ééN/A: Hm, então, essa é a minha primeira fanfic de Lost. A idéia surgiu quando vi o challenge feito pela Doom Potter no 3V, um challenge de seriados. Eu tinha acabado de assistir Piratas do Caribe e pensei que seria uma gracinha ver os losties de piratas, então pensei em escrever um UA. O prazo do challenge terminou, eu não mandei fic alguma (shame on me!), mas a idéia simplesmente ficou martelando na minha cabeça. E agora ela é isso.
N/A2: Obrigada a /hmoon por ter betado esse primeiro capítulo, e a /ameriashaulablack por ser boazinha e ter concordado em betar a história toda.
I. sobre o Barco, seu Capitão e sua Tripulação.
A narrativa que se segue data de algum ano do século XVII, quando os piratas navegavam nos mesmos mares em que navios reais, aterrorizando marinheiros, rainhas e cidades costeiras inteiras com seus atos de infinita crueldade e selvageria.
E entre todos esses piratas, havia um capitão. E como um capitão não é um capitão, ao menos que possua um navio, havia também um navio. Chamava-se Black Rock — o navio, não o capitão — e era um brigue um tanto quanto antigo, com capacidade para doze canhões e cem homens. O Comandante – ou o Capitão, como o leitor preferir – chamava-se James Ford, mas ninguém o conhecia por esse nome. O chamavam-no Sawyer – Capitão Sawyer – e era o segundo pirata mais procurado de todo o mundo então conhecido.
Quando resolveu dedicar-se à pirataria, Sawyer prometeu a si mesmo: um, adotaria um nome legal. Dois, arranjaria ou um papagaio, ou um tapa-olhos. Jamais encontrou um papagaio que permanecesse mais de cinco minutos em seu ombro.
O capitão era um homem alto e forte. Tinha os cabelos claros que caiam por cima dos ombros de seu casaco de veludo azul marinho. Fora o tapa-olhos, que ocultava uma de suas grandes orbes azuladas, o pirata usava um chapéu que era grande demais para a sua cabeça e que, por isso, ocasionalmente escorregava por sua testa. Os sapatos, de fivelas, batiam-se contra o solo quando ele andava com seu andar característico, algo que mesclava brutalidade e soberbia.
Uma análise superficial de seu caráter revelaria que ele não era exatamente o modelo de capitão que os piratas normalmente procuravam. Era autoritário, petulante e orgulhoso. Navios piratas, ao contrário do que as pessoas pensam em geral, eram ambientes justos e democráticos, onde o capitão, elegido por uma votação em que toda a tripulação participava, devia comandar corretamente, agradando a todos os seus homens, ou seria tirado de seu posto. Sawyer abominava a democracia e bateria, com todo o prazer, no imbecil que a inventara.
Ademais, o capitão possuía um temperamento difícil e inconstante, de modo que os piratas jamais sabiam como lidar bem com ele, porque um determinado feito numa manhã poderia gerar reações diferentes no Capitão caso realizado no final da tarde. Apesar disso tudo, ninguém jamais havia tirado de Sawyer seu chapéu – um pouco grande demais - de capitão. Isso porque ele tinha uma capacidade quase sobrenatural de formular planos fantásticos – e, sobretudo, bastante lucrativos. Seus saques e seus botins eram realizados com uma perfeição magistral, e todo o sofrimento e injustiça a que sua tripulação se submetia era compensado com as riquezas que o capitão proporcionava.
É claro que a sua fama de cruel se espalhara rapidamente e espantava os piratas, que evitavam por os pés no Black Rock a todos os custos. Mas a tripulação, que possuía pleno conhecimento das riquezas que Sawyer que seus planos eram capazes de dar, lhe era fiel, e embora o navio aportasse em Tortuga quase vazio, ele costumava viajar cheio, beirando seu limite de capacidade de cem homens.
O vazio do navio era resultado de um incidente bastante infeliz — e curioso. Dois dias atrás o Capitão Sawyer e seus piratas haviam saqueado um galeão espanhol que transportava riquezas da América para a capital espanhola. Os porões do Black Rock, então, se encheram de ouros e de prata e isso inspirou todos a uma grande comemoração regada a rum, como de costume.
Naquela mesma tarde, perto de escurecer, eles foram abordados por um navio corsário francês. Tão bêbados como estavam, os franceses invadiram a embarcação e levaram todo o tesouro sem dificuldades, exterminando uma esmagadora parcela da tripulação do Black Rock que, entregues ao efeito do rum, mal puderam brandir suas espadas e lutar.
O capitão sobrevivera apenas porque estava bêbado a ponto de ser dado como morto.
Além de Sawyer, restaram três outros piratas no Black Rock. John Locke, o primeiro desses três, era o homem das armas do navio, cargo que conseguira alcançar depois de muitos anos dedicados à pirataria. Anos demais, na verdade. Era o pirata mais velho a bordo, o sea dog, ou pirata experiente, e Sawyer costumava dizer que ele já devia estar fixo em alguma dessas terras, desfrutando de todas as riquezas e comodidade que a vida de pirata lhe havia proporcionado.
Certa vez, enquanto bebiam uma generosa caneca de rum num bar pequeno e fedorento em Port Royal, o capitão perguntou o porquê dele continuar navegando. John retrucou, com os olhos azuis intensos brilhando do modo perturbador como costumavam brilhar, que ainda não tinha vivido a grande aventura de sua vida. Os dois ergueram seus canecos gordos em seguida, e brindaram, então. Brindaram à grande aventura de John Locke. Aquela que ainda não havia chegado.
Sayid era o segundo dos três únicos piratas – excluindo o capitão que, sendo capitão e sendo a autoridade máxima do navio, não devia estar incluído na listagem com os demais – que sobreviveram. Era um árabe cuja embarcação em que navegara cruzara uma vez, há cerca de cinco anos, com o Black Rock. Sawyer fora capturado naquele dia, e torturado por Sayid a mando de seus companheiros, num porão tão desagradável que lembrava uma caverna; mas as coisas se transformaram de tal maneira que o capitão acabou oferecendo um lugar em seu navio para Sayid, o, até então, inimigo. O árabe tinha um talento extraordinário como torturador e Sawyer, que ainda conservava um pouco de sua escassa prudência de pirata, pensou que seria mais confortável tê-lo ao seu lado do que tê-lo como oponente.
O último dos três únicos sobreviventes chamava-se Jin. Ele era o cozinheiro do navio e vinha de alguma parte do Oriente. Sawyer não sabia exatamente qual era essa parte, porque Jin não falava uma só palavra de inglês e todas as suas tentativas de extrair essa informação haviam resultado em Jin fazendo gestos frenéticos e desesperados de um lado e Sawyer fazendo gestos frenéticos, desesperados e extravagantes do outro. Ao final, o capitão concluiu que o dado não era realmente tão importante assim, contando que ele continuasse cozinhando suas ceias e alimentando sua tripulação. Ademais, Jin era um exímio amputador que já havia retirado inúmeras pernas e braços e mãos e o que quer que fosse de seus comparsas feridos em batalhas.
E com sua população reduzida a apenas esses três piratas e mais o capitão – desconfortáveis naquele vazio e gigantesco barco, grande demais para os poucos que eram – que o Black Rock ancorou no agitado e turbulento porto de Tortuga.
