Autor: Michiru Black
Notas: Harry Potter recebe uma breve carta de Draco Malfoy; com um pouco de filosofia. H/D Slash.
Malfoy Manor, 19 de novembro.
A mansão é muito quente, assim que sempre me lembro quando penso neste lugar. Aqui tem muito verde, e tem fogo, e tem luxo. Luxo deveria ser a satisfação de todos os sentidos, de acordo com o que li. É aquecedor mas não é uma boa memória; simplesmente reconfortante. Não teria saudades daqui por serem memórias, só pelo calor moderado.
Os tapetes são finíssimos, macios, brancos. Lá fora neva, da minha janela posso vera neve caindo. O glamour é calmo, indiferente. Esta noite, como todas as outras, tudo é indiferente.
Falar de mim é como falar de um tapete persa ou uma jóia. Não precisa ir muito longe, é como descrever uma parede. Simples, sem grandes significados, mesmo que ache que algumas paredes tenham muito mais significado do que eu (não ofendamos a parede!). Vazio, um imenso vazio eu sinto, não é frustração por não conseguir ser importante, é simplesmente o fato de que o importante não existe. Nada vale e eu compreendo isto calmamente.
Quem sabe eu tenha vivido muito bem, sem grandes emoções, sem grandes traumas, tenha sido mimado e perdido o valor por ela.
Harry, o universo é tão grande que nada mais posso fazer. Minha carta não é do tipo passional. Desesperada, mas sim plácida.
Harry Potter, pensar que, neste universo tão infinito, somos os mesmos, insignificantes partículas...Cansei de lutar no dia em que percebi isto.
No amor, não acredito nele, não há no que acreditar, para falar a verdade. Não é grande coisa, além de uma forma de nos distrair nesta vidinha insípida, assim como a eletricidade. O amor e a eletricidade são coisas fascinantes. Me deslumbrei diante da invenção engenhosa dos que não possuem magia. Quanto ao amor, me deslumbrou, ou melhor, me assustou a força que tem no psicológico de uma pessoa.
Muitos apostariam que Draco Malfoy não possui coração, que só usa as pessoas, mas, confesso, eu, Draco, já amei. Não sei por que fui me interessar por alguém que é tão diferente de mim. Talvez seja isso, que sabe, ou o fato de ser platônico por ser proibido. Tudo isso somado a uns olhos verdes ofuscantes e algo mais. Algo novo... O gosto pela vida.
O que senti foi indiscutível, inefável. As noites eram passadas na insônia. Sonhando, sofrendo, imaginando dramas e tragédias shakespearianas. O amor existe do jeito que pensamos; o fato de pensar é procurar amor ou esperança. O amar é uma distração, como xadrez. Harry, você joga xadrez? Gostaria de esperar e ouvir a resposta.
Sinto muito, Harry. Espero não ter posto drama de sobra aqui. Além disso, creio que todo suicida mereça uma bela carta de despedida, mostrando a beleza do defunto, mesmo que a idéia não seja nem um pouco original.
Harry, Harry; o sangue é vermelho e difere de tudo ao redor. Vai ser lento e doloroso, minha última peça. Última é a tentativa de provar para mim mesmo que existi.
Existo? Ainda sim. Logo serei pó de estrela.
Não tente me salvar, de modo algum mereço sua tentativa.
Harry, quantas vezes quis dizer seu nome. Harry!
Harry, Harry, Harry, Harry!
E aqui acaba meus pensamentos finais destinado aqui à pessoa que mais senti, não que eu tenha forças para mais escrever.
do fundo,
Draco Malfoy
