I.

Era verão nos Estados Unidos e, portanto, férias escolares, e, como a única condição imposta pelos pais de Rachel Berry e Tina Cohen-Chang, para que elas fossem estudar em outros estados, tinha sido que voltassem para passar as férias em Wyoming, lá estavam elas na pequena cidade rural de nome Ray. Tinham a companhia constante da amiga de infância Santana Lopez que, apesar de não obedecer às regras dos pais, como elas, queria estar com as companheiras de sempre, e a da californiana Quinn Fabray, que era colega de quarto de Lopez na faculdade de Washington, e fizera questão de ir conhecer de perto como era, afinal, a vida no campo.

Não havia muito o que fazer nas fazendas das três garotas criadas na região. Ou elas passavam o dia tomando sol na piscina da casa de uma delas, ou cavalgavam por uma das propriedades, ou viam filmes que tinham comprado na cidade grande, e por isso, em menos de um mês já estavam entediadas, e suspiravam ao pensar em sobreviver por dois meses inteiros ali. Apenas uma coisa poderia salvar um pouco as férias, e era o festival de rodeios, cujos shows de abertura aconteceriam naquela noite quente de sexta-feira, em um imenso galpão.

"Parece divertido." Disse Quinn, observando de cima o galpão se encher de gente.

"É divertido, se não compararmos às casas noturnas maravilhosas em que poderíamos estar agora, em Los Angeles, Nova York, ou até em Ibiza, se os pais dessas duas não fossem tão caretas." Santana disse, apontando com o queixo para Rachel e Tina.

"E também só é divertido porque estamos aqui em cima, no camarote, porque lá embaixo deve ser a sucursal do inferno com tanta gente." Comentou um rapaz chamado Blaine, que acompanhara Tina, por mais uma das muitas imposições do Sr. Cohen-Chang. Ele era filho do mais novo latifundiário da cidade.

"Os shows são bons?" Fabray perguntou, olhando para o palco, que ao menos estava muito bem equipado.

"Se gostar de música country, sim." Tina respondeu, indiferente.

"Ah, meninas! A gente até que costumava se divertir, ok? Não pode ser tão ruim agora, só porque não moramos mais aqui!" Rachel comentou, animada, ajeitando o chapéu de caubói.

"Não sei, não." Santana duvidou. "Mas pelo menos vamos tirar proveito do que podemos! Quem quer cerveja?" Questionou, referindo-se a uma das poucas vantagens de estar em Wyoming, que era o fato de, naquele estado, a idade mínima para beber ser dezoito anos e não vinte e um.

II.

Finn Hudson e Noah Puckerman entraram no galpão, já bastante cheio, cumprimentando alguns conhecidos e indo direto para um bar, que ficava em uma das laterais do lugar. Finn tinha chegado a Ray naquela mesma semana e já estava arrependido de ter ido visitar a cidade, mas Puck tinha esperança de que o amigo ficasse pelo menos durante os dias de festival e que, durante eles, os dois pudessem se divertir, como faziam juntos até um ano antes, quando Hudson se mudou para estudar e ele ficou no local, trabalhando ao lado do pai na criação de gado.

"Obrigada pela carona... e também pela cerveja, cara." Finn agradeceu, brindando, mas bastante sem jeito por estar bebendo às custas do amigo. "Eu precisava mesmo tentar me distrair."

"Não é nada, cara! Você já fez muito mais do que isso por mim." Puck lembrou. "Eu tinha obrigação de te tirar de dentro de casa."

"Quem vai cantar hoje? Você sabe?"

"Não faço a menor ideia." Deu de ombros. "Você sabe que o Puckzilla aqui nunca ligou muito pros shows, e sim pras menininhas dançando, nesses shortinhos curtos maravilhosos que elas colocam." Ele deu um gole em sua cerveja, depois de sentir o calor aumentando, ao observar as garotas em volta. "Olha quem tá ali em cima. Santana-gostosa-como-uma-diaba-Lopez!"

"Onde?" Procurou com os olhos.

"Ali, cara." Apontou com a cabeça, discretamente, apesar de ela não estar olhando. "Blusinha amarela... aquele jeito de safadinha!"

"Nós dois sabemos muito bem que não é só o jeito, né?" Riu, batendo de novo a garrafa contra a do amigo, mas paralisou, de repente, ainda olhando para o camarote. "É claro que ela estaria com a Sant." Falou baixo, mais para si mesmo.

"Ih, cara! Rachel Berry? Você se mudou daqui há um ano e ainda vai olhar pra ela assim, como um cachorro que caiu da mudança?"

"Ela tá mais linda ainda." Sorriu feito bobo, porque não conseguia evitar, mesmo sabendo que o amigo considerava aquilo uma atitude patética e até um pouco gay.

"Ela tá solteira." Puck soltou sem querer, se arrependendo logo em seguida, pois não queria encher o amigo de esperanças.

"É sério?" Perguntou e o outro apenas assentiu. "Eu preciso dar um jeito de invadir aquele camarote."

III.

Enquanto o manobrista recebia a chave do Camaro de Sam Evans das mãos do rapaz, umas cinco ou seis garotas se aproximavam dele e tentavam cumprimentá-lo ao mesmo tempo, fazendo o jovem rir da situação e a loira que o acompanhava apertar com força uma de suas mãos. A menina simples, filha de um vaqueiro e de uma professora primária, não estava acostumada a ser o centro das atenções, ao contrário dele, que tinha se tornado alvo de bajulação, vinda de todos os lados, depois de passar de filho de cozinheira para legítimo herdeiro do dono da maior fazenda da região, que tinha falecido há pouco mais de seis meses.

"Tem Sam pra todas vocês, meninas! A gente vai ter vários dias de rodeio pra se encontrar!" Afirmou sorridente. "Mas hoje eu já to muito bem acompanhado." Acrescentou, beijando o rosto de sua acompanhante, que sorriu timidamente.

Caminharam de mãos dadas até o bar e ele comprou duas cervejas, enquanto recebia cumprimentos de pessoas que sequer conhecia, mas que sabiam inclusive seu nome e tentavam parecer íntimas, como se ele apenas não estivesse se lembrando delas. Viu dois rostos conhecidos e, puxando a menina com ele, foi até três rapazes que, como todo mundo, usavam chapéus de caubóis, calças retas e cintos com fivelas grandes, mas que, assim como ele, ostentavam peças caras, de grife, e não artigos simples de fabricação local.

"Então é verdade que a cidade está recebendo as ilustres presenças de Finn Hudson e Mike Chang?" Brincou, abraçando os dois e também Noah. Tinha estudado com os três quase a vida toda, em um colégio pago pelo pai, que, na época, achava ser apenas o patrão de sua mãe.

"E então é verdade também que você agora tem, sozinho, mais do que o meu pai, o do Hudson e o do Puck juntos, hum?" Mike, que tinha chegado poucos minutos antes dele, e se juntado aos amigos, perguntou.

"Isso aí é você quem tá dizendo! Eu lá sei quanto tem os pais de vocês!" Riu, apresentando-lhes, em seguida, sua acompanhante.

"A gente podia ir ali mais pra perto do palco." Puck comentou, uma vez que perto do bar o espaço já estava ficando extremamente reduzido.

"Que nada!" O jovem milionário negou, animado. "Um Evans e os amigos dele merecem o melhor! Vocês já assistiram aos shows do festival, alguma vez, do camarote?"

IV.

Finn subiu as escadas sabendo que, naquele momento, sua sorte tinha acabado de mudar. Se a oportunidade de subir ao camarote e falar com Rachel havia caído em seu colo daquele jeito, ele só poderia esperar por coisa boa, ou pelo menos era nisso que ele queria acreditar. Seu olhar cruzou com o dela, enquanto ele e os meninos faziam um brinde, com bebidas pagas por Sam, e ela brincou com o nó em sua blusa xadrez, amarrada na cintura, desviando o olhar, sem jeito, mas não resistindo e o olhando de novo, sorrindo discretamente e recebendo um sorriso de canto de boca de volta.

"Eu não sei por que essa cisma, meu irmão! Só pode ser justamente porque todas as garotas daquela escola queriam você e ela não." Puck falou, depois que o brinde terminou e Mike e Sam se afastaram um pouco.

"E quem disse pra você que ela não me queria?" Finn perguntou, um pouco magoado.

"Ela passou todos os anos do ensino médio com o merda do Brody."

"Justamente! Ela não podia querer ninguém, porque ela tinha namorado, mas eu sei... que tem alguma coisa entre a gente."

"Então... tá esperando o que pra ir lá, mané?" Finn deu um soco de leve no ombro do amigo, pelo xingamento, mas riu e andou na direção da garota.

"Oi, princesa." Cumprimentou, quando já estava bem perto. Ele sempre a chamara assim, porque sempre a respeitara, não tentando nada mais ousado, mas nunca escondera seu interesse por ela, mesmo quando era comprometida.

"Oi, Finn." Ela respondeu, olhando bem para o rosto dele e pensando que era ele, na verdade, quem parecia um príncipe. A verdade é que não somente sempre soubera da atração que ele tinha por ela, como também se sentira muitas vezes atraída por ele, mas não achara seguro terminar com Brody por isso. Talvez ela nunca tivesse tido realmente coragem de terminar, aliás, não fosse por ele ter escolhido fazer faculdade na Europa, para onde ela não tinha vontade alguma de ir. Brody era a escolha de seus pais, por isso fora, por tanto tempo, uma opção segura.

"É verdade que você tá solteira?" Finn perguntou de supetão.

"Eu to ótima, Finny. Muito obrigada. E você?" Ironizou.

"Desculpa." Disse, soltando o ar pesadamente e colocando as mãos nos bolsos. "Como você tá? Como é a faculdade? Você tá gostando?"

"Eu to fazendo veterinária, e você sabe o quanto eu amo os animais, então..." Deu de ombros. "E você? O que você tá fazendo? Você tá gostando?"

"Eu to estudando História. Sempre foi minha paixão, então..." Ele repetiu o gesto dela. "Agora, me diz, por favor, Rach. Me diz que você tá mesmo solteira... e que eu vou ter, finalmente, uma chance. Me diz que ter vindo pra esse fim de mundo vai valer a pena." Pediu, se aproximando mais, tirando as mãos do bolso e segurando as mãos dela.

"Quem disse que, por eu estar solteira, você tem chance comigo, hum?" Bancou a difícil.

"Dois a um pra você!" Ele riu, mas não soltou as mãos dela e ela não pareceu se importar.

V.

Puck levou a garrafa à boca, tomando um longo gole de cerveja, enquanto observava Santana. Ela era a única no camarote que não vestia uma camisa xadrez de botões amarrada na frente, mas uma blusinha de alcinha justa e decotada, que, usada com um short jeans bem curto, deixava parte da barriga à vista, restando pouco para a imaginação. Não que ele precisasse de imaginação, uma vez que ele já tinha visto o pouco que a roupa cobria, então, na verdade, bastava acessar as memórias. Memórias estas que, naquele momento, fizeram com que ele achasse que poderia ser bom repetir a dose, e fosse até ela.

"Santana-gostosa-como-o-diabo!" Disse, sorrindo de forma safada.

"Pucker-nem-tão-man." Devolveu, nada simpática.

"Você não pareceu não me achar homem quando eu tava em cima de você. Nem depois, quando eu tava atrás de você... ou, ainda, quando eu tava embaixo." Riu.

"Eu não tinha nada pra fazer naquele dia, Puck." Revirou os olhos. "Hoje eu to com as minhas amigas que eu não vejo faz tempo e não to com paciência pra papinho de gavião."

"Me dá o telefone da fazenda, então. A gente faz alguma coisa outro dia."

"É a minha vez de ir buscar cerveja, Tina?" Ela perguntou à amiga, ignorando Puck. "Diz pra ele que eu to namorando, pra ver se ele para de me incomodar." Acrescentou, no ouvido da garota, antes de se dirigir ao bar.

"Ela tá namorando, Puck, então..."

"Corta essa, Tina! Eu conheço a Sant." Afirmou, fazendo com que ela nem perdesse tempo. "E aí, Anderson?" Cumprimentou o rapaz que estava ao lado dela e, quando se virou, a fim de ver se Finn estava tendo sucesso com Rachel, seus olhos capturaram uma figura loira desconhecida, debruçada na grade observando a multidão, e seus pelos se arrepiaram instantaneamente. "Caralho, quem é essa?" Perguntou, um pouco mais alto do que queria.

"É a Quinn, amiga da Santana." Blaine respondeu, e um sorriso, bem mais espontâneo do que aquele que ele tinha dado a Lopez, surgiu em seu rosto.

VI.

Mike viu a ex-namorada, Tina, de mãos dadas com um desconhecido, que ele sabia que só podia ser filho de algum amigo do pai dela. Tinha certeza de que Tina ainda era louca por ele, assim como ele era por ela, mesmo que eles não conseguissem se entender, e só não brigassem quando estavam transando, coisa que, aliás, eles tinham feito um dia antes de ela viajar para Ray. Não tinha como ela estar em um relacionamento sério com o garoto baixinho a seu lado ainda!

"Até o final da noite, eu vou beijar essa sua boca." Disse, disfarçadamente, perto do ouvido dela, tanto quanto seus chapéus permitiam, ao mesmo tempo em que passava a mão por uma mecha de seu cabelo.

"Eu to acompanhada." Ela falou, piscando para ele, e o rapaz o olhou, franzindo a testa, sem entender nada.

Mike permaneceu perto do suposto casal, que não se comportava como um, a não ser pelo fato de estarem de mãos dadas e de ele perguntar sempre se ela queria alguma coisa, de um modo gentil. Ela aproveitava todas as vezes em que o garoto olhava para o lado, observando o movimento, para olhar para o ex com semblante sugestivo, até que fez um sinal disfarçado, indicando que iria a algum lugar e ele deveria segui-la, quando o fizesse, e ele assentiu, discreto.

Não demorou muito para que ela pedisse licença a Blaine, e andasse na direção do corredor onde ficavam os banheiros. O lugar era escuro e, quando Mike se aproximou, ela o puxou, encostando-o na parede, colando o corpo no dele, e o beijando de um jeito faminto. Quem visse a mais nova componente do clã dos Cohen-Chang jamais imaginaria que, com aquela cara de santa, ele seria capaz desse tipo de atitude, mas Mike já a conhecia muito bem. Bastava que eles começassem para não pararem mais. Naquela noite, ela não iria mais escapar!

"Eu fiquei louca com você pegando no meu cabelo, lá fora." Ela falou no ouvido dele, enquanto ele beijava o pescoço dela e explorava seu corpo com a mão que não estava ocupada segurando o chapéu.

"Você sabe que eu posso fazer muito melhor."

"O Blaine não pode desconfiar, ou eu to ferrada com meu pai." Afirmou, colocando a mão por dentro da blusa dele e alisando seu abdômen "de tanquinho".

"Você vai ter que dar um jeito de se livrar dele." Informou, beijando-a na boca outra vez, sem sutileza alguma.

VII.

"Olá, Evans." Santana cumprimentou o garoto, que estava sentado em um banquinho do bar, sozinho, passando a mão no joelho dele.

"Oi, Santana." Ele respondeu de forma pouco simpática.

"O que foi, Evans? Não tá feliz em me ver?" Sorriu, maliciosa. "Eu tava ansiosa pra te ver. Até coloquei uma roupa pra combinar com seus cabelos e aquele seu lindo carro." Piscou.

"Na verdade, não, Sant." Respondeu, sem rodeios. "Eu fiz de tudo pra você me notar, durante anos de escola, mas, como eu era um duro, você nem olhava na minha cara. Agora, depois que eu fiquei rico, do dia pra noite, de repente você resolveu me dar mole e acha que eu vou ficar todo bobo?"

"Nossa, Sam. Que horror! Não precisa falar assim comigo." Ela se afastou um pouco, fingindo-se ofendida.

"Eu não quero ser grosso e talvez até role, um dia, porque você continua super gostosa. Mas agora tá chovendo mulher e eu posso escolher... e hoje eu já to acompanhado, entende?" Fez uma careta de lamento.

"E cadê a sortuda?"

"Tá vindo ali." Ele apontou a loira com trancinhas nos cabelos, que vinha caminhando de volta do banheiro.

"A Britt-Britt?" Ela perguntou, abrindo um sorriso enorme, sem nenhum ar de deboche.

"É... vocês se conhecem?" Ficou confuso.

"O pai dela trabalha pro meu, bobinho. Nós crescemos juntas e já brincamos muito... e de muitas maneiras." Mordeu os lábios, deixando-o ainda mais perturbado.

"Sant!" A garota quase gritou, abraçando a outra com intimidade. "Que bom que você tá aqui! Eu senti a sua falta." Completou, fazendo Sam achar que estava sobrando naquela cena e imaginar se não deveria escolher outra entre as muitas meninas dispostas a terminar a noite com ele.