CAPITULO UM
— Estou dizendo a você, o homem estava nu como um passarinho! — declarou Padma Patil em voz alta.
Atônita, Gina Weasley ergueu o olhar da pilha de livros que verificava no balcão de atendimento. A minúscula biblioteca pú blica de Greely normalmente ficava deserta a essa hora numa manhã de verão. Certamente, nunca tiveram problemas com um homem nu antes!
Logo em seguida, a irmã três minutos mais nova de Padma, Parvati disse:
— Bobagem. Já lhe disse que é hora de ir ao oculista nova mente.
Gina relaxou, percebendo que as irmãs Patil, já com setenta anos, mas tão animadas quanto sempre, estavam apenas fazendo o que faziam de melhor — matraquear. Eram gêmeas, mas não se pareciam em nada. Padma tinha cabelos acinzentados curtos e armados que refletiam sua personalidade severa. Parvati era mais suave, de cabelos brancos levemente cacheados e olhos azuis brilhantes cheios de compaixão e gentileza. Padma jamais piscava.Seus olhos eram como raios laser, nunca deixando es capar nada.
— O que acha, Gina? — perguntou Padma em expectativa. — Ouviu falar do nosso homem misterioso? Aquele que estava nu como um passarinho no telhado?
— Está me dizendo que há um homem nu no telhado da bi blioteca? — Perguntou Gina confusa.
— Não que eu saiba — respondeu Padma. — Estou falando do homem nu no chalé Poindexter. Lá no lago Momento.
— Eu já digo que ele não estava completamente nu, mas usava calça jeans. — Interpôs Parvati agitando um de seus sempre presentes lenços rendados.
— De qualquer maneira, ouviu alguma coisa sobre ele? — Inquiriu Padma a Gina.
— Não, não ouvi.
Chamassem de egoísmo, mas Gina sentia-se profundamente aliviada com o acontecimento que desviara a atenção de todos do desmanche de seu noivado com um dos cidadãos mais co nhecidos da pacata cidadezinha. Durante a semana — desde que seu noivo, Draco Malfoy, fugira faltando dez dias para o casa mento — ela se tornara o centro das atenções de Greely onde nessa época do ano o único divertimento era ver o milho crescer.
Gina ouvira os comentários sussurrados e as discussões não tão discretas quanto a ela ter sido "passada para trás", quanto a Draco ter "dado no pé", quanto ao bilhete que ele deixara. Draco sequer cuidara de deixar o bilhete na porta de suacasa, lembrou com amargura. Não, uma vez que a biblioteca ficava na estrada que levava a Chicago, foi lá que ele deixou sua explicação ao fugir com a cabeleireira Cho.
A notícia se espalhou rapidamente, graças ao fato de o bilhete ter sido lido por duas pessoas antes de chegar às mãos de Gina. Numa cidadezinha interiorana como Greely onde as notícias cor riam mais rápido que um ciclone a história de um noivado des manchado tão próximo à data do casamento era motivo de muita especulação. A situação era ainda mais constrangedora porque Draco insistira em convidar quase a cidade inteira para a cerimônia.
Jamais, desde a separação do príncipe Charles e Diana, as clientes do salão de beleza tiveram uma fofoca tão boa para ru minar. Os homens no barbeiro fingiam falar sobre o preço do milho e da soja, mas Gina captara o suficiente para saber do que falavam de fato. Dadas as circunstâncias ela estava feliz por ver os refletores sobre outra pessoa. O homem misterioso — quem quer que fosse — não sentiria a pressão.
— Quer dizer que somos as primeiras a lhe falar do homem misterioso? Ótimo! — Padma praticamente gritou de prazer.— Isso significa que estamos à frente daquela intrometida senhora Cantrell.
Gina sorriu ante esse exemplo irrefutável de armadilha.
— Telefonei para a imobiliária e me disseram que o chalé foi alugado por um mês — informou Padma confiante. — Não quiseram me dar o nome do locatário, mas comentaram que ele estava aqui em férias. Aí eu pergunto a você: quem quereria passar as férias em Greely? Ninguém alugou esse chalé em anos. A coisa toda me parece suspeita.
Gina sabia por experiência que tudoparecia suspeito para Padma Patil, que se achava a encarnação da srta. Marple de Agatha Christie. A anciã achava todos, especialmente a sra. Can trell, uns intrometidos. Por falar na sra. Cantrell, eis que ela entra correndo na biblioteca, o rosto vermelho de excitação.
— Ouviram sobre o homem misterioso...
— Que alugou o chalé Poindexter. — interrompeu Padma. — Claro que sim. Já não é novidade. Nós o vimos. E você? Já deu uma olhada nele? — provocou Padma.
— Bem, eu o vi no telhado do chalé há pouco. — respondeu a sra. Cantrell.
— Estava vestido? — perguntou Padma. — Ou estava nu?
— Não tenho certeza. — Declarou a sra. Cantrell claramente frustrada.
— Sem poder de observação. — resmungou Padma. — Não está ajudando. Não pudemos ver muito bem com os binóculos...
— Na verdade, são óculos de ópera e não se prestam a essa atividade. — ponderou Parvati.
— Precisamos de um desses telescópios potentes. — comentou Padma. — De qualquer maneira, tudo o que vi foi que tinha cabelos escuros e parecia bonitão. Também parecia que estava bem nu. Talvez seja um desses nudistas de que falam por aí.
— Estava usando calça jeans, estou certa disso. — insistiu Parvati dando tapinhas na testa com o lenço. — As vezes você não fala coisa com coisa apesar de ser minha irmã.
— Estou dizendo, estava de calça trabalhando no telhado. — reiterou Parvati. — O topo do telhado estava atrapalhando a visão, mas vi que tinha um tórax másculo. Não peludo demais como um gorila. Bronzeado e musculoso.
— Como os homens desses romances que você lê. — desdenhou Padma.
— É isso mesmo. As capas dos meus livros são melhores do que as capas dos seuscheios de sangue, armas e facas. Mas estamos nos desviando do assunto. Quero saber quem é esse ho mem e por que vai passar um mês em Greely. Gina, tem certeza de que não o conhece?
— O que a faz pensar que euo conheço? — perguntou Gina.
— Porque. — respondeu Parvati — você é a única pessoa na cidade com quem aconteceu alguma coisa diferente, além dos Olafson, cuja vaquinha teve gêmeos.
— Você sabe, a noite passada foi de lua cheia. — considerou a sra. Cantrell. — As pessoas fazem coisas loucas nessa situação. Coisas loucas como o noivo de Gina fugindo antes do casa mento. — Inclinou-se para dar um tapinha na mão de Gina animando-a. — Quem imaginaria que um moço bonito desses, tão popular na comunidade, faria uma coisa tão tresloucada? Prati camente deixou-a no altar. Não tivemos uma situação caótica assim em Greely desde... Bem, você sabe... — Lançou-lhe um olhar misericordioso. — ... desde aquele acidente infeliz com sua mãe.
Gina pensou estar preparada para a dor. Pensou ter as defesas bem preparadas. Mas bastou um momento de descuido da sra. Cantrell para perceber que estava enganada.
— Não era lua cheia quando Draco fugiu, assim não pode usar essa desculpa. — afirmou Padma ríspida. Então, para alivio de Gina decidiu: — Vamos voltar ao assunto do nudista misterioso.
— Você não mora longe do lago Gina. —ponderou Parvati. — São só duas quadras. Num gesto de boa vizinhança, podia ir lá e se apresentar. Talvez ele seja solteiro.
— Pode também ser um assassino de machadinha. — sugeriu Padma. — Por que está tentando empurrá-la para um assassino de machadinha nudista? Ela pode ter sido abandonada pelo noivo, mas ainda não está tão desesperada. Certo Gina?
Gina massageou a testa entre as sobrancelhas prevendo uma dor de cabeça.
— Não estou nem um pouquinho desesperada. — declarou enfática.
— Está vendo? Eu lhe disse — Padma dirigiu-se à irmã. Gina suspirou e tentou manter o resto de dignidade que restara.
— Se as senhoras me dão licença, preciso voltar aos livros que estava catalogando...
— Pobrezinha. — comentou a sra. Cantrell com as outras. — Fazem idéia do quanto é humilhante voltar ao trabalho depois de ser abandonada pelo noivo, que fugiu com outra? Eu ficaria arrasada.
E Gina estava arrasada. Nos primeiros dois dias, calara-se, como se a realidade fosse dolorosa demais para encarar. Então, bloqueara tudo. Mas não havia maneira de evitar os fatos. Havia compromissos a cancelar — a igreja, as flores, o bufe — tele fonemas a fazer. E os fizera, morrendo um pouquinho a cada um, ao mesmo tempo que aparava as bordas de seu sofrimento a fim de guardá-lo onde ninguém pudesse ver.
— Você pode fazer isso. — disse Gina a si mesma diante do chalé Poindexter, torta na mão.
Incapaz de se decidir entre uma torta de morango e uma de framboesa na confeitaria da cidade, comprara as duas após o trabalho. Em meia hora acabara com a de morango decidindo então livrar-se da de framboesa.
Desde que Draco a deixara já engordara três quilos. Se en gordasse mais a saia rosa e branca já não lhe serviria mais e era uma de suas favoritas. Usando a mão livre, ajeitou nervosa mente a gola da blusa e olhou para a escada que levava ao telhado. Ao se aproximar do chalé tentara ver se alguém trabalhando no telhado, sem sucesso.
Ciente da fase de má sorte que atravessava e querendo atenuar-lhe os efeitos, Gina evitou passar debaixo da escada — embora esta bloqueasse a entrada da varanda. Desviou pela lateral esquerda sentindo a madeira roçar em suas costas, ao que a torta quase lhe caiu sobre a blusa. Foi por um triz.
Ao bater na porta, já estava convencida de que aquela fora uma má idéia; eis por que respirou de alívio quando ninguém atendeu. Sem perder tempo, fez o caminho de volta pelo lado da escada para ir embora, quando, com o canto do olho, percebeu um movimento.
Ele estava de pé, perto da esquina da casa, segurando uma mangueira de jardim, refrescando-se com o jato d'água. Parvati estava certa. O homem misterioso trajava calça jeans que lhe caía muito bem. E tinha um tórax muitomásculo. Uma mulher, qualquer mulher, não importava a idade não deixaria de notar esses dois fatos.
Uma vez que a água lhe escorria pela cabeça, não poderia precisar a cor de seus cabelos, exceto que ficavam escuros quando úmidos. Com o olhar acompanhou o caminho da água por seu rosto e peito, contornando os músculos bronzeados até o cós da calça, continuando rumo aos quadris. Ele parecia gozar de muito prazer sob a água que lhe resfriava o corpo. Uau, ela já sentia a própria temperatura subir só de olhá-lo! Não era do tipo que comia os homens com os olhos, mas nesse momento não podia evitar. Havia algo nele.
A calça jeans desbotada se lhe ajustava ao corpo como uma amante. Aí, um fio de água passou pelo umbigo e mergulhou lá para baixo... Nesse exato momento, ele afastou a mangueira e olhou direto para ela.
— O que está fazendo aqui? — branqueou ele.
— Na-nada. — respondeu Gina, aflita, agarrando-se à torta como se fosse à própria vida.
Os olhos dele eram verdes — um verdes vivo — e brilhavam de raiva. Naquele instante, podia até ser um assassino de machadinha.
— Me deixe adivinhar — murmurou ele com desdém. — Mandaram você me espionar, certo?
— O quê?
— Aquele par de velhinhas que me vigia o dia inteiro.
— Elas não são velhinhas. — protestou Gina tomando as dores das irmãs Patil. — E não me mandaram aqui.
— Então, o que está fazendo aqui?
— Como vizinha, eu estava tentando ser sociável. Mas é claro que o gesto está além da sua compreensão. — retrucou ela zan gada.
— Não sabia que boa vizinhança significava ficar espionando o vizinho. Estava aguardando o resto da exibição?
— Ouça aqui, cara, você não é tãobonitão, ouviu bem. Já vi muitos melhores.
— Aposto como viu — murmurou ele.
Gina ficou desconcertada ante aquele olhar predador. Não queria que a conversa adquirisse tal sentido.
— Foi um erro vir aqui. — concluiu. — Não sei qual é o seu problema...
— Vou contar qual é o meu problema. — disparou ele. — Vim aqui para ter um pouco de paz e tranquilidade, não para ser o centro das atenções de um bando de solteironas ávidas por sexo.
Era a gota d'água! Sem pensar, Gina arremessou a torta bem no peito dele.
A expressão atônita dele lavou-lhe a alma.
— Bem vindo a Greely! — grunhiu antes de dar a volta e ir embora.
N/A: Hoje vi meus e-mails, e vi algumas Reviews que recebi, isso me fez lembrar que a muito tempo não posto nada, e como tenho mais algumas prontas decidi postar esta, tentei ver se tinha uma como esta fic e não encontrei então postei.
Aos leitores novos, sejam bem-vindos, aos antigos obrigado por não desistirem de mim.
Aqueles que um dia leram a fic Será que é difícil entender que te amo? Tenho um noticia de que em breve irei reposta-la e será todos os capítulos, no momento estou tentando me prender ao máximo no compromisso de terminar de escrevê-la e apenas quando terminar irei posta-la, assim não os deixou de novo na mão.
Voltando ao assunto desta fic, eu particularmente gosto desta história e como ela esta pronta o ritmo de postagem irá depender de vcs, mais de 3 reviews eu posto o próximo, já que este capitulo é muito pequeno.
