Disclamer: Saint Seiya não me pertence, nem seus personagens, o que é uma pena realmente XD
Esta é uma fic yaoi, ou seja contém relacionamento homossexual entre homens.
Camus POV
– Você quer que eu o quê? – praticamente gritou ele piscando pra mim aqueles incríveis olhos azuis. Parecendo realmente assombrado.
Bem, é claro que ele estava assombrado. Quem não estaria? Quer dizer, não é todo dia que um completo desconhecido entra na sua casa e lhe pede pra que você o ensine a seduzir. Tampouco eu costumo entrar na casa das pessoas propondo esse tipo de coisa. Não, de jeito algum! Muito pelo contrário, normalmente eu sou bem quieto e comportado. Monótono até, eu diria. Você sabe como é: frio, distante, calado, incapaz de expressar o que sente... enfim, o típico estereótipo do nerd emocionalmente fracassado. E, bom, que eu sou nerd eu sempre soube, mas emocionalmente fracassado pra minha infelicidade eu só vim a descobrir na semana passada.
Mas acho que é melhor eu me apresentar primeiro, não?
Meu nome é Camus Lefevre Chevalier, doutor em análise de mercado e comércio exterior, vice presidente da Invoice Finnancial and Factorig Corporate, e noivo da belíssima Saori Kido, herdeira das Fundações Kido do Japão.
E eu sei que agora vocês devem estar: "Uau! Nossa!" Tudo bem, quase todo mundo reage dessa forma mesmo. Mas vejam bem, eu nunca fiz realmente nada pra merecer isso, entendem? Quer dizer, eu estudei bastante, me graduei em Oxford e tudo, mas isso não me exigiu realmente um grande esforço, sabe? Digo, levando-se em conta que eu sou nerd e essas coisas. E, certo, eu até que sou bem bom no que faço, eu acho, mas vice presidente de uma multinacional aos 25 anos? Faça-me o favor! O problema, senhores, é que eu sou o filho do dono. Exatamente! Filho do dono! Então nunca importou realmente que eu fosse o melhor aluno da classe, ou que eu me doutorasse em Harvard, ou que fosse bom no que fizesse, entendem?
Não que por isso eu tenha algum tipo de rancor ou dificuldade de relacionamento com o meu pai, longe disso (isso é a vida real, afinal de contas). E eu até me orgulho dele por ter construído o que construiu, e tudo mais. É só que eu nunca vou poder saber o quão bom eu realmente posso ser no meu trabalho, nem nunca vou me sentir verdadeiramente reconhecido pelo que eu faço, sabe.
E quanto à Saori... bem, a Saori já é outra história porque eu realmente achava que ela gostava de mim. Pelo que eu sou, eu digo. Quer dizer, ela é amiga do meu irmão, o Hyoga, e eu a conheço desde menina já que ela é neta de um dos sócios do meu pai. Daí teve toda aquela coisa de ela meio que ter 'salvo a vida' do Hyoga no ano passado (quando ele foi baleado em uma tentativa de assalto que sofreu em Harvard. Dá pra acreditar? Como é que um aluno é baleado no Campus de uma faculdade tão famosa e ninguém nem fica sabendo?). E depois ela começou a dizer que gostava de mim, e era sempre tão carinhosa, que eu meio que acreditei nela. Tá, eu realmente acreditei nela. Até a semana passada, é claro. Porque na semana passada teve aquela festa e então eu pude ver, literalmente, o quanto eu estava errado.
O pior é que eu nem queria ter ido. Na festa, eu digo. Só que era uma dessas festas famosas do meio artístico. Daquelas, sabe, que sempre saem nas revistas e tudo? E não que eu costume frequentar esse tipo de festa. Ao contrário. Pra falar a verdade eu nem gosto de festa. Só que parece que era aniversário de algum diretor, ou empresário, ou sei lá (eu não sei direito porque eu realmente não me ligo muito nessas coisas), e o Afrodite, que é o meu melhor amigo (e que também é meio que meu irmão agora, já que meu pai e mãe dele se casaram finalmente, e estão em uma lua de mel prolongada pelo mundo que já vai pro seus três meses, e sem sinal de querer acabar), conseguiu alguns convites, que segundo ele eram impossíveis de se arranjar. E ele e o Hyoga insistiram tanto que acabaram conseguindo me arrastar pra lá.
É que o Dite agora está nessa de ser artista, sabe. E o Hyoga ainda está naquela idade em que se impressiona com esse tipo de coisa. Então, o que é que eu ia fazer? Quer dizer, o Hyoga é meu irmão caçula, ainda está se recuperando do tiro que levou há seis meses e tudo, e o Dite... bom, primeiro que o Dite sempre foi assim mesmo, cada hora resolve que vai ser uma coisa diferente, e depois, que desde que ele começou a sair com aquele namorado italiano dele (é, o Dite é gay), que é diretor de cinema, por sinal, embora não tenha feito nenhum filme realmente famoso, pelo menos nenhum que eu conheça, que o meu amigo colocou na cabeça que vai ser ator. Então não dava pra eu simplesmente dizer que não ia, dava? Quer dizer, isso seria demais até pra alguém como eu, que todo mundo diz ser frio, insensível e essas coisas, não seria? Mesmo porque, se você me perguntar, eu acho que o Dite finalmente descobriu a vocação dele. Sério! Porque o Dite é totalmente lindo, e carismático, e eu realmente acho que ele vai dar certo como ator. Então eu também tenho que dar algum apoio pra ele de alguma forma, não tenho?
E foi assim que eu me vi sozinho, irritado e mau humorado, naquela fatídica festa. Ou melhor, naquilo que me disseram que seria uma festa, porque aquilo podia ser muito coisa, inferninho, suruba, mas festa... realmente, eu tenho que rever meu conceito de festa pelos próximos mil anos se aquilo era o que chamam de festa hoje em dia. O lugar estava tão lotado que era impossível dar um passo sem esbarrar em alguém. A música alta, repetitiva e de péssimo gosto (fala sério, eu esperava algo melhor considerando a champanhe e o caviar que estavam servindo) parecia martelar meu cérebro, e o jogo de luzes me dava náuseas. Isso pra não falar na fumaça de cigarro, maconha e sei lá mais quantas outras substâncias psicotrópicas, que pairavam como uma nuvem pelo ambiente. Aquela altura, eu já tinha perdido a conta do número de vezes que tinham passado a mão na minha bunda, isso pra não falar de outras partes um tanto mais íntimas. Pra piorar o Hyoga e o Dite pareciam haver magicamente desaparecido em algum lugar daquela bagunça e eu não fazia idéia sequer de onde a Saori poderia estar.
E isso não era nada bom. Porque vejam, aquele não era exatamente um lugar onde vc se sentiria confortável de perder sua noiva ou seu irmãozinho recém operado. E tudo bem, eu sei que o Hyoga já tem 19 anos e que teve alta da cirurgia já faz quatro meses. Mas, ei, ele ainda é meu irmão caçula! E o médico disse que não era pra ele se esforçar, não foi? Então lá estava eu, andando de um lado a outro, entre cutucões, esbarrões, apertos e mãos bobas atrás dos dois perdidos, fazendo uso de toda a tolerância que eu era capaz de reunir, e já tinha quase que desistido da minha busca quando finalmente a encontrei. A Saori eu digo.
Eu já havia procurado por quase todo o térreo, e então, pensando que eles podiam ter se perdido procurando o banheiro ou algo assim, me aventurei pelos andares de cima do apartamento. Tá, reformulando, me aventurei pelo outros andares daquela gigantesca cobertura triplex (eu realmente não entendo a necessidade que certas pessoas tem de morar em um lugar tão grande). E acabei me perdendo pelos corredores, indo dar por mim em uma parte completamente deserta da propriedade. Por certo que se tratavam das partes mais íntimas da casa, pensei comigo, e já começava a me virar pra voltar quando ouvi uma voz que me pareceu familiar. Na verdade eu a reconheci imediatamente, porque era a voz da minha noiva. E ela parecia estar... gemendo?
Meio sem saber o que estava fazendo eu caminhei até a porta, que era de onde vinha o som, e girei cuidadosamente a maçaneta. Empurrei-na um pouco, apenas o suficiente pra poder olhar o que acontecia lá dentro, e foi então que eu vi. E imediatamente soube que além de nerd, eu era um total e completo fracassado na área amorosa
Porque a Saori, que se supunha ser a minha noiva, estava com a língua enfiada na garganta de outro cara! Na verdade, ela estava fazendo um pouco mais do que isso. Pelo que eu podia ver, e eu realmente não queria estar vendo, ela estava sentada de pernas abertas, em cima de um grande divã do que parecia ser uma sala de TV, com os olhos fechados e uma expressão de intenso prazer no rosto. A saia rosa dela estava levantada e ela estava nua da cintura pra cima, o que obviamente permitia que eu visse seus seios balançando fortemente enquanto ela subia e descia rapidamente sobre o corpo do homem abaixo dela.
E foi então que eu reparei... só que não podia ser verdade, podia? Porque entre as pernas dela, deitado no divã de couro preto, estava nada mais nada menos do que Milo Scorpion! O mais conhecido ator do momento. Indicado ao Óscar no ano passado e eleito um dos 10 caras mais sexy do ano pela revista People (eu sei disso porque o Dite é super fã dele). Então é claro que aquilo não podia ser real, podia?
Porque a Saori que eu conheço nunca faria uma coisa dessas. Digo, dormir com um cara que ela nem conhece e que, todo mundo sabe, troca de amantes como quem troca de roupa. Quer dizer, todo mundo diz que o cara já deitou com todo casting feminino (e grande parte do masculino) de Hollywood, por favor! E, além disso, o que diabos um ator badalado como ele (fala sério, até eu já tinha ouvido falar no cara!) iria estar fazendo naquela sala e com a minha noiva?
Então, sei lá, talvez eu tivesse atravessado algum tipo de portal dimensional, e ido parar em uma realidade alternativa, igual naquele filme que o Hyoga vive assistindo. Ou podia ser só um sonho. Era isso. Com certeza eu estava sonhando e, se eu me concentrasse bastante, ia acordar confortavelmente na minha cama quentinha e rir de tudo aquilo. Só que, ao contrário do que aconteceria se fosse mesmo um sonho, a imagem não desapareceu quando eu fechei e reabri os olhos, repetidamente. Não, ela continuou lá. E eles estavam tão entretidos no que faziam que sequer haviam percebido minha presença na porta. Que era onde eu ainda estava, por sinal. Porque eu não tinha realmente muita certeza de como eu deveria reagir, sabe?
Quer dizer, eu sei que o normal seria que eu já tivesse feito uma cena e tirado a Saori dali à força. E eu também sei que a maioria dos homens no meu lugar estaria furioso, louco de ciúmes, e talvez até desafiando o rival pra uma briga. Porque aparentemente é isso que um cara deve fazer. Quando pega sua mulher na cama com outro, eu digo. Só que eu não estava furioso. Não mesmo. Com o orgulho um pouco ferido, talvez, chocado, com certeza, mas realmente nem um pouco furioso. Nem com ciúmes, tampouco. A verdade é que eu não sentia nada além de curiosidade. O que é realmente muito estranho. Quer dizer, tudo bem que eu nunca fui muito dado a arroubos emocionais e tudo, mas que tipo de pessoa pega a própria noiva transando com outro cara e não sente ciúme? Nada? Só que eu não sentia. E não tinha a menor vontade de fazer uma cena. Então talvez eu devesse simplesmente, sei lá, sair de lá e fingir que não tinha visto nada. Só que aparentemente eu também não conseguia me obrigar a fazer isso. Porque inexplicavelmente meus olhos pareciam incapazes de se desgrudar de tudo aquilo.
Tá, na verdade eu não conseguia mesmo era tirar os olhos do tal Milo Scorpion. Mas não é nada disso que vocês estão pensando. É só que tinha alguma coisa nele que... Não sei... A forma como os cabelos dourados ondeavam em cachos desalinhados ao redor do rosto, e os lábios vermelhos entreabriam-se ofegantes. O abandono lânguido daquele corpo tão masculino. A maneira com que alguns músculos se contraiam e relaxavam no tórax exposto pela camisa aberta. A pele dourada de sol, tão diferente da minha, e os olhos incrivelmente azuis, que refletiam uma espécie de torpor sensual. Aquilo tudo, de alguma maneira que eu não sei explicar, meio que mexia comigo. De uma forma esquisita. E, talvez por causa de toda aquela energia sexual no ar, eu estava meio que... bom... começando a ficar excitado.
O que é totalmente estranho. De verdade. Porque vejam, eu não gosto de homens. Não que eu tenha qualquer preconceito com isso. Não mesmo. Eu até já tentei uma vez. Com outro homem, quero dizer. Vocês sabem, quando eu era adolescente, pra ter certeza. E mesmo que tudo não tenha passado de uns beijinhos, foi completamente estranho. E é por isso que eu realmente sei que essa não é a minha praia. Então era mesmo muito esquisito que eu estivesse... bem, um tanto excitado, de olhar pra aquele cara que, só pra lembrar, estava comendo a minha noiva. Ao invés de sentir todas aquelas outras coisas que uma pessoa normal deve sentir quando flagra sua mulher com outro homem. E foi exatamente isso, essa coisa toda de me excitar com outro homem, eu digo, que fez com que eu voltasse a mim, e saísse imediatamente daquele lugar. Que era o que eu deveria ter feito desde o primeiro momento, pra começo de conversa.
Só que enquanto eu caminhava de volta pelos corredores vazios por onde eu tinha vindo, a imagem do tal Milo, naquele torpor que antecede o gozo, teimava em não sair da minha cabeça. E isso realmente não estava ajudando em nada. Então eu meio que tentei forçar meu cérebro a pensar em outra coisa. No que eu iria fazer a partir de agora, por exemplo. Porque, mais importante que todas aquelas coisas que eu podia estar sentindo, eu realmente precisava definir o que seria do meu relacionamento com a Saori. Quer dizer, ela tinha me traído afinal de contas. E o normal nesse caso seria que eu terminasse com ela, não? Só que pra fazer isso eu teria que contar o que eu tinha visto. E isso seria totalmente constrangedor. E ela com certeza iria fazer uma cena.
Além disso, nós vamos nos casar em três meses e os convites já foram todos distribuídos, e muito dos presentes entregues. E nem morto que eu vou escrever, a mão, 500 cartões de desculpas, informando que não haverá mais casamento. Como, afinal, seria o esperado que eu fizesse. Claro que eu sempre poderia contratar alguém pra escrever pra mim. Ou colocar um anúncio no jornal informando o fim do noivado. Até parece! E ser conhecido corno a nível nacional? Porque o que é que eu iria dizer, afinal? "Ilustres convidados, é com imensa tristeza que venho comunicar que não haverá mais casamento, pois tive o desprazer de pegar minha excelentíssima noiva fodendo com o maior puto do mundo artístico"? Esquece!
Eu também poderia inventar uma desculpa, é claro. Dizer que o amor esfriou, que eu conheci outra pessoa, sei lá. Só que daí eu teria que aguentar as chantagens emocionais dela. E, obviamente, que eu não conseguiria esconder a verdade do Dite, e então teria que aturar ele me consolando. O que é uma coisa que eu odeio totalmente, e que ele adora fazer.
E, bem, está certo que ela me traiu e tudo, mas isso não apaga o que ela fez pelo Hyoga, apaga? Porque se não fosse por ela, por tê-lo encontrado e socorrido a tempo, quero dizer, ele teria realmente morrido com aquele tiro (quem mais estaria passando pelo Campus aquela hora da madrugada? Foi mesmo muita sorte ela ter perdido o último trem e ter voltado tão tarde pro alojamento). E o Hyoga, e o meu pai são tudo pra mim, então eu nunca vou ser capaz de compensá-la o suficiente por aquilo. Por isso eu definitivamente não posso arruinar a imagem dela. Cancelando um casamento assim, em cima da hora, eu digo. E só por causa de um deslize desse, ainda por cima. Tá, talvez eu esteja subestimando a coisa toda. Mas enfim, isso nem me afetou de verdade, não foi? Além disso, eu não posso realmente culpá-la, posso? Quer dizer, considerando que o tal Milo é totalmente deslumbrante e tudo.
Não que eu seja feio, não é isso. Porque eu posso ser um nerd sem graça, mas não sou totalmente de se jogar fora. Ou pelo menos é isso que o Dite vive me dizendo. Na verdade ele diz, naquele jeito meio afetado dele, que não entende como um 'monumento francês' da minha categoria (oui, je suis français) pode ter tamanha baixa estima. Só que o Dite é sempre exagerado assim mesmo. E eu não tenho baixa estima. Como eu disse, eu não me acho feio nem nada. Eu só, sabe como é, sou comum. Quer dizer, na medida em que alguém branco escritório, com uma terrível cabeleira vermelha e olhos de cor indefinida pode ser comum. Certo, talvez esquisito fosse a definição mais apropriada. Mas vejam pelo lado bom, pelo menos eu não uso mais óculos, a não ser pra leitura, e cuido bastante do meu corpo. Então já não podem mais me chamar de 'cenoura de quatro olhos', ou 'cenoura raquítica', como nos tempos de colégio. O que é realmente um avanço se vocês forem parar pra pensar.
Na verdade eu cresci bastante, fisicamente falando, desde aquela época, e sou mesmo mais alto do que a maioria dos homens que eu conheço. Mas o que eu quis dizer é que não tem nada em mim que realmente se destaque, entendem? Que chame atenção. No bom sentido da coisa, eu digo. Nada como cachos louros, olhos devassadoramente azuis, uma pele perfeitamente dourada de sol ou lábios sensuais. Nada disso.
Tampouco eu compartilho os traços meigos e os imensos olhos azuis do Hyoga, ou a beleza arrebatadora do Afrodite. Mas o que se há de fazer? Eu não sou filho de uma bela bailarina russa, como o Oga, ou de uma ex top model sueca, como o Dite. Minha mãe também era bonita, com certeza, mas era só uma francesa comum que meu pai conheceu na universidade. Ela morreu quando eu ainda era pequeno então eu não me lembro muito dela. Depois disso meu pai se apaixonou a primeira vista pela Natássia, em um espetáculo que a companhia de balé russa, da qual ela fazia parte, apresentou em Paris. Nós morávamos ainda lá naquela época, claro. E, três dias depois de começarem a sair, eles se casaram, no que o meu pai chama de um relacionamento 'tres romantique', e eu chamo de deveras inconsequente.
Mas o bom disso tudo foi que dessa união nasceu o Hyoga. Só que aparentemente a Natássia não ficou tão feliz quanto a gente com a chegada do bebê, porque um ano depois ela fugia com um amante que conhecera em uma apresentação na Eslovénia. E, sabe, até hoje eu realmente não entendo como alguém poderia ter abandonado o Oga. Porque ele era totalmente a criança mais linda e meiga que eu já vi. Coitado, ele ainda é meio traumatizado com essa coisa toda do abandono da mãe.
Então, finalmente, quando eu estava entrando no colegial, a gente teve que mudar pra New York por causa da filial que meu pai estava abrindo por aqui (que é onde eu trabalho atualmente, por sinal) e eu conheci o Dite. No começo a gente não se dava muito bem, porque, convenhamos, nós somos totalmente diferentes. Então, apesar de estudar na mesma escola e na mesma classe, e de sermos ambos estrangeiros no país, quase não nos falávamos. Só que, depois de um tempo, meu pai começou a namorar a mãe dele, que era viúva de um empresário grego (por isso o Dite tem esse nome. Mas, bom, antes isso do que um daqueles nomes suecos cheios de consoantes) e que ele conhecera numa festa. E ambos, mãe e filho, começaram a frequentar a nossa casa. E quando você começa a conviver mais de perto com o Dite é absolutamente impossível não gostar dele, sabe. Quer dizer, ele é totalmente irritante às vezes e tudo, mas mesmo assim. Porque debaixo daquela aparente futilidade se esconde uma pessoa verdadeira, amiga, doce, sensível e que se preocupa mais com os outros do que consigo própria. E no fim nós acabamos descobrindo que tínhamos mais coisa em comum do que pensávamos. Tipo o gosto pelas artes, livros, teatro e essas coisas. E isso, somado ao fato de estarmos ambos sozinhos em um país estranho, fez com que, apesar das diferenças, nos tornássemos melhores amigos bem rápido. E vem sendo assim até hoje. E já que agora meu pai e a mãe dele finalmente se casaram, ele também é meio que meu irmão, eu acho.
Mas como eu vinha dizendo antes de me perder nestas digressões, o caso é que não se podia realmente condenar a Saori. Por ter me traído com o Scorpion, eu digo. Porque não se pode realmente culpar uma mulher por sucumbir à um cara capaz de causar reações estranhas até em um homem totalmente hetero como eu. E, sei lá, talvez o problema fosse comigo, na verdade. Quer dizer, talvez se eu não fosse tão sem graça... Tão frio e fechado. Se eu fosse mais atraente e divertido. Se eu soubesse explorar melhor minhas qualidades, como o Dite vive me dizendo pra fazer. Então talvez ela não se sentisse atraída por outro cara. E talvez, só talvez, ela não tivesse se sentido tentada a ir pra cama com o tal Milo Scorpion.
E foi naquele exato momento, eu acho, encostado sozinho no bar daquela festa esquisita, a pensar naquelas coisas, que a idéia começou a se insinuar na minha mente e que a coisa toda meio que começou a querer tomar forma na minha cabeça. Só que, claro, eu ainda não tinha total consciência disso naquela hora.
Na verdade, a consciência só veio alguns dias mais tarde. Na noite de terça, pra ser mais específico. Quando estávamos todos em casa jogando cartas, e o Máscara, que é o tal namorado do Dite (Máscara é o apelido dele, é claro. 'Máscara da Morte', na verdade. E não me perguntem o porquê, eu realmente prefiro não saber) começou a falar alguma coisa sobre o Milo Scorpion. Que ele estava tentando produzir seu primeiro filme. Pelo que eu entendi da conversa toda parece que a grande maioria dos atores chega a certo momento de suas carreiras em que resolvem produzir seu próprio filme. Bem, ele estava nesse momento, ao que parecia, e estava desesperado atrás de um patrocinador.
E foi então que ela surgiu. A idéia, eu digo. Clara e nítida. Porque eu podia facilmente convencer os outros diretores da empresa a patrocinar o filme dele. O que significava que eu tinha algo que ele queria. E, obviamente, que ele também tinha uma coisa que eu queria. Realmente queria. Porque se eu fosse pelo menos um pouco parecido com ele, eu certamente conseguiria reconquistar minha noiva, e ela não teria mais necessidade de procurar outros caras. E então eu não teria mais que ficar pensando no que eu iria fazer sobre o casamento, que era no que eu vinha pensando nos últimos dias, e poderia me concentrar em outras coisas mais simples. Tipo, as oscilações da bolsa ou as cotações do mercado internacional.
E foi assim que eu vim a me encontrar, naquela sexta feira, corajosamente sentado na sala da casa do homem mais desejado da América (segundo a revista Time). Encarando os olhos azuis mais lindos que eu já tinha visto na vida. Fora de brincadeira. E tentando parecer calmo enquanto lhe propunha o que muitos achariam a coisa mais estapafúrdia do mundo. E talvez fosse mesmo. Só que eu não tinha outra saída, tinha? A única coisa que eu não imaginava é que pudesse ser tão perturbador ficar em uma sala sozinho com o famoso Milo Scorpion.
Notas finais do capítulo
Olá a todos,
Antes de mais nada eu queria dizer que eu não desisti de Wuthering Heights e que ela ainda é minha prioridade de atualizações. É só que Wuthering Heights é uma história mais densa, com um texto difícil de escrever, e eu precisava de algo leve e que fluísse fácil depois de ter quase todos os meus neurônios fritos pelas provas finais. Então essa história surgiu meio que como válvula de escape, só pra eu relaxar, e no começo não tinha nem trama. Só que do nada a trama foi aparecendo, e não é que ficou bem legal? Então eu resolvi postar.
Como vcs puderam perceber trata-se de um gênero bem diferente da minha outra história, e talvez os leitores que acompanham aquela nem venham a gostar muito dessa. Mesmo assim eu resolvi investir nela. Apostando em um estilo meio Chick Lit, pra variar. E eu sei que soa estranho falar em Chick Lit em uma história com protagonistas masculinos, mas como eu creio que 80% dos fãs de yaoi aqui sejam mulheres, não foge muito da proposta original.
Essa história, como eu disse, foi inspirada no livro "Aprendendo a Seduzir" da Patrícia Cabot, só que diferente de em Wuthering Heights, a intenção aqui não é fazer uma releitura do original, só a idéia mesmo que foi tirada de lá.
E eu sei que muita gente deve estar achando o Camus meio OOC aqui, mas essa é a minha visão do Camus. Pra mim, apesar daquele jeito quieto e sério por fora, por dentro ele pensa em quinhentas mil coisas (ele é aquariano afinal XD). Tudo que ele não fala, ele pensa, eu acho. E se alguém pudesse estar dentro da mente dele, na minha opinião, iria se surpreender com certeza. Então um POV dele seria, seguindo esse raciocínio, mais ou menos assim mesmo ^^".
Outra coisa é que apesar de eu sempre ver o Camus retratado como tendo sido lindo desde criança, eu tenho uma fixação com ele tendo sido uma criança feia e esquisita, que, no melhor estilo 'patinho feio', vira o homem deslumbrante que a gente conhece depois de adulto. Só que, claro, ele não se dá conta disso. XD
Bem, como a história é contada sob o ponto de vista dos personagens vcs tem que filtrar a coisa toda, porque a forma como eles vêem as coisas não necessariamente é a forma como elas realmente são. No próximo capítulo, teremos um PVO do Milo e então vcs vão reparar na discrepância de certas coisas quando vistas sob diferentes pontos de vistas.
Mas, bom, é isso aí. Espero que vcs gostem dessa nova história, agora com meu outro casalsinho preferido ^^
Bjos
