Fashion'

Por Juliana Nonato

Para Fabiana-sama

Feliz ano novo, maninha! Essa história é para você, espero que esteja retardada do jeito que você gosta!

Rating: T

Gênero: Romance/Comédia

Resumo: Ikki era o grande astro até que aquele rapaz sorrisse e o ofuscasse, e, mesmo que fosse discreto, ainda era um ofuscar. E o grande ponto disso tudo era que Ikki não estava tão preocupado assim em ter seu 'posto' roubado.

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Era tipo um programa de entrevistas. Havia um sofá vermelho. Havia uma apresentadora estúpida que só estava ali por ser bonitinha. E havia Ikki e Hyoga sentados no sofá, lado a lado. Ikki deixava os braços caírem preguiçosamente para trás do móvel e Hyoga olhava para os dois lados como se esperasse que Osama Bin Laden saísse correndo de cueca de trás de uma das câmeras.

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Já fazia cerca de cinco anos que Ikki estava fazendo trabalhos para aquela agência. Era um dos modelos mais perseguidos do panorama atual e seu temperamento arisco contribuía muito para que sua fama de 'alvo inatingível' o tornasse talvez ainda mais atraente. Estava fazendo uma sessão de fotos para um catálogo de perfumes quando viu o outro pela primeira vez.

Naturalmente, já ouvira falar do russo que estava quebrando corações ao redor do mundo, porém nunca o havia visto de perto. Conhecia de cor o discurso que as agentes e produtoras da indústria da moda teciam a seu respeito: angelical, olhos desconcertantes de tão brilhantes, rosto juvenil, e um sorriso que pararia um desfile de sete de setembro. E, naquela tarde, pôde constatar que havia verdades e meias verdades no tal discurso.

Certo. O rapaz era bonito. Tinha um conjunto de olhos claros e cabelos loiros, meio bagunçados, que certamente vendia uma falsa idéia de 'ser angelical'. Era alto, queixo firme, lábios bem desenhados, nariz pequeno, contudo, Ikki esperava uma figura frágil e pequena, e não aquilo! O loiro era alto, ombros largos, pescoço forte. Definitivamente não era o querubim renascentista que pintavam.

Coffee Break. Devia ser uma pausa para o café durante a qual os modelos respirariam, poderia descansar e relaxar músculos, contudo, como explicar o fato de o modelo moreno conhecido como Fênix ter voltado para a sessão de fotos completamente desconcentrado? Logo ele, que era o símbolo da imperturbabilidade?

Certo. Nesse ponto da história nós precisamos dar uma olhada bem próxima no que aconteceu. No ponto número um, Ikki estava com a cara fechada seguindo as orientações do fotógrafo. E, no ponto número dois, Ikki trazia um olhar vago enquanto esperava de maneira estranhamente paciente que a equipe de fotografia se aprontasse.

O grande dilema: o que aconteceu entre o ponto um e dois além da pausa para o café?

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Bom, a primeira vez em que nos encontramos eu acabei ficando realmente preocupado, sabe? Estranhamente, queria causar alguma impressão nele.

Aah, eu te garanto, Ikki, alguma impressão você me causou.

Fresco... – o loiro e o moreno se olharam por um instante, divertimento implícito em seus olhares.

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Era uma piada pronta.

Hyoga estava com um copo de cappuccino e Ikki bebia um expresso sem açúcar. Olharam-se por um instante que pareceu durar uma eternidade, cada um absorvendo a presença do outro. Hyoga foi o primeiro a quebrar o clima estranho, dizendo:

– Você é Fênix.

– Ikki. – o moreno corrigiu, instintivamente. Por algum motivo, gostaria que o loiro o chamasse pelo nome;

– Ikki. – Hyoga repetiu, sorrindo brevemente. E foi aí que o cérebro de Ikki parou de funcionar. Lembra-se, leitor, daquela história de 'aparência angelical enganadora', lá do começo? Aquela mesma que havia sido descartada? Bom, digamos que Ikki acabara de resgatar a definição. Aquele sorriso do loiro era algo que ele, Ikki, não via com freqüência no ramo em que trabalha. Naquele lugar em que as pessoas aprendem a sorrir em todas as situações, a andar e a falar para que o público as adorem.

Era diferente. Hyoga sorria quase como uma criança que acha tudo muito interessante. E mesmo que seu sorriso tenha sido breve, não fingiu por nenhum momento ser mais do que realmente era.

– Hyoga. – foi o que Ikki conseguiu expelir, quase como se fosse obrigado a dizer algo.

– Isso. Hyoga. – o loiro confirmou, seu belo sorriso se espalhando no cintilar de seus olhos. O momento parecia estar se suspendendo.

– Cisne. – a oscilação na voz de Ikki era compreensão. Compreensão sobre o motivo de Hyoga ter recebido aquele apelido. Estava tudo escrito ali: na elegância com a qual ele andava, na maneira como sua figura cativava o olhar e como seus gestos por mais simples que fossem – o erguer o copo de cappuccino, ou tirar a franja da frente dos olhos – pareciam suaves e precisos.

O silêncio se estendeu até que Ikki se desse conta de que estavam se olhando estranhamente havia uns bons minutos. Parecendo desconcertado, afastou-se sem dizer mais nada, abandonando o café sobre a mesa de quitutes, deixando atrás de si um loiro parecendo confuso.

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É que é estranho 'conhecer' alguém que em teoria você já conhece. Afinal de contas, no mundo da moda, você conhece a história de todo mundo que vale a pena conhecer. E, bom, na hora você sempre pesa o que te dizem e o que você está vendo.

Bom, devo dizer que você não me decepcionou, sabe? – Ikki falou para Hyoga, dedicando um sorriso de lado ao loiro que estava sentado ao seu lado no sofá, encarando a entrevistadora.

Você também não me decepcionou. É tão rabugento quanto me disseram. – Hyoga riu pelo nariz. O sorriso de Ikki aumentou quando se inclinou para sussurrar algo no ouvido do loiro que o fez engasgar e corar visivelmente.

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Era estranho. Agora, onde quer que Ikki fosse, Hyoga estava. No começo, faziam algumas campanhas parecidas, Ikki de um lado posando para uma grife e Hyoga para um comercial de roupas íntimas. Ikki e Hyoga desfilando para a mesma coleção de ternos e camisas. Se Ikki não estivesse tão preocupado em voltar seu olhar para Cisne, talvez tivesse percebido que os olhares de todos os outros ao redor iam para o loiro também. Mesmo quando ele estava por perto.

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Não vou negar que tenha me sentido ofuscado, sabe? mas isso não me perturbou como normalmente e perturbaria. Afinal de contas, eu compartilhava a mesma opinião de todos ao redor. Como? É se-gre-do. Se eu disser agora, esse fresco aqui vai ficar se achando.

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Foi no desfile de camisas e ternos. Era bastante complicado sair da passarela usando uma camisa de linho com sabe-se lá quantos trinta botões e voltar a tempo impecavelmente trajado com a camisa de cetim púrpura com babados da Idade Média. Por isso estava tudo uma bagunça nos bastidores: não havia gente o suficiente para ajudar os modelos a se trocarem.

Foi nessa situação que Ikki se encontrou desamarrando os cordões de uma bata e então abotoando a camisa de Hyoga enquanto um cabeleireiro gritava para que o loiro não se mexesse.

– Desculpe por isso. – o loiro ainda pediu.

Ikki, vestindo um terno cor de vinho por cima do torso nu, apenas sacudiu a cabeça e murmurou algo como 'parte do trabalho'. Uma série de botões minúsculos subia do peito do loiro até o final da gola, pouco abaixo da orelha esquerda. Ikki, já meio cansado, precisava se aproximar muito para não pular nenhuma casa. Foi assim que Hyoga teve o seu momento de controle zero: seus olhos trilharam o peito exposto do moreno descendo para os esparsos pêlos da barriga e subindo para o pescoço forte, os ombros musculosos, e permitiu que o cheiro de Ikki tomasse conta da sua mente.

– Tudo bem aí? – Ikki havia percebido a alteração na respiração do loiro e o encarava de perto.

Hyoga soltou o ar pela boca de uma vez e Ikki sorriu com malícia, olhando para os dois lados com apreensão. Ninguém parecia estar prestando atenção nos dois. Hyoga o olhava com curiosidade agora.

Como quem não quer nada, Ikki cruzou a pequena distância que os separava, permitindo que houvesse um suave encontro entre seus lábios. Doce como os primeiros beijos devem ser, com o sabor que as promessas devem ter.

Enquanto se afastava, permitiu que seus dedos corressem o rosto do loiro com uma carícia suave, tentadora, porém pequena, discreta. Entreolharam-se, vendo nos olhos um do outro a cumplicidade de quem sabe que a grandiosidade daquilo não cabia ao momento.

– Pronto. – Ikki disse, sua voz saindo rouca.

– Obrigado.

Ikki sorriu de lado.

– Sempre que precisar...

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Ah. Acho que foi logo nesse dia, mesmo.

Ai, me mata de vergonha... ela quer saber quando alguém viu pela primeira vez, seu escroto.

O quê?

Não quando foi a nossa 'primeira vez'. E sim qual foi a primeira vez que alguém soube.

Do quê?

De nós.

Ah. Era isso, moça? Então porque não perguntou assim? Acho que foi naquele coquetel, não foi?

Coquetel?

É. De lançamento da coleção daquela japonesa doida.

Que japonesa doida?

Aquela de cabelo roxo.

Ah, ta. Da coleção de verão da Saori Kido. Foi no coquetel de lançamento. E foi culpa dele. – Hyoga apontou para Ikki e afundou o rosto nas mãos, querendo sumir e agradecendo aos céus pelo programa não ser ao vivo.

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O som era alto e o lugar muito escuro. Neon podia ser visto nas paredes e no bar mas era impossível reconhecer alguém ou conversar. Pelo menos foi essa a desculpa que Ikki usou para convencer Hyoga a deixá-lo aproximar-se.

– Há quanto tempo não nos vemos, hein? Estou com saudades...

– Fica longe de mim.

– Você tem um cheiro tão bom... – Ikki fechou um braço ao redor da cintura do loiro e afundou o rosto no pescoço dele.

– Eu vou te bater...

O tom de voz de Hyoga, entretanto, era tudo menos repreensivo. Fazia mesmo tempo que não se viam e era quase certeza de que naquele canto ninguém os veria. Estava afastados do bar, parados num canto do salão onde a luz não batia com clareza. O loiro sentiu os dedos de Ikki erguendo a barra da sua camisa, traçando a base da sua coluna. Suspirou, buscando os lábios do moreno, traçando a boca bonita, suspirando, matando a saudade.

– Senti sua falta, Ikki.

Ikki apenas resmungou, abraçando fortemente o rapaz ligeiramente menor e respirando pesadamente contra o pescoço dele, sentindo o cheiro marcante de banho e laranjas e loção pós-barba. Apertou a cintura de Hyoga de encontro ao seu corpo, moldando-se a ele, e o loiro apenas suspirou, deixando seu rosto cair contra os ombros do moreno, cedendo ao calor confortante do corpo dele.

– A gente ta fodido.

– Que boca suja, Hyoga.

– Seja educado, então, Ikki, e me diga exatamente como se descreve essa situação.

Houve um silêncio tenso antes que Ikki respondesse:

– A gente ta fodido.

– Foi o que eu pensei.

Hyoga subiu as mãos pelas costas de Ikki, pousando-as ao redor do pescoço do moreno, acariciando-lhe a nuca, enquanto lhe roubava outro beijo. Em uma realidade distante de onde estavam, a voz de uma mulher anunciava que Saori Kido iria dar algumas palavras. Quando Hyoga abriu os olhos, todas as luzes estavam acesas, conferindo ao lugar uma iluminação tão clara quanto a de uma cozinha. E todos – repare bem: TODOS – os olhares convergiam para um ponto que, coincidentemente, era o ponto em que Ikki e Hyoga se encontravam abraçados.

– A gente ta fodido. – Ikki falou. Hyoga bufou, irritado.

– Isso ta ficando repetitivo, Fênix.

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E foi mais ou menos isso que aconteceu.

Sim, foi meio chocante. Quer dizer, pelo menos pro Hyoga foi. Eu não dou a mínima para esse tipo de coisa.

E depois o que aconteceu foi que começaram a nos chamar, por incrível que pareça, para fazer umas campanhas em dupla. Sei lá. Devem ter gostado.

Não foi isso, loiro. Na verdade, era por que ainda não tínhamos ido a público. Então ainda tinha aquele clima de boatos.

Foi nessa época que começaram a surgir aquelas gurias retardadas correndo atrás de gente com câmeras e cartazes. E isso nunca tinha acontecido antes!

Nunca mesmo!

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– Vocês precisam compreender – dizia o empresário dos dois, gesticulando nervosamente. – Que ser um modelo 'gostosão' – o empresário fazia as aspas no ar. – é uma coisa, mas ser um modelo 'gostosão' gay por outro modelo 'gostosão' é uma coisa que mexe com o imaginário feminino.

– Fetichistas desgraçadas...

– Não dá nem pra dar uns amassos em paz...

– Rapazes. Atenção em MIM, por favor. Eu não preciso ouvir isso. – Kamus, o empresário, tinha uma expressão impaciente. – Mas o fato é que isso tem feito a popularidade de vocês dois alcançar níveis estratosféricos. E não me perguntem o porquê...

– Esse povo é doido.

– Cala a boca, Ikki. – Falaram Hyoga e Kamus ao mesmo tempo. Ikki olhou de um para o outro, parecendo ofendido.

– Bom, eu só preciso saber se vocês estão dispostos a seguir com isso exposto ou se querem desmentir tudo...

– Eu não dou a mínima. – Ikki falou, fatigado.

– Não acho que teria utilidade alguma. Cedo ou tarde, os boatos reapareceriam e...

– Só por que você não consegue manter suas calças no corpo comigo por perto.

– Ikki!

– Eu já entendi. – Kamus interrompeu. – Então. Que tal algumas entrevistas para esclarecer a situação, assim pelo menos depois de um tempo as pessoas pararão de ir atrás de vocês querendo saber 'o que há' entre vocês.

– É uma boa idéia, Kamus. – Hyoga assentiu, já se levantando para ir embora.

– Yuhul, agora poderemos andar de mãos dadas em público, Hyoga! Não vai ser o máximo? – a voz de Ikki estava carregada de uma acidez perigosíssima. O loiro lançou um olhar cúmplice ao namorado.

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As fanfics?

Ah, elas não nos incomodam tanto. Pelo menos isso nós não somos obrigados a ler. Era pior quando essas meninas saíam correndo atrás de nós gritando e se descabelando.

Nem as fanfics, nem aqueles desenhos estranhos, nem os vídeos. Não faz mal, sabe?

Na verdade, alguns até me inspiram um pouco. – Ikki deixou um sorriso sacana aflorar em seu rosto e grunhiu de dor ao sentir o beliscão de Hyoga em seu braço.

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– Tem bastante material sobre vocês dois na rede. – foi tudo o que Kamus disse.

– Seja o que for...

–... não é verdade!

Ikki e Hyoga se olharam, contendo o riso.

– Não é nada grave. É só que suas fãs individuais parecem ter se unido para formar um exército de fãs. Isso além dos novos fãs. Vocês estão vendendo bem, meninos.

– É agora que a gente solta fogos?

– Achei que você tivesse algo importante a dizer, Kamus.

– Na verdade, eu tenho. Tem algumas revistas pedindo entrevistas e sessões de fotos. Algumas propostas boas e outras nem tão decentes e várias organizações da parte GLS estão enviando mensagens de apoio... – conforme Kamus ia falando, ele tirava coisas de dentro de uma caixa e ia colocando em cima da escrivaninha. Ikki limitou-se a erguer uma sobrancelha. – Daqui para frente, vejam quais propostas vocês acham interessantes e depois me consultem. Ah, e eu não aconselho que abram os envelopes com detalhes em dourado...

Ikki e Hyoga bateram os olhos num envelope vermelho com os dizerem 'G MAGAZINE' em dourado. Hyoga engasgou e Ikki falou que ia até a outra sala se matar e voltaria em breve.

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Que nada. O prazer foi todo nosso.

Sim. Foi ótimo participar do seu programa.

Sim, sim. Voltaremos assim que quiserem. Obrigado pelo apoio. É muito importante para nós, sabe? Não deixar histórias pela metade e tal.

Um último sorriso bobo do loiro para Ikki, que segurava carinhosamente a mão do namorado, e as câmeras foram desligadas. Ikki e Hyoga se entreolharam por um instante. Hyoga puxou a mão que Ikki segurava, irritado, e ralhou:

– Não fale comigo pelas próximas duas horas, Fênix.

– O que eu fiz?

– Você não sabe? Ah, você vai precisar daquela sua habilidade de renascer das cinzas, porque eu vou acabar com a sua raça, desgraçado.

Ikki coçou a cabeça e dedicou seu sorriso mais encantador ao loiro.

– Que tal aquele restaurante que o Kamus nos mostrou outro dia?

– Você paga. – Hyoga se ergueu com elegância, deixando o estúdio sem sequer se despedir da apresentadora. Ikki foi logo atrás, enlaçando a cintura do namorado e sussurrando em seu ouvido, beijando-o com carinho.

Opa. O que foi aquilo? Aparentemente Hyoga não estava tão irritado assim. Aquela fora a mão do loiro apertando a bunda de Ikki? Dou um zoom na câmera do celular e consigo capturar um beijo roubado. Suspiro. Os dois já desapareceram. Fecho cuidadosamente o slide do celular e saio com passos de ninja do estúdio, louca para chegar em casa e mostrar para a Fabi-sama o material que consegui para o nosso Doujinshi. Muehehe!