1 - O Desconhecido com Olhos de Sol
Lancaster, Pensilvânia - EUA, 1955
Aquele foi mais um dia igual a tantos outros. Acordamos cedo e fomos para o culto, ouvimos o sermão do reverendo e na saída, como sempre os homens conversavam de um lado e as mulheres de outro. Os mais jovens tinham que ficar em silêncio e as crianças era permitido fazer o barulho comum, mas também só os mais pequenos. Os que já tinham entendimento era ensinado a também permanecer em silêncio. Depois que papai estava satisfeito nos chamou e subimos na carroça para irmos para casa. Após o almoço já preparado pela empregada, tínhamos estudos e depois o tempo era livre. Eu gostava de caminhar até ao rio que cortava a nossa propriedade e descansar os pés na água. Foi quando aconteceu.
Andando pela relva próximo da margem senti algo segurando meu tornozelo e fui com tudo ao chão. Mal deu tempo de olhar para o que me fez cair e mãos fortes me seguraram e taparam minha boca.
- Por favor... Não grite! Eu não lhe farei mal...Pisque uma vez se entendeu o que eu disse.
- Hum... - fiz conforme falou.
- Eu vou soltá-la e por favor... Não grite...
Quando o desconhecido me soltou me levantei para correr mas acabei parando no lugar quando ouvi sua voz.
- Espere! Não vá! Eu... Eu preciso de ajuda...
Foi quando virei e tive o maior dos sustos. O homem à minha frente estava todo ensanguentado, com vários cortes pelo corpo e um machucado na cabeça. Era uma visão aterradora.
- Por fa-favor... Não tenha medo... Vê? O estado em que me encontro...Qual o seu nome?
- É... - eu o olhava de cima a baixo - ... Rin...
- Rin... Escute... - ele começou a andar em minha direção - ... Não conte a ninguém que me viu aqui!
- O senhor precisa de um médico...
- Boa observação! Tem razão... Mas no momento... Eu... - andava com dificuldade - ... Eu só preciso que guarde esse segredo... - tirou do bolso da camisa surrada um envelope pardo - ... pegue... guarde para mim... - estendi a mão com receio e alcanceio papel. Ele me segurou pelos ombros me encarando - ... Tenho certeza que você é uma garota de confiança e que não dirá nada a ninguém...
Olhando firme dentro dos olhos dele eu pude ver com clareza a cor de seus olhos. Um rico dourado que lembravam dois sóis. E eram lindos. Ao término da frase o homem perdeu os sentidos e tombou ao chão.
- Senhor?! Senhor?!
Pensei em colocar minha mão nele para acorda-lo, mas ele estava muito mal. Resolvi voltar para casa e chamar o papai, mas antes fui para o meu quarto e escondi o tal envelope.
- Onde você o viu?
- Na beira do rio!
- Eu já não lhe disse para não andar sozinha por lá!
Este que acabou de falar comigo era meu irmão mais velho Kohaku.
- Agora não é hora disso. Precisamos ajudar o homem que sua irmã avistou.
- E vai trazê -lo para dentro de casa, pai?!
- Devemos fazer o bem não importando quem seja. Pegue a carroça.
- Mas pai...
- Faça o que eu lhe ordenei, Kohaku.
Não demorou muito e o desconhecido estava em uma cama improvisada no celeiro. Papai mandou buscar o doutor Houjo para cuidar das feridas e dar o remédio quando ele despertasse.
Olhando para o corpo inerte daquele desconhecido sobre a cama algo em meu coração dizia que sua chegada a nossa casa não era uma coisa em vão. Mas sim uma obra do destino, dessa que muda a sua vida para sempre. E, especialmente, mudaria a minha vida.
