Stirb Nicht Vor Mir

Capítulo 01

"Ich warte hier (Eu espero aqui);

Stirb nicht vor mir (Não morra antes de mim)"

Rammstein

"E Mark está em algum lugar sob a terra se mexendo como um terremoto"

- LISPECTOR, Susan

Halloween, um dos piores dias do ano para quem trabalha em um hospital, fosse na Emergência, ou cobrindo as consultas cirúrgicas. Tantos loucos, doentes ou acidentados, residentes incompetentes, porque não dizer isso dos médicos também, e internos que precisavam ser guiados pela mão para fazer os procedimentos mais simples.

Cada dia surgiam piores, mais novos e inexperientes, e o que seria daquele hospital sem ele, o grandioso e renomado Robert "Rocket" Romano? Sem os poucos atendentes cirurgiões capazes dos feitos mais extraordinários para salvar uma vida, ou a perna de um paciente? Devia estar pensando demais, aquele não era o seu fim, e estava longe de ser isso. Ela lhe dissera que voltaria a ser como antes, que voltaria a ter controle sobre os movimentos do braço esquerdo, a operar, e era apenas isso que importava, o que Elizabeth lhe dissera.

Passou de leve os dedos uns contra os outros, lembrando do leve toque que dera no rosto dela, a pele conseguia ser até mais macia e suave do que imaginara em seus pensamentos. Havia quantos anos que desejava tocar aquele rosto? Quatro? Cinco? Dissera a si mesmo que iria passar, que iria esquecê-la, pois se tratava de um sentimento momentâneo devido exclusivamente ao fato dela ser uma profissional brilhante. Mas fora impossível. Assistira quieto a ela casar, ter uma filha, e depois ao funeral do marido, Mark Greene. Deveria ser ele a estar casado com ela, e nunca precisaria ter passado por isso.

Foi o sentimento que teve ao fazer todas a manobras possíveis e retirar, com uma mão só, a aliança que ficara presa nos canos da pia do lavatório cirúrgico. Ela merecia ser feliz, e se isso significava ficar presa à memória de um falecido, então que a deixasse assim. Mas não conseguia deixar de se preocupar. A garotinha precisava de um pai, Elizabeth claramente não estava dando conta sozinha, e ela também precisava de alguém que a ajudasse nesse momento e lhe fizesse companhia. Que a fizesse feliz.

Quantas vezes não fora ele quem a ajudou? Quando ela achou não aguentar mais o câncer de Greene, foi ele quem, a muito contra-gosto e se odiando a cada instante, a fez colocar a cabeça no lugar e ir ficar com o marido. Que idiota masoquista ele parecia lembrando de tais coisas. Talvez ele só a quisesse bem até demais, pois todo o mal que poderia fazer, já havia feito quando a obrigou a voltar a ser uma interna, e ela sobreviveu com graça, burlando uma norma ou outra, mas conseguiu passar por todos os desafios que poderia impor. Devia ser isso, essa capacidade de enfrentar qualquer coisa, que tanto o atraía.

Em sua sala, manteve a luz apagada e sentou-se à cadeira, lembrando mais uma vez de ter estado com Elizabeth ali. O que havia acontecido? Anos antes, ele demonstrara verbalmente estar interessado nela, ao que ela o rejeitara de forma tão enfática que parecia estranho ter simplesmente se afastado e sair correndo como uma garotinha. Ele também vira, através do vidral da porta, os cachos loiros de quem estava encostada na parede, e não sendo chamada na Emergência, pois nunca ouvira qualquer som.

Tudo isso parecia tão confuso e distante naquele momento.

Estava mergulhado em tais pensamentos, quando a porta do escritório se abriu de súbito. Não olhou, devia ser alguma enfermeira para lhe infernizar com o estado dos seus pacientes, ou um dos malditos internos em busca de aprovação para qualquer procedimento. Mas os passos pararam por instantes no batente e não veio nenhuma voz. Então tornaram a andar apressadamente dentro do ambiente.

- Nem em minha sala posso ter paz agora? - Reclamou com sua costumeira acidez, enquanto voltava-se só então para ver quem o incomodava.

- Desculpe, vi a luz apagada, não sabia que estava aqui.

Aquela voz, a silhueta recortada contra a luz do corredor, os cachos loiros brilhando. Foi como se o tempo parasse por alguns segundos, ou sua mente tivesse convocado para que ela aparecesse. Era simplesmente surreal que não conseguisse ficar afastado dela, que ela chegasse apenas nos piores momentos, quando ele se via fraco e incapaz, e testemunhasse o homem medíocre que se tornara.

- Ah, Lizzie, é você - tentou parecer natural, voltando a encostar-se à poltrona, como se pudesse saber no que estivera pensando. Se ela fosse logo embora, não precisaria passar por mais este constrangimento.

- Esqueci o gorro de Ella em algum lugar - respondeu, claramente incomodada, enquanto procurava sobre as superfícies das mesas.

Houve mais alguns instantes de silêncio, nos quais Robert tentava imaginar o que poderia responder, o que seria cabido dizer depois de tudo que acontecera. Já havia dado a sua palavra de que não faria mais qualquer movimento no sentido de se insinuar sobre a Dr. Corday, porém, tal promessa agora enfrentava grandes dificuldades para ser cumprida. Devia ser fruto de sua mente conturbada, pois precisava manter a promessa, ou corria o risco de perder o que lhe restava daquela mulher.

Elizabeth já estava ficando nervosa, batendo gavetas enquanto procurava, ao que Robert, quando se deu conta do que fazia, já estava de pé, segurando-a pelo pulso a meio caminho do abridor. Ela o olhou por alguns instantes, atônita, como se esperasse pelo que pudesse acontecer, ao que ele apenas disse com a tranquilidade que lhe reservava para os momentos mais sérios de sua vida:

- Você está cansada, vá para casa ficar com sua filha, eu pedirei para guardarem, se alguém achar.

Foi como se o tempo congelasse no escuro. Tudo que ele podia ver eram os olhos, aquele belo par de olhos azuis, tão abertos e assustados, enquanto eram engolidos na noite. A porta parecia fechar, cada vez havia menos luz, fazendo um barulho tão leve, mas a única coisa que se ouvia além da respiração ofegante que Corday emitia. Não importavam os médicos que passavam pelo corredor, as emergências ou as enfermeiras, nada daquilo era relevante agora. Robert se perguntava se até mesmo seu braço era fundamental, pois não parecera que o trabalho definira a vida de Mark Greene em seus últimos dias, desde que pudesse ficar ao lado de Elizabeth. Ela valia tanto qualquer pena assim? Era loucura imaginar isso, se pegar pensando que ela teria voltado antes se soubesse do acidente que lhe acontecera. Tudo parecia tão errado naquele raciocínio, e ainda assim só conseguia ver aqueles olhos azuis.

Num único movimento, rápido, automático, quase involuntário, Robert puxou-a para si com a única mão boa, para soltá-la logo em seguida, percorrendo pelas costas até alcançar a nuca. Acariciou-a com os dedos para só então beijá-la. Elizabeth estremeceu todo o corpo como se uma forte carga elétrica a passasse com violência, retraindo os braços à sua frente para empurrá-lo. No entanto, contrariando qualquer expectativa, não o fez. Ficou parada, imóvel como uma estátua, enquanto ele a beijava.

Somente após alguns instantes ele a soltou, vindo a cair em si o que acabara de fazer. Foi um momento de pânico. A ideia de haver quebrado sua promessa, traído a confiança da pessoa que lhe era mais importante em todo o mundo, tudo isso lhe passou pela cabeça em puro desespero, enquanto a olhava sem saber que reação teria que enfrentar. Foi medo, pânico, em instantes quietos até que, finalmente, ela falou com a voz baixa:

- Eu tenho que ir, Ella está me esperando - foram as únicas palavras que ela pronunciou, enquanto saía o mais rápido possível da sala.

- Elizabeth! - Ele a gritou, indo até a porta, porém, ela já estava muito fora de seu alcance, em meio a outros funcionários.

Ela viu-se entrando no elevador mais rápido do que para salvar um paciente com parada cardíaca. Encostou-se na parede do fundo, sozinha, olhando petrificada para a frente. Seu corpo todo tremia, fazendo-a cruzar os braços para segurar a si mesma e suas emoções. Como ele pudera, como ousara fazer aquilo? Mark havia morrido há poucos meses, sua cama nem ao menos esfriara, e já estava avançando de forma tão agressiva? Não, isso não poderia ficar desta forma, ele prometera, ela tinha uma filha e uma reputação, e não iria mais tolerar tais abusos vindos de seu superior sem uma devida retaliação. O faria saber com quem estava lidando, nem que para isso a ferisse ainda mais.

Decidida, mudou o curso do elevador e seguiu mais uma vez para o andar do Centro Cirúrgico. Com passos largos, fortes, atravessava o corredor, mirando Robert Romano, bem à mesa da recepção do andar. Ele estava ao telefone com o que parecia ser a Emergência, mas ela não se importava. Parou bem ao lado dele, olhando-o com uma intensidade nunca antes demonstrada e disse em um tom imperativo:

- Robert, preciso falar com você.

- Agora estou ocupado, Lizzie, se quiser deixar um recado - respondeu, porém ignorando-a logo em seguida, tornando a falar sobre algum caso de um paciente que precisava subir da Emergência para ser operado.

- Agora, Robert! - Ela elevou o tom de voz de forma ameaçadora, sem se importar com as outras pessoas presentes.

Ele abaixou o fone, olhando para a cirurgiã um pouco surpreso com tamanha energia em seu comportamento. As enfermeiras deviam estar fazendo a mesma coisa, porém não ousaria espiar, não daria a oportunidade de virar alvo de conversas. Era melhor ceder, imaginava sobre o que poderia ser tão urgente ao ponto desta mudança súbita de comportamento, gostaria de evitar ao máximo aquele diálogo, mas aconteceria cedo ou tarde.

- Vamos para a minha sala - disse finalmente com a voz mais baixa que o normal, para acalmar a fera com a qual lidava.

Não foi necessário falar duas vezes e Elizabeth já se encaminhava para a sala tão conhecida e frequentada, entrando primeiro e sem cerimônias. Robert passou em seguida, fechando a porta. Cruzou os braços, manteve-se como se bloqueasse a saída, a postura de quem tinha alguma razão, como sempre fazia, e falou:

- É bom que isso seja sobre algum paciente seu estar morrendo, ou vou ter que reconsiderar seu lugar neste hospital.

- Como você pode fazer o que fez? - Ela já elevava o tom de voz, sem se importar com a ameaça vazia que acabara de escutar. O sangue palpitava quente em seus ouvidos, a raiva, a indignação lhe subiam à cabeça, fazendo perder qualquer pudor que cultivara ao longo dos anos em que evitara tal assunto.

Tudo que ela queria naquele momento era uma resposta, algo que fosse coerente, ou que ao menos não fosse o que imaginava. Mas isto abria uma nova questão: O que, afinal, ela esperava? Acreditara piamente durante anos que o que se passara quando da sua chegada fora mero assédio sexual, somente uma demonstração de força e poder que Robert comumente exibia diante de mulheres atraentes. A mera sombra da possibilidade de haver algum sentimento, ou melhor, de ainda haver algum, qualquer que fosse, depois de cinco anos, a aterrorizava. O problema era: Ela era incapaz de entender porquê a fazia se sentir dessa forma.

- Me desculpe - era tudo que ele podia dizer.

Mas para ela jamais seria o bastante. Ainda que fosse a primeira vez, pelo que conseguia se lembrar, que ouvia Robert Romano pedir desculpas de forma tão explícita, para ela não seria o suficiente depois da falha que cometera.

- Eu não quero suas desculpas! - Ela falou quase gritando.

- Então o que você quer?! - Ele perguntou em igual tom. Se era para abaixar o nível, sabia muito bem como fazer, e caso ela prendesse vencer aos berros, era bom que ao menos o ouvisse antes. - Quer que eu me humilhe pra você? É o suficiente? Quer que eu prometa seriamente que não vai se repetir? Eu não posso, Lizzie! Eu não posso! Isso está além de minha capacidade e sequer é a minha vontade!

- Robert… - Ela o chamava preocupada, o coração preso em seu peito. Era possível. Não, não era, não estava acontecendo.

- Não, Lizzie, não - a interrompia, tentando ordenar os próprios pensamentos confusos, incapaz de determinar algo diferente para si ou para ela, além do desejo que já o consumia por inteiro.

- Você está passando por um momento ruim, o que lhe aconteceu foi trágico… - Elizabeth tentava contornar a situação demonstrando simpatia pelo colega, rezando para que sua apelação para a racionalidade pudesse funcionar.

- O que me aconteceu foi não ter agido quando você terminou com Benton, foi também ter deixado que retornasse para a Inglaterra quando Greene morreu, isso que me aconteceu! - E ele sabia muito bem que este último fora o possível motivo de ter andado tão distraído, de ter se deixado ferir pela hélice do helicóptero. Quando Corday foi visitá-lo no hospital, tudo havia sido colocado sob uma nova perspectiva, de uma forma quase dolorosa, que precisava ser remediada.

Elizabeth encontrava-se em um momento difícil. Por um lado, queria se impor, fazer-se respeitar, porém, conseguia compreender como o colega estava se sentindo, e isso a afligia. Mesmo depois de tudo que ele fizera, as humilhações incessantes, o assédio, ela não o desejava mal. Muito pelo contrário, o que impressionava até a ela mesma, se importava com ele e o queria muito bem, como a um amigo querido. Via-se então incapaz de colocar toda a fúria que sentira momentos antes no elevador, de dizer todas as coisas que pensara durante tanto tempo, mas faltara coragem. Simplesmente se via impotente, desarmada e, pior, assustada pelo fantasma de um sentimento que jurara estar morto.

Parecia que ambos esperavam por alguma coisa do outro, uma palavra, uma ação, qualquer coisa que quebrasse aquele silêncio mórbido que impregnava o ambiente. Segundos se tornaram minutos e os minutos, horas, enquanto trocavam olhares apreensivos. Ou eram apreensivos da parte de Elizabeth, pois, da parte de Robert, estava tão clara a intenção que a constrangia ao ponto de se ver forçada a desviar.

- Eu não posso fazer isso - ela sacudia e abaixava a cabeça, cobrindo-a nervosamente com uma mão. Rumou para a saída sem pensar, precisava tomar um ar e respirar, pensar devidamente sobre a situação.

Antes que Elizabeth pudesse fugir, Robert a deteve segurando-a pelo braço mais uma vez. Ela olhou da mão que a prendia para o rosto daquele homem. Seu coração batia de forma intensa, não sabia que ele ainda era capaz de tamanha força, muito menos de utilizá-la contra ela de forma tão agressiva. Tentou se soltar, porém, só fez com que a puxasse para perto. Estavam a uma distância mínima mais uma vez, quando ele quebrou o silêncio falando baixo, sem tirar o olhar dos lábios de batom:

- Diga, mas diga com todas as letras que não quer, pois você nunca disse. Não há Benton, não há Greene, não tem ninguém te chamando na Emergência, você não está se sobreaviso, e a história de não se envolver com colegas ou com superiores não cola mais. Eu quero uma resposta clara e objetiva, quero que você pare de fugir e de se esconder em mentiras. Mereço que seja honesta comigo ao menos uma vez.

- Eu não posso… - Ela começou com a voz fraca, sendo novamente evasiva, mas logo foi interrompida.

Robert a empurrou contra a parede, prendendo-a com o próprio corpo enquanto a puxava pela nuca, beijando-a mais uma vez. Se era assim que ela preferia, não dar uma resposta e se esconder na própria fraqueza, se era assim que se sentia bem para prosseguir após a morte do marido, então serviria por enquanto, ao menos para aquele único momento de desesperada necessidade.

Diferentemente da experiência anterior, dessa vez Elizabeth não fugiu, não correu ou sequer ofereceu desculpas. Contrapondo todas as expectativas que tinha sobre si, ela correspondeu ao gesto antes que pudesse refletir sobre o que estava fazendo e se recriminar. O velório de Mark fora há tão poucos meses, o estaria traindo ao ficar com outro homem? Essa idéia parecia já tão longínqua que não mais a afligia, pois simplesmente não importava. Mark desejaria que fosse feliz, que seguisse com a sua vida, e que encontrasse outra pessoa para si e para Ella. Ou seriam todas estas apenas mentiras que falaria para si mesma na calada da noite, feitas para justificar seus atos egoístas e impulsivos?

Os pensamentos se esvaiam enquanto retribuía aos beijos, e juntos com eles iam qualquer bom senso, noção de tempo e de espaço. Robert colocava a mão direita na cintura de Elizabeth, apertando-a ocasionalmente com mais força do que seria necessário, depois deslizava para debaixo da camisa, tocando-a na pele macia, sentindo-a respirar. Ela se arrepiava, se retraía, sendo tomada de certo pudor, do qual seu companheiro claramente não compartilhava, e por isso seguia sem solta-la. A mão percorria-lhe o corpo, barriga, cintura, costas, retornando para a frente, descendo até o cós da calça dela, abrindo e deslizando para dentro.

Como poderia ser verdade? Um feitiço envolvia as mãos e conduzia os gestos daquela dança. Aos poucos, Robert a conduzia, ao que ela sentiu-se chocar contra um móvel. Elizabeth tateava atrás de si, derrubando os livros, papéis, e tudo o mais que pudesse estar sobre a mesa para atrapalhar. Ele apenas ajudou-a a se sentar sobre a superfície, mas foi ela também quem se deitou, entregando-se aos beijos.

Em intervalos de instantes, ocasionalmente havia uma pausa, mas apenas o necessário para que uma nova peça de roupa fosse removida. Assim, ele arrancou as calças dela, atirando-as longe, posto que não deixaria mais que a mulher escapasse.

Foram gestos rápidos, ao mesmo tempo delicados e vorazes. Elizabeth logo se via deitada, Robert sobre o seu corpo, entre suas pernas. Os dedos se fechavam como garras sobre os ombros do homem, segurando-o com todas as forças, ao passo que dava início a gemidos baixos ao pé do ouvido.

Todo o resto do mundo, todos os problemas, preocupações, convenções e dúvidas, estavam bem distantes do outro lado daquela porta de vidro. Não interessavam os médicos, os enfermeiros, os residentes, os internos ou até mesmo os pacientes, mas só o que acontecia naquele momento, naquela sala.

Mas o instante se foi, como uma flama que se acende e apaga com uma explosão, teve o seu desfecho. E, com o fim, veio a vergonha, a culpa e o remorso, com o retorno de todas as dúvidas que antes inundaram sua mente. Elizabeth pegou as peças de roupa espalhadas pelo chão e as vestiu de forma apressada. Ella a esperava ainda, nas mãos das enfermeiras da Emergência. Mais do que isso, tinha que sair dali antes que essas idéias apertassem ainda mais a sua cabeça e viesse a enlouquecer.

Robert, por sua vez, levantou as calças, não tinha condições de colocar a camisa sozinho, e ficou observando cada movimento da mulher, esperando qual reação inusitada poderia ter, empregando todas as esperanças para que, por ao menos um segundo o olhasse e demonstrasse qualquer coisa que não fosse arrependimento.

Inteiramente vestida, Elizabeth abriu a porta da sala e imediatamente tornou a fecha-la, como se procurasse alguma coisa para dizer, quaisquer palavras que amenizassem a confusão que sentia. Mas nada saiu de seus lábios. Robert tomou a decisão por ela, se aproximou lentamente por trás, colocando a mão na porta para que não fosse aberta, e o rosto no emaranhado de cabelos cacheados, tocando-a no pescoço e sentindo que a arrepiava. Queria poder guardar aquela lembrança para sempre como algo bom.

- Você não precisa ir - ele disse quase num sussurro ao pé do ouvido, inspirando, em seguida, todo o ar que podia, apenas para sentir aquele cheiro tão agradável, que inebriava seus sentidos.

- Minha filha passou a noite na Emergência, tenho que leva-la para casa - ela respondeu de forma automática, seca, como se a frase estivesse o tempo todo em sua boca, esperando apenas para ser utilizada.

E não houveram mais palavras, pois nenhum argumento superaria a necessidade da mãe de cuidar da criança, ainda que esta pudesse estar sendo utilizada apenas como um artifício conveniente.

Elizabeth finalmente tomou uma atitude e abriu a porta. Saiu da sala, andando pelo corredor em silêncio, sem ousar olhar para a pessoa que estava deixando para trás, ouvindo apenas o ruído dos seus saltos enquanto rumava aos elevadores. Iria para casa, refletiria sobre o que acontecera e talvez, só talvez, em algum momento, a resposta surgiria do fundo de sua mente e saberia o que fazer.

- Oh, Mark… - Falava para si própria como numa prece, perdida em julgar suas próprias atitudes.

Se Mark estivesse ali, saberia o que fazer, ele a guiaria, conversaria, e juntos chegariam a uma solução razoável. Mas ele não estava e ela precisava compreender que se encontrava sozinha com a própria consciência.

Apertava os lábios constantemente, estalando a língua logo em seguida. Ainda podia sentir o gosto do beijo, o cheiro do Centro Cirúrgico que impregnava a pele. Tocou de leve a boca, havia quanto tempo que não era beijada de tal forma, se sentindo desejada, necessária como a própria existência do oxigênio. Respirou fundo, acalmando o próprio coração, aproveitara cada instante daquela louca liberdade que se permitira e agora era a vez de deixar a insanidade partir, cedendo o lugar para a chata racionalidade.

Passou no andar na Emergência, pegando Ella já quase adormecida no sofá da sala dos médicos, e tratou de deixar o hospital o mais rápido que a polidez e a discrição permitiram fazer possível. A caminho do metrô, as lágrimas lutavam para escorrer, ao que fazia de tudo para impedir, ou a filha poderia perceber.

Ninguém poderia saber o que acontecera, nem ela tinha certeza do que fizera. Assim, decidia ser necessário prometer a si mesma que não haveriam mais dúvidas, nem mais questionamentos ou desculpas, que não iria fugir ou ter medo, e enfrentaria suas responsabilidades de frente, como seu marido iria querer que fizesse.

Embalava a filha nos braços, enquanto cantava bem baixinho uma música e o vagão deslizava sobre os trilhos. O sol nascia ao longe, penetrando quente pelas grandes janelas. Era o amanhecer de um novo dia.

N.A.: Então, eu sou uma daquelas pessoas que assistia ER quando era criança, com o nome de Plantão Médico, dublado, nas madrugadas do STB. Não lembrava de muita coisa dessa época, exceto de Carol e Doug (eu amava eles dois). Voltei a rever alguns capítulos na Warner antes de sair a 15a temporada, mas foi tudo muito aleatório, e quem realmente me chamou a atenção foi Elizabeth (que só recentemente, depois de eu terminar de assistir Doctor Who, eu vim saber que também interpretava a River Song). Era tudo que eu precisava para recomeçar a ver a série toda, do começo. Mas ER é uma série que me deixa triste. Eu estava assistindo Doctor Who (amo todos os papéis da Alex), aí meus personagens favoritos morreram... Então fui ver ER, mas me decepcionei, pois os meus personagens favoritos morrem/saem! Eu vou ter que voltar a ver/ler Game of Thrones, pois os meus personagens favoritos ao menos estão vivos (por enquanto). Já sobre meu shipper, uma só palavra: "Cordano"! 333 Preciso confessar, eu tenho uma paixão profunda por esse shipper, e me deixou imensamente triste ele não ter acontecido na série! Foi uma coisa engraçada, pois eu nem gostava muito do casal, em verdade, eu preferia Elizabeth com Mark (eu já sabia que iriam ficar juntos mesmo). Mas Robert é como um fungo, é um personagem que simplesmente cresce em seu coração (e, para mim, a série acabou quando ele saiu). Ainda defendo que os dois são perfeitos um para o outro, e é exatamente o que busco provar com essa história. Espero que gostem. :)