Prólogo
Era
uma manhã ensolarada e tranqüila na cidade de Playmouth ,
na Rua Vaughan Close. As crianças jogavam bola na rua,
aproveitando o início das férias de verão, e
todos os jovens haviam saído para passear e aproveitar o sol
com os amigos. Todos, exceto uma garota que supostamente estudava em
um internato na Escócia e que não mantinha relações
muito estreitas com a vizinhança.
Hermione estava deitada
de bruços na grama do jardim em frente a sua casa, terminando
de ler um romance que comprara dois dias antes. Bichento, um gato
laranja de pelos compridos e cara achatada, estava deitado sobre as
costas da garota, dormindo.
Assim que leu a última frase
do livro, ela virou-se de lado, fazendo com que Bichento pulasse no
chão e se sentasse na sua frente.
- Também está
entediado, não? – disse ela, acariciando-o. Em seguida
esticou o braço, arrancou um dente-de-leão do chão
e suspirou. – Só mais dois dias, Bichento, e voltaremos para
o nosso lugar.
O lugar deles não era, decididamente, ali.
Era a sua residência, claro, o lugar onde Hermione matava as
saudades dos pais. Mas estava fora de seu mundo, o mundo dos
bruxos.
Aquela tediosa rua de trouxas oferecia todas as
atividades de que Hermione não gostava. Ir à banca de
jornais comprar uma revista de fofocas, fazer as unhas na casa da
Madame Richie ou apanhar um ônibus na esquina para ir ao
shopping não eram coisas que você veria a garota fazendo
durante as férias.
Ela assoprou delicadamente a flor que
tinha em mãos e observou todas as suas pequenas pétalas
serem carregadas pelo vento.
Sentia-se uma garota privilegiada
por poder fazer parte de um mundo diferente daquele. Por ter
horizontes diferentes, poder ir mais além e realizar seus
sonhos. Para ela, nascida em uma família de trouxas, ser bruxa
era isso. Era ter a oportunidade de dar um rumo diferente à
vida.
E era o que estava fazendo. Agora, partindo para o seu
último ano em Hogwarts e tendo já ajudado a salvar a
vida de mais de uma pessoa, ela se sentia como alguém
especial. Jamais poderia voltar a viver como trouxa depois de tudo o
que passara durante aqueles seis anos ao lado de seus amigos Harry e,
ela deu um sorrisinho ao se lembrar, Rony.
- Hermione, venha
aqui, rápido! – sua mãe chamou, acordando-a de seus
devaneios.
Hermione levantou-se depressa e, deixando Bichento
sozinho, correu para dentro de casa.
Entrou na pequena sala e
encontrou sua mãe com um vidro de remédios na mão.
Ao lado dela, sentado numa poltrona xadrez, estava seu pai, que
tossia violentamente.
- Vá buscar o inalador de seu pai
no quarto, querida, por favor.
Ela não perdeu tempo
respondendo. Subiu rapidamente as escadas até o primeiro andar
e entrou no quarto dos seus pais.
Arnold Granger tinha trinta e
oito anos e sofria de fibrose pulmonar. Sua mãe vinha
conseguindo ajudá-lo a se cuidar, mas a doença piorou
nos últimos meses. Hermione até sugerira tentar levá-lo
ao St.Mungus, o hospital dos bruxos, mas o pai não gostava
muito da idéia de ter pessoas apontando varinhas para seus
pulmões.
Hermione escalou algumas gavetas para alcançar,
na parte superior do guarda-roupas, a caixa com o inalador. Desceu
então de volta para a sala, quase tropeçando em uma
bolinha de borracha que Bichento deixara no meio do corredor.
Ela
entregou o aparelho para a mãe, ajudou-a a ligá-lo e
jogou-se no sofá, chateada, enquanto seu pai tentava parar de
tossir.
É, ser bruxa resolvia quase todos os seus
problemas.
