era do médico mais brilhante do continente, conhecido tanto pela sua genialidade quanto por seu humor e gênio terríveis. A enfermeira só podia imaginar qual seria a reação do médico quando entrasse em sua sala e visse o Swellow da mãe de sua filha usara seu casaco para simular um ninho em sua cadeira. A ave, e segundo guardião da pequena, parecia incrivelmente confortável e ressonava baixinho em seu sono. Yasmin, sem imaginar a reação que o pai teria, se aproximou e começou a tentar desenhar a ave dormindo em seu caderno de desenho.

Na rua, o vento se intensificava e a lua reinava o céu. As horas avançavam com velocidade e o esplendor da primavera já não era tão visível na artificial luz que iluminava a cidade. Em uma casa não muito distante do hospital, Angélica estava em seu sofá, com uma roupa confortável, um relatório em uma das mãos e um chá em outra. No tapete, Persian dormia com a cabeça sobre a de Houndoom. Mienshao bocejava sentado ao lado da dona, mas se recusa a ir dormir enquanto a mulher estivesse acordada, por mais que ela ordenasse o contrário.

A comandante tentava mais uma vez fazer seu Pokémon descansar, quando o som da porta se abrindo chamou sua atenção. O relógio indicava quase meia noite quando o médico surgiu pela porta carregando a filha adormecida no colo. Luxray entrava logo em seguida, com Pachirisu e Marill em suas costas, ambos em sono profundo. Swellow demorou mais para entrar e, além de algumas penas faltando, carregava o casaco que antes usara de ninho, reacomodando-o no chão próximo a Persian e Houndoom e, mais uma vez, se aninhando sobre o mesmo, enquanto o médico reclamava sobre o fato. O Pokémon elétrico retirou cada um dos outros dois de suas costas e os acomodou entre os outros monstrinhos de bolso, para logo depois se unir ao grupo. Angélica suspirou pesadamente, ciente de que teria de adiar o interrogatório sobre quem havia mexido nas fotos da estante para outro dia. Já que o médico apresentava uma parte da camisa suja de sangue, adquirido possivelmente em uma pequena inconveniência no hospital, e o olhar cansado, ela é quem deveria trocar a roupa da filha para que a mesma dormisse mais confortavelmente.

Com a lua reinando no céu e enquanto uma família se preparava para dormir, uma mulher de exóticos cabelos mirava uma foto em suas mãos enquanto conversava ao telefone. Os dedos longos deslizavam sobre folhas com relatórios diversos e missões a serem delegadas. Mapas de cidades e plantas de diversos prédios expostos lado a lado, com diversas anotações se exibiam para a mulher, tentando auxiliá-la a decidir qual seria o próximo passo.

- Ela já saiu de licença? Muito bem... As coisas começarão a andar agora... – A mulher comentava ao telefone enquanto largava uma foto da Comandante e sua família sobre a mesa. Na imagem, o médico vestido somente da cintura para baixa e carregando uma toalha de banho observava Angélica, que estava sentada na cama da filha mirando a criança que dormia abraçada a um Mew de pelúcia.