Capítulo 1 - Entrevista
Gina acordou-se cedo pela manhã, tomou um bom banho, lavou os cabelos com seu xampu de chocolate favorito e pôs uma roupa bem vestida, chique e não muito extravagante. Pôs seus saltos pretos, o óculos de descanso(ela só o usava para ler, mas é que ele lhe dava um ar intelectual) e como ela estava indo para sua entrevista de trabalho, achou que ele seria, no mínimo, aproveitável.
Ela foi até o Metropolitano de Londres, morava bem perto de Essex e o trem a levaria até o centro da cidade, onde ficava o escritório de advocacia Potter office center. No seu relógio de pulso marcava 9:30 da manhã, porém, sua entrevista seria apenas as onze, na hora que o chefão Harry Potter, sairia de uma importante auditoria para conversar com ela.
Era cedo ainda, mas Gina achou melhor prevenir, pois já tinha ouvido falar muito de seu futuro chefe, ou não, muitas coisas, e na maioria delas ruins. Uma delas o fato de ele ser muito grosso, arrogante e também insensível. Muitos diziam ter medo dele. Gina não ligou muito para isso, até por que ela ainda nem o conhecia e as pessoas às vezes gostavam de falar muito, mas ainda sim ela quis se adiantar.
Gina tinha 24 anos e havia se formado, há um ano, em direito na universidade de Oxford. Havia se mudado da casa dos seus pais e morava em um dos subúrbios londrinos bem perto de Essex. Vinha de uma família simples e tinha seis irmãos, todos homens. Foi uma dificuldade para Gina mudar-se para Londres não era seguro uma mulher indefesa morar sozinha, mas ela queria viver sua vida, ter sua própria casa, emprego e até arranjar um namorado.
Levou exatamente 45 minutos para ela chegar até o Centro de Londres. Já estava quase na hora de sua entrevista. Ela parou em frente ao prédio e o observou por demorados segundos. Era bem alto, com formatos cinzas e um letreiro metálico onde se lia: POTTER OFFICE CENTER. Com um suspiro, Gina entrou pelas portas de vidro automáticas do local e direcionou-se para a recepção, apertando a pasta marrom com nervosismo.
— Claro que darei o recado, não se preocupe... logo o senhor Potter estará de volta. — A recepcionista falou, e com um ultimo sorriso ela desligou o telefone. Ela era alta, esguia e seus cabelos eram loiros claros e estavam, assim como os de Gina, presos em um coque.
— Oi. Com licença. — Gina falou para a mulher. — O senhor Potter já chegou?
— Ainda não. Parece que ele demorará um pouco mais que o esperado. — Ela falava com elegância e simpatia, por isso Gina sentiu-se mais apta a falar com ela. — Desculpe-me mas você é...
— Gina Weasley. Eu tenho uma entrevista com ele hoje.
— Ah! Mas é claro... eu ia esquecendo. — Ela olhou para Gina e acenou levemente com a mão, como se as duas fossem velhas amigas. — Você pode subir pelo elevador, pare no 11° andar e fique lá esperando por ele.
— Claro! — Gina falou já saindo, mas voltou. — Obrigada.
— De nada minha querida. — Gina ficou surpresa com a recepção da moça, não era muito comum ver londrinos tão simpáticos.
— Você sabe me dizer quantas pessoas chegaram?
— Como assim quantas pessoas? — A mulher perguntou sem entender.
— Ora! Pra entrevista é claro. — Gina reparou de relance do crachá que ela usava e viu que seu nome era Luna.
— Mas somente a srta. foi convocada, o Sr. Potter não gosta de entrevistar várias pessoas no dia, e ele gostou muito do seu currículo pelo que eu ouvi falar.
— Sério? Ele disse isso mesmo Luna? — De tão empolgada Gina falou um pouco mais alto.
— Bem... ele não disse realmente... mas se ele chamou você primeiro então é porque ele gostou. Quem trabalha com ele há muito tempo conhece o seu jeito.
— E você o conhece bem? — Perguntou curiosa.
— Acho que sim, trabalho aqui há três anos e aqui ou ali eu faço favores pra ele. — Ela falou com um sorriso sincero nos lábios. Gina pensou, mesmo sem querer, se esses favores eram pessoais ou profissionais.
— Bem, então é melhor eu ir, não é?
— Sim. Foi um prazer conhece-la. — Luna disse esticando a mão para Gina.
— O prazer foi meu Luna. Obrigada.
E dizendo isso, se retirou satisfeita e entrou no elevador. Era estranho por que, ao acordar pela manhã, Gina estava tensa e nervosa e, no entanto, ao chegar a empresa ela descobriu que tudo podia correr bem, e que pelo jeito que a recepcionista falou o Sr. Potter não era o monstro que todos descreveram. A porta do elevador abriu distraindo-a de seus pensamentos.
Havia uma recepção no andar da sala do Sr. Potter e foi para lá que Gina encaminhou-se. Uma mulher de cabelos muitos lisos e longos estava na recepção. Ela mexia no computador, e deu um leve sobressalto quando viu Gina encaminhar-se em sua direção. A mulher mexeu no computador e voltou a olhar para Gina com mais atenção.
— Olá. — Gina disse, observando os olhos puxados da mulher. — Eu vim para uma entrevista com o Sr. Potter.
— Claro! — Ela falou em um tom meio arrogante e Gina percebeu que ela lhe olhava desdenhosa. — Você pode esperar sentada enquanto o Sr. Potter chega.
— Obrigada! — Gina seguiu para o grande estofado de couro preto. Pegou uma revista de fofoca na mesinha de vidro e começou a folheá-la.
A sala era bem ampla e espaçosa, tudo ali parecia estar nos lugares certos, as paredes eram de cerâmica azul escura, tinha um vaso de samambaia perto do elevador, e um bebedor, havia duas portas brancas que davam para os banheiros, janelas de vidro com cortinas brancas, algumas poltronas também de couro preto, e duas grandes portas de vidro fosco e preto, onde era a sala do senhor Potter. As cores, Gina percebeu, eram na maioria escuras e opacas o que dava certo requinte de modernidade ao prédio.
Gina percebeu que vez ou outra a recepcionista morena lhe lançava olhares nada amigáveis, como se estivesse lhe estudando de alguma forma, mas não tão boa. Ela também olhava para sua roupa, e naquele exato momento Gina agradeceu aos céus que sua mãe tivesse comprado aquele terninho chique para ela. Seus cabelos ruivos pretos e os óculos lhe davam um ar de intelectual que Gina sempre sonhara ter.
Na verdade, Gina nunca se importou com rótulos, mas ela estava ali para impressionar o Sr. Potter, para que ele avistasse nela a pessoa perfeita para trabalhar ao seu lado, na qual ele confiasse e pudesse ver a seriedade de uma profissional recém formada, e isso ela estava certa de que conseguiria.
Uns trinta minutos se passaram desde que Gina chegara, sua excitação aumentou. Será que ele demoraria mais? Nem a secretária lhe olhava mais. Gina cruzou as pernas e começou a balançá-las em um ritmo tranqüilo e suave, até que a porta do elevador se abriu e de lá um grupinho de três pessoas saíram. Dentre elas o Sr. Potter, uma mulher alta de cabelos castanhos que o acompanhava ao celular e um rapaz de cabelos muito claros que vinha falando com ele.
— Mas é claro que os jornais irão comentar tudo amanhã. — A mulher ao celular falou pôs a mão no ombro do homem loiro.
— O que você acha disso Harry? — O rapaz loiro perguntou, e o Sr. Potter apenas olhou para ele com uma expressão hostil e balançou a cabeça.
Gina ficou perada em seu canto esperando, e percebeu quando a recepcionista foi até o chefe e lhe falou:
— A srta. Weasley já está aqui senhor. — Quando ela falou, todos viraram a cabeça e olharam para ela. Sem saber o que fazer, Gina abriu um leve sorriso e acenou de leve com a cabeça. A mulher de cabelos castanhos acenou de volta e o loiro lhe deu um sorriso sexy e acenou também; somente o Sr. Potter a ficou observando.
Ele a olhou um tanto quanto desdenhoso, suspirou profundamente, apertou a pasta preta em sua mão, falou algo para a recepcionista e encaminhou-se para sua sala com os outros dois em seus calcanhares. Gina pôs-se de pé e ficou a observar os três entrando para a sala e o Sr. Potter fechar as portas, sem não ates lhe lançar um olhar intenso. Gina não desviou o olhar mesmo que este tenha sido breve. A recepcionista aproximou-se de Gina e falou:
— O Sr. Potter disse que você podia sair assim que eles saíssem da sala. — Disse, referindo-se aos dois que haviam chegado com ele no elevador.
— Tudo bem. — Gina respondeu humildemente e sentou-se de volta no sofá.
A reunião durou pouco mais de uns quinze minutos e quando as portas finalmente se abriram, Gina sentiu um leve aperto no estômago; finalmente falaria com o Sr. Potter. Ao passar o loiro lhe deu um último sorriso encantador e a mulher nem sequer a olhou. Um pouco nervosa, Gina foi caminhando lentamente até a porta, passou a mão pelos cabelos, desamassou um pouco a roupa e entrou.
O Sr. Potter a observava assim que ela entrou, e ela mais uma vez sustentou o seu olhar com uma força que ela não sabia de onde estava tirando, ele piscou um pouco e perguntou:
— Vai entrar ou não? — Sua voz saiu rude e imprecisa. — Tenho muitas coisas para fazer.
— Desculpe senhor. — Gina virou-se fechou a porta atrás de si fazendo uma careta.
Ela andou até a mesa e sentou-se em uma das cadeiras de frente para ele. Na sala havia uma grande janela de vidro, e alguns quadros pendurados na parede. Havia também um vaso de flores(lírios) e uma grande estante de madeira com vários livros grossos e grandes, os quais Gina reconheceu como sendo de direito. O Sr. Potter abriu a gaveta, pegou um papel de lá e o olhou brevemente, depois voltou a observar Gina.
— Então srta. Weasley... por onde começamos? — Ele disse em voz profunda e a olhou. Gina o observou bem e viu, por detrás dos óculos que ele usava, como seus olhos eram de um verde vivo e brilhante.
— Bem... isso é o senhor quem decide. — Ela falou meio sem jeito.
— Claro! — O Sr. Potter desviou o olhar para o papel. — Então, a srta. se formou em Oxford, fez alguns estágios na Corporation lawyers, tirou nota máximas e tem um alto curso de informática e secretariado...
— Ah... Sr. Potter, tem mais uma coisa que não está no currículo. — Gina falou sem graça quando ele a fitou rudemente por causa da interrupção.
— É mesmo? — Perguntou ele sarcasticamente. — O que?
— Eu também sei falar francês fluentemente.
— Uau srta. — Ele estreitou os olhos. — Está sendo mais do que eu esperava.
Embora, em outra ocasião Gina, sentir-se-ia feliz, pois aquilo poderia ser um elogio, no entanto, da maneira desdenhosa que o senhor Potter expressou-se; de fato deixou a desejar de que ele pudesse estar não mais que zombando ligeiramente de sua cara. Porém, Gina pensou que ele não teria a capacidade de fazer tal coisa na presença da pessoa, levando em conta todo o seu discernimento profissional, sua classe e sua linhagem. Gina o observou com mais atenção, não queria se enrolar nas palavras.
— Eu venho sentido muito peso em minhas costas. — Ele levantou-se e começou a andar. — Eu acho... que... — Gina observava a beleza dele enquanto ele caminhava pela sala de costas para ela. Ele parou a janela e ficou olhando a paisagem cinzenta da Londres nublada. — Que preciso de uma assistente comigo.
— Assistente? — Gina perguntou confusa, afinal ela achara que ele a contrataria como uma advogada. O Sr. Potter virou-se para ela e pôs as mãos nos bolsos.
— Não uma assistente como está pensando, só preciso de uma pessoa que cheque alguns casos comigo. Eu não tenho tido o devido tempo para tomar conta das coisas da empresa. — Ele fez uma breve pausa e a olhou. — Além de você poder criar mais experiências, você vai me ajudar a planejar algo. Eu não quero mais casos, e este mês estou tentando me livrar de todos.
— Tudo bem. — Gina falou.
— Está entendendo? — Ele forçou-se a perguntar.
— Sim senhor.
— Eu sei que eu deveria passar para os outros advogados, mas... — Ele suspirou. — Estamos todos tão ocupados, estamos com mais casos do que planejado, todos estão sobrecarregados.
— Sr. Potter... eu não entendi o por quê de o senhor ter vindo logo a mim. — Ele a olhou confuso e contrariado. — Quer dizer, eu agradeço ter me chamado, mas existem pessoas mais qualificadas do que eu pra isso.
— Foi o que me disseram, mas... por que não? Eu quero opinião de gente nova, porém, competente. Se eu gostar do seu trabalho, ficarei com você, mesmo depois de terminar de me ajudar, no momento só o que quero é me desenrolar disso.
— Sim senhor.
— Meu pai disse que eu não deveria resolver casos ou não sobraria tempo para o monitoramento do funcionamento da empresa. Claro que tenho informantes, mas nada melhor que acompanhar de perto as coisas. De fato, tenho casos marcados até fevereiro do ano que vem porque ainda não tive tempo de olhar direito e é nisso que quero sua ajuda. Tudo bem?
— Sim senhor. — Harry ajeitou a gravata e voltou a se sentar.
— O salário por enquanto vai ser de 1.000,00 libras e com o passar do tempo, se você se adaptar e responder pode aumentar. — O Sr. Potter falou tudo sem rodeios e fitou-a com a mesma intensidade de sempre.
— Claro Sr. Potter, por mim está tudo bem.
— Ótimo! — Ele falou levantando-se da cadeira novamente. — Quanto antes isso começar melhor.
— O senhor quer que eu comece agora? — Gina perguntou confusa.
— Se estiver tudo bem pra você.
— Claro.
A manhã passou-se rapidamente. Juntos, os dois conseguiram organizar dois casos, por acaso, bilionários de fato. Gina percebeu que de longe o Sr. Potter era realmente um homem um pouco grosseiro, e até hostil, mas não podia negar o quão lindo ele era e que era um bom homem, de bom coração apesar do semblante frio e distante.
