Sinto que a cada momento meu cérebro desiste de existir. Meu corpo já hesita em responder aos impulsos nervosos e o que me resta é o inconsciente, a última instancia em busca de sobrevivência. Que sobrevivência? Meu corpo lânguido e sem vida mal respira. Sinto um peso morto à extremidade mais alta de meu tronco e tudo o que ouço são blábláblá's químicos e a creche esperançosa por estar tão longe do fim. Mal sabem eles de como o trecho final é árduo e penoso. Mal sabem eles.
Parada no tempo, as imagens mais aleatórias vêm a minha cabeça. Uma caixa. Metafísica. Estrelas. Um carro graciosamente sendo destruído por uma velha árvore. Um campo de girassóis em um dia ensolarado. Como eu queria estar em um campo como em minha imaginação. Totalmente livre de imperfeições à serem julgadas, o sol forte liberando uma temperatura agradável e nada de pequenos estorvos alem das gentis abelhas que dividem seu espaço sem se importarem. Pobre Macabéa.
Os ponteiros do relógio emperraram? Vejo o tempo passar, mesmo que lentamente, mas a única coisa que sinto é que nada muda. Nada mais aprendo.
Arrasto meu corpo escada abaixo e miro a saída. Faltando tão pouco, minhas pernas descrêem e tremulam. Passo pela porta, olho a minha volta e não consigo compreender a positividade alheia. A vida não é nenhum conto de fadas, só esperava ter descoberto isso mais tarde. Diariamente tento ver os valores das pessoas, ver os valores de cada ação, mas fica extremamente difícil quando o que se vê é ilícito e condenável.
Longe da realidade considerar uma utopia. Felicidade pode ser relativa mas, se relativa, porque não opcional? Ou será que as pessoas se levam a escolhas erradas como um instinto de aprendizado? Diga a uma criança: "não mexa na tomada". É estúpido concluir que se ela não sentir a eletricidade nos próprios dedos vai aprender o que está errado em cutucar os buraquinhos na parede. Não devia ser assim. Estupido é aquele robô do comercial, que gostaria de ter sentimentos e sensações. Não sabe o que fala.
Abro a porta do carro e por osmose me dirijo até a casa. A casa onde resido por pelo menos mais um tempo. Vejo mais uma escada em meu caminho e tenho a sensação de utilizar todos os músculos de meu corpo para me levar ao topo. Arrasto livros e tapetes em meio ao grande entulho em que se transformou meu quarto. Não me incomodam mais as coisas espalhadas pelo chão. Nada mais me encomoda.
Desfaleço meu corpo em minha cama e, apesar do frio, o cobertor me parece fútil. Tudo é fútil.
