Entre pais puxando crianças que iriam entrar para o primeiro ano, monitores correndo atrás de alunos que estavam empolgados demais com o retorno às aulas e grupos de garotas dando risinhos, estava um menino loiro, de cabelos arrepiados com uma quantidade inimaginável de gel e esforço e olhos verdes devastadores.
Gabriel Iodovin cansou de ser aquele menino adorável, exemplar e, se é pra ser sincero, com cara de nerd. Então, durante o verão, resolvera se reinventar. Parece bobagem quando falamos assim, parecia até sua mãe com seus livros "Comer, Enfeitiçar e Amar". Mas não tinha arranjado termo melhor para definir o que havia acontecido. Agora usava uma pequena argola na orelha, vestia uma jaqueta de couro, apesar do calor infernal da Estação King's Cross, e mascava um chiclete despachadamente. Olhava para os lados, procurando por seus amigos.
Durante suas férias inteiras esperou por aquele momento. Adoraria ver a reação dos colegas ao ver seu novo look. Se fosse a mesma que seus pais tiveram, ótimo.
"Minna vai pirar..." pensou na garota baixinha e tímida, sua melhor amiga. Ela não iria acreditar na coragem dele. Já começara a imaginar a expressão da menina quando visse a jaqueta de couro que quando alguém o chamou. Andrew Olivanders.
Ele correu para perto de Gabriel, esbaforido. Usava os cabelos ruivos de "weasley mestiço", penteados para trás, e uma jaqueta do Pegas de Montrose.
- Cara, - Andrew recuperou o fôlego. – Quase não chego a tempo.
Gabriel viu o grifinório o analisar de cima a baixo.
- O que aconteceu? Foi atropelado, mergulhou no piche e depois enfiou o dedo na tomada? - disse Andrew, rindo.
- Deixe de ser invejoso.
- Inveja? Sério? Bem se vê que você nunca foi o mais sensato de nós, meu amigo. - Andrew deu tapinhas nas costas de Gabriel.
Duas garotas da Corvinal passaram por eles dando risadinhas e cochichando.
- Senhoritas... - Olivanders cumprimentou, fazendo os risinhos aumentarem consideravelmente.
- Estúpido, cara. Odeio isso. - Gabriel reclamou, assim que as meninas se afastaram.
- Odeia o que? Garotas?
- Não, seu débil. Esses risinhos! "Você viu o loirinho?! Hihihihi" - Gabriel imitou, fazendo Andrew rir - Escutei essas baboseiras as férias inteiras. Por que não existem meninas sem risinhos?
- Você já pensou que talvez isso seja um bom sinal pro seu lado, meu amigo? E outra: meninas sem risinhos? Difícil. Só a Minna e, bom, ela não é muito menina...
- Olha lá hein, vê lá o que você fala dela!
- Calma, sou tão amigo dela quanto você!
Gabriel o encarou com uma expressão de deboche.
- Ok, tá, não tenho toda aquela conexão sonserina que você e o Sholk têm com ela, até porque isso me dá arrepios. Mas ela é uma das minhas melhores amigas sim. E tenho todo o direito de dizer que ela não é nada feminina. O Sholk parece mais uma menina do que ela, com aquele cabelão. E vamos mudar de assunto? Ele tá guardando uma cabine pra gente.
Sholk estava sentado em uma cabine logo no início do trem, com os longos cabelos presos em um rabo de cavalo torto e os grandes olhos azuis- escuros vidrados em algo que via fora da janela.
- Venham aqui! Olhem isso! - ele os chamou para espiar, sem nem ao menos tirar os olhos da janela.
Os meninos viram Olívio Wood, outro de seus amigos, conversando com uma garota. O capitão da Grifinória usava uma jaqueta vermelha com as inicias "OW" bordadas em amarelo, parecendo um ator de um filme americano para adolescentes. Ele sorria, radiante, para a menina que estava de costas para o trem.
Os garotos só viram que a menina tinha longos cabelos encaracolados e quase-azuis-de-tão-negros até a cintura. Usava uma calça jeans e uma blusa colada ao corpo magricelo.
- Poxa quem será ela? A Alícia não vai gostar dessa história. - Andrew cochichou.
- Pra dar bola pro Wood a menina deve ser desesperada - Gabriel comentou, ciumento, sabendo que 90% das meninas da escola se derretiam pelo capitão – É, ele não tava namorando a loirosa da Grifinória, a Spinnet?
- Pssiu... vamos escutar! - Sholk ralhou com os outros.
Todos aguçaram os ouvidos.
- Quantos anos se passaram desde que a gente viu? Você nem parece a mesma pessoa.
- É, eu não digo o mesmo de você. Ainda rola esse ar de galã.
Os três meninos reviraram os olhos com o elogio. Andrew fingiu vomitar.
- Vou acabar com a festa do Wood agora mesmo – decidiu Sholk. Então ele meteu a cabeça para fora da janela. - WOOD! PARE DE DAR UMA DE DON JUAN E ENTRE NO TREM AGORA! TEU NAMORADO ANDREW TÁ TE PROCURANDO!
Olívio adquiriu um tom de pele arroxeado, e uma expressão assassina, ao mesmo tempo em que Andrew deu um tabefe na cabeça de Sholk. A garota se virou para o trem e respondeu:
- Não sabia que o Olívio pegava o Drew, Sholk. Achei que vocês dois tivessem exclusividade – Minna respondeu, sorrindo.
Os meninos, chocados, constataram, que ela havia pintado os cabelos loiros nas férias, adotando madeixas negras, e perdido algumas das espinhas. O rosto, no entanto, ainda era o mesmo – os mesmos óculos sobre o rosto fino, os lábios rubros sem maquiagem.
- Por que sou sempre eu? – Sholk perguntou, pendurado na janela, aos outros dois.
- Vamos nos juntar aos losers? – Olívio revirou os olhos enquanto Minna assentia. Em questão de segundos, estavam diante deles, enquanto aquele silêncio constrangedor 'padrão' de quando o grupo se encontrava pela primeira vez após as férias tomava conta.
Os olhos de todos passaram pelos cabelos eletrocutados e pela jaqueta de couro de Gabriel, correram pelo porte atlético de Wood que, para o desgosto dos outros meninos, só havia ficado ainda mais evidente nas férias. Sholk tinha os cabelos ainda mais compridos e desgrenhados e Andrew mantinha suas sardas "do lado Weasley da família" sob uma camada fina de maquiagem que todos fingiam não ver, para manter a amizade. Minna, por sua vez, tinha crescido, pintado os cabelos e colocado uma pequena argola de um lado do nariz. Depois que o momento de análise passou, todos soltaram risos nervosos e apologéticos que logo se transformaram em uma gargalhada.
- Parem de me olhar assim!- Minna falou, brincando, escondendo o rosto com os cabelos.
- Minna, você espichou?- Sholk perguntou sem a mínima discrição - Rolou plástica? E essa bagaça do nariz que tá quase tão brega quanto o brinquinho do principezinho punk aqui? – ele indicou Gabriel.
- Pois saiba que eu curti o piercing da Minna – Iodovin reclamou, sentindo as orelhas enrubecerem logo em seguida.
- E para sua informação, não rolou plástica. Eu só pintei o cabelo.
Ela se sentou em um dos bancos da cabine, com os braços cruzados. Gabriel olhou para os olhos de Minna. A garota sorriu para ele, e foi como se os olhos dela sorrissem junto, como sempre. Aquela cumplicidade simples, rápida, que eles dividiam desde o primeiro ano. E, pelas suas mudanças, tão parecidas com as suas, suas ideias também eram bem parecidas.
- E eu? O Olívio é galã, o outro um pseudo-punk legal. Não ganho nenhum elogio da ala feminina? - Sholk cutucou Minna.
- Sai fora, Sholk. Como se você já não tivesse o ego inflado o suficiente – ela ri
- Depois dessa eu me jogava embaixo do trem! – Gabriel deu um peteleco na cabeça de Sholk e se sentou ao lado de Minna.
- Vamos nos comportar, para variar? Que tal me contarem como foram suas férias?
- Deixo o tema pra redação do Binns – Andrew muxoxou. Seu mau humor ao falar das férias era tão óbvio que ninguém pensou em insistir no assunto.
Assim que o trem começou a andar, Percy Weasley entrou na cabine.
- Alguém viu o Fred e o Jorge? Aqueles dois estão espalhando por aí que Harry Potter tá no Expresso. Dumbledore nos avisou que não era para gerar tumulto, mas...
- Peraí! Harry Potter tá nesse trem? – Andrew exclamou
- Tá... - disse Percy, revirando os olhos - Lembre-se, não queremos tumulto. Até mais.
Assim que Percy saiu, os meninos deram início a um longo diálogo sobre Harry Potter e seu feito memorável. Minna apenas escutou com atenção, já que não sabia muito sobre Potter. Quando escutar a conversa começou a ficar chato, ela se levantou.
- Vou comprar doces, alguém vai comigo?
- Eu vou. - Olívio se levantou e seguiu Minna.
Assim que estavam no corredor, Minna suspirou.
- Qual foi essa das férias do Andrew?
- Não faço ideia. Ele não me mandou uma coruja sequer nessas semanas. Mas eu aposto que ele deve ter levado um fora da Angelina. - Wood teorizou.
- Fala sério. Ele ainda tinha esperanças? E por que não comentou nada comigo? Eu podia dar uns toques, sei lá.
O olhar de Wood foi o suficiente pra Minna dar risada da própria argumentação.
- Tá, já entendi. Sou a menina mais inútil que vocês poderiam ter adotado no grupo. Porque, número um, eu sou um alienígena e não uma menina de verdade. E, dois, eu não sou um cara, então vocês não podem me bater quando eu faço bobagem. – ela imitou a argumentação que o próprio Wood e Sholk sempre usavam quando ela tentava assumir seu papel de garota.
- Que bobagem, Minna. – Wood deu seu melhor sorriso. A expressão de Minna ficou subitamente sombria. – Que foi agora?
- Será que o fato de sermos de casas diferentes está finalmente alcançando a gente? Afinal, sempre fomos os três sonserinos estranhos que andam com a dupla de grifinórios perdidos.
- Acho que isso não faz sentido. Nós adotamos vocês, não o contrário. E todos sabem das glórias gloriosas da minha casa.
- As glórias gloriosas das sete copas perdidas em sete anos consecutivos, você quer dizer. – Minna riu, mas logo engoliu o riso vendo que Wood ficara chateado com o comentário. – Ok, talvez neste ano as coisas melhorem para vocês. Afinal, agora você é capitão.
- É. Talvez.
- E, depois que ganharem o troféu, você vai ficar inflado de orgulho e me isolar. Os sonserinos não valerão mais nada. Serão formigas vistas do seu pedestal de capitão vitorioso.
Olívio sorriu com a lógica calculista de Minna. Ela tentou falar aquilo em um tom bem-humorado, mas ele sentia a preocupação por baixo de suas palavras. Era nesses raros momentos que ela mostrava o motivo de ter parado na casa de Slytherin.
- De jeito nenhum.
- Espero que isso seja sério.
- Claro que é. Pode confiar em mim.
Ela sorriu e, por um minuto, Olívio sentiu seu rosto formigar. Será que estava corando? Sua garganta coçou por um momento e ele precisou pigarrear.
- Já passamos três anos juntos por aqui. Não sei como pode pensar que eu trairia o movimento.
A lealdade incansável de Olívio, Minna refletiu, se vendo nos olhos castanhos do garoto. Não era por menos que ele havia ido parar na Grifinória. Nenhum sonserino que ela conhecia, mesmo os que ela admirava, se esforçariam tanto por outras pessoas.
No momento em que eles pegaram os (vários) doces, Alícia Spinnet apareceu no corredor do trem, sorrindo de uma orelha à outra. Lógico que no momento em que ela viu Olívio acompanhado pela 'cobrinha sonserina', ela fechou a cara. Não querendo arranjar problema, Minna pegou os doces da mão de Wood e, sem dizer uma palavra, começou a voltar para a cabine dos meninos, deixando-os a sós.
- Minna, onde você vai? – Olívio reclamou. A garota deu uma piscadela compreensiva para ele e saiu rapidamente. Lógico que ela sentia aquele familiar nó no peito sempre que via Wood com outras meninas, ainda mais com Alícia, já que o negócio entre eles parecia estar ficando sério. Mas a essa altura do campeonato, Minna já tinha prática em disfarçar. Sabia que sempre seria a amiga, aquela que ri das piadas sujas, a nerd que ajuda nos deveres de poções. E tinha perfeita noção de como era estúpido gostar do capitão de quadribol do time da Grifinória. Tinha criado até um jogo interno e ganhava pontos cada vez que não esboçava alguma reação comprometedora quando estava próxima de Olívio.
Nos últimos dois anos em que fora apaixonada por ele, tinha acumulado vários pontos.
Assim que ela abriu cabine, com sérias dificuldades por estar carregada de doces viu Sholk voar do seu banco para cima dela. Tudo pareceu entrar em câmera lenta. Com uma mão, de alguma forma, ele segurou os dois braços de Minna e com o outro braço, pegou todos os doces e, com um salto, voltou para seu lugar. Minna ficou paralisada.
- E então, - ele disse, com a boca cheia de sapo de chocolate - como foram as férias? Ou vamos realmente deixar todos esses detalhes picantes para a redação do Binns?
Tentando desviar a atenção do chocolate escorrendo pelo canto da boca de Sholk, ao mesmo tempo em que se recuperava do susto, Minna respondeu:
- Fui para a praia com meus pais. Perdi as contas de quantos "Aí branquela!" eu escutei. Eu já sou praticamente albina, mas imagine ficando quase quatro anos sem ir à praia. Aí decidi que, se eu pintasse o cabelo, não pareceria tão esquisita. Mas essa cor só ressaltou ainda mais meu bronze de barriga de lesma. Talvez se eu tivesse escolhido um castanho...
Ela percebeu que o olhar dos meninos havia se tornado distante, desinteressado. Lógico. Depois de anos andando com "homens" ela deveria saber que papo sobre beleza não iria entretê-los. E, por um lado, ficou aliviada. Sentou-se ao lado de Gabriel e buscou o olhar dele.
- É, foi isso. Sem muitas novidades – ela se apressou a terminar.
Gabriel franziu as sobrancelhas a encarando. Sentiu que havia algo de errado ali. Mas como Andrew logo tomou a palavra, sua atenção foi desviada
- Bom... eu fiquei na casa dos meus avós, trabalhando na loja de varinhas, para variar. Mas não rolou nada de empolgante. Tudo continua igual no bom e velho Beco Diagonal. Aliás, Minna, meu avô quer saber se sua varinha experimental ainda funciona - Andrew suspirou.
- O sangue de basilisco nunca me decepcionou – Minna afirmou, inconscientemente tocando o punho da varinha em seu bolso, todo esculpido com escamas. Será que deveria perguntar algo sobre Angelina?
- EUZINHO fui treinar quadribol com meu avô. Que, devo lembrar, é Kenni Whisp! - Sholk se vangloriou antes que ela pudesse falar com Andrew sobre suas decepções amorosas – E esse era o momento em que o Wood deveria estar aqui, para ficar assustado. Cadê a criança?
- Alícia – Minna respondeu, dando de ombros, sorrindo (não sem dificuldade). Resolveu mudar de assunto – Seu avô ainda está naquela ilha perdida no meio do nada?
- E só sai de lá carregado. – Sholk disse, com amargura. Por algum motivo misterioso, seu avô, um ex-jogador de futebol de renome, resolvera se isolar em uma ilha há alguns anos, e nunca mais pusera os pés fora de lá. Alguns acreditavam que tinha sido no auge da glória de Voldemort e o medo o fizera fugir. Mas Sholk tinha outras teorias. Seu avô não era medroso. E sempre que se referia ao mundo "lá de fora", parecia descrente.
Não demorou muito para a mulher do carrinho de doces chegar na cabine e ficar supresa com as embalagens vazias jogadas por todos os cantos. Mesmo assim, Sholk comprou outra tonelada de sapos e feijõezinhos de todos os sabores. Minna havia começado a ficar sonolenta e um pouco enjoada pelo mastigar incessante do amigo, então se levantou:
- Acho que vou andar por aí. De novo. Devo ser meio claustrofóbica ou sei lá... quem sabe seja muito tempo na mesma sala do que o Sholk.
- Já está começando a ficar Sholkada pelo meu charme? – ele disse, mostrando um sorriso cheio de dentes sujos de chocolate.
- Sholkada?- Andrew perguntou, incrédulo.
- Sholke é o efeito que eu causo nas meninas. – O sonserino passou a mão pelos cabelos, dando uma piscada para Minna.
- É agora mesmo que eu saio daqui – Minna saiu logo, segurando a gargalhada.
Janice Spinnet estava no corredor e chamou Minna com um aceno.
- Você não vai acreditar em quem está aqui do lado da minha cabine. – A Corvinal sussurrou, enquanto Minna tentava não lembrar o quanto ela parecia com sua irmã mais nova. Ela e Minna olharam, disfarçadamente, para dentro da cabine indicada e viram Harry Potter ao lado de um menino ruivo.
- É ele. Ele não parece tão esquisito quanto eu imaginava. Achei que ele ia ser tipo um super herói, sabe, com olhos que mudam de cor, coisa e tal. – Janice sorriu.
Ela resolveu acompanhar Minna na sua volta pelo trem. Passaram por Lino Jordan que, orgulhoso, exibia uma aranha gigante. Neste momento, avistaram um homem usando um estranhíssimo turbante roxo saindo do banheiro. Minna não conseguiu tirar os olhos dele. Talvez fosse o efeito do turbante, mas tinha a impressão que era algo mais. Seus olhos arderam – como se tivessem colocado uma cebola picada bem debaixo de seu nariz.
Os olhos dele também faiscaram para a garota. Ficaram se encarando por um tempo até que ele desviou o olhar e entrou na cabine mais próxima. Parecendo sair de um transe, Minna verificou se Janice não havia notado seu comportameto estranho. Ao ver que estava segura, se voltou para o outro lado do corredor, para retornar a sua cabine. Sua vida já era bem estranha normalmente. Não precisava de nada que a tornasse mais absurda.
- Arrrre!
- Calma aí, Minna!
- Olívio?!
Ela dera um encontrão no capitão. Sorte que ele a segurou pela cintura. Reparou que ele realmente estava mais forte. E, para que ele não notasse, resolveu logo mudar de assunto.
- Vai com calma! Por que você tava me espreitando? – ela ralhou. Olívio só sorriu. Minna xingou todos os ancestrais de Wood por terem dado a ele o seu sorriso. Os olhares deles se encontraram, e logo tomaram rumos diferentes. Olívio, corando, pigarreou e disse:
- Errrmm... então, eu estava preocupado. Bem, não estava preocupado, mas sim curioso! Onde você estava?
- Andando por aí! Com a Janice! – ela indicou a menina, que deu um risinho nervoso para Wood. – Vimos o Potter.
- Potter? Que... Ah! Harry! Lógico.
-E a Alícia? – Minna perguntou, fingindo interesse.
- Pois é, ela ficou falando de você as férias inteiras. Sobre as flores, sobre a forma com que você pediu ela em namoro... – Janice revirou os olhos, sorrindo.
Minna sentiu algo gelado em seu estômago e parecia que o sangue havia se esvaído de seu corpo. Houve um momento de silêncio constrangedor. Que Olívio tentou preencher com um "pois é...".
- Nossa, não sabia que vocês estavam namorando. – Minna tentou se recuperar – Parabéns, eu acho.
- Valeu, eu acho. – ele riu.
- Por onde andaram? – Gabriel surgiu no corredor, olhando de Minna para Wood. Seus olhos mal pararam em Janice que, mais uma vez, deu seu risinho nervoso.
- Ah, só fui conversar com a Janice e achei o Olívio!- Ela apontou o capitão, como se Gabriel não pudesse vê-lo. Minna estranhou o olhar do colega sonserino. E estranhou mais ainda que estivesse dando explicações. Naquele momento, ela sentiu como se seus olhos verdes lessem seus pensamentos. Ficou feliz quando ele parou de encará-la e passou a olhar para Olívio.
- Nós literalmente nos esbarramos no corredor. - Wood também pareceu constrangido com o olhar de Gabriel. Deu uma risada falsa e rumou para a cabine, onde se sentou ao lado de Sholk, que roncava como um animal hibernando depois de ter se entupido de comida. Andrew se divertia fazendo nós no cabelo do sonserino, usando magia. Minna se despediu de Janice e, para se distrair e processar as informações recentes, passou a ajudar Andrew e fazer trancinhas em Sholk. A cada laçada ela respirava fundo e pensava que devia esquecer Wood. Mas era difícil quando o capitão estava bem na sua frente, como sempre esteve, lendo "O Goleiro Primoroso" com sua expressão de concentração.
Gabriel, por sua vez, decidiu que era maduro demais para zoar com Sholk e tirou o "Apanhador no campo de centeio" de uma mochila, mergulhando na leitura. De vez em quando lançava um ou outro olhar para seus amigos. E via mais do que gostaria de ver. Minna estava claramente chateada. E Olívio não tirava os olhos dela.
