Disclaimer aviso legal 1: Os personagens da história não me pertencem, eu não lucro nada com essa longfic. Somente me divirto com os reviews que recebo.
Disclaimer aviso legal 2: Estou repostando esse capítulo, junto a outra história, por considerar que, tanto a fic postada antes "O anjo sem fé", tem uma ligação com este capítulo "Após a retirada". Espero que gostem!
Disclaimer aviso legal 3: Importante: há, neste primeiro capítulo, spoilers (trechos de diálogos de alguns episódios das temporadas 4 e 5, para melhor contextualizar as sensações e os pensamentos de Castiel.
Disclaimer aviso legal 4: Fic slash, ou seja, relação homossexual. Se não gostar é só fechar a página.
Título: Castiel, the angel of lord.
Autora: Vanessa W. Mutuca
Beta: CassBoy (o beta dos betas!)
Classificação: NC-17. Cenas de violência, de tortura e de sexo.
Sinopse: Desde o resgate de Dean até o momento no qual não se veem mais, Castiel continua sendo leal a Deus. Algo, porém, o faz se perguntar se tudo isso é válido, se não é melhor ir ter com seu protegido.
PS: Mostra o resgate de Dean e alguns fatos da 6ª Temporada (spoiler's).
(... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...).
Capítulo 1 – Após a retirada
As ordens soavam claras. Nítidas, veladas. Não havia nada que o obediente ser, de asas cobertas por penas brancas, azuis e negras pudesse fazer a respeito do assunto exposto por seuws superiores, muito menos desacatá-las, ou até mesmo impedir que o homem justo fosse condenado ao inferno... Porque tudo não passava de meras e inexplicáveis sensações. Força alguma, no entanto, o impelia a ir contra tais atribuições. Tratava-se de um soldado e nada mais. Cabia-lhe, naquele tempo de suposta paz, tão-somente obedecer aos seus comandantes.
Sabia que, contudo, não iria até lá para um simples e costumeiro resgate. Já fizera isso antes na companhia de seus irmãos e até mesmo sozinho, embora não tivesse autorização prévia para ir a um lugar tão perigoso sem o resguardo necessário. Portanto, para ele, executar tal missão não seria tão difícil quanto pensava.
Mas... Afinal de contas, por que o anjo refletia sobre um tema que sequer imaginava como terminaria? Se não conhecia as respostas para aquilo que sua mente intuía, então por que se preocupava com singelas hipóteses que mal entendia? Tudo que lhe restava era cumprir com as obrigações de que fora incumbido, como um fiel servo de Deus.
E foi exatamente o que ocorreu. Castiel e seus irmãos desceram ao inferno na primeira semana de setembro de dois mil e oito pelo tempo da Terra. O lugar, agitado e perigoso como sempre, se mostrava obscuro ao extremo, até mais intensamente do que o normal. Labaredas cobriam os vastos e sombrios corredores nos quais as almas estavam amarradas, amontoadas umas às outras. A densa fumaça podia ser vista ao longe, tamanha era a violência das chamas.
Aproximaram-se cautelosos. Não tinham a menor idéia do que encarariam, por isso decidiram ir com calma. Essa tinha sido a recomendação que Michael lhes passara, para que não alarmassem os adversários, a qual Uriel e Castiel – como os responsáveis pelo grupo celeste –, não pretendiam descumprir. Mas, diferentemente do que pensavam, falharam na missão. Os demônios eram tantos, que logo os seres alados se viram cercados por inúmeras criaturas malignas.
A luta foi feroz. Muitos anjos pereceram na batalha; outros, gravemente feridos, foram conduzidos às enfermarias do Mundo Celestial ao findar a contenda. As baixas no lado inimigo, contudo, não foram poucas. Vários dos demônios se desfizeram na lama e no fogo do inferno.
Castiel, entretanto, não estava satisfeito. E não era somente porque não obtiveram sucesso na empreitada. Na verdade ele não sabia por quais motivos se sentia dessa forma. Inquieto, se pôs a pensar. Tentava encontrar um modo eficaz de tirar o homem loiro do obscuro lugar. Mas como não obtinha apoio algum de outros soldados aliados, resolveu se calar.
O líder do exército celeste – Michael –, fez questão de conversar com o leal servo de Deus. Disse-lhe que estava espantado, que nunca ouvira falar de um soldado que se mostrasse disposto a encarar tamanho perigo. Mal sabia ele que aquilo não era novo, principalmente para o anjo mais jovem, que já se habituara a fazer visitas contínuas ao lúgubre lar de Lúcifer.
– Sinto-me pronto a ir lá sozinho, general – respondeu, o mais convicto possível. Aquela não era, segundo os conceitos de guerreiro que aprendera desde cedo, a hora de fraquejar, ainda que o perigo fosse maior do que em épocas anteriores, quando não havia tantos seres malignos a habitar o sombrio lugar. Deixaria de fraquejar não por si, mas sim pelo homem que sofria no inferno, e que sequer conhecia.
O ser alado recebeu, então, a imediata aprovação do comandante, que lhe ordenou que partisse dois Ciclos depois. Assim sendo, o humilde anjo se deteve a guardar forças para o momento que considerava o mais relevante de sua existência como um soldado do Senhor, embora vagas lembranças de tarefas passadas vinham à mente dele vez por outra. O foco, agora, era Dean Winchester. Não se permitiria falhar de jeito nenhum.
Castiel partiu, no dia 18 de setembro pelo tempo terrestre, em direção ao lúgubre local. Uriel e muitos outros, porém, desaprovavam com veemência sua ida, sempre que podiam. Somente Balthazar, outro membro do exército, admirava a coragem do colega de encarar uma ordem de tamanha relevância sem sequer buscar companhia.
Mas mesmo que quisesse, não havia como voltar, e o anjo, de belos e límpidos olhos azuis, não deseja desistir da atribuição. Ainda que lhe custasse a vida, iria até o fim para resgatar o homem justo.
Avançou em um vôo rápido, que surpreendeu até mesmo os demônios mais espertos. As criaturas das trevas não conseguiam alcançá-lo, por mais que tentassem. Adentrou a sala de Alastair, o torturador do inferno e começou a lutar contra ele. O combate não durou muito. Logo o maligno ser caiu inconsciente, o que facilitou a aproximação do ser angelical.
Desamarrou o corajoso caçador com agilidade e somente após respirar fundo e segurá-lo firme pelos ombros, sussurrou no tom mais sereno que conseguiu:
– Está bem, não se preocupe... Vai ficar tudo bem agora. Este não é o seu lugar, Dean Winchester.
Inexplicavelmente, Castiel estremeceu ao proferir o nome do sujeito, no entanto não deu atenção ao fato; era preciso tirá-lo do obscuro cômodo antes que não conseguissem escapar. O que, para extrema alegria do anjo, deu certo, sem muitos obstáculos pelo caminho. No mesmo dia o irmão de Samuel Winchester regressava ao planeta azul.
O jovem ser alado o acompanhou até o ponto onde o humano acordaria. Não queria que demônio algum ousasse feri-lo. Apenas se afastou quando percebeu que o despertar dele não demoraria.
– Dean Winchester foi salvo! – exclamou mentalmente, em enochiano, para que Michael o escutasse. Em seguida, o soldado ouviu as ordens transmitidas pelo general: deveria orientar o caçador, para isso precisaria se apresentar. Tentou fazê-lo, inicialmente, em sua forma angelical, o que infelizmente não foi possível; o homem, diferentemente do que imaginava, não tinha o mínimo preparo para isso.
Então, se deteve a procurar alguém apto a recebê-lo e, assim, Castiel estabeleceu contato com Jimmy Novak, um fiel publicitário devotado a Deus, que lhe serviria de receptáculo nessa longa jornada, a fim de facilitar a sua aproximação com o caçador.
De início, o mais velho dos Winchester's se mostrou incrédulo ao vê-lo tão impassível e seguro de si. Castiel teve de mostrar-lhe, então, a sombra de suas asas, para que o rapaz acreditasse que ele era, de fato, um anjo do Senhor.
O soldado continuou a interagir com o humano, embora os diálogos fossem, em certas ocasiões, bastante ásperos e sem o entendimento necessário de ambas as partes. Castiel não sabia bem por quais motivos, mas sentiu uma sensação estranha ao ser rude com o loiro após uma caçada desgastante, em que os espíritos despertos por Lilith, os quais buscavam se vingar dos caçadores que não os salvaram, retornaram ao descanso. Pela primeira vez em muito tempo, ele decidiu agir por si só e lhe mostrou, com palavras duras, quão séria era sua missão.
– Trabalho excelente com as testemunhas – iniciou, calmo.
– Ficou por dentro de tudo?
– Bem... Fui informado.
– Valeu pela ajuda angelical. Meu coração quase foi arrancado do meu peito.
– Quase.
– Achava que anjos deveriam ser guardiões. Asas felpudas, auréolas... Sabe, como Michael Landon. Não uns otários – retrucou, irritado.
– Leia a Bíblia. Anjos são guerreiros de Deus – ele tentava manter a serenidade. – Sou um soldado.
– Então por que não lutou?
– Não estou aqui para pousar no seu ombro – esclareceu, depois de suspirar audivelmente. – Tínhamos preocupações maiores.
– Preocupações? Tinha gente sendo feita em picadinhos aqui! E enquanto isso tudo acontecia, onde está o seu chefe? Isso se há um Deus.
– Há um Deus – afirmou, categórico.
– Não estou convencido. Porque se há um Deus, o que ele está esperando? Genocídio? Monstros perambulando pela Terra? O Apocalipse? Quando ele vai levantar um dedo sequer para ajudar os coitados que estão presos aqui?
– O Senhor age...
– Se disser "de modos misteriosos", vou quebrar o pau em você – o loiro féz uma curta pausa e prosseguiu: – Então, Bobby estava certo... em relação às testemunhas. Isso é algum tipo de sinal do Apocalipse?
– Por isso que estamos aqui. Há coisas sérias acontecendo – respondeu, embora não gostasse da agressividade no tom de voz do humano.
– Quero saber que tipo de coisas?
– Duvido muito, mas precisa saber. O despertar das testemunhas é um dos 66 selos.
– Espero que não seja um show na SeaWorld.
– Esses selos estão sendo quebrados pela Lilith. Ela fez o feitiço e despertou as testemunhas. E não só aqui. Outros 20 caçadores estão mortos – contou.
– É claro. Ela escolheu vítimas que caçadores não salvaram, para que fossem atrás de nós.
– Ela tem um certo senso de humor.
– Colocamos de volta aqueles espíritos para descansar.
– Não importa. O selo foi quebrado.
– Por que quebrá-lo, afinal?
– Pense nos selos como fechaduras em uma porta.
– Certo. O último se abre e...
– Lúcifer se liberta – completou em um murmúrio.
– Lúcifer? Mas achei que Lúcifer fosse só uma história que contavam na Escola demoníaca de Domingo. Ele não existe – concluiu.
– Três dias atrás, você achava que anjos não existiam. Por que acha que estamos aqui entre vocês pela primeira vez em 2.000 anos?
– Para deter Lúcifer.
– Por isso chegamos.
– Bem... tremendo trabalho até agora. Trabalho estelar com as testemunhas – o tom dele era de desdém. – Legal.
– Nós tentamos. E há outras batalhas... Outros selos. Algumas venceremos, algumas perderemos. Essa nós perdemos. A nossa quantidade não é ilimitada. Seis irmãos meus morreram batalhando nessa semana. Acha que os exércitos do céu deveriam simplesmente segui-lo por aí? É uma coisa muito mais abrangente. Deveria me mostrar mais respeito. Eu tirei você do inferno. Posso colocá-lo lá de volta.
Após esse tenso diálogo em sonho, na cabeça do primogênito de John Winchester, Castiel o levou ao passado alguns dias mais tarde, no ano de 1973, para que conhecesse a história de sua mãe, Mary, e para que esclarecesse como, afinal de contas, Azazel se aproximou dela. O anjo notou o esforço de Dean para evitar algo que não poderia, mas, mesmo assim, o rapaz tentou tudo que podia para protegê-la, o que era incompreensível para o dedicado guerreiro, que se acostumara a tão-somente obedecer às ordens que vinham do Paraíso.
Ao ser trazido de volta ao ano de 2009, o caçador conversou um pouco mais com o ser alado e, então, percebeu que, de algum modo, tais fatos estavam ligados a Sam. Castiel disse ao mais velho que o rapaz escolhera um caminho perigoso de trilhar, e que teriam de pará-lo, custe o que custasse. O loiro foi até o irmão para, com visível surpresa, se deparar com Ruby, que acreditava estar morta e para descobrir que o moreno fazia uso das habilidades que possuía. Embora estivesse furioso pelas recentes mentiras de Sam, Dean não o abandonaria, porque o jovem era sua família.
E os meses se passaram, com diversas caçadas. O ser celeste fazia inúmeras visitas contínuas e secretas ao Winchester mais velho, mesmo que não houvesse algo de tão importante assim a ser dito para o humano. Em muitas das ocasiões, Castiel sequer sabia por que razão estava em um quarto de motel qualquer, a dialogar com o homem que resgatara do inferno e que, de maneira estranha, sentia que devia protegê-lo de algum jeito.
Uma dessas conversas, entretanto, marcou a existência do anjo, pois nascia uma espécie de cumplicidade entre os dois. Após o Winchester mais novo utilizar seus poderes para matar Samhain, Castiel foi ter com seu protegido. Queria lhe dizer algo que não tivesse ligação com os selos e com a missão do loiro, mas não sabia se o homem riria por vê-lo se esforçar para parecer ser o mais agradável possível, ou seja, para parecer ser humano, já que tinha a nítida impressão de que sua postura de soldado obediente não era bem aceita pelo rapaz. E desejava agradá-lo de algum jeito, mesmo que tal fato lhe soasse estranho. As sensações terrenas se tornavam cada vez mais intensas e o homem que resgatara do inferno tinha inegável ligação com isso tudo. Então, para não se complicar, o soldado apenas cogitou perguntar como o Winchester mais velho se sentia, quando foi surpreendido por uma fala ríspida:
– Deixe-me adivinhar. Está aqui para o "Eu te disse" – cuspiu, rude.
– Não – foi simples na resposta, porque não era dessa forma que pretendia que tudo começasse. Não no exato dia que decidiu se aproximar ainda mais dele.
– Ótimo, porque não estou interessado – retrucou, como se não o quisesse ali.
– Não estou aqui pra julgá-lo, Dean – respondeu, incomodado por não ter a coragem necessária para mudar de assunto.
– Então por que está aqui?
– Nossas ordens...
– Já tô de saco cheio dessas ordens de vocês – interrompeu-o.
– Nossas ordens... não eram pra impedir a invocação de Samhain. Eram pra gente fazer o que você mandasse.
– Suas ordens eram pra seguir minhas ordens? – o loiro o encarou surpreso.
– Foi um teste... pra ver como você se sairia sob condições de campo de batalha.
– Era um bruxo... não a Ofensiva de Tet. Então eu falhei no seu teste, hein? Eu entendo – o anjo sentia, no tom do loiro, algo semelhante a mágoa, porém deixou que ele continuasse o desabafo. – Mas quer saber? Se você tivesse que abanar a sua varinha de viagem no tempo e tivéssemos que fazer tudo de novo, eu tomaria a mesma decisão. Pois não sei o que vai rolar quando os selos forem rompidos. Ora, não sei nem o que vai rolar amanhã. Mas o que eu sei é isso aqui... Essa garotada, os balanços, as árvores, tudo... ainda está aqui por causa de mim e do meu irmão.
– Você me entendeu errado. Não sou como você pensa. Eu estava orando para que escolhesse salvar a cidade.
– Estava?
– Essas pessoas... são todas criações do meu Pai. São trabalhos de arte. E embora terem impedido Samhain, o selo foi rompido. E estamos a um passo do inferno na terra para toda criação. E isto não é uma expressão, Dean. É literalmente. Justamente você deveria aprender a dar valor nesse significado. Te direi uma coisa se me prometer não contar à outra alma.
– Certo.
– Não sou pau-mandado, como você diz. Eu tenho perguntas. Tenho dúvidas. Não sei mais o que é certo e o que é errado, com você passando ou falhando aqui. Mas nos próximos meses, terá mais decisões pra tomar. Não invejo o peso que está sobre o seu ombro, Dean. Não mesmo.
Após isso, as visitas ao caçador se tornaram bastante freqüentes. Somente quando a jovem Anna, que na verdade era um anjo, teve um envolvimento com o loiro, Castiel decidiu por bem se afastar do rapaz por um tempo. Precisava se concentrar nas batalhas violentas contra demônios e, de fato, pensar no amigo não o ajudava em nada. Não sabia bem definir a sensação que o dominava, mas acreditava que fosse ciúme. Porque Anna tivera a coragem que ele tanto buscava em si para chamar a atenção de quem tanto admitia que amava. E aquilo o incomodava.
Seus superiores, por outro lado, também notaram quão distraído o soldado estava, o que foi o suficiente para questionar a excessiva proximidade existente entre Dean e o anjo.
Castiel fora incumbido, meses mais tarde, de aprisionar Alastair em uma armadilha enochiana, a fim de que o caçador pudesse saber qual demônio seria o responsável pelas mortes dos anjos da guarnição.
Uriel, por sua vez, levou o Winchester mais velho ao local em que o torturador estava preso e só não ordenou ao humano que fizesse o trabalho, porque o loiro pediu, antes de tudo, para conversar com o anjo dos olhos azuis sozinho.
– Vocês não andam muito. Vão ficar flácidos – fez uma curta pausa, assim que o outro ser alado desapareceu no ar, surpreso com o modo que o moreno o encarava. – O sem-culhão tem um melhor senso de humor que você.
– Uriel é o anjo mais engraçado da guarnição – explicou, tentando desviar seus olhos dos de Dean. – Pergunte a qualquer um.
– O que está havendo, Cas? – chamou-o pelo apelido que dera dias antes. – Desde quando Uriel coloca uma coleira em você?
– Meus superiores começaram a questionar minhas empatias – explicou.
– Suas empatias?
– Estava muito íntimo dos humanos sob meu comando – pausou a frase e baixou o olhar, constrangido. – Você. Acham que comecei a expressar emoções, uma entrada pra dúvidas. Isso pode prejudicar meu parecer.
– Diga a Uriel ou seja lá quem... que não vão querer que eu faça isso, vai por mim.
– Querer? Não. Mas foi me dito que é preciso.
– Se está me pedindo pra abrir a porta e entrar... não vai gostar do que vai sair dela.
– Se serve de consolo, eu daria tudo pra você não ter que fazer isso – concluiu, antes de se entreolharem mais intensamente.
Ainda assim, Dean concordou em transpor aquela porta. Tentou obter a verdade de Alastair, porém o demônio se soltou da armadilha. Surrou o loiro até que Castiel chegasse. O desejo de proteger o Winchester mais velho era tão forte, que o levou a não se concentrar na curta luta contra o torturador.
Coube a Sam, que acabara de chegar ao lugar, obter a verdade: os demônios não mataram os seres angelicais. A partir daí, Castiel fez de tudo para encontrar o responsável, pois devia isso a Dean, que estava no hospital, seriamente machucado.
E o soldado descobriu que, na verdade, Uriel assassinara os outros anjos, porque se negaram a auxiliá-lo a trazer o apocalipse. O moreno dos olhos azuis só não foi morto também, em um combate até certo ponto desigual, porque Anna o ajudou e pôs fim à existência do ser alado que tentara libertar Lúcifer da jaula.
Mas o ser celestial estava preocupado com seu amigo. Queria vê-lo, tentar pedir desculpas pelo equívoco, por ter colocado a vida do caçador em perigo – já que o plano inicial elaborado por Uriel era matar o loiro. Castiel foi visitá-lo e, ao invés da serenidade habitual que o caracterizava, demonstrava toda tristeza, todo nervosismo e toda confusão que o preenchia. Afinal de contas, perdera um de seus irmãos mais queridos – Uriel –, e tinha, a sua frente, seu protegido – Dean – bastante abalado emocionalmente. O anjo se sentia culpado por vê-lo assim.
– Você está bem? – perguntou, sem saber direito o que falar.
– Não graças a você – respondeu secamente.
– Você precisa ter mais cuidado.
– Você precisa aprender a montar uma maldita armadilha – retrucou.
– Não foi isso que quis dizer – respirou fundo, uma sensação incômoda o atingiu. – Uriel morreu.
– Foram os demônios?
– Foi a desobediência dele. Ele estava trabalhando contra nós – esclareceu.
– É verdade? Eu quebrei o primeiro selo? Comecei tudo isso?
– Sim – admitiu, pesaroso em lhe relatar aquilo. – Quando descobrimos o plano da Lilith para você, nós armamos um cerco no inferno, e lutamos para chegar até você antes que você...
– Antecipasse o apocalipse.
– Mas chegamos tarde demais – contou, enquanto se lembrava dos inúmeros irmãos que morreram na tentativa frustrada de resgatar o rapaz.
– Então por que não me deixou lá?
– Não é culpa que paira sobre você, Dean. É destino. E o homem justo que começa... é o único que pode parar. Você precisa parar.
– Lúcifer? O apocalipse? O que isso quer dizer? Não desapareça agora, seu filho-da-puta – apesar da dor, o caçador falava alto. – O que isso quer dizer?
– Não sei – um nó se formou na garganta do anjo, o incômodo se tornou insuportável. Tudo que ele queria era arrancar seu protegido do hospital e levá-lo consigo para sempre. Mas a voz do homem tornou a despertá-lo:
– Mentira!
– Não sei. Dean, não me contam muita coisa – comentou, temendo não ser compreendido. – Eu sei... que nosso destino está em suas mãos.
– Então, estão ferrados. Não posso fazer isso, Cas. É demais para mim. Alastair tinha razão. Perdi o jeito pela coisa. Não sou forte o bastante. Não sou o homem que meus dois pais queriam que eu fosse. Encontre outra pessoa. Não sou eu – o ser alado deixou o humano desabafar e chorar bastante, depois de abraçá-lo forte, como se quisesse protegê-lo de algo ainda maior.
Depois de um bom tempo de conversa entre eles, Castiel relatou a Dean o modo como Sam matou Alastair, e quão perigoso isso se tornaria, caso o caçula dos Winchester's insistisse. Os dois só não sabiam como o caçador mais novo fazia para ficar forte desse jeito.
Após uma rápida investigação, o anjo resolveu ajudar o loiro. Descobriu, pouco tempo depois que os Winchester's conversaram com Chuck, que na verdade seus companheiros objetivavam trazer Lúcifer a Terra para dar início ao apocalipse. Castiel tentou impedi-los, mas foi preso por Zachariah, que o fez concordar com os termos deles. Sem ter alternativa, pois precisava voltar de algum jeito para cooperar com Dean e com Sam, resolveu aceitar e cumprir as ordens que lhe foram dadas, antes de receber o auxílio de Balthazar, um amigo de longa data, para que se recuperasse da tortura que sofreu no Paraíso.
Quando regressou a Terra, fez o que pôde para ser frio com Dean, não lhe contando o que de tão importante dissera que lhe falaria. É claro que o loiro insistiu e tentou chamá-lo por várias vezes, mas Castiel não respondeu de imediato. Só o fez pouco antes de libertar Sam do quarto do pânico, pois o Winchester mais novo fora preso lá por Bobby e por Dean, que, por outro lado, após tanto insistir, convenceu seu amigo anjo a se rebelar e a lutar contra aquilo que estava escrito.
Os dois se dirigiram, então, ao local em que Chuck se encontrava, para saberem a localização exata de Sam, a fim de pará-lo o quanto antes.
Entretanto, o Winchester mais jovem matou Lilith, ainda que, no momento final, o moreno dos olhos azuis se rebelasse. Fez de tudo que estava ao seu alcance para que o diabo não fosse solto: enviou Dean para tentar impedir o caçador mais novo de abrir a jaula, o que não ocorreu. Tudo que os irmãos conseguiram foi matar Ruby – a responsável por alimentar o mais novo com sangue demoníaco.
– talvez se eu não tivesse demorado em minhas escolhas... – pensou o soldado, antes de enfrentar uma poderosa força.
Foi morto por Raphael, mas retornou. Deus o trouxe de volta, ainda que lhe fosse dito o contrário. Ajudou, na medida do possível, os irmãos e Bobby na difícil missão de impedir a luta entre Michael e Lúcifer, embora Castiel não considere que os tenha auxiliado tanto quanto gostaria.
Arriscar-se em uma viagem a 1978 para impedir Anna de matar John e Mary, cooperar, conforme podia, na capitura dos anéis dos cavaleiros e, por fim, fornecer informações úteis aos irmãos a respeito de criaturas jamais vistas antes, não era o suficiente para ele. E, depois, ter de lidar com a idéia de que Deus não se preocupava com o fim do mundo não seria tão fácil assim de suportar.
Perdeu seus poderes pouco tempo depois de bater em Dean Winchester, porque o ser tão cheio de fé já não sabia mais o que fazer para impedi-lo de dizer sim ao general do exército. Por isso o socou com vontade, mesmo que, na verdade, quisesse arrancá-lo do pesadelo que vivia, bem como fizera quando o retirara do inferno... Tudo porque, de fato, amava o humano. Por isso agiu desesperadamente, e se lembrava de cada palavra que dissera:
– Eu rebelei pra isso? Para que render-se a eles?
– Cas! Por favor! – ouviu o caçador, no entanto, não cessou os golpes.
– Eu dei tudo por você. E é assim que me retribui?
Diferentemente do que o moreno pensava, porém, o Winchester mais velho não aceitou Michael; coube a Adam, meio-irmão dos rapazes, ser o receptáculo do Arcanjo.
O plano não poderia ser outro. Por pior que fosse, era a única saída plausível. Sam foi até Lúcifer e disse sim. Após tantas perdas – Helen e sua filha, Jo, Ash, Gabriel, John, etc. –, aquela era a única saída para todo o planeta. O jovem se achou na obrigação de prendê-lo, já que o libertara.
A batalha entre o diabo e Michael quase aconteceu. Castiel, sem saber direito o que fazer para ajudar seu protegido, pois não tinha poder algum, jogou fogo sagrado no comandante do exército celestial, que não teve qualquer reação e desapareceu por alguns minutos. Em troca, Lúcifer estralou os dedos e matou o leal anjo, furioso com o fato de que o arcanjo fora ferido por outro ser.
Depois, quando tornou a reviver, Castiel teve a certeza de que precisava: Deus o trouxera de volta. Duas vezes. Ateve-se, então, a ajudar Bobby e Dean. O primeiro estava morto; o segundo, muito ferido, sequer conseguia se mexer. O Winchester mais velho pensou que seu amigo anjo fosse Deus, mas não... Ele jamais gostaria de ter tamanha responsabilidade para carregar...
Já no dia seguinte, depois de Sam ter se atirado no abismo flamejante, os três tomaram caminhos distintos. O caçador mais velho retomou o trabalho. Mas Dean não. Ele prometera, ainda que silenciosamente, que não o faria. Foi à casa de Lisa, onde faria o possível para ter uma vida normal, exatamente como o irmão quase lhe implorou. E se adaptara bem a isso, embora estivesse lá há apenas uma semana.
E quanto a Castiel, o que teria acontecido ao regressar ao Paraíso? Enfrentava uma guerra sem trégua e sem sentido. Batalha injusta que atravessava, de ponta a ponta, o Mundo Celestial. E que ele temia que viesse parar na Terra.
– Mas não. Não posso pensar nisso... Tenho de ser forte. Tentar parar meus irmãos de alguma forma. Talvez... Se ... Pedir ajuda a Dean... – refletiu, olhos fechados.
Repudiou, de imediato, esse pensamento. Considerava que o caçador não merecia ser tirado da vida tranqüila que levava. Outra idéia, entretanto, dominou a mente do anjo, em um impulso incontrolável: – Eu queria ir até lá – balbuciou, um tanto melancólico pela saudade que sentia do amigo que tanto amava, após quase duas semanas afastados.
Do alto de um prédio, Castiel visualizava o interior da casa de Lisa. Verificava, dessa forma, quão bem e seguro ele estava e se sentiu alegre por isso. Uma força, porém, o instigou a voar, a ir vê-lo de perto. Não. Por mais que as missões de combate o chamassem, não deixaria de ir visitar aquele que, na verdade, era bem mais que um amigo. O soldado sabia que deveria permanecer longe do rapaz. Era primordial cumprir sua missão até quando Deus o achasse útil para servir-Lhe. Mas... não. O anjo não se caracterizava por ser tão abnegado assim, ou pelo menos não deveria ser... – Então... Acho que é melhor descer – concluiu.
Adentrou a residência da moça em um suave bater de asas. Lisa, que recebeu seu amigo de braços abertos, sem relevar o perigo que correria por isso, sorria, enquanto saboreavam um jantar, ao ouvir Dean dizer, animado, que conseguiu um emprego. O anjo aproximou-se dele, que instintivamente olhou para o lado. Como, porém, o moreno não estava visível a olhos humanos, o caçador acreditou ter vislumbrado uma sombra qualquer.
– Tudo ok, Dean? – perguntou Bem, filho de Lisa, sempre atento ao homem que, apesar do pouco tempo de convivência, o considerava como um pai.
– Ta, tudo certo sim... Eu só pensei ter visto algo... Ou alguém... Mas deixa pra lá. – Sim, ele sentiu a inconfundível presença do amigo tão leal. Castiel saiu, em um firme bater de asas, porque não queria que ele o visse assim: ferido, abatido, solitário.
Mas não resistiu ao desejo de regressar a residência novamente, poucas horas mais tarde. O anjo tomou a conhecida forma humana – o receptáculo era o mesmo de sempre –, o corpo de Jimmy Novak. Para não assustar Lisa e o filho, resolveu aparecer da maneira convencional: tocou a campainha, após esperar por meia hora, certificando-se de que tudo estava em ordem; não pretendia ser seguido até ali.
Aflita por não esperar qualquer visita, a moça pediu a Dean que fosse ver quem os procurava em uma hora tão atípica – já passava das dez da noite. E ao abrir a porta, o loiro encarou a figura a sua frente, um tanto incrédulo pela aparição repentina, e o moreno notou tamanha surpresa nos verdes olhos do rapaz.
– Você... Não... Eu... – observava-o incrédulo e um tanto embaraçado. – Eu... Não...
– Quer que eu vá embora, Dean? – o humano fez um gesto negativo com a cabeça e abriu espaço para que o ser celeste entrasse na moradia.
Apresentou-o, em seguida, a Bem e a Lisa. Explicou-lhes que se tratava de um bom amigo dos tempos antigos, era um modo eficaz de preservar, pelo menos por enquanto, a identidade do fiel amigo. Ela compreendeu que se tratava do trabalho que o Winchester tinha e pediu ao filho que saísse da sala por alguns minutos.
– Querem conversar sozinhos? – perguntou, confusa por notar a surpresa nos olhos de Dean.
– Sim, por favor – o tom de voz dele era baixo, quase imperceptível. A mulher foi até onde Bem estava, deixando-os mais à vontade. – Nunca imaginava que viesse, Cas.
– Eu também não – o moreno o mirava sem qualquer expressão sentimental; era assim que deveria proceder, por mais que lhe doesse. – Eu apenas vim para reiterar... – não conseguia dizer o que pretendia.
– Como assim... Do que diabos você está falando?
– Eu não abandonei você, Dean. Por favor, não pense que me fui... Jamais o faria. E você sabe. Apenas há coisas acontecendo... Não vou colocá-lo em perigo, não dessa vez. Mas, apesar de tudo que tenho a cumprir, não deixarei de ser quem sou: seu protetor – Castiel desapareceu no ar sem falar-lhe mais nada. A emoção o dominava por completo, porém não podia permitir que o loiro o visse assim, tão frágil. E, além do mais, soldados descobriram onde ele estava; devia se preparar para um longo período de lutas intermináveis.
– Até onde isso vai, Deus? Até que momento eu permanecerei preso em tais desígnios, quando o que desejo é ter Dean Winchester ao meu lado? – questionou-se, antes de respirar fundo. Apesar de alguns ferimentos que ainda exigiam maiores cuidados, o anjo não poderia interromper a missão de manter o céu em ordem para, dessa maneira, garantir a segurança de Dean Winchester. Porque tudo, no fim das contas, se resumia ao belo homem de olhos verdes.
Fim do capítulo
