Eram raras as vezes em que Passo de Gigante contava histórias no Garrano Empinado, em Bree. Como dizia o Sr. Carrapiço, só o fazia quando lhe dava na veneta. Pois fora isso que acontecera naquela noite. Noite aquela que estava calma e silenciosa, coisa que nunca acontecia naquela estalagem. E apesar das canecas de cerveja empilhadas em cima das mesas e de se ouvirem algumas canções aqui e acolá, o desânimo parecia ter-se instalado na sala.
"Quereis ouvir uma história?" perguntou uma voz vinda dos cantos obscuros da sala.
"Claro!", responderam outras vozes em coro, pegando nas cadeiras e aproximando-se da lareira, pois fora Passo de Gigante quem falara e era lá que ele se encontrava.
- Cervejeiro, traga-me uma caneca de cerveja. – pediu um hobbit baixinho demais, comparados com os outros da sua espécie gorducho, que por acaso era esse o seu nome.
- Vai ser uma longa história, Sr. Gorducho… – disse Passo de Gigante.
- Traga-me antes quatro! – gritou Gorducho.
Houve uma grande agitação na sala, muitos pedidos e muitas correrias. Mas depois de todos terem o que queriam, o Sr. Carrapiço e Cachola juntaram-se ao grupo para ouvir a dita história.
Passo de Gigante estava envolto em sombras, excepto uma parte da sua cara, que era vagamente iluminada pelo seu cachimbo delgado e preto. E quando a sala ficou silenciosa e ansiosa também, Passo de Gigante começou a falar.
- Isto passou-se numa das minhas viagens, à longos anos. Resolvi aventurar-me numa floresta, que encontrei por acaso, enquanto conhecia novo caminho. Era uma floresta tão bela como a de Lórien, mas tão perigosa como a Floresta Tenebrosa. E nas sombras, olhos reluzentes fitavam-me ameaçadoramente. Foi então que ouvi um quebrar de ramos. Alguma coisa estava a aproximar-se, mas não sabia o que era. Senti, então uma picada e uma dor muito forte. Uma aranha gigante havia-me atacado por trás. Desembainhei a minha espada e matei-a. Mas a sua picada era mortal. Ela atacou-me com um veneno que corrói o corpo por dentro e deixa a vitima sem sentidos durante uns dias para depois morrer. Não sabia o que fazer, por isso comecei a vaguear sem rumo pela floresta. Até que a minha visão tornou-se turva, e a ultima coisa que me lembro de ver foi uma luz muito bela, mas ofuscante.
Acordei dias depois num quarto de pedra clara, e no fundo desse quarto vi um vulto, alto e coberto por uma capa negra.
