Capítulo I:

Lá estávamos nós, eu e Jesse, trancados no camarim dele, dando uns amassos. Eu sei, por mais desesperada que eu estivesse, essa atitude de trair aquela coisinha que assumia o posto de meu marido, com meu colega de trabalho mais gostoso, não era muito plausível. Ainda mais porque, considerando que a localização do camarim era logo acima da sala onde foram realizadas as filmagens do dia, ainda havia o risco de algum assistente ou alguém da equipe nos ouvir. Mas e se nos encontrassem, e daí? Isso seria tão ruim? Era só dizer que estávamos ensaiando uma cena ou algo assim... afinal de contas, éramos os mocinhos da novela, precisávamos nos dar bem, desenvolver uma certa química, para as cenas ficarem mais naturais... ou o que desse na cabeça do Jesse.

Quer saber, a quem eu estava tentando enganar? Eu precisava mesmo daquilo. Isso, sem mais rodeios. O fato era que Kurt era um amor e lindo, mas não gostava muito de ter relações comigo. Por isso, eu não precisava me atormentar com isso. Se eu estava fazendo aquilo com outro homem, era culpa de Kurt. Nem mesmo eu consigo ficar na seca durante mais de três meses seguidos. Eu precisava dos meus casinhos.

E não façam essa cara que eu sei que estão fazendo enquanto lêem essa baixaria que eu ando pensando depois de dois anos casada com Kurt Hummel (parem para pensar no nome que isso me rendeu: Rachel Hummel! Que tipo de impacto tem esse nome? Não tem nenhum!). Eu sei muito bem que aqui as opiniões se dividem entre "Então, por que está casada com ele?", "Sua safada!", "Você está na TPM, para estar tão irritada com tudo?", e até dois ou três que devem estar pensando: "HÃ!" Na verdade, não tenho a resposta para nenhuma delas (exceto a da TPM, que talvez eu esteja, mesmo...). Apenas estou num momento humilhante da minha vida, e me acho no direito de reclamar. Se não concorda, que se dane. Outra: melhor eu parar de falar com os leitores, porque é um desperdício colossal de tempo e espaço e eu estou começando a me sentir como uma idiota.


Bom, melhor voltar do começo da história. Tudo começou seis anos atrás, quando eu estava no segundo ano. Minha amiga e colega de coral Mercedes tinha uma certa... queda por aquele garoto chamado Kurt Hummel. Eu e Tina tínhamos certeza absoluta, desde o modo de falar e andar até os espartilhos e casacos até o joelho, de que ele era gay. Tentamos dizer a ela, mas ela não quis nos dar atenção.

Na época, estávamos tentando contratar um coreógrafo meio maluco para nos ajudar, e recebemos uma ajuda com fins misteriosos, vinda das líderes, para lavarmos carros e, assim, conseguir o dinheiro necessário. Naquele dia, eu não vi direito o que aconteceu, porque estava ajudando o Finn com o carro do outro lado, mas parece que Mercedes, que até então não desgrudava de sua paixonite, ouviu-o dizer que não queria ser seu namorado porque gostava de mim. Mais tarde, quando ela me contou, eu seriamente achei que ela estava rindo da minha cara. Eu não teria acreditado se ela não tivesse me confirmado, alguns dias depois, que era verdade.

Por isso, e pelo fato de na época eu gostar de um garoto comprometido (e com uma namorada grávida, como viemos a descobrir mais tarde, e que não era dele), e também por minha única outra opção, além de um garoto esquisito chamado Jacob, era ficar sozinha, resolvi dar uma chance ao Kurt.

De fato, depois de umas duas semanas de prática ele até que beijava bem, e também não se podia negar que ele tinha um rosto digno de se apreciar. Ele era cínico, e como era... mas acho que aprendi a gostar um pouco disso nele. Confesso, larguei dele pelo Finn, acho que umas duas vezes. E da segunda vez ele desistiu de me esperar escolher, e ficou com outra pessoa, mas eu resolvi ser boazinha com ele, e perdoei.

Assim que saímos do colégio, começamos uma faculdade de artes cênicas, mas com vinte e um anos de idade mal completados, ele recebeu o primeiro papel. Pouco depois, cerca de quatro ou cinco meses, começamos a novela. Era bom fazermos juntos a novela, e nossos personagens até já andaram tendo uns casos... mas meu par romântico era outro rostinho bonito, que atendia pelo nome de Jesse St James. Ele era o mocinho, eu era a mocinha. O personagem de Kurt era um vilão sem escrúpulos, mas amava minha personagem, e isso era muito fofo.

Eu sei, quem vê de fora deve pensar que eu não estou entendendo coisas que são óbvias, e que o problema não era que Kurt não gostava de sexo, mas que ele andava de caso com aquela dançarina chamada Catherine. Na verdade, eu sabia que não era isso, porque no início do namoro ele estava comigo por falta de opção, e do colégio para o início da faculdade, que foi quando tivemos nossa primeira vez, não mudou muita coisa no comportamento dele. E, de fato, ele já não gostou muito desde a primeira.


Voltando ao tempo real, Jesse realmente não deixava nada a desejar. Ainda bem que era solteiro... se bem que... melhor deixar para lá.

Vesti-me rapidamente e saí antes dele, para não ser pega no flagra. O problema foi que, na primeira curva do corredor, mal virei antes de dar de cara com aquele par de olhos azuis de censura me encarando.

- Kurt! Oi, amor! Vamos indo?

Ele ainda me encarava com sua expressão cética de sempre.

- Ainda não consegue fingir para mim, não é?

- O quê? N-não sei do que você está falando. Eu só estava... tratando de uns assuntos com o Jes, sabe? Problemas de... roteiro, essas coisas.

- Sei... olha, em primeiro lugar, Rachel, da próxima vez, eu seria discreto, se fosse você. Sério, se alguém além de mim flagrasse vocês dois fazendo o que não deviam, ia dar o que falar.

Ele empreendeu a caminhada até a saída, e eu o segui, sem perder o rumo da conversa. Nem o sorriso amarelo de vitrine.

- O quê...? Kurt...

- Sabe, em segundo lugar... eu não contraceno com você o tempo todo, e com ele, quase nunca. Mas eu faço parte do elenco. Eu conheço bem o roteiro.

Ele desconfiava. Como ele podia pensar essas coisas de mim? Certo, eu sei que ele não estava errado, mas eu não desistiria tão fácil. Ele não tinha nenhuma prova.

- Sabia que o sofá do camarim dele faz um certo barulho no teto do andar de baixo, quando mexe? Acho que não deve dar para notar de dentro, mas de baixo é mais perceptível.

Porcaria de sofá!

- Aquilo, na verdade...

- Ok, pode parar aí, Rach. – ele interrompeu a caminhada e voltou-se para mim, já cansado disso. – Você pode fazer o que bem entender, se esconder atrás das suas histórias, mas não me faça de idiota.

- Isso... não é uma letra do Simple Plan?*

- Isso não vem ao caso. Olha, você pode olhar nos meus olhos e fingir o que quiser, mas eu sei que...

- Simple Plan de novo.

- Eu não ia dizer aquilo – sua expressão continuou inalterada, mesmo comigo encarando-o. – Enfim, o que eu quero dizer é que... eu aprendi a saber quando você está mentindo, e agora você não me engana mais. Então, vamos pular essa parte, pare de mentir.

- O que você está insinuando? Acha que eu sou uma qualquer? Se quer falar alguma coisa, fale de uma vez!

- Rach, você não está naquela época de novo, está?

- Do que você está falando?

Ele me olhava com cara de quem queria evitar o assunto. Ele sempre fazia essa cara quando me perguntava se eu estava na TPM.

- E se eu estiver? Qual é o problema?

- Nada... mas eu podia jurar que tinha te perguntado a mesma coisa umas duas semanas atrás, e... não sei, acho que devia demorar mais um pouquinho, não concorda?

Francamente. Para alguém que tinha vergonha até de escutar a palavra "menstruação", meu marido conhecia bem demais meu ciclo. Mas Tina uma vez me disse que isso é um bom sinal, quer dizer que ele presta atenção em mim. Pensando a respeito, não é provável que um homem que sabe quando você menstrua esteja te traindo. Isso nem faz sentido, e só comprova o que eu já sabia.

- Escuta, eu só... ando meio irritada nos últimos dias, não sei o que está acontecendo que me deixa tão mal-humorada.

- Vamos indo – ele me puxou um pouco pelo braço, apenas até eu começar a andar sozinha. – É, eu estou mesmo te percebendo um pouco temperamental demais esses dias, mas... não sei, você sempre foi um pouco, se me permite ser direto.

Vai gostar de ser direto assim lá no...

- Se não gosta, por que casou comigo?

- Não disse que não gostava de você, só que você é um pouco temperamental...

- E que sempre fui! Agora, vai começar a dizer que eu sempre tive essa tendência a brigar com você!

- Se a conversa já está assim, acho melhor eu ficar quieto do que responder essa – assim que chegamos ao Porsche verde-limão (minha nossa, por que deixei ele comprar um carro dessa cor?), ele abriu a porta e entramos, sem parar o que estávamos discutindo. Assim que nos sentamos e colocamos o cinto de segurança, ele voltou-se para mim outra vez. – Rachel, você está chorando!

Eu não estava. Claro que não. Ele estava alucinando se achava que... não, eu estava mesmo. Droga, o que deu em mim? Por que eu estava tão bipolar esses dias? Enxuguei os olhos de uma vez, antes de responder.

- Não é nada... vamos embora de uma vez, não fique olhando para mim.

Ele me estendeu um lenço antes de ligar o carro. O que não fazia o menor sentido. Em primeiro lugar, por que será que um homem (casado, ainda por cima) anda com um lenço? Em segundo, era praticamente culpa dele que eu estava chorando, por isso me irritava que quisesse me fazer parar, era humilhante.

Mas afinal de contas por que eu estava chorando? Era Kurt que deveria! Era ele que tinha descoberto pelos próprios ouvidos o que eu estava fazendo com o Jesse. Espera, isso queria dizer que eu queria ver Kurt chorando? Porque, pensando nisso agora, eu não gostava de vê-lo chorando, porque eu achava que ele parecia uma menina quando chorava. Então, não devia ser esse o caso.


Por algum motivo, que eu não tinha certeza se era a decepção dele por descobrir minha mais recente aventura ou aquele choro que parecia ter vindo da combinação da culpa por essa aventura depois que ele descobriu, junto com a decepção por ele fazer questão de parecer nem se incomodar (corno manso...), ficamos o percurso inteiro sem se falar.

O silêncio pareceu eterno enquanto durou, mas a verdade é que durou bastante. Sem exagero, não trocamos nenhuma palavra pelo resto do dia. E, quando eu acordei, no dia seguinte, ele já havia saído para aquela entrevista para o programa de televisão de daqui a quase uma semana. Era nesses momentos que eu mais me amaldiçoava por aceitar me casar com aquele rapaz. Ele parecia dominar essa técnica de me evitar ao máximo e o mais casualmente possível, para eu ter tempo de me arrepender tanto de alguma coisa, que me daria vontade de cortar as veias do pulso com papel.

Juro que, qualquer dia desses, aquele mauricinho ainda iria aparecer "misteriosamente" asfixiado com gel para cabelo. Isso soa muito exagerado?

Continua...


^.^

N/A: antes de mais nada, gostaria de esclarecer o motivo pelo qual estou escrevendo essa... nem sei do que chamar. Bom, tudo começou outro dia, quando eu estava revendo a primeira temporada de Glee. Lá estava eu, feliz da vida(ou quase), perto de concluir o terceiro episódio(dublado, aliás), quando me vem a Mercedes e diz aquela maldita frase que prendeu na minha cabeça, onde começou a entrar em processo de putrefacção, me render pesadelos à noite e, então, me dar ideias para começar a escrever o que eu espero ser a pior coisa que já criei em toda a minha vida. Aquela frase que me assombrou durante noites e noites. A fala que pode e deve ser censurada pelos olhares e audições apurados de todos os fãs do Kurt. As seguintes palavras:

"Eu espero que dê certo entre você e a Rachel. Vocês vão ter filhos lindos... bem gatinhos."

acha isso exagero? Que bom, isso significa menores chances de você ser anormal como eu. Me desculpem, estou com sono. Enfim, a ideia principal da fic é a seguinte: quando a Mercedes disse essas... palavras ao Kurt, ele não diz a ela que é gay. Aliás, ele nunca se assumiu oficialmente como gay até então (mas isso não quer dizer que ele não seja!).

mudando de assunto, existe um motivo para a Rachel estar tão bipolar. Na verdade, eu não gosto dela (rsrs), mas não é por isso... aos fãs dela e/ou àqueles que sentem algum pudor do que leem, peço desculpas por fazê-la parecer uma... como ela mesma apontou... uma qualquer (para não dizer outra coisa...)

bom, esse cap teve Rachel PoV e a "participação especial" do Jesse. Não, ele não é nem um pouco importante na história. Eu só não quis deixar esse trabalho sujo com o Finn, mas ele vai dar as caras mais tarde.

*Aliás, a música do Simple Plan à qual a Rachel se refere na conversa com o Kurt é Your love is a lie.

O segundo cap eu posto em alguns dias, porque ainda não está pronto. Mas o PoV vai ser do Kurt. E vocês vão ver que (muito embora seja o favorito da autora) ele também não é nenhum santo...

bjinhos da Nessie xoxo, reviews me agradam!